Thomaz não falou nada, ele apenas ficou me encarando e eu não sei dizer exatamente o motivo, mas eu estava olhando para ele com tanta raiva que acho que ele notou, porque pela primeira vez ele não conseguiu ficar me encarando por muito tempo. Ele logo desviou o olhar, baixando a cabeça, mas fingindo que não havia sido afetado.
Estava muito claro pra mim que havia sido ele quem tinha tirado a vida da diretora Carmem. Ele trabalhava com a Lúcia, para alguém que era muito poderoso. Ele sabia de coisas demais e com certeza havia lido a carta que ela escreveu pra mim. Carta que eu guardaria pelo resto da minha vida.
Eu senti muita raiva daquele homem ou rapaz. Ele parecia novo sim, mas a expressão dele era de alguém muito mais velho. Por um segundo eu senti que ele poderia ser sim uma pessoa boa, depois que a tal Alessandra, namoradinha dele e faz tudo daquele motel, disse o que ele fez para ela. Mas nem aquilo que ele fez pra ela foi uma coisa boa. Ele não era nada bom e
Quando chegamos no morro já era bem tarde da noite, mas o movimento ainda parecia ser grande. Acho que o incêndio foi realmente algo que atingiu uma proporção maior do que qualquer um esperaria, inclusive a Lúcia. Não acho que ela queria que aquilo tivesse chamado tanta atenção assim, mas chamou. Aparentemente a fumaça acabou indo bem longe e apesar da nossa casa não ser encostada em outras, acho que teve uma preocupação grande com relação ao fogo acabar se espalhando.- Davi, tem gente pra caramba lá.- É, eu estou vendo.- Vou deixar vocês por aqui mesmo. Subam andando. Tem gente demais aí e podem estar revistando os veículos. Não se esquece do que eu te falei, menina.- Eu nunca vou me esquecer de você, Thomaz.Eu não falei isso de uma forma positiva. Estava sentindo tanta raiva daquele homem e es
- É, pode ser sim, senhor.- Então, qual o número do contato telefônico da sua mãe? Pode escrever aqui nesse papel para mim?- Posso sim.Comecei a escrever o número e entreguei para ele.- Obrigado. E como é o nome mesmo da sua mãe?- É Lúcia. Mas eu não sei o sobrenome dela...- Achei bem esquisito quando você disse isso. Não seria o mesmo que o seu?- É... Acho que o senhor vai encontrar o sobrenome lá na escola em que eu estudo. Ela entregou meus documentos lá quando eu comecei a estudar.- Você não sabe o seu sobrenome?- Eu nunca perguntei, senhor Tavares.Tavares me olhava com um olhar de interrogação. Quando eu falava em voz alta, eu percebia o quão absurdo aquilo soava. Como assim eu não sabia qual era o meu sobrenome? Eu sabia porque eu não sabia qu
"Eu devia ter cerca de 5 anos de idade quando comecei a apanhar do meu pai. Ele era militar e nós nos mudávamos constantemente. Eu sei que nasci em Manaus, mas meus pais eram daqui do Rio de Janeiro mesmo. As minhas primeiras lembranças são naquela cidade e apesar de ter passado por poucas e boas por lá, eu ainda guardo com carinho os anos que passei naquele lugar.Minha mãe, que se chamava Leopoldina, era uma mulher muito bonita e era também muito mais nova que meu pai. Depois de adulto eu descobri que ele tinha tirado ela da familia, que morava na Bahia. Eles passavam muitas necessidades lá e um dia ela conheceu meu pai. Ele era 15 anos mais velho do que ela, mas quando ela o conheceu ele era extremamente sorridente e agradável. Ele parecia ser um homem bom e o tempo que esteve na cidade, ele ajudou muito à ela e sua familia. Todos os viam como um homem sábio e inteligente. Mas as aparencias enganam e eles não passaram tempo o suficiente com ele, para saber que ele conseguia fingir
