GaiaEm dois dias será o baile, tudo no castelo está uma loucura. Convidados chegam a todo instante, os empregados são poucos para instalar todos, às vezes sobra para mim o dever de receber alguém quando conseguem chegar todos no mesmo momento. E este é um desses momentos, principalmente porque o convidado é o príncipe de D’Eryn.— Eu sei, mamãe.— Você nem me ouviu, como sabe? – Respondeu ela enquanto caminhava comigo no corredor.— Nem precisa falar, o príncipe Haj está lá fora aguardando ser recebido, junto de seus acompanhantes, e a senhora e o papai não cansam de falar em como o reino dele é próspero e como seria interessante reunir dois guardiões e dois reinos em casamento.— Não pode negar que é um bom negócio.— Não vou me casar por negócio – falo arrumando meus cachos castanhos enquanto caminho.— Estamos te obrigando a nada, é apenas uma sugestão. Faço gosto.Olho nos olhos escuros dela e dou uma risada profunda.— Vocês nem conhecem o príncipe, como pode dizer que faz gosto
DiannaHaj era um filho da mãe, sabia bem o que estava fazendo, não havia me avisado de seus planos e os executou mesmo assim. Agora tenho que sorrir quando me felicitam pelo meu casamento em breve, tenho que ouvir o quanto sou sortuda e ainda aturar sua aproximação quando outras pessoas estão por perto.— Ela tem o temperamento um tanto agressivo, às vezes, mas eu a amo.As palavras melosas eram deixadas pelos lábios mentirosos dele, como se fosse a mais doce verdade.— Minha mãe costuma dizer que os homens preferem as mulheres doces e educadas. — Disse a princesa Gaia, enquanto caminhávamos pelo jardim.— Nem todos, minha cara. — Respondeu ele, galanteador. — Prefiro as mais selvagens. — Piscou um olho. Safado.Se eu pudesse lhe mostraria quem é selvagem agora mesmo, mas tínhamos que manter a força.— Príncipe, você é surpreendente. Está empolgada com a festa amanhã, Dianna. — Perguntou-me a princesa, me tirando do meu silêncio.— Ah, sim, muito. — Não estava empolgada, mas tinha
GaiaEu sabia que aquele grupinho escondia alguma coisa, só não sabia o que era, mas eu descobriria. Ao questionar à árvore sobre Arya, ela me mostrou o templo de D’Arcos, a cerimônia da Lua cheia, Arya se enchendo de poder, brilhando como as estrelas na noite escura... ela era a guardiã da Relíquia da terra. Dois guardiões em meu castelo, príncipe Haj e Arya, por que os dois estariam aqui? Teriam um motivo diferente de simplesmente participar de nosso baile anual?Eu suspeitava que sim.Haj nunca viera em nosso baile, nem seus pais, embora fossem convidados todos os anos. O que o trouxe até aqui desta vez? E ainda arrastando outra guardiã que geralmente não deixa seu templo?Muitas perguntas e nenhuma resposta. Na caminhada pelo jardim nesta manhã, notei que Dianna era mais do que uma noiva educada, ela escondia algo também. A garota não tinha noção das histórias do templo, nem D’Ramala nem de nenhum outro, o que significa que ela era uma simples cidadã. Um membro da nobreza talvez,
Dianna"Um casal segurava um bebê em seus braços. Ela era bonita, cabelos tão longos e escuros que brilhavam como se fosse uma pedra preciosa, seus olhos eram azuis e o sorriso em seu rosto o deixava jovem e bonito. O homem a seu lado tinha a pele mais escura, cabelos curtos, castanhos e pareciam ser encaracolados, seus olhos eram verdes intensos como folhas depois da chuva. A criança em seus braços agitava-se, fazia seus sonzinhos característicos de alegria e eu queria me aproximar deles. Mas então percebi que não podia me mover, era um sonho onde eu era a espectadora.Havia mais pessoas no lugar, mas não dava para ver quem eram nem que lugar era aquele, e tudo aconteceu rápido demais. Todos começaram a correr, alguém muito aflito falava algo com o casal que em desespero entregou a criança, a mulher, uma sereia, abraçou o bebê com força a nadou o mais rápido que podia. A agitação da água fez espuma branca se espalhar e ninguém mais conseguia ver para onde a sereia tinha levado a cria
