Fomos indo para o cinema e conforme eu fui descendo o morro, eu fui sentindo mais medo ainda. Aquela seria a primeira vez que eu iria de fato sair do morro, porque a escola ficava lá embaixo, mas ficava bem do lado da entrada do morro. Então ficava praticamente dentro do morro de qualquer forma. Tanto que chamavam de escola da Rocinha.
O cinema ficava um pouco mais distante que o colégio, mas ainda assim dava para ver o morro. Meu coração batia mais forte conforme eu ia me afastando e eu comecei a suar. Acho que Davi deve ter percebido que eu estava ficando nervosa.
- Ta tudo bem, Ana? Você está meio pálida.
- Ta sim,
Lúcia não demorou muito a chegar. Ela disse que chegaria mais tarde, mas ela chegou um pouco depois das 19 horas. Ainda bem que eu já estava em casa há um tempo. Mas ela parecia que notava algo diferente de longe.- Que cheiro é esse? - Lúcia perguntou- Que cheiro? - Eu perguntei assustada, porque já imaginava que ela estava sentindo o cheiro do hidratante.- Um cheiro de perfume ou sabonete diferente.- Não estou sentindo nada.
Diretora Carmem não tinha uma boa fama mesmo no colégio. Pelo menos não no sentido de ser a pessoa mais amável que havia ali. Ela era conhecida por ser sempre muito profissional, muito inteligente, mas muito dura também. É porque quase ninguém sabia a quão boa ela era e o quanto ela fazia pelos alunos. Nem que ela era capaz de abdicar de sua própria vida para ajudar o próximo.Assisti a aula um pouco mais tranquila por causa da minha conversa com a diretora Carmem. O que ela havia dito realmente fazia sentido. Eu já tinha visto o Davi conversando com outras meninas e até sabia que tinham algumas que gostavam dele. Mas eu nunca tinha visto ele se envolver com alguém e nós sempre estávamos juntos.
Davi nunca havia sido um menino de muita atitude. Ele não nasceu no morro da Rocinha. Seus pais moravam em um apartamento, que não ficava em uma área que era nobre, mas que era muito melhor do que o morro.Carlos, seu pai, era nascido do morro, mas tinha conseguido sair de lá quando completou a maioridade. Foi tentar uma vida diferente e foi nessa tentativa de vida que ele conheceu Mariete, que futuramente seria sua esposa. Mariete vinha de uma família que não era rica, mas também não eram pobres. Ela trabalhava com o pai em um mercadinho que eles tinham. Não era nada grande, mas foi assim que ela conheceu Carlos. Mariete era extremamente branca, assim como seus pais e ela tinha os cabelos castanhos claros. Ela era uma mulher muito bonita e logo chamou a atenç&at
Davi amava o pai, ele o admirava. Mas conforme ele foi crescendo, ele foi começando a perceber o que acontecia dentro de casa. Começou a perceber e entender o motivo de sua mãe chorar tanto. De ela nunca estar arrumada e de nunca fazer questão de sair, como os outros casais saiam.- Mamãe, por que você não vai com o pai quando ele vai em alguma festa?- Ah, meu filho, porque eu não gosto muito dessas coisas e eu também não quero atrapalhar o seu pai.Outras vezes ele perguntava:
- Aceita namorar comigo, Ana?- Eu aceito…Davi me pediu em namoro no dia 5 de agosto.- Já é o meu presente de aniversário adiantado.Davi fazia aniversário no dia 7 de agosto. Dois dias depois de começarmos a namorar.- Você pode vir jantar na minha casa? No dia do meu aniversário? Tenho certeza que meus pais iriam gostar de recebê-la. Todos os anos nós fazem
No dia seguinte Davi foi me pegar na frente de casa como sempre fazia. Nesse dia ele me chegou com uma surpresa. Ele havia comprado de um vendedor ambulante dois anéis de coquinho.- Ana, me dê a sua mão direita.- O que é isso?- É nosso anel de compromisso. Eu ainda não tenho dinheiro para comprar um anel de "verdade", mas eu quero que todos saibam que você tem um compromisso comigo. Um dia eu vou te dar o anel mais bonito que pudermos encontrar, sem que o valor importe.- Esse aqui já é o anel mais bonito, Davi.
A casa de Davi não parecia nada com a minha e isso porque eles não eram ricos, mas para mim, eles eram. A sala parecia que havia saído de uma revista de boneca. Dona Mariete parecia ser uma mulher muito prendada e parecia cuidar de tudo com muito zelo. Acho que foi por causa dela que Davi sempre foi muito organizado, higiênico e cuidadoso com tudo que era dele. A casa parecia extremamente limpa e tudo parecia ser novo, tinha até cheiro de casa nova, de tão limpa e bem cuidada que era. Eles tinham uma televisão grande na sala, que tinha dois sofás bem confortáveis. Eles também tinham uma sala de jantar, que tinha uma mesa de madeira muito bonita, parecia que tinha sido ta
Lúcia guardava um baú embaixo da cama e ela sempre tirava as roupas dela de lá. Ela dizia que eu nunca deveria mexer nele e ela sempre o mantinha trancado. Mesmo que ela deixasse aberto, eu dificilmente desobedecia alguma coisa dela. Eu sempre soube da existência daquele baú ali, mas nunca pensei que tivesse mais coisas além de roupas e objetos pessoais dela.Era o baú que estava aberto. Acredito que ela tenha acreditado ter passado o cadeado direito, mas ela deve ter saído às pressas e ele estava meio aberto. Quando eu sentei na cama, pressionei a tampa do baú e tinha algo que estava o impedindo de fechar direito. Puxei o baú e vi que no chão tinham algumas fotos. Eram fotos do tito. Tito tinha morrido já tinha alguns anos e foi uma ép