Arlo
Culpo-me até hoje pelo o que aconteceu com Dianna. Eu a incentivei, ela tinha medo de trabalhar com pessoas estranhas e eu a induzi, para que no fim a única pessoa detida tenha sido ela.
Salvamos a vida do rei quando ele estava a caminho de outro reino, foi nos dito que alguém queria mata-lo para tomar seu lugar como rei e ele é um homem bom, dentro das possibilidades. Reis anteriores eram loucos, viciados em jogos humanos, amantes da guerra entre pessoas famintas e este não, não faz muito para ajudar o povo, mas também não torna sua vida pior. Considerando as possibilidades que nos aguardava, acreditei que deveria salvar a vida do rei, e assim fizemos, mas tudo deu errado.
Assim que a flecha atravessou a garganta do assassino, ou quem seria o assassino, alguém entre a comitiva real viu um de nós e gritou apontando para nossa direção. Tentamos correr, corremos na verdade, menos Dianna, ela ficou para trás, não sei o motivo, mas alguém a agarrou. Paralisei ao ver, o arco e flecha não estava em sua mão, não podiam acusa-la de assassinato, não tinham como provar que ela o mataria ou que havia matado alguém, por isso alguém me puxou dizendo que ela ficaria bem. Eu, um tolo, acreditei.
Fugi com eles, peguei o dinheiro e quando soube que ela estava presa tentei retornar. Briguei com todos eles, não houve um único que me apoiasse, me amarraram para que eu não fugisse, levei socos e chutes pra garantir que eu não tentaria qualquer coisa e fui carregado. Na noite seguinte estávamos em alto-mar. O grupo no qual nos envolvemos era um grupo de piratas, os três que estavam conosco era nem metade deles. Fiquei cercado, não tinha como escapar e o jeito foi me aliar a eles.
Hoje em dia faço parte deste grupo de pessoas esquisitas, saqueio navios em busca de riquezas, mas as coisas estão mudando novamente, já vinha mudando há alguns meses, na verdade. Três noites atrás um homem usando um longo manto escuro que o cobria dos pés à cabeça, não era possível se quer ver um milímetro de sua pele ou ouvir sua voz perfeitamente, pois parecia abafada por algo. O homem misterioso contratou nosso grupo de piratas, já reduzido devido a infortúnios, para uma missão, uma missão estranha, mas como envolvia muito dinheiro, ninguém teve coragem de negar.
Como ele nos encontrou ninguém sabe, ancoramos em um porto para abastecermos, não da forma tradicional, é claro, e ele simplesmente apareceu.
Eu fiquei incumbido de roubar a Relíquia da Terra, outros dois homens estavam comigo para apoio, mas a missão era minha e estávamos em outro reino, um bem distante de onde eu e Dianna vivíamos. Dianna, eu tenho que salva-la.
Eu daria um jeito, não sei qual, não tenho ideia de como me desvencilharei deles e do tal homem misterioso, mas darei um jeito. Mas para isso preciso de dinheiro, vou roubar essa joia, pegar meu dinheiro, dar um jeito de tirar Dianna da prisão e fugir.
Os homens comigo só sabiam beber, estávamos estudando o movimento do templo. Ele era muito bem guardado, não seria fácil entrar e roubar a pedra simplesmente, mas é claro que não seria fácil, se fosse o próprio homem faria.
O calor era escaldante, a língua estava seca e os idiotas comigo bebiam e bebiam, mas eu não poderia beber ou não conseguiria nada. Eu precisava entrar naquele lugar, conhecer as pessoas que vivem ali e adquirir confiança, somente assim conseguirei roubar.
Mais cedo vi uma mulher com uma túnica diferente das outras deixar o templo e horas depois observei que ela voltava. O que eu ia dizer? Não faço a menor ideia, mas corri até ela e a chamei.
Os olhos dela me pegaram em cheio. Um azul tão lindo e tão límpido, a pele tão clara, parecia até inimaginável que ela estivesse sob um sol escaldante.
Tive que improvisar, mas o importante é que consegui entrar. Observei a mulher subir as escadas e ela nem olhou para trás.
— Melhor esquecer – ouvi a voz do guarda ao meu lado e me lembrei de que não estava sozinho. Olhei-o.
— Não quero nada com ela – disse firme e repreendi a mim mesmo.
— Melhor assim. Por aqui. – Ele apontou um corredor lateral e o segui.
Entrar no templo já consegui, agora preciso conhecer o lugar e ganhar a confiança do pessoal.
Dianna
Roubar a Relíquia do Oceano
Roubar a Relíquia do Oceano
Roubar a Relíquia do Oceano
...
