As primeiras semanas na minha casa nova foi bem monótono. Eu quase não via Renata, porque ela passava a maior parte do tempo no quarto dela, fazendo o trabalho dela. E eu também acabava passando muito tempo no meu quarto. Era meio que um hábito. Quando morava com o meu pai, desde que minha mãe foi embora, eu me habituei a ficar sempre no meu quarto. Não tinha muito assunto com meu pai e parecia que sempre estávamos desconfortáveis quando ficávamos no mesmo ambiente. Então era eu no meu canto, no quarto e ele na sala, sentado no sofá, assistindo televisão. E isso quando ele estava em casa.
As minhas aulas ainda não haviam começado e já chegava perto do natal. Meu pai não comemorava o natal desde que minha mãe foi embora, então também não era uma das minhas datas comemorativas preferidas. Eu estava no quarto lendo um livro, como sempre, qua
- Minha mãe saiu de casa quando eu tinha 11 anos de idade e nunca mais voltou. Ela nunca teve uma boa relação com meu pai. Sei que ela era bem mais nova do que ele e que a familia dela era da Bahia, mas nunca conheci nenhum de meus parentes. E isso é uma boa curiosidade. Nunca conheci nenhum parente materno e nem paterno. Acho que meus pais eram pessoas bem peculiares porque nenhum deles tinha contato com alguém de suas familias. No dia que mamãe foi embora, eu sabia que ela tinha ido e sabia o porquê. Não foi algo que me surpreendeu e eu nem ao menos fiquei muito triste com aquilo. No fundo eu sabia que um dia ela iria embora e ela foi mesmo. Nunca fui tão próximo assim de minha mãe também. Ela era uma mulher boa. Fazia comida pra mim, sempre me arrumava e organizava minhas coisas. As vezes ela ainda conseguia ser carinhosa, mas nunca recebi muito afeto nem dela e nem de meu pai. Mas ac
Como eu te disse, o meu casamento não foi uma das melhores escolhas que fiz na minha vida. Nós éramos muito amigos e confundimos as coisas. Não ia durar muito o nosso casamento. Nosso casamento já começou fadado ao fracasso. Morando juntos e vivendo todos os dias juntos, começamos a perceber nossas diferenças e começamos a notar que éramos muito mais amigos do que marido e mulher. Não tínhamos muita química, somente muita parceira e em um momento, que não demorou muito para acontecer, percebemos que nosso amor era somente de amizade, de consideração, carinho e até amor, mas não o amor que é necessário para se ter em um casamento. Decidimos que o melhor seria nos separarmos e continuarmos como amigos. O que realmente somos até hoje.Minha familia nunca ficou muito satisfeita porque resolvemos casar somente no cart&oacu
Eu sentia meu coração bater mais rápido quando via Renata. Sentia a palpitação quando ela falava comigo e quando estava perto de mim. Eu nunca havia sentido aquilo, era um rapaz bem inocente nesse aspecto. No começo ela não admitia, mas ela também sentia algo por mim, mas mesmo que nossa diferença de idade não fosse tão grande, era algo que fazia com que ela ficasse com um pé atras.Com o tempo passando, depois que minha faculdade começou e eu consegui passar nos meus primeiros concursos, foi meio inevitável. Nós começamos a namorar.No começo ela não queria que ninguém nos visse em público porque ela dizia que iriam perceber que ela era muito mais velha do que eu. O que era mentira, porque só iriam saber que ela era mais velha do eu, se nós falássemos nossas idades, porque sempre pareciamos ter exatamente a me
Durante a viagem ela perguntava se eu não queria levar algo para o meu pai. Na altura do campeonato, depois de anos casados, eu já tinha falado para ela que havia mentido quando disse que meu pai não havia se mudado e sim me expulsado de casa. Então, de vez enquando, nós o visitávamos. Ele já estava aposentado nessa época. Se aposentou cedo e passava uma boa parte do dia bebendo em um bar que ficava na esquina de sua casa nova. Continuamos não possuindo uma relação muito boa, mas com certeza era melhor do que a relação que tinhamos antes. Mas não éramos tão próximos para que eu lembrasse dele na viagem.A viagem estava sendo maravilhosa. Via como Renata estava encantada com tudo o que estava vendo e experimentando. Foi um sopro de renovação, para ela e para mim.Quando chegamos ao nosso destino final, já estávamos meio cansa