AryaDianna andava esquisita e eu estava preocupada com ela. Pode até parecer estranho, mas apesar de ter sido raptada, não me sinto uma prisioneira. Todos me tratam muito bem, e às vezes até esqueço que estou entre pessoas que deveriam ser minhas inimigas. Mas há mais uma coisa que me motiva a estar entre eles: Dianna. Desde o primeiro dia senti algo nela que me intrigava, mas depois do ocorrido no navio ficou claro para mim o que era. Eu tinha certeza que ela era a criança da ilha D’Jared que fora levada para viver entre os humanos a fim de que crescesse em segurança. Eu soube quando ela me relatou o que aconteceu, e as coisas que vem acontecendo depois apenas reafirmam as minhas convicções.A reunião terminou logo depois que resumimos o que fora falado e Dianna declarou estar cansada. Todos deixaram o quarto, mas quando saí ela veio atrás de mim. Ela já havia dito que queria conversar comigo, por isso não achei estranho.— Arya, estou cada vez mais confusa. – Seus olhos estavam afl
DiannaO castelo estava lotado, pessoas muito bem vestidas passando de um lado a outro em passos tranquilos, segurando suas taças de bebidas, sorrindo, conversando e a tensão em mim não me fazia me sentir à vontade daquela forma. As danças não haviam começado ainda, e o salão enchia cada vez mais, como se fosse possível.O colorido das saias ao meu redor me chamava a atenção, nunca imaginei estar em um meio como aquele: colorido, caro, luxuoso e arrogante. Engraçado como as pessoas pareciam olhar para o alto até mesmo em uma conversa descontraída. Tudo aquilo era muito diferente do eu era acostumada, do mundo que cresci. Haj parecia muito mais tranquilo, acostumado àquilo tudo.— Relaxa, as pessoas vão notar essa sua tensão. – Haj disse.— Que todas elas vão para o inferno. – Tomei um grande gole da bebida em minha mão.— Não me importo se forem, mas me importo que você chame atenção de forma errada. Aqui somos noivos, você deve parecer à vontade em meio a esse tipo de pessoas.— Aí v
Gaia Esse príncipe acha que sou boba, vem cheio de sorrisos, fingindo ser noivo de uma mulher que nem o vê como amigo, cercado de amigos que mal se falam, principalmente com ele. Quem ele acha que quer enganar? Está mais que óbvio que ele está aqui por qualquer outro motivo, mas com certeza não é o baile. Nunca veio a um baile realizado por nós, somente minha mãe para acreditar que talvez Haj queira ser mais diplomático que seus pais um dia já ousaram ser. E como se não bastasse, o guardião de D’Jared também está presente, chegado de última hora, no dia do baile pra ser específica. Outro que nunca respondeu a um convite nosso, tem algo acontecendo e eu vou descobrir o que é. Na hora do baile, escolho o guardião Liam para dançar comigo, um meio de esfregar na cara de Haj que há mais um de nós aqui, que todos os guardiões pela primeira vez em muito tempo estão reunidos em um só lugar. Se ele entendeu a mensagem, não deixou transparecer. Surpreendentemente, Liam resolve tirar Dianna pa
Arya— Isso está errado, Arlo. Está errado. – A aflição tomava conta de mim, não conseguia ficar na festa de jeito nenhum e resolvi retornar ao quarto. Arlo veio atrás de mim, claro.— Então por que aceitou vir, Arya? – Ele estava parado em frente a porta do quarto.Meu vestido azul, muito bonito até, mas isso não tinha o menor valor para mim no momento, farfalhava enquanto eu andava de um lado a outro em aflição.— Queria que eu ficasse no navio com aqueles dois homens esquisitos, não sei do que eles seriam capazes de fazer se ficassem tantos dias comigo, sozinhos naquele navio. - Foquei os olhos dele com ódio.— Não seriam loucos de tocar em um fio de cabelo seu.— Não tenho tanta certeza.— Ficar andando de lá pra cá, quase rasgando o tapete com seus saltos, não vai adiantar de nada, Arya. Você sabia para que viemos.— Eu preciso fazer alguma coisa, mas o quê? – Olhei em seus olhos e vi que ele se sensibilizava com meus sentimentos. Ele estendeu os braços para mim e eu fui em direç