Eu quis parar o mundo, dar um pause em tudo para entender a minha vida, olhando o pequeno ser deitado a dormir no berço, tão tranquilo, esbranquiçado, sem ao menos sequer parecia estar respirando, enquanto partes de mim ainda dói, meus seios doloridos cheio, as veias azuis a saltar, a minha barriga ainda tão grande, alem de dolorida, nada a fazer sentido em minha vida. Um completo vazio havia se instalado de repente, enquanto Caroline ainda parece estar chateada por Rodrigo, eu não sei o que é pior, a sua ausencia no momento mais importante para nós ou a sua chegada depois de tudo ter acontecido, não, chego a conclusão sozinha que ele aqui não ia mudar nada, a dor teria sido a mesma, e talvez ele tivesse precisado de ajuda no momento também. Ainda não acredito que tudo aquilo saiu de mim, será que algum dia terei o meu corpo de volta? Como será de agora em diante?– Você está bem?– A voz masculina calma, me assusta, olho para Rodrigo de pé ao meu lado da cama, seu olha perdido, acre
Após o parto, Ária perdeu muito sangue, levei-a ao hospital, considerando ser uma negligência médica ela não ter ficado internada assim que o médico foi informado do parto, apenas fez uma visita, isso quase custa a sua vida, tive vontade de socar a cara do infeliz, mas o mesmo sumiu da cidade, o que ela não soube e nem suspeita. Ambas ficaram internadas por alguns dias, Ária por uma anemia profunda, e Sophie por ictericia, necessitando tomar banho de luz . – O que você acha que aconteceu? – Ainda a pensar no ocorrido, sou questionado por Caroline no corredor do hospital. – Não faço ideia. – Lhe digo, vendo que está tão angustiada quanto eu. – Acha que ele a deixou em casa, sangrando assim por...– Encaro Caroline, enquanto tenta ser cuidadosa com as palavras. – Pra morrer? – Seus olhos verdes brilham, mas nega. – Não Rodrigo, como pode pensar isso? – Simplesmente pelo fato de ninguem conhecer o medico que a acompanhou, e até mesmo ao consultar sobre ele, não encontrar nada, torço para
Um ano se passou diante aos meus olhos, sobreviver a tentativa de assassinato durante o meu parto, não foi algo mero, bobo, quando sequer sabia que estava sofrendo um ataque, Rodrigo não me disse, mas me recordo do seus gritos desaforados enquanto deixava recados no telefone do médico que me acompanhou durante a gravidez, as suas ameaças ficaram gravadas. Um ímpeto de sorte não ter ido a óbito naquele quarto ou banheiro, um assunto silenciado, eu esperei ele me contar em algum momento, mas este nunca chegou. Tantas coisas foram ficando para depois, para trás, já não sabia se ele realmente queria tomar as rédeas das situações ou simplesmente fazer algo para me poupar de todo estresse de ter controle nas mãos. Não importa o ego, fui permitindo ser, me tornar mãe foi um fardo enquanto observo Sophie a crescer, cada dia a passar, várias vezes me vi perdida entre pensamentos intrusivos, num deles pensando em ir atrás de Gilda, dizer que entendo, o fato da maternidade ser pesada, as noites
A minha relação com Martinez tornava-se insustentavel a cada dia, a vontade socar a sua cara a cada reunião, a cada forma dele demonstrar a sua ganancia por dinheiro, para mim estava sendo inaceitável, achava que na empresa do meu avô havia faucatruas, mas na MVP, é o que acontece o tempo inteiro, superfaturamento de obras, formas de arrancar dinheiro, desvios. Era mais um dia de trabalho, ao acordar, não havia visão melhor ao meu lado na cama, a mulher deitada numa camisola de seda marron, nunca imaginei algo marrom ficar tão belo em alguém, os cabelos longos negros caídos, cacheados, bagunçados pelo travesseiro, tanto o seu quanto o meu, o seu cheiro por todo lugar, o semblante fechado, as sobramcelhas negras grossas, os cílios caidos, os olhos a descansar, o caminho entre seus olhos a chegar em seu nariz pontudo, empinado, a boca carnuda desenhada tão rosada. Nunca houve dúvidas de amor por ela, nunca houve arrependimento, eu faria tudo de novo e de novo,mil vezes ou mais, o seu
