Lúcia guardava um baú embaixo da cama e ela sempre tirava as roupas dela de lá. Ela dizia que eu nunca deveria mexer nele e ela sempre o mantinha trancado. Mesmo que ela deixasse aberto, eu dificilmente desobedecia alguma coisa dela. Eu sempre soube da existência daquele baú ali, mas nunca pensei que tivesse mais coisas além de roupas e objetos pessoais dela.
Era o baú que estava aberto. Acredito que ela tenha acreditado ter passado o cadeado direito, mas ela deve ter saído às pressas e ele estava meio aberto. Quando eu sentei na cama, pressionei a tampa do baú e tinha algo que estava o impedindo de fechar direito. Puxei o baú e vi que no chão tinham algumas fotos. Eram fotos do tito. Tito tinha morrido já tinha alguns anos e foi uma ép
- Ana, eu nem sei o que lhe dizer, não vou fazer acusações sem saber e sem ter confirmações. Mas eu acho que isso que você está me dizendo é algo muito sério. Será que você tem como trazer esses arquivos para mim?- Não tenho como, diretora Carmem. Eu correria risco dela saber e descobri que encontrei esses arquivos. Além de me bater, com certeza, ela também daria um jeito de sumir com aquelas coisas lá de casa.- E se você tirar foto? Você pode tirar fotos e trazer para ver se conseguimos entender um pouco mais sobre isso.
Tiago nasceu prematuro e precisou ficar na incubadora. Lúcia ia vê-lo todos os dias e sempre que conseguia o pegava no colo. Ela nunca entendeu o porquê de não conseguir fazê-lo se acalmar nos braços dela. Talvez porque ela não podia ser vista com ele no colo por muito tempo, porque não era algo que as enfermeiras tinham o costume de fazer. Esse papel não era delas. Mas Lúcia sempre o pegava, mesmo que fosse rápido.Lúcia tirou a foto dele logo que ele nasceu, mas ele era um bebê tão pequeno e tão magrinho, que ninguém se interessou por ele. Mas Lúcia se interessou desde o primeiro momento.
- Bom dia. Eu falo com o senhor Adalberto nesse número?- Sou eu mesmo, quem fala?- Bom dia, senhor Adalberto. Eu sou o policial Tavares. Luiz Tavares. Assumi o caso do desaparecimento de seu neto e gostaria de saber se poderíamos conversar pessoalmente.- Claro, podemos sim. Você pode vir até o apartamento de minha filha. Nós não conseguimos voltar para casa desde que soubemos de seu falecimento. Vou lhe passar o endereço por mensagem.- Não precisa. Já que estão no apartamento de sua filha, eu tenho o endereço aqui
Tavares trabalhava dia e noite no caso de Tiago e ele já havia recebido algumas informações de alguns de seus melhores informantes, que quem havia pegado Tiago, era uma "cobra" muito grande e que nenhuma das outras pessoas que já haviam sido presas devido ao tráfico de crianças, sabia quem ele era. Mas eles já sabiam como o chamavam. Bichão. Tavares já sabia que Bichão existia, mas ele parecia um fantasma, porque as poucas pessoas que falaram sobre ele, não sabiam nada mais do que a forma como o chamavam. Muitas vezes nem sabiam descrevê-lo. E coincidentemente, todas as pessoas que foram pegas e que acabavam falando de Bichão, acabavam por falecer na cadeia, ou se acabavam sendo soltas, desapareciam. Isso acabava fazendo com que o medo sobre falar sobre o Bichão fosse maior ainda.
Eu não percebi que havia demorado mais tempo do que gostaria com a diretora Carmem. Eu sempre voltava para casa com Davi e sempre ia para as aulas de reforço, algo que não fiz naquele dia. Assim que eu saí da sala da diretora Carmem, o Davi estava sentado, me esperando na frente da sala dela.- Eu sabia que você estava aí. - Disse Davi.- Pois é, eu acabei perdendo a hora, não percebi que já havia passado tanto tempo.- Está tudo bem, Ana? Você está meio pálida.- Está sim.
- Como assim? Tinha um bebê na sua casa? Eu nunca ouvi nada do lado de fora. E qual o nome dele? Eu não estou entendendo nada.- Davi, um dia a Lúcia apareceu com um bebê em casa. De tempos em tempos ela aparecia com um bebê em casa. As vezes eles ficavam um dia, as vezes ficavam só algumas horas, mas o Joaquim, que hoje eu descobri que se chamava Tiago, foi um deles. Mas ele passou meses lá em casa com a gente. Foi a única época que eu não vi Lúcia ir trabalhar. Ela realmente gostava dele e eu também. Pensei que ela pudesse ter adotado ele, porque ele já estava há um tempo com a gente, mas chegou um dia que um cara chegou na frente de casa e disse que iria levá-lo. Desde lá eu nunca mais ouvi falar dele, até hoje. At
- Bom dia, diretora Carmem. Eu pensei muito no que conversamos naquele dia. Contei para o Davi também e por isso ele está aqui comigo.Falei isso na segunda-feira, alguns dias após conversar com a diretora Carmem. Durante os dias que estive em casa eu mal conseguia olhar para Lúcia e eu tive muita vontade de perguntar dela. Muitas vezes ela me pegou encarando-a e até arremessou alguns objetos em mim, dizendo que eu estava assustando ela olhando para ela daquela forma. Minha mente estava ali, mas também estava longe. Várias coisas passavam na minha cabeça e ao mesmo tempo que eu tinha vontade de dizer tudo o que eu havia descoberto, também tinha medo de falar. Mas eu queria muito saber se eu também era uma daquelas crianças e e se eu, um dia, tive uma fam&i
Ainda teríamos um longo caminho pela frente, mas pelo menos, eu já tinha uma ideia de onde começar.Fui para casa naquele dia disposta a começar a investigação. Sentia uma adrenalina, raiva e tristeza ao mesmo tempo. Parecia que havia acontecido um furacão na minha vida e eu precisava colocar tudo no lugar certo. Mas não que eu soubesse qual seria o lugar certo de cada coisa.Quando eu cheguei em casa, Lúcia já estava lá. Acho que ela não tinha trabalhado muito naquele dia, ou até poderia nem ter ido, porque quando eu saí de casa ela ainda estava lá e ela estava em casa mesmo sendo em um horário bem cedo para os dias "normais". Me fez pensar