- Bom dia. Eu falo com o senhor Adalberto nesse número?
- Sou eu mesmo, quem fala?
- Bom dia, senhor Adalberto. Eu sou o policial Tavares. Luiz Tavares. Assumi o caso do desaparecimento de seu neto e gostaria de saber se poderíamos conversar pessoalmente.
- Claro, podemos sim. Você pode vir até o apartamento de minha filha. Nós não conseguimos voltar para casa desde que soubemos de seu falecimento. Vou lhe passar o endereço por mensagem.
- Não precisa. Já que estão no apartamento de sua filha, eu tenho o endereço aqui
Tavares trabalhava dia e noite no caso de Tiago e ele já havia recebido algumas informações de alguns de seus melhores informantes, que quem havia pegado Tiago, era uma "cobra" muito grande e que nenhuma das outras pessoas que já haviam sido presas devido ao tráfico de crianças, sabia quem ele era. Mas eles já sabiam como o chamavam. Bichão. Tavares já sabia que Bichão existia, mas ele parecia um fantasma, porque as poucas pessoas que falaram sobre ele, não sabiam nada mais do que a forma como o chamavam. Muitas vezes nem sabiam descrevê-lo. E coincidentemente, todas as pessoas que foram pegas e que acabavam falando de Bichão, acabavam por falecer na cadeia, ou se acabavam sendo soltas, desapareciam. Isso acabava fazendo com que o medo sobre falar sobre o Bichão fosse maior ainda.
Eu não percebi que havia demorado mais tempo do que gostaria com a diretora Carmem. Eu sempre voltava para casa com Davi e sempre ia para as aulas de reforço, algo que não fiz naquele dia. Assim que eu saí da sala da diretora Carmem, o Davi estava sentado, me esperando na frente da sala dela.- Eu sabia que você estava aí. - Disse Davi.- Pois é, eu acabei perdendo a hora, não percebi que já havia passado tanto tempo.- Está tudo bem, Ana? Você está meio pálida.- Está sim.
- Como assim? Tinha um bebê na sua casa? Eu nunca ouvi nada do lado de fora. E qual o nome dele? Eu não estou entendendo nada.- Davi, um dia a Lúcia apareceu com um bebê em casa. De tempos em tempos ela aparecia com um bebê em casa. As vezes eles ficavam um dia, as vezes ficavam só algumas horas, mas o Joaquim, que hoje eu descobri que se chamava Tiago, foi um deles. Mas ele passou meses lá em casa com a gente. Foi a única época que eu não vi Lúcia ir trabalhar. Ela realmente gostava dele e eu também. Pensei que ela pudesse ter adotado ele, porque ele já estava há um tempo com a gente, mas chegou um dia que um cara chegou na frente de casa e disse que iria levá-lo. Desde lá eu nunca mais ouvi falar dele, até hoje. At
- Bom dia, diretora Carmem. Eu pensei muito no que conversamos naquele dia. Contei para o Davi também e por isso ele está aqui comigo.Falei isso na segunda-feira, alguns dias após conversar com a diretora Carmem. Durante os dias que estive em casa eu mal conseguia olhar para Lúcia e eu tive muita vontade de perguntar dela. Muitas vezes ela me pegou encarando-a e até arremessou alguns objetos em mim, dizendo que eu estava assustando ela olhando para ela daquela forma. Minha mente estava ali, mas também estava longe. Várias coisas passavam na minha cabeça e ao mesmo tempo que eu tinha vontade de dizer tudo o que eu havia descoberto, também tinha medo de falar. Mas eu queria muito saber se eu também era uma daquelas crianças e e se eu, um dia, tive uma fam&i
Ainda teríamos um longo caminho pela frente, mas pelo menos, eu já tinha uma ideia de onde começar.Fui para casa naquele dia disposta a começar a investigação. Sentia uma adrenalina, raiva e tristeza ao mesmo tempo. Parecia que havia acontecido um furacão na minha vida e eu precisava colocar tudo no lugar certo. Mas não que eu soubesse qual seria o lugar certo de cada coisa.Quando eu cheguei em casa, Lúcia já estava lá. Acho que ela não tinha trabalhado muito naquele dia, ou até poderia nem ter ido, porque quando eu saí de casa ela ainda estava lá e ela estava em casa mesmo sendo em um horário bem cedo para os dias "normais". Me fez pensar
Eu sentia que queria conversar com outra pessoa e por algum motivo eu estava até meio chateada com o Davi. Acho que na realidade não é que eu estivesse chateada com ele. Eu estava chateada com a situação. Frustrada por não ter encontrado o que eu pensei que encontraria. Com medo de ser descoberta e mais ansiosa do que estava antes.Segui o caminho inteiro calada. Parecia que minha cabeça estava com um milhão de pensamentos por segundo. Sentia que minha respiração estava forte e meu coração batia tão rápido que chegava a doer o meu peito. Pensei que poderia ter um treco no meio do caminho. O caminho da escola nunca pareceu tão longo.<
Lúcia continuou a organizar algumas coisas que estavam em sua mochila e depois foi tomar banho, sem olhar para mim. Eu entendi o que ela quis dizer, mas não esperava que aquela fosse a reação dela. Esperei que ela viesse me bater por estar sendo muito invasiva, ou que me xingasse, mas não que fosse me dar uma resposta decente. Era verdade. Não era possível que nós construíssemos uma relação melhor do que a que já tínhamos. Lúcia percebia que eu estava crescendo, que eu só ficava cada vez mais velha e que em breve eu iria sair de casa. Em algum momento, que eu não sei dizer qual, ela entendeu que não tinha mais todo o controle sob a minha vida. Em algum momento ela entendeu que não poderia mais me fazer de sua escrava. Eu demorei um tempo para perceber isso, mas aos poucos ela foi me exig
Carmem não estava gostando do rumo que aquela história estava tomando. Ela achava que havia muito mais por trás do pouco que haviam descoberto. Ela não sabia até onde aquela história poderia chegar, mas ela sentia que era algo perigoso e que não deveria ser tratado como uma curiosidade adolescente. Carmem sabia que não era somente uma questão adolescente, que era a vida de Ana, mas ainda assim ela pensava que Ana estava tratando aquilo com menos seriedade do que deveria.Ana não achava que aquilo que estava acontecendo, o que ela havia descoberto, era uma brincadeira ou algo do tipo. Ela sabia que era sério, mas não sabia o quão sério era e mesmo qu