Antes que Dandara fizesse algo que a faria se arrepender pelo resto da vida, e a derrubasse de um tipo de penhasco que ela jurou jamais cair novamente, um barulho na porta a trouxe para o presente, para a realidade. E a realidade a fez se afastar de Paco de modo abrupto, como se sua pele estivesse em chamas. — Pode entrar! — Dandara gritou, a voz ofegante que a traía ao demonstrar que ela estava completamente afetada com o que se passara nos últimos minutos. A secretária surge através da brecha da porta, e tudo que ela faz é dizer que todos estavam prontos para a primeira decisão que Dandara tomaria. Mesmo de costas, Dandara sente o olhar de Paco sobre ela porque ela sentia uma ardência colossal bem ali, em suas costas. E por isso, sabendo que precisaria lutar mais do que esperava para se manter longe daquele olhar e de todas as sensações que ele trazia, ela soube que precisaria fugir. E encontrou o pretexto perfeito bem em sua frente quando disse: — Por favor, diga que es
Dandara encara Paco, completamente ansiosa pelas próximas palavras que sairiam dos seus lábios. — O que planeja? — ela perguntou, não tendo certeza se qualquer plano funcionaria naquela altura do tempo. Paco enfiou as mãos no bolso, e a encarou de volta e ele parecia confiante o suficiente de sua decisão. — Eu sei onde encontrar esse material. — ele revela. — E sei como encontrar, em pouco tempo. — Como? — Dandara arfa, completamente entusiasmada e para em frente a Paco, ansiando para que ele falasse todo o seu plano de uma vez. — Como você disse, só podemos encontrar no exterior. E é isso que farei. — Paco anuncia. — Irei viajar e trarei o que precisa. No mesmo momento em que diz aquelas palavras, Dandara hesita por um instante. Não esperava que aquela fosse uma solução, e a ideia de ver Paco partindo para tão longe a incomodava intimamente. No entanto, Dandara não podia negar o que aquele ato significava para ela. Não saberia nomear o porquê Paco parecia se esforçar ta
Dandara não havia voltado a vida para morrer daquele jeito, no escuro de um estacionamento deserto. Ela havia retornado mais forte que nunca, pensa consigo mesma, e por causa disso, relembra que ela possuía uma habilidade que nem todos sabiam. Quando criança, Dandara havia tido algumas aulas isoladas de caratê, e certos movimentos perduravam em sua mente. Por isso, no exato momento em que aquele homem a segura de costas, as suas mãos imundas em sua boca, Dandara reage. Seu cotovelo acerta fortemente as costelas daquele homem, o fazendo desequilibrar por um curto milésimo de segundos, e soltar um gemido abafado, mas alto o suficiente para chamar atenção dos seguranças que estavam há metros de distância. — Senhorita LeBlanc. — O segurança aparece em passos rápidos, as mãos sobre os quadris, prontos para empunhar sua arma. Antes que Dandara pudesse responder o que havia acontecido, o cafajeste que tentou atacá-la sai correndo, tremendo ao estar diante de um homem de quase dois
Todos os sentimentos se misturavam e faziam uma poção nociva dentro de Dandara. Ela se sentia envenenada pela ira, tristeza, descrença, repulsa. Jamais imaginaria que teria que lutar, a cada segundo do dia, com traidores, com inimigos tão próximos que sabiam exatamente onde tocá-la para atingir. Todos os acionistas presentes naquela sala aguardaram em silêncio pelo veredito da mulher, estavam ansiosos para descobrir qual seria a desculpa que ela daria. Mas a verdade era que Dandara jamais fora uma mulher que recorria a subterfúgios. Ela prezava pela justiça, e a verdade era algo que sempre guiava os seus caminhos. Por isso, Dandara não tentou justificar-se frente aquela situação, tudo que ela fizera foi prometer que iria atrás da verdade, que buscaria provas, e que certamente a pessoa responsável por toda aquela farsa iria responder por suas falsas acusações. Após o fim do horário de uma reunião que não aconteceu, Dandara precisava desesperadamente respirar um ar puro. E ela só
