Capítulo 2

Arlo

Culpo-me até hoje pelo o que aconteceu com Dianna. Eu a incentivei, ela tinha medo de trabalhar com pessoas estranhas e eu a induzi, para que no fim a única pessoa detida tenha sido ela.

Salvamos a vida do rei quando ele estava a caminho de outro reino, foi nos dito que alguém queria mata-lo para tomar seu lugar como rei e ele é um homem bom, dentro das possibilidades. Reis anteriores eram loucos, viciados em jogos humanos, amantes da guerra entre pessoas famintas e este não, não faz muito para ajudar o povo, mas também não torna sua vida pior. Considerando as possibilidades que nos aguardava, acreditei que deveria salvar a vida do rei, e assim fizemos, mas tudo deu errado.

Assim que a flecha atravessou a garganta do assassino, ou quem seria o assassino, alguém entre a comitiva real viu um de nós e gritou apontando para nossa direção. Tentamos correr, corremos na verdade, menos Dianna, ela ficou para trás, não sei o motivo, mas alguém a agarrou. Paralisei ao ver, o arco e flecha não estava em sua mão, não podiam acusa-la de assassinato, não tinham como provar que ela o mataria ou que havia matado alguém, por isso alguém me puxou dizendo que ela ficaria bem. Eu, um tolo, acreditei.

Fugi com eles, peguei o dinheiro e quando soube que ela estava presa tentei retornar. Briguei com todos eles, não houve um único que me apoiasse, me amarraram para que eu não fugisse, levei socos e chutes pra garantir que eu não tentaria qualquer coisa e fui carregado. Na noite seguinte estávamos em alto-mar. O grupo no qual nos envolvemos era um grupo de piratas, os três que estavam conosco era nem metade deles. Fiquei cercado, não tinha como escapar e o jeito foi me aliar a eles.

Hoje em dia faço parte deste grupo de pessoas esquisitas, saqueio navios em busca de riquezas, mas as coisas estão mudando novamente, já vinha mudando há alguns meses, na verdade. Três noites atrás um homem usando um longo manto escuro que o cobria dos pés à cabeça, não era possível se quer ver um milímetro de sua pele ou ouvir sua voz perfeitamente, pois parecia abafada por algo. O homem misterioso contratou nosso grupo de piratas, já reduzido devido a infortúnios, para uma missão, uma missão estranha, mas como envolvia muito dinheiro, ninguém teve coragem de negar.

Como ele nos encontrou ninguém sabe, ancoramos em um porto para abastecermos, não da forma tradicional, é claro, e ele simplesmente apareceu.

Eu fiquei incumbido de roubar a Relíquia da Terra, outros dois homens estavam comigo para apoio, mas a missão era minha e estávamos em outro reino, um bem distante de onde eu e Dianna vivíamos. Dianna, eu tenho que salva-la.

Eu daria um jeito, não sei qual, não tenho ideia de como me desvencilharei deles e do tal homem misterioso, mas darei um jeito. Mas para isso preciso de dinheiro, vou roubar essa joia, pegar meu dinheiro, dar um jeito de tirar Dianna da prisão e fugir.

Os homens comigo só sabiam beber, estávamos estudando o movimento do templo. Ele era muito bem guardado, não seria fácil entrar e roubar a pedra simplesmente, mas é claro que não seria fácil, se fosse o próprio homem faria.

O calor era escaldante, a língua estava seca e os idiotas comigo bebiam e bebiam, mas eu não poderia beber ou não conseguiria nada. Eu precisava entrar naquele lugar, conhecer as pessoas que vivem ali e adquirir confiança, somente assim conseguirei roubar.

Mais cedo vi uma mulher com uma túnica diferente das outras deixar o templo e horas depois observei que ela voltava. O que eu ia dizer? Não faço a menor ideia, mas corri até ela e a chamei.

Os olhos dela me pegaram em cheio. Um azul tão lindo e tão límpido, a pele tão clara, parecia até inimaginável que ela estivesse sob um sol escaldante.

Tive que improvisar, mas o importante é que consegui entrar. Observei a mulher subir as escadas e ela nem olhou para trás.

— Melhor esquecer – ouvi a voz do guarda ao meu lado e me lembrei de que não estava sozinho. Olhei-o.

— Não quero nada com ela – disse firme e repreendi a mim mesmo.

— Melhor assim. Por aqui. – Ele apontou um corredor lateral e o segui.

Entrar no templo já consegui, agora preciso conhecer o lugar e ganhar a confiança do pessoal.

Dianna

Roubar a Relíquia do Oceano

Roubar a Relíquia do Oceano

Roubar a Relíquia do Oceano

...

A moeda subia e descia e eu repetia a frase. O quão louca é essa missão? O quão perigosa? Onde fica o templo de Jared mesmo? Pra que esse homem quer uma relíquia tão poderosa? Se me lembro bem, a mais poderosa dentre todas. Mas o dinheiro... a liberdade...

Dormi na noite passada? Mas é claro que não!