Minha mãe ficou comigo no colo, me protegendo e ela levou não sei quantas lambadas. Lembro que depois disso ela passou vários dias no quarto e foi a partir desse dia que eu passei a ter muito medo de meu pai. Eu também nunca mais tentei fazer bolo. Até hoje eu não sei fazer. Na verdade, eu sou um zero à esquerda com relação a comida. Nunca aprendi a cozinhar nada direito.Depois dessa primeira surra, eu passei a apanhar bastante. Tudo que eu fazia de errado era motivo para eu apanhar. Algumas vezes minha mãe tentava intervir, mesmo sabendo que no final, nós dois iriamos apanhar, porque ele nunca desistia. Teve uma época que isso passou a acontecer quase diariamente.Meu pai também discutia muito com a minha mãe. Muitas vezes ela tentava fazer com que eles nào brigassem na minha frente. Quando ele chegava com grosserias, ela ignorava ou só respondia o que ele
- Bom, meu filho, agora você já é praticamente um homem. Em breve você fará 18 anos de idade e agora já irá começar a faculdade. Uma boa faculdade. Tenho muito orgulho do homem que você está se tornando. Brindemos a isso hoje.- Eu ainda não posso beber, pai.- Ninguém precisa saber. Só um copo não mata ninguém. Homem de verdade tem que saber beber.Bebi, mas não foi só um copo e ele também não bebeu somente um copo. Bebemos vários. Eu devia estar bem bêbado mesmo e ele também, porque ele começou a responder as perguntas que eu estava fazendo. Perguntas que eu nunca teria coragem de fazer se estivesse sóbrio.- Pai, por que o senhor é assim?- Assim como?- Bruto.Ele começou a rir alto.- Sou assim porque fui criado desse jeito. Seu av&oc
Passei uma semana procurando um lugar para morar. A maioria dos lugares eram bem caros e eu não podia ficar neles, porque eu tinha que pensar que depois que começasse a trabalhar, eu teria que manter tudo sozinho. E o primeiro salário de uma pessoa que nunca trabalhou, não é dos melhores.Quando eu já estava convencido que não iria encontrar nenhum lugar decente naquela semana, um amigo do meu ensino médio me ligou.- Fala, Luiz. Tu ainda está procurando lugar para morar?- Estou sim, mano.- Então, cara, é o seguinte. Eu tenho uma prima que está alugando um quarto na casa dela. Os pais dela morreram e ela não tem condições de manter a casa sozinha. Daí ela teve a ideia de alugar um dos quartos da casa. Você teria que pagar metade da luz e da água, mais o aluguel do quarto.- E onde que fica a casa?- Fica bem perto da
As primeiras semanas na minha casa nova foi bem monótono. Eu quase não via Renata, porque ela passava a maior parte do tempo no quarto dela, fazendo o trabalho dela. E eu também acabava passando muito tempo no meu quarto. Era meio que um hábito. Quando morava com o meu pai, desde que minha mãe foi embora, eu me habituei a ficar sempre no meu quarto. Não tinha muito assunto com meu pai e parecia que sempre estávamos desconfortáveis quando ficávamos no mesmo ambiente. Então era eu no meu canto, no quarto e ele na sala, sentado no sofá, assistindo televisão. E isso quando ele estava em casa.As minhas aulas ainda não haviam começado e já chegava perto do natal. Meu pai não comemorava o natal desde que minha mãe foi embora, então também não era uma das minhas datas comemorativas preferidas. Eu estava no quarto lendo um livro, como sempre, qua
- Minha mãe saiu de casa quando eu tinha 11 anos de idade e nunca mais voltou. Ela nunca teve uma boa relação com meu pai. Sei que ela era bem mais nova do que ele e que a familia dela era da Bahia, mas nunca conheci nenhum de meus parentes. E isso é uma boa curiosidade. Nunca conheci nenhum parente materno e nem paterno. Acho que meus pais eram pessoas bem peculiares porque nenhum deles tinha contato com alguém de suas familias. No dia que mamãe foi embora, eu sabia que ela tinha ido e sabia o porquê. Não foi algo que me surpreendeu e eu nem ao menos fiquei muito triste com aquilo. No fundo eu sabia que um dia ela iria embora e ela foi mesmo. Nunca fui tão próximo assim de minha mãe também. Ela era uma mulher boa. Fazia comida pra mim, sempre me arrumava e organizava minhas coisas. As vezes ela ainda conseguia ser carinhosa, mas nunca recebi muito afeto nem dela e nem de meu pai. Mas ac