No exato instante em que Paco atravessa aquela sala de reunião, e os olhos de Dandara caem sobre ele, ele percebe que havia feito a escolha certa. Porque mesmo que os olhos verdes da mulher estivessem surpresos, uma faísca de alívio e esperança reluziu ali. Paco se sentiu orgulhoso, mas isso foi momentâneo. E como Paco premeditou, a voz de um dos opositores presentes naquela reunião encheu o ambiente: — O que esse homem está fazendo aqui? — Clóvis gritou, completamente fora de si. — Essa é uma reunião de negócios e não um encontro familiar. — Perdão? — Paco intervém, a voz totalmente calma e fria, só para enfatizar o desiquilíbrio presente naquele senhor de quase 50 anos de idade. Clóvis o encara, completamente surpreso pela tranquilidade que Paco o entregava, como se fosse imparcial ao colapso de emoções velada de revolta que ocorria em seu peito. Mesmo afetado, Clóvis não se detém e volta a destilar o seu veneno. — Você é apenas o marido, o genro. — Ele atiça. — Não tem n
— Do que está falando, Dandara? — Paco pergunta assim que aquela insinuação saiu dos lábios da mulher. Ele sabia que ela estava certa, mas Paco gostaria de descobrir tudo o que Dandara sabia e como ela havia chegado aquela conclusão de modo tão abrupto. — Você se casou comigo para unir as nossas famílias. Não para herdar a herança da sua. — Dandara declara lentamente enquanto cruza aquela sala, se aproximando do homem que a observa imparcialmente. — Porque se você herdar a liderança da sua família nos negócios, com o tempo as nossas famílias acabariam sendo uma só. Estou no caminho certo? Paco apenas a entrega um pequeno sorriso de lado, não confirma e tampouco nega as suas conclusões. Dandara arqueia a sobrancelha, tomando aquele sorriso como um incentivo para que ela continuasse as suas teorias. — Desse modo, a minha família com o tempo poderia acabar tendo um único herdeiro ligado as duas famílias e ele iria liderar tudo. — Dandara conclui com um sorriso, cruzando os braços
Apesar dos acontecimentos infelizes, Dandara e Paco conseguiram almoçar juntos sem comentar sobre os minutos anteriores. Enquanto realizavam aquela refeição, os dois conversaram sobre assuntos banais, sobre planos futuros individuais, e certamente conheceram mais um do outro em uma hora de conversa do que nos últimos meses que conviveram. Logo após o almoço, Dandara precisou retornar até a empresa, para então iniciar suas atividades como vice-presidente. Paco a acompanhou de volta, alegando que teria assuntos pessoais para resolver no setor de tecnologia da empresa. Assim que os dois colocaram os pés no corredor amplo do 13° andar, uma senhora baixinha e de óculos de grau parou em sua frente, quase ofegante. — Senhorita LeBlanc, eu sou a Berenice. — Ela se apresentou rapidamente. — Sou a secretária do seu pai, mas enquanto a senhorita ainda procura a sua assistente pessoal, estarei disponível para ajudá-la no que precisar. — Obrigada, Berenice. — Dandara disse no mesmo instant
Antes que Dandara fizesse algo que a faria se arrepender pelo resto da vida, e a derrubasse de um tipo de penhasco que ela jurou jamais cair novamente, um barulho na porta a trouxe para o presente, para a realidade. E a realidade a fez se afastar de Paco de modo abrupto, como se sua pele estivesse em chamas. — Pode entrar! — Dandara gritou, a voz ofegante que a traía ao demonstrar que ela estava completamente afetada com o que se passara nos últimos minutos. A secretária surge através da brecha da porta, e tudo que ela faz é dizer que todos estavam prontos para a primeira decisão que Dandara tomaria. Mesmo de costas, Dandara sente o olhar de Paco sobre ela porque ela sentia uma ardência colossal bem ali, em suas costas. E por isso, sabendo que precisaria lutar mais do que esperava para se manter longe daquele olhar e de todas as sensações que ele trazia, ela soube que precisaria fugir. E encontrou o pretexto perfeito bem em sua frente quando disse: — Por favor, diga que es