A mente de Dandara se encontra em um intenso desnorteio enquanto tenta assimilar o que toda aquela história significa. Todavia, existe algo em toda essa situação em que não encaixa em sua mente. Toda essa confusão e ira contida está visível em seu rosto e o garoto em sua frente é veloz ao percebê-las. — O que você tem, senhora Dandara? — Carlito pergunta, os pequenos olhos curiosos a analisam. — Eu fiz ou disse algo errado? Assim que ouve aquelas palavras, instantaneamente Dandara balança a cabeça em negação e encara aquele garoto. Ela tenta de toda forma disfarçar o rancor que guarda dentro de si, pois tem a plena ciência do quão negativo era esse sentimento e jamais passaria isso para aquela criança. Por isso, Dandara sorri para ele, e tenta explicar para o garoto o que se passava de um jeito menos obscuro possível. — Você não fez nada de errado, Carlito. Na verdade, você me ajudou. — Dandara começa e o menino a observa, atento. — Alguém tentou me prejudicar ontem à noite,
Por mais que tudo que Dandara necessitasse naquele instante, enquanto sentia o chão se abrir embaixo dos seus pés, fosse se esconder nos braços firmes daquele homem, a sua coragem vacilou. Assim que Dandara parou em frente a Paco, uma timidez desconhecida tomou conta do seu corpo. Ela realmente estava feliz, aliviada até, em vê-lo em sua frente, porque de algum modo, mesmo que todo o seu futuro parecesse incerto naquele momento, ela olhou profundamente nos olhos de Paco. E bem ali, na imensidão cintilante dos seus olhos de avelã, ela enxergou esperança. — Oi. — Ela finalmente respondeu, mesmo que sua voz tivesse falhado. Paco sorriu ao perceber o seu visível embaraço e quão consternada Dandara parecia se encontrar. Por mais que aquele não fosse o momento adequado, e ele sabia perfeitamente bem disso, Paco não pôde evitar a admirar. Dandara estava dentro de um vestido rosa que se colava em seu corpo, desenhando toda as suas curvas enquanto seus espessos fios negros caíam sobre s
Dandara encarou profundamente os olhos de Paco, e mesmo que a proximidade absurda dos seus lábios frente ao deles, fosse agonizantemente quente, ela conseguiu se manter racional. — Estou ciente do quanto você pode ser perigoso, senhor Benrouissi. — Ela sussurrou, os olhos presos em seus lábios. — Sobretudo, quando tenta de todas as formas se manter tão próximo a mim. Aquele comentário divertiu Paco, que não teve opção além de um sorriso preguiçoso e astuto esticar em seus lábios carnudos e rosados. Ele sentia o quão afetada Dandara se encontrava, em cada pequena vez em que ele invadia o seu espaço daquele jeito. No entanto, o modo que o seu peito subia e descia, que a sua respiração ofegante soava como uma canção quente em seus ouvidos, e o sangue corria até as bochechas de Dandara, a deixando vermelha e quente... Era um caminho traiçoeiro, como uma areia movediça. Porque não importava o quanto sua racionalidade o informava que deveria recuar, ele queria mais. E nesse ímpeto
Dandara se limitou a refazer mentalmente todos os pontos de sua apresentação. Na última noite, ela tentou excessivamente descansar, mas sua mente estava alta e direcionada ao quarto anexo ao lado. Decidida em não permitir que sentimentos vãos dominassem a sua vida, ela definiu outra vez todo o controle em suas mãos. Aquele era um novo dia, o dia em que Dandara provaria de modo definitivo todo o seu valor. Por isso, enquanto estava em frente a todos os investidores daquele novo projeto, ela respirou profundamente e entregou o seu melhor. Enquanto Dandara apresentava o seu trabalho, ela pôde notar os olhares de satisfação e até de surpresa de todos reunidos naquela sala de conferência. Muitos investidores ali se perguntaram como em tão pouco tempo, Dandara havia conseguido aquele feito, dentro do curto prazo e sem arranjar nenhuma desculpa em sua produção. A verdade era que Dandara sabia perfeitamente tudo que estava em jogo, era muito além do seu nome ser reconhecido, do suce