Eu estava nervosa, mais do que nervosa, uma pilha de nervos. Não era como se minha família fosse as piores pessoas do mundo. Não, muito pelo contrário. Nós éramos unidos, felizes. Nos apoiávamos. O problema era a minha escolha e a convicção do meu pai. Ele sempre dizia: "Tome cuidado com os homens, eles são modelosos. E eu não quero ver minha nina e minha nos braços de um idiota."Bem, o meu pai não sabia, mas eu já tinha acabado nos braços de alguns idiotas. E um desses cafajestes estava bem ao meu lado agora. Com todos os defeitos que eu já conhecia de William, eu o aceitava. E, apesar de tudo, tinha convicção de que ele podia mudar. Nunca o vi tão dedicado e carinhoso como agora. E, surpreendentemente, ele aceitou de bom grado vir aqui. Conversar com minha família e, nas suas palavras, "pedir a minha mãe namorada". Até parece que estamos nos anos 60. Não, isso não era necessário. Mas a aprovação do meu pai, ou pelo menos o conhecimento dele, significava muito para mim. Eu não queri
O jantar seguiu envolto em uma atmosfera sufocante, como se cada palavra trocada carregasse o peso de algo maior que ninguém ousava mencionar. A mesa estava cheia, mas o silêncio preenchia os espaços entre as poucas conversas. Samanta, Alisson e Isabela eram as únicas que se aventuravam em assuntos triviais, suas vozes quebrando a monotonia de respostas curtas ou concordâncias murmuradas. Harvey observava tudo com atenção, cada movimento, cada olhar, e sentia a tensão pulsando no ar. Aquilo não deveria ser assim."Se todos apenas conversassem, tudo isso poderia ser resolvido", pensou ele, mas sabia que era mais fácil dizer do que fazer. Seu olhar pousou em William, que parecia nervoso, mas disfarçava bem, escondendo-se atrás de Isabela, quase como se buscasse proteção. E Isabela, mesmo desconfortável, mantinha aquele sorriso resiliente, tentando amenizar o desconforto de todos ao redor.Harvey sabia que ele próprio tinha sua parcela de culpa. Se tivesse sido honesto com William desde
Eu sei que minha atitude parece babaca. Estou sendo rude, provocando, mas não consigo evitar. A raiva está pulsando dentro de mim como um tambor descompassado, e ela não é dirigida apenas a um deles. Estou com raiva dos dois. Só que, para ser honesto, é William quem leva a maior parte do peso. Ele era meu melhor amigo. Ainda é, ou pelo menos deveria ser. Então por que diabos ele não me contou? Por que ele escolheu logo a minha irmã?Como amigo, eu conheço William desde que éramos moleques correndo descalços por aí, aprontando todas. E, por conhecê-lo tão bem, sei exatamente quem ele é. Nenhum irmão que se preze, que se autodenomina protetor, aceitaria um cara como William namorando sua irmã mais nova. O problema é que isso não está nas minhas mãos. Não cabe a mim decidir com quem Isabela vai ficar. Mesmo que eu quisesse desesperadamente. Mesmo sabendo que isso me faz parecer um idiota controlador. Tenho plena consciência de que ela me odeia agora. Ela provavelmente acha que eu estou a
Eu odiava sentir que estava decepcionando meu pai. Sempre odiei. Ele tinha essa presença que fazia qualquer um querer se provar digno, e eu não era exceção. Por isso, eu sabia que precisava conversar com ele a sós. Eu estava aliviada ao perceber que, pelo menos, os outros o aceitaram. Mas, por dentro, conhecendo Nathan Novack como eu conhecia, sabia muito bem que ele não estava feliz. Não de verdade. Algo no brilho discreto de seus olhos me dizia isso. E algo em mim, talvez egoísta, talvez simplesmente humano, desejava se explicar. Não era um capricho, queria que ele entendesse isso. Era amor, paixão. E, sim, eu acreditava fielmente que William podia mudar.Respirei fundo, tentando domar o tumulto em meu peito, e fui até meu pai. Ele estava na varanda, olhando para o lado de fora como fazia sempre que precisava pensar. O ar frio da noite me envolveu ao sair, e o cenário era de uma beleza quase mágica. A lua cheia iluminava tudo, trazendo uma tranquilidade rara, dessas que meu pai semp