Dandara encara Paco, completamente ansiosa pelas próximas palavras que sairiam dos seus lábios. — O que planeja? — ela perguntou, não tendo certeza se qualquer plano funcionaria naquela altura do tempo. Paco enfiou as mãos no bolso, e a encarou de volta e ele parecia confiante o suficiente de sua decisão. — Eu sei onde encontrar esse material. — ele revela. — E sei como encontrar, em pouco tempo. — Como? — Dandara arfa, completamente entusiasmada e para em frente a Paco, ansiando para que ele falasse todo o seu plano de uma vez. — Como você disse, só podemos encontrar no exterior. E é isso que farei. — Paco anuncia. — Irei viajar e trarei o que precisa. No mesmo momento em que diz aquelas palavras, Dandara hesita por um instante. Não esperava que aquela fosse uma solução, e a ideia de ver Paco partindo para tão longe a incomodava intimamente. No entanto, Dandara não podia negar o que aquele ato significava para ela. Não saberia nomear o porquê Paco parecia se esforçar ta
Dandara não havia voltado a vida para morrer daquele jeito, no escuro de um estacionamento deserto. Ela havia retornado mais forte que nunca, pensa consigo mesma, e por causa disso, relembra que ela possuía uma habilidade que nem todos sabiam. Quando criança, Dandara havia tido algumas aulas isoladas de caratê, e certos movimentos perduravam em sua mente. Por isso, no exato momento em que aquele homem a segura de costas, as suas mãos imundas em sua boca, Dandara reage. Seu cotovelo acerta fortemente as costelas daquele homem, o fazendo desequilibrar por um curto milésimo de segundos, e soltar um gemido abafado, mas alto o suficiente para chamar atenção dos seguranças que estavam há metros de distância. — Senhorita LeBlanc. — O segurança aparece em passos rápidos, as mãos sobre os quadris, prontos para empunhar sua arma. Antes que Dandara pudesse responder o que havia acontecido, o cafajeste que tentou atacá-la sai correndo, tremendo ao estar diante de um homem de quase dois
Todos os sentimentos se misturavam e faziam uma poção nociva dentro de Dandara. Ela se sentia envenenada pela ira, tristeza, descrença, repulsa. Jamais imaginaria que teria que lutar, a cada segundo do dia, com traidores, com inimigos tão próximos que sabiam exatamente onde tocá-la para atingir. Todos os acionistas presentes naquela sala aguardaram em silêncio pelo veredito da mulher, estavam ansiosos para descobrir qual seria a desculpa que ela daria. Mas a verdade era que Dandara jamais fora uma mulher que recorria a subterfúgios. Ela prezava pela justiça, e a verdade era algo que sempre guiava os seus caminhos. Por isso, Dandara não tentou justificar-se frente aquela situação, tudo que ela fizera foi prometer que iria atrás da verdade, que buscaria provas, e que certamente a pessoa responsável por toda aquela farsa iria responder por suas falsas acusações. Após o fim do horário de uma reunião que não aconteceu, Dandara precisava desesperadamente respirar um ar puro. E ela só
A mente de Dandara se encontra em um intenso desnorteio enquanto tenta assimilar o que toda aquela história significa. Todavia, existe algo em toda essa situação em que não encaixa em sua mente. Toda essa confusão e ira contida está visível em seu rosto e o garoto em sua frente é veloz ao percebê-las. — O que você tem, senhora Dandara? — Carlito pergunta, os pequenos olhos curiosos a analisam. — Eu fiz ou disse algo errado? Assim que ouve aquelas palavras, instantaneamente Dandara balança a cabeça em negação e encara aquele garoto. Ela tenta de toda forma disfarçar o rancor que guarda dentro de si, pois tem a plena ciência do quão negativo era esse sentimento e jamais passaria isso para aquela criança. Por isso, Dandara sorri para ele, e tenta explicar para o garoto o que se passava de um jeito menos obscuro possível. — Você não fez nada de errado, Carlito. Na verdade, você me ajudou. — Dandara começa e o menino a observa, atento. — Alguém tentou me prejudicar ontem à noite,