Olhei o teto a cada segundo, processando a informação. A frase final foi desestabilizante. Me segurei nas grades para não cair sentada. Me sentei, deitei e ali fiquei. Eu seria livre na manhã seguinte se aceitasse. Eu deveria aceitar? Receberia muito dinheiro por roubar a joia, é exatamente o que ela era: uma joia.

Não interessa se ela pode sugar toda a água de seu corpo e te matar em segundos. Ou que pode mover todo o mar se a ordem correta for dada. Ela era apenas uma joia. Uma muito poderosa, muito mesmo. E se eu morrer pegando-a? Vale a pena arriscar minha vida?

Que vida? Trancada nessa cela há cinco anos e ainda restando dois!

Sentei-me decidida. Vou aceitar a missão, roubar a joia, sair viva desse negócio e pegar minha grana. Sair desse lugar imundo, não me refiro apenas a cela, mas a todo o reino que nunca foi bom pra mim, nunca me deu nada, porém retirou muito. Retirou minha liberdade e agora eu ia pega-la de volta.

Vejo um vulto e percebo que é o homem encapuzado. Devo estar um lixo, não preguei os olhos esta noite.

— E então, pensou bem na proposta?

— Um pouco. – Mantive a pose despreocupada. Levantei-me, andei até as grades e apoiei um braço nelas, acima da cabeça. – Quero uma garantia de que não vou me ferrar novamente.

— Que garantia é essa? – Dava nervoso ouvir a voz dele, ela era abafada por sei lá o quê.

— Dinheiro. O suficiente pra comprar qualquer liberdade, independente de qual buraco eu seja esquecida dessa vez.

Uma risada profunda escapou do corpo do homem. Ele alcançou um bolso interno e pegou uma sacola de couro e jogou para mim.

Peguei-a, abri e tinha joias de todos os tipos, eu era uma mercenária e sabia o valor delas. Peguei-as, averiguando se eram verdadeiras e eram, ali dentro possuía uma pequena fortuna, com aquilo eu compraria um bom lugar longe dali.

— Serve. – Amarrei a sacola novamente e a descartei sobre a cama dura como se não tivesse tanta importância, mas tinha e muita.

Eu poderia jurar que ele sorriu.

— Aceita então.

Não era uma pergunta, mas ainda assim respondi.

— Sim. Aceito.

A luz do dia era algo estranho para meus olhos. Não o via há tanto tempo. O buraco onde me enfiaram não tinha uma janela decente, apenas um pequeno quadrado no alto da parede por onde entrava um pouco de ar e uma fina luz nas manhãs e isso era o máximo de luz solar que tive todo esse tempo.

Assim que aceitei a missão, os guardas vieram sem falar nada, abriram as grades e eu saí daquele lugar acompanhada pelo homem misterioso. Para onde estávamos indo? não faço a menor ideia.

— Para onde vamos? – questionei, ficar calada não é algo que consigo, principalmente se estiver com algum incômodo em mente, e eu tinha muitos.

— Viajar

Odeio respostas curtas.

— Já estou viajando, já que não ando nas ruas há cinco anos, isto aqui pra mim já é uma viagem.

Ele resmungou somente, mas não parei.

— Quero saber para onde estou indo, acha que sou o quê? Uma idiota que te seguirá sem saber para onde está indo?

Parei no meio da rua e cruzei os braços. Dois passos depois ele parou também. Virou-se lentamente, e eu podia jurar que seus olhos brilharam de ódio.

— Cuidado, garota.

— Está me ameaçando? Te devolvo as joias – quase todas, mas ele não precisava saber disso – e volto para o buraco de onde saí por mais dois anos, sem problemas.

— Faria isso?

Levantei a sacola com as joias em seu interior.

— Para onde estamos indo?

Ele encurtou a distância, agarrou meu pulso estendido e me arrastou.

— A joia deste reino está em meu poder, vamos para o reino vizinho.

— Quer todas as joias? O que pretende com todas elas? Quer morrer?

— Você fala demais, garota. Já sabe para onde estamos indo, agora cala a boca e anda!

Aquela voz abafada tinha um tom grave que eu já tinha escutado antes, mas onde? Quem?

Fui arrastada até o porto onde um navio estava ancorado. As roupas que me foram dadas estavam agarrando em meu corpo devido ao suor, o calor era intenso, mas descobri que ficaria pior, pois estávamos indo até o reino D’Arcos.

Olhei ao redor me despedindo do local onde vivi toda a minha vida, o reino D’Eryn, o reino do deus do ar. No alto da montanha ficava o castelo e templo, não ia pergunta-lo agora, mas como ele havia conseguido a joia era um mistério para mim.

O castelo era no alto da montanha mais alta do reino, guardas reais cercavam o local, além da guarda real havia a guarda do templo, e seja lá quem for que roubou a joia, teria enfrentado o guardião da Relíquia do ar. Mas isso seria um questionamento para depois. Ele disse que estava de posse da mesma e que estava indo ao encontro do mercenário e seus capangas que ficaram incumbidos de roubar a Relíquia da Terra e que em seguida, seguiríamos para o meu destino.

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