Eu vi quando os olhos de minha mãe se encheram de lágrimas. Parecia que eu podia ver o nó que se fez em sua garganta. Ela demorou alguns minutos para me responder. - Eu pensei que você estivesse melhor com o seu pai. - Você sabia que eu nunca estaria melhor com ele. Você foi embora por causa dele. - Sim. Mas eu pensava que ele iria melhorar como pessoa depois que eu fosse embora. Eu precisava ir embora. Iria morrer se continuasse ali. Sentia que em algum momento ele me surraria e eu nunca mais acordaria. Apesar de tudo, ele amava você. Ele servia melhor como pai, do que eu como mãe. - Eu não julgo você por ter ido embora. Acho que qualquer pessoa iria querer ir embora daquele inferno. Mas você nunca mais procurou por mim. Passei muitos anos querendo saber o que havia acontecido com você. Pensei que pudesse estar passando necessidades, que talvez não tivesse conseguido sobreviver sozinha. Até descobrir que você teve uma vida boa. Que já tinha outros fi
- Amor, como foi hoje?- Como foi hoje o que?- Não se faça de desentendido. Como foi hoje com a sua mãe?- Eu não quero falar sobre isso..- Acho que seria bom que você falasse um pouco. Mas se você não quiser, tudo bem, eu vou respeitar.Eu sabia que ela iria respeitar, mas que ela estava mesmo era muito curiosa, o que até me arrancou um sorriso. Eu sei que ela já tinha era se segurado muito para me perguntar como tinha sido nossa conversa.- Eu sei que você quer saber porque está muito é curiosa, dona Renata.- Estou mesmo. - Renata falou rindo.- Então, eu nunca achei que ela fosse uma pessoa ruim. As lembranças que tinha dela era sendo uma mulher dedicada e muito boa em tudo o que fazia. Ela era uma boa mãe. Não era perfeita. Nunca tinha sido muito carinhosa, mas ela era uma boa mãe. Ela me defendia sempre. E
- Não é sua culpa que as coisas não sejam sempre perfeitas. As coisas não são sempre como queremos, mas elas são do jeito que dá para ser. - Eu falei, olhando pela janela.- É... Bom, chegamos.Não demoramos muito tempo para chegar na casa de minha mãe. Era uma casa bem bonita, com um jardim bem florido e grande. Não parecia ser a casa de uma mulher que vendia bugingangas em uma praça. Mas imaginei que seria a casa do falecido.Descemos do carro e ela falou:- Não se irritem com os cachorros e os gatos. Eles são meio dados e são alegres demais, mas se vocês quiserem, eu posso colocar eles no pátio de trás, para que eles não fiquem pulando em cima de vocês.Antes que minha mãe pudesse terminar de falar, Renata já estava no chão fazendo carinho em quantos animais ela conseguia. Renata sempre qu
Minha mãe estava com os olhos cheios de lágrimas, mas ela não queria ninguém chorando naquele momento. Eu sabia que tinha um arrependimento dentro dela, que tinha uma dor que nunca seria curada pela culpa que ela sentia, mas acho que ela ficou feliz por me ouvir falar o que eu falei. Ficou feliz que apesar de tudo, eu realmente ter tido uma vida boa e por ter encontrado alguém que fez tudo valer a pena.Logo depois disso, fomos para a sala de jantar. Minha mãe nos fez sentar enquanto ela e meu irmão serviam a mesa. Era realmente um banquete. Eu lembrava que a comida de minha mãe era boa, mas agora era excelente. De sobremesa tinha um bolo. Na hora que ela colocou o bolo na mesa, ela me olhou e nesse momento, por mais que eu tenha tentado muito, as lágrimas começaram a escorrer descontrola mente pelo meu rosto. Minha mãe deu a volta na mesa e me abraçou. Não sei quanto tempo ficamos abra