Acaricio os seus ombros, tentando amenizar seu mau humor, era o que me cabia, não lembrava dele tão mau humorado na Parlato, evidente que lá ele trabalhava para si, e cá é para outro, sonho com o dia que me dirá que pediu demissão, construiremos a nossa própria empresa? – Dormiu a um tempo, o que houve? Porque está com esta cara? – Abrindo os botões da sua blusa, se vira a me olhar, sinto decepção, tristeza em seus olhos, cansaço, e mais uma vez, parece calcular o que me dizer. Odeio quando ele faz isso. – Vou colocar o seu jantar, enquanto me diz, o que acha?– Não, Ária, eu não estou com fome, porque não me diz o que fizeram hoje? – Sorrio vago, a mesma coisa de sempre, acordar, trocar de roupa, arrumar a cama, encontrar Sophie na porta do quarto relutante com Silvia, tomar café juntas... uma série de coisas que não damos valor, mas detalhei em meros detalhes, notando que ele se esforçava para prestar atenção, mais uma vez que tive vontade de chutar a cara do seu chefe, mas me conti
– Ela costuma sair sempre e demorar? – Mais uma olhada no relógio, enquanto observo a nossa filha em sua refeição matinal, a mulher que passa um tipo de vassoura de pena nos móveis da sala de estar, se vira a me olhar de lá, apenas nega. – Não, principalmente sem Soso. – Desvio os olhos de Silvia para Sophie a comer a sua panqueca calada, como a mãe, entendo que não fale muito, culpa minha que não fico tanto em casa. – Porque não me diz, onde você vai com a mamãe? A garota sentada em sua cadeira alimentação erguer os olhos para mim, com certa suspeita. – Mercado, parquinho. – Fala diretamente, o primeiro até faz sentido, o segundo nem tanto já que quem brinca no parquinho está bem aqui. Penso enquanto ouço seus murmurios baixos enquanto busca lembrar, vão a tanto lugar assim? – Com certeza ela está na... – Ambas falam ao mesmo tempo, Sophie parando ao notar que Silvia fala o mesmo, enquanto se olha, mas a criança nega. – Ela não iria de carro na tia Carol. Sorrio inquieto, em que
Caroline mal disse, já me dando as costas, não medi passos ou palavras ao lhe segui pelo mesmo caminho, a minha cabeça nunca passaria o pior, e mesmo que fosse uma ideia absurda imaginar que Ária possa ter feito a loucura de ir até Paraíso sozinha, não havia o que pensar, é insano demais. — Eu vou com você! Digo vendo Caroline aproximando-se do seu veículo em prantos, e ela se nega. — Já disse, fica com a Sophie, caralho, será que você não entende? — Berra em lágrimas, ela poderia chorar rios e lagrimas, mas eu não, mesmo com a cabeça a explodir, lhe vendo abrindo a porta do carro assumindo o volante, sem condições alguma de dirigir. Esse era o menor dos problemas, quando no mesmo momento, adentro o carro, sentando a seu lado. — Não sei o que se passa na cabeça de Ária, mas desta vez quem vai lidar com isso sou eu. — Digo baixo, ignorando a mulher que malmente ligar o veículo enquanto as lágrimas caem. — E vai fazer o que, Rodrigo? Já pensou que o maior risco dela ir até lá, se ch
Após agredir Martinez em minha casa, não havia alívio, ainda mais pela manhã ao ser notificado que não poderia me demitir da MVP ASSOCIAÇÕES, a não ser com o pagamento de uma multa por abandonar os projetos, olhando os zeros seguidos pelos três, que estava a frente, sorri fraco, a assinatura de Fernando Antares, me mostrando o quão tão obvio tudo estava aos meus olhos. Eu não sabia quem ou como a pessoa conseguiu chegar até Ária, fazê-la sair de casa naquela noite ou madrugada, ninguém viu, ninguém soube, estando diante aos meus olhos a grande coincidência, o dia que eles chegaram a MVP, tornando-se sócio, e na mesma noite Ária desaparece?Havia muito o que fazer na MVP, e isso não poderia ficar para depois, os Antares estão com ela, a minha cabeça gira em saltos, em golpes que não conseguir lidar, mas o que mudaria? Sequer fui ao quarto, a barba por fazer, pegando a blusa largada no sofá, já não mais importando o suor, o odor exalando. A carteira com as poucas cédulas, eu moveria a