Tico olhou para Carmem, olhou em seus olhos. Foi uma surpresa que ela tivesse perguntado aquilo dele, da maneira como ela perguntou. A voz dela não estava trêmula e o seu tom não era de raiva. Ela apenas perguntou como se fosse uma pergunta qualquer, como se fosse, "como foi o seu dia?".
Tico não respondeu com palavras, apenas fez que sim com a cabeça. Carmem então falou:
- Entendo.. Eu sei que você só está seguindo ordens.
Tico estava comendo um salgadinho e direcionou o pacote até Carmem, oferecendo a ela.
- Não, obri
Carmem se calou, mas não sem antes notar os olhos cheios de água de Tico. Ela percebeu que ele tinha sim um ponto fraco e percebeu também que ele era uma pessoa que também tinha sentimentos. Ela conseguiu sentir empatia por ele. Ela conseguiu sentir afeto pela pessoa que a tinha raptado e que provavelmente daria fim em sua vida. Não era algo que ela podia controlar. Era algo natural para Carmem.Tico olhava para fora e ficou pensativo. Ele nunca havia questionado Bichão, nem quando envolvia menores de idade. Mas naquele momento ele estava se questionando sobre aquela mulher. Ela não era como os outros que ele tinha que dar um jeito. Ela era diferente e ele sentia vontade de ainda poder ouvir a sua voz...
Thomaz ficou alguns minutos calado, enquanto Carmem começava a perder um pouco o controle. Em determinado momento, depois de ter conversado um pouco com Tico, ela estava conseguindo se acalmar e começava a acreditar na possibilidade de conseguir sair dali. Mas depois do que Tico disse a ela, ela começou a perceber que as chances dela sair dali com vida, eram quase nulas.- Olha, dona Carmem, não é nada pessoal. Não comigo, mas com é com o chefe e ele sempre dá um jeito de resolver os problemas dele. Se não for eu, vai ser outro. Entendeu?- Acho que entendi, Thomaz. Você está basicamente me dizendo que eu vou morrer de qualquer forma, a diferença é que pode ter um
"Ana, eu sei que você deve estar preocupada e eu peço desculpas por isso. Eu realmente sempre quis lhe ajudar, mas eu não sei dizer se consegui fazer isso dessa vez, e por isso eu te peço desculpas também. Quero que saibas que sempre admirei você e sempre vi a mulher incrível que você poderia e ainda vai se tornar. Você é forte, Ana. Muito mais forte do que um dia eu já fui e você vai vencer. Eu espero e desejo que você vença, que você tenha uma vida boa e honesta. Que você tenha uma vida feliz. Eu gostaria de poder estar com você durante a sua caminhada, mas o tempo que estive contigo já valeram a minha vida. Eu te agradeço por ter me feito perceber qual era o meu papel nesse mundo, ou melhor, por ter me lembrado qual era o meu papel, qual era a minha missão. Eu falhei com você, mas falhei tentando fazer o melhor. E é pela minha falha que eu digo, não procure mais sobre isso. Não me procure, não precisa. Eu estarei muito melhor no lugar que irei. Será uma libertação para mim e eu rep
- A menina nasceu naquele mesmo hospital, mas a mãe ainda era menor de idade. Lúcia disse que ela parecia gostar da menina, mas a avó dela não queria a criança. Disse que seria outra criança para ela criar. De alguma forma, provavelmente por ser moradora antiga de um morro bem conhecido daqui da cidade, ela já tinha ouvido que algumas vezes, algumas pessoas, levavam crianças. Ela ofereceu a menina para Lúcia. Poderia ter sido um trabalho bem fácil, mas não foi. Pensei em vender a menina, tinha um casal que até pareceu interessado nela, mas ela não era a mais requisitada, se é que você me entende. Os gringos não queriam uma criança da cor dela e ela foi ficando para trás. Eu não podia perder tanto tempo com ela, porque era só um gasto a mais. Então eu ia manda-la para um outro lugar. Um lugar que sempre aceitam qualquer criança, jove