Isabela ajeitou o vestido mais uma vez, os dedos trêmulos passando pelo tecido liso como se pudessem garantir que tudo estivesse impecável. O reflexo no espelho mostrava uma mulher elegante, de batom marcante e olhar apreensivo, mas o coração dela ainda batia descompassado. Era uma noite importante, e ela sentia o peso disso nos ombros. Seus cabelos caiam suavemente sobre o busto, enquanto ela respirava fundo, tentando se acalmar.Do outro lado do quarto, William a observava em silêncio. Ele não conseguia desviar o olhar, como se cada detalhe dela fosse uma obra-prima feita para ser admirada. O perfume delicado que emanava dela parecia envolver todo o ambiente, e ele se perdeu por um momento no desejo de estar mais perto, de sentir o calor da pele dela contra a sua. Um sorriso brotou em seus lábios ao perceber o quanto estava enfeitiçado. Desde quando isso tinha acontecido? Desde quando Isabela se tornara o centro de tudo em sua vida?Mas ali estava ele, um homem que sempre vivera no
Muitas pessoas me diriam que eu não deveria me sentir orgulhosa por ser a namorada de alguém. Que eu deveria me dar mais valor, pensar em independência, em feminismo. E, para ser honesta, eu penso. Mas eu também penso na minha felicidade. E neste exato momento, a minha felicidade era estar aqui, ao lado de William. Por mais que as pessoas ao nosso redor, neste evento lotado e cheio de sorrisos falsos, achassem que eu tinha feito um péssimo negócio, eu me sentia completamente diferente.Sabe aquela sensação de conquistar algo que você sempre quis? Algo que você desejou por tanto tempo, que ocupou seus sonhos e pensamentos, e que, quando finalmente acontece, faz o coração acelerar de um jeito quase desesperado? Como se o mundo, pela primeira vez, fizesse sentido? Era exatamente assim que eu me sentia. Como se, por algum milagre, eu estivesse finalmente viva.Eu sabia que meu irmão e meu pai demorariam para acreditar que William poderia mudar. Que ele era capaz de melhorar, de provar que
Desde a noite passada, minha mente não consegue escapar da imagem daquela mulher. Ela nos encarava na festa com uma intensidade que fazia meu estômago revirar. Não se atreveu a se aproximar, mas algo na forma como seus olhos me atravessavam dizia que aquilo não terminaria ali. Não seria a última vez que nos cruzaríamos. Eu queria que fosse. Queria enterrar aquela sensação incômoda junto com o dia que acabou, mas ela parecia uma sombra teimosa, agarrada aos cantos escuros da minha mente.Não era só por ela ser bonita. E, meu Deus, ela era. Cabelos escuros ondulados que escorriam pelas costas, pele bronzeada que parecia brilhar sob as luzes, o corpo esguio que se movia como se o mundo fosse uma passarela. O vestido que vestia a abraçava como se tivesse sido desenhado só para ela. Sexy. Do jeito que William sempre gostou. Ela tinha tudo o que me fazia sentir vulnerável, tudo o que me fazia questionar se, de repente, eu era pequena demais para ele.Mas não era só isso. Tinha algo mais. Al
Por incrível que pareça, meu pai está agindo de forma estranha comigo. Não é nem bom, nem ruim. Ele não faz tantos elogios, mas também não me olha como fazia antes — com julgamento, repreensão e aquele desgosto evidente. É como se ele ainda não estivesse certo das minhas mudanças, como se o meu namoro fosse algum tipo de encenação, uma farsa para agradar a ele ou a todos ao nosso redor.Mas eu vou provar que não. Que, embora pudesse ter começado como algo superficial, para impressionar ou calar as críticas, isso mudou. Eu a amo de verdade. Não preciso me esforçar para provar o que é real.Assim que todos saíram da sala de reunião, ele falou:— Então....Não parava quieto, estava em pé, caminhando de um lado para o outro com aquela postura rígida que sempre me deixava ansioso. A sala era ampla, minimalista, com uma longa mesa que comportava até quatorze cadeiras. Ele costumava sentar no centro, enquanto eu, como esperado, ficava ao seu lado direito. Mas agora não havia mais ninguém ali