A moeda subia e descia e eu repetia a frase. O quão louca é essa missão? O quão perigosa? Onde fica o templo de Jared mesmo? Pra que esse homem quer uma relíquia tão poderosa? Se me lembro bem, a mais poderosa dentre todas. Mas o dinheiro... a liberdade...
Dormi na noite passada? Mas é claro que não!
Olhei o teto a cada segundo, processando a informação. A frase final foi desestabilizante. Me segurei nas grades para não cair sentada. Me sentei, deitei e ali fiquei. Eu seria livre na manhã seguinte se aceitasse. Eu deveria aceitar? Receberia muito dinheiro por roubar a joia, é exatamente o que ela era: uma joia.
Não interessa se ela pode sugar toda a água de seu corpo e te matar em segundos. Ou que pode mover todo o mar se a ordem correta for dada. Ela era apenas uma joia. Uma muito poderosa, muito mesmo. E se eu morrer pegando-a? Vale a pena arriscar minha vida?
Que vida? Trancada nessa cela há cinco anos e ainda restando dois!
Sentei-me decidida. Vou aceitar a missão, roubar a joia, sair viva desse negócio e pegar minha grana. Sair desse lugar imundo, não me refiro apenas a cela, mas a todo o reino que nunca foi bom pra mim, nunca me deu nada, porém retirou muito. Retirou minha liberdade e agora eu ia pega-la de volta.
Vejo um vulto e percebo que é o homem encapuzado. Devo estar um lixo, não preguei os olhos esta noite.
— E então, pensou bem na proposta?
— Um pouco. – Mantive a pose despreocupada. Levantei-me, andei até as grades e apoiei um braço nelas, acima da cabeça. – Quero uma garantia de que não vou me ferrar novamente.
— Que garantia é essa? – Dava nervoso ouvir a voz dele, ela era abafada por sei lá o quê.
— Dinheiro. O suficiente pra comprar qualquer liberdade, independente de qual buraco eu seja esquecida dessa vez.
Uma risada profunda escapou do corpo do homem. Ele alcançou um bolso interno e pegou uma sacola de couro e jogou para mim.
Peguei-a, abri e tinha joias de todos os tipos, eu era uma mercenária e sabia o valor delas. Peguei-as, averiguando se eram verdadeiras e eram, ali dentro possuía uma pequena fortuna, com aquilo eu compraria um bom lugar longe dali.
— Serve. – Amarrei a sacola novamente e a descartei sobre a cama dura como se não tivesse tanta importância, mas tinha e muita.
Eu poderia jurar que ele sorriu.
— Aceita então.
Não era uma pergunta, mas ainda assim respondi.
— Sim. Aceito.
A luz do dia era algo estranho para meus olhos. Não o via há tanto tempo. O buraco onde me enfiaram não tinha uma janela decente, apenas um pequeno quadrado no alto da parede por onde entrava um pouco de ar e uma fina luz nas manhãs e isso era o máximo de luz solar que tive todo esse tempo.
Assim que aceitei a missão, os guardas vieram sem falar nada, abriram as grades e eu saí daquele lugar acompanhada pelo homem misterioso. Para onde estávamos indo? não faço a menor ideia.
— Para onde vamos? – questionei, ficar calada não é algo que consigo, principalmente se estiver com algum incômodo em mente, e eu tinha muitos.
— Viajar
Odeio respostas curtas.
— Já estou viajando, já que não ando nas ruas há cinco anos, isto aqui pra mim já é uma viagem.
Ele resmungou somente, mas não parei.
— Quero saber para onde estou indo, acha que sou o quê? Uma idiota que te seguirá sem saber para onde está indo?
Parei no meio da rua e cruzei os braços. Dois passos depois ele parou também. Virou-se lentamente, e eu podia jurar que seus olhos brilharam de ódio.
— Cuidado, garota.
— Está me ameaçando? Te devolvo as joias – quase todas, mas ele não precisava saber disso – e volto para o buraco de onde saí por mais dois anos, sem problemas.
— Faria isso?
Levantei a sacola com as joias em seu interior.
— Para onde estamos indo?
Ele encurtou a distância, agarrou meu pulso estendido e me arrastou.
— A joia deste reino está em meu poder, vamos para o reino vizinho.
— Quer todas as joias? O que pretende com todas elas? Quer morrer?
— Você fala demais, garota. Já sabe para onde estamos indo, agora cala a boca e anda!
Aquela voz abafada tinha um tom grave que eu já tinha escutado antes, mas onde? Quem?
Fui arrastada até o porto onde um navio estava ancorado. As roupas que me foram dadas estavam agarrando em meu corpo devido ao suor, o calor era intenso, mas descobri que ficaria pior, pois estávamos indo até o reino D’Arcos.