Ana parou no meio do caminho. Ela estava andando rápido e estava ofegante, nervosa... Ela não queria ter que falar aquilo naquele momento e nem daquele jeito, mas ela sabia que Davi não ia parar de insistir e a última coisa que ela precisava no momento, era ter mais o pai de Davi nos seus pensamentos. Ela sentia nojo e repulsa todas as vezes que lembrava dele e ela não suportava isso. Ela não podia nem se imaginar perto dele, nem ouvir a voz dele, quem dirá morar no mesmo teto que ele.- O seu pai é um tarado e pedófilo, Davi!Davi ficou atônito.- O que, Ana?- É, Davi. Me desculpe não ter falado antes para você, mas em algum momento você ia descobrir, eu ia falar para você. Não queria que fosse desse jeito, mas não daria para prolongar isso por muito mais tempo agora.- Como você sabe disso?- Eu não quero falar s
Tico levou os dois para um motel. Assim que chegou na recepção ele pediu um quarto e pediu para chamar uma moça de nome Alessandra.A recepcionista do motel disse que já ela iria para o quarto dele e ele entrou.Tico estacionou o carro, fechou a porta da garagem, abriu a porta do quarto e verificou todo o ambiente, para ter certeza de que não havia ninguém lá dentro.- Saiam do carro.Ana e Davi saíram e se perguntaram onde estavam.- Fiquem calados e falem baixo. Entrem aí.- Você nos trouxe para um motel? - Davi perguntou. - O que você vai fazer com a gente?- Eu não vou fazer nada com vocês, moleque medroso. Entra aí e fala mais baixo! Já avisei.Entraram no quarto e Tico trancou a porta.Tico foi no frigobar, pegou uma das águas e bebeu. Depois pegou um dos chocolates e abriu a barrinha.-
- Eu vivia com a minha mãe e meus irmãos no Morro do Alemão. Quando eu fiz 17 anos a minha mãe começou a se relacionar com um cara e acabou levando ele para dentro de casa. No começo a gente gostava dele e ele tratava todos nós como se fossemos filhos dele. Comprava roupas novas e até celular ele me deu. Ele não parecia trabalhar, mas sempre tinha dinheiro pra comprar as coisas. No começo a gente gostou bastante. Ele ajudava com as contas de casa e a gente passou a ter mais comida. Ele também parecia tratar bem a nossa mãe. Como ele não trabalhava, saía só as vezes, ele passava muito tempo em casa e toda tarde quando eu chegava da aula, ele estava lá. No começo ele só conversava comigo e tals. Mas quando meus irmãos começaram a estudar a tarde, eu acabei ficando sozinha na parte da tarde com ele, porque a mamãe trabalhava o dia inteiro. D
Thomaz não falou nada, ele apenas ficou me encarando e eu não sei dizer exatamente o motivo, mas eu estava olhando para ele com tanta raiva que acho que ele notou, porque pela primeira vez ele não conseguiu ficar me encarando por muito tempo. Ele logo desviou o olhar, baixando a cabeça, mas fingindo que não havia sido afetado. Estava muito claro pra mim que havia sido ele quem tinha tirado a vida da diretora Carmem. Ele trabalhava com a Lúcia, para alguém que era muito poderoso. Ele sabia de coisas demais e com certeza havia lido a carta que ela escreveu pra mim. Carta que eu guardaria pelo resto da minha vida. Eu senti muita raiva daquele homem ou rapaz. Ele parecia novo sim, mas a expressão dele era de alguém muito mais velho. Por um segundo eu senti que ele poderia ser sim uma pessoa boa, depois que a tal Alessandra, namoradinha dele e faz tudo daquele motel, disse o que ele fez para ela. Mas nem aquilo que ele fez pra ela foi uma coisa boa. Ele não era nada bom e