Olhei ao redor me despedindo do local onde vivi toda a minha vida, o reino D’Eryn, o reino do deus do ar. No alto da montanha ficava o castelo e templo, não ia pergunta-lo agora, mas como ele havia conseguido a joia era um mistério para mim.
O castelo era no alto da montanha mais alta do reino, guardas reais cercavam o local, além da guarda real havia a guarda do templo, e seja lá quem for que roubou a joia, teria enfrentado o guardião da Relíquia do ar. Mas isso seria um questionamento para depois. Ele disse que estava de posse da mesma e que estava indo ao encontro do mercenário e seus capangas que ficaram incumbidos de roubar a Relíquia da Terra e que em seguida, seguiríamos para o meu destino.
AryaOs olhos do rapaz ficaram em meus pensamentos durante todo o dia e noite, me repreendi pois minha obrigação é com a Relíquia da Terra. As guardiãs não são obrigadas a não terem um relacionamento, mas imagina como seria difícil conciliar um relacionamento amoroso com as obrigações de guardiã! Por isso é melhor afastar a ideia da minha cabeça.Faltava apenas um dia para o Ritual da Lua Cheia. O reino de D’Arcos é em sua maior parte um deserto. O povo muitas vezes precisa se deslocar para se posicionar mais próximo de uma fonte de água, e a finalidade do ritual é pedir chuva aos deuses. Todos ficam empolgados com a proximidade do evento, as proximidades do templo se torna mais movimentada e a segurança precisa ser reforçada para que não haja problemas.Depois de verificar a relíquia, rumo em direção ao salão das orações.Enquanto percorro o corredor escuto passos de alguém atrás de mim e viro-me para ver quem pode ser. Ao me virar vejo um homem trajando uma túnica marrom, a túnica d
DiannaA viagem pelo mar foi silenciosa. Só havia nós dois na pequena embarcação. Aquele homem misterioso disse que estava me levando até os outros, algo me dizia que eu não iria gostar de conhecer essas pessoas.Além dessa informação, ele não disse mais nada e eu também não tinha o que falar. Escorei-me na lateral do barco e fiquei observando o mar, as ondas que se formavam com a ação dos remos. De repente surge uma pergunta, não me aguento e acabo a fazendo.— Por que quer todas as pedras? – Questionei-o, ele se virou, me encarou e respondeu:— Dinheiro— Dinheiro? Mas não faz sentido. Você está me pagando uma fortuna para pegar pra você. Acredito que esteja pagando aos outros também.— Estão me pagando mais.Mais do que ele estava pagando a mim? Aos outros?— Quem? Quem quer tanto essas joias?A risada estrondosa rompeu o ar até mim. A brisa do mar acertou meu rosto como se quisesse me dar uma bofetada.— Não acha que direi, certo?— Custa nada tentar. – Dei de ombros em uma despre
ArloEncarar aquele sorriso, aquela beleza e ainda tramar uma rota de fuga não funcionou muito bem. Tudo bem que haviam dois guardas a minha cola, mas a verdade é que ela, sem mover uma unha, tinha me desarmado com mais eficácia que os dois caras.Quando fui ao encontro da joia, eu estava planejando pega-la e fugir. Correr com toda velocidade que podia, a esperteza que ganhei nas ruas me garantiria fugir sem maiores problemas, mas então a vi sorrindo e me encorajando. Me acovardei, aquele olhar me desarmou completamente. A segui até o ritual, não havia mais o que fazer, e principalmente agora que ela tinha brilhado como a própria Lua cheia em noite de céu livre de nuvens; que seus poderes foram restaurados, eu jamais teria uma chance.E não fui embora como havia dito que iria, disse que havia decidido viajar assim que amanhecesse. Precisava encostar a cabeça no travesseiro e pensar com calma. Eu preciso pegar essa pedra, preciso rouba-la. É minha chance de retirar Dianna daquele lugar
DiannaNão podia negar que lá no fundo ainda sentia algo pelo idiota do Arlo. Toda a fúria de hoje foi pelo desprezo, pela traição e a dor que senti naquela prisão. Não me refiro a dor física, mas a emocional. O esperei, achei que ele iria me buscar, que daria um jeito, que pelo menos tentaria, mas ele não apareceu. E quando meses se passaram, vi que não adiantaria esperar por ele. Foi então que meu coração se partiu, a dor me pegou em cheio, e a mulher durona passou dias chorando durante a noite e fingindo tédio durante o dia, apenas para dormir.Dia após dia, até que a dor foi se transformando em ódio. Principalmente quando imaginava que ele não estaria sem mulheres todo esse tempo, sem bebidas, sem sair com amigos. E enquanto ele curtia o dinheiro, eu estava presa naquele lugar imundo. E quanto mais eu imaginava essas coisas, mais meu ódio aumentava.Sonhava com o dia em que descarregaria toda minha raiva sobre ele, sonhei com o som do seu nariz quebrando com meu soco. Em meus sonh
DiannaVi os homens no convés se arrumando, Arlo não estava entre eles. Na verdade não o via desde o dia anterior. Não sabia bem o que tinha acontecido, mas eu não perguntaria sobre ele.Ida se aproximou de mim com olhar desconfiado, não iria bater mais, se era isso que ela estava pensando. Eu já havia descarregado meu ódio e a feito pagar por me largar lá para ser presa, mas ainda falta um. Eram três pessoas, além de Arlo, só bati em mais duas.— Dianna, o chefe quer que compremos roupas de baile.— Pra quê? – Olhei-a de cima abaixo, não fazia ideia do porquê deveríamos comprar esse tipo de roupa se nós não usamos isso.— Vai ter um baile no Reino D’Ramala, e essa vai ser nossa chance de roubar a relíquia de lá.— E quem é o responsável por roubar a relíquia do fogo? Você? – Questionei com desdém.— Eu e meu irmão, por quê? Não acha que somos capazes?Nem ouvi o que ela falou. Se Arlo iria roubar a Relíquia da terra; eu a Relíquia do oceano e Ida e Fill a Relíquia do fogo... não havi
AryaFleches confusos passavam por minha cabeça. Me senti sendo carregada; minha cabeça doía; via botas marrons marchando sobre a estrada de terra; ouvia vozes, hora aos berros, hora aos sussurros; o cheiro de álcool alcançou minhas narinas em algum momento e a dor rasgava minha cabeça quando abri os olhos finalmente.O cheiro do mar tomou meus sentidos e soube que estava próximo dele, mas senti um balanço estranho; vi aves marinhas voando sobre mim; o lugar onde estava deitada era de madeira, velha e escura. Sentei-me, ou tentei me sentar, estava amarrada. Pânico. Pânico puro me tomou, o que aconteceria comigo? E eu não estava perto do mar, eu estava sobre ele em um navio velho.Não havia alguém por perto, me livraria dessas cordas com minha força. Forcei os braços, nada. Tentei novamente, nada. Senti o medo percorrer minhas veias, o que estava acontecendo? Por que não conseguia me livrar dessas cordas? Os poderes da pedra haviam sido renovados sobre meu corpo recentemente, deveria t
Arlo Quando percebi que a confusão estava armada do lado de fora, eu sabia que tinha chegado a minha vez. Arya estaria em algum lugar, sendo detida até que a pedra fosse levada; os caras, fingindo serem ladrões, arrastaram os guardas para um lugar só, por tanto, os corredores estavam livres para mim. Com o coração carregado de culpa, segui pelos corredores agora conhecidos devido aos vários dias ali. Em algum momento pensei em fugir, já que Dianna estava livre, não havia mais o propósito de libertá-la. E para completar, a mulher parecia ter tomado ódio de mim. Eu preciso contar a ela o que aconteceu de verdade, dizer que tentei, que ainda a amo e quero ficar com ela. Até tinha planejado livra-la daquele lugar, agora que a oportunidade havia surgido. Pensando em Dianna, em como a decepcionei, só conseguia me lembrar de que decepcionaria outra mulher. Cheguei ao local onde a pedra ficava guardada, a chave deveria estar com Arya, naquele colar que ela tinha me mostrado, mas a levaria
DiannaAntes da primeira luz solar, estaríamos em movimento, foi o que falaram. Arlo já havia cumprido sua parte no trato e trazido a Relíquia da terra. Arya também estava conosco, não sabia até então que os guardiões também estariam no navio. Estou cada vez mais convencida de que aquele homem quer algo grande, o quê, eu ainda não sei.Revirei na cama quente naquele quarto abafado. Arya e Ida já dormiam, somente eu estava acordada. Era para estar acostumada a camas ruins e quartos abafados, levando em consideração o buraco de onde saí, mas não conseguia dormir.Virei-me de lado e encarei o rosto relaxado pelo sono de Arya, ela era bonita, sua pele clara parecia de seda e seus cabelos finos fios de ouro, não era de se espantar que Arlo tivesse se encantado por ela. Ele estava encantado por ela, deu para perceber quando a trouxe para nós mais cedo, o peso que ele parecia carregar nos ombros devido sua traição à moça, era de quem estava envolvido, apaixonado talvez.E ela estava triste,