Emma Brandão

Prometi no túmulo dos meus pais que não acabaria como eles que morreram jovens de tanto trabalhar para os outros. Não gostava de recordar do meu passado, era doloroso relembrar velhas feridas de uma vida difícil e cheia de dificuldades. 

Fiquei órfã aos dezessete anos e precisei morar com minha tia. A relação com minha tia não era das melhores, portanto, após completar meus dezoito anos caí fora daquela m*****a casa que não era bem-vinda.

Para onde fui? Para as ruas! Minha jornada nas ruas do centro da grande cidade foi de exatamente seis meses. Por quê? Porque o que me restava de dignidade havia ido embora naqueles meses! 

Tudo mudou quando comecei roubar para sobreviver, o que começou com simples roubos foi crescendo em algo muito maior. Dois anos apôs ter virado uma ladra, meu foco mudou para homens ricos e casados. 

Era mais fácil arrancar dinheiro de homens comprometidos do que solteiros. Os anos foram passando e meio que se tornou um vício seduzir homens comprometidos para obter beneficio financeiro, no entanto, tudo estava prestes a mudar ao bater meus olhos em Dante Ritzel.

Me tornei obcecada por um homem que nem sequer sabia da minha existência, ao contrário dos outros ele não era comprometido com ninguém além do trabalho. Como me aproximar de um homem tão poderoso como ele? A única maneira que encontrei foi me submeter a trabalhar em sua casa. 

Não foi fácil conseguir a vaga disponível como cuidadora de sua mãe deficiente. Ela não era uma senhora grata por ajuda, pelo contrário, odiava ser ajudada! Eu precisava aturar tudo para alcançá-lo, ele poderia me dar uma vida de rainha pelo resto da vida se casássemos. 

Ivana era minha melhor e única amiga para quem contava todos os meus planos, contudo, não significava que era uma grande apoiadora das minhas loucuras. 

— Por que não desiste deste homem? Isso tem se tornado uma obsessão! Dividimos esse apartamento e ultimamente você tem vivido para estudá-lo e tentativas fracassadas de chamar sua atenção! — resmungou, cruzando os braços. 

Quando ela entenderia que entrar naquela família era um baú infinito de grana? Eu não continuaria bonita pelo resto da vida, portanto, precisava amarrar alguém fixo na minha vida. Por que não ele? Ele tinha tantas empresas no ramo da tecnologia, dinheiro era algo que nunca lhe faria falta. 

— Você reclama muito, minha amiga! Ivana, você não era assim antes! — comentei, sabendo que o assunto era delicado. 

Ivana mudou sua vida após ter um aborto espontâneo, éramos bem parecidas e tudo isso mudou depois que ela engravidou e perdeu o bebê. Minha amiga tinha se tornado uma careta!

— Por favor, não vamos falar deste assunto. É errado querer que você entre na linha? Você é linda e pode ter tudo que quiser sem precisar dar golpes em ninguém. Ficaria feliz se você mudasse... 

Mudar? Sim, mudaria de uma mulher classe media para outra de muito dinheiro! 

— Sei o que faço! Pode me apoiar? Prometo que te levo junto para minha nova vida de sucesso e riqueza! — falei olhando em seus olhos. Não esqueceria dela depois que subisse de vida, alguém como ela era difícil de encontrar.

— Não me importaria de morar em uma casa simples se assim visse você mudar. Emma, você é fria e calculista. Dinheiro é importante, contudo, não pode ser sua prioridade de vida. Não quer uma família de verdade? Onde fica o amor? — questionou-me com os olhos marejados. 

Por que ela tinha que ser tão sentimental? Ivana costumava se emocionar facilmente. 

— Amor não enche a barriga! Família? Você sabe que nunca desejei ter filhos! O que eu faria com uma criança? Consegue me imaginar sendo mãe? Eu seria péssima! Não quero filhos para no futuro me lembrarem do que sempre soube que nunca seria uma boa mãe. 

Não era exagero da minha parte, simplesmente sabia das minhas capacidades e ser mãe não era uma delas. 

— Não penso como você! Tenho certeza que seria uma ótima mãe! Emma, desiste desse plano idiota enquanto há tempo! 

Plano idiota?  Revirei os olhos, levantando da poltrona. Não era idiotice ter ambição para crescer na vida! 

— Esse assunto está encerrado! Preciso trabalhar agora! Aquela velha rabugenta odeia atrasos para limpar a bunda dela! — comentei um pouco enojada. Matilde era uma mulher de classe, porém, dependente de todos até mesmo para limpar a bunda. Ela ficara sem os movimentos do corpo após ter um AVC.  

— Por que fala assim? Aquela senhora precisa de cuidados especiais não porque escolheu. Pode ser menos maldosa? Você odeia o que faz, deveria sair desse trabalho falso!  

Ignorei suas palavras saindo pela porta em seguida. Não queria discutir com Ivana devido a alguém tão insignificante que era aquela mulher. Quando casasse com o filho dela faria questão em colocá-la em um asilo!

Parei um táxi e adentrei, falei meu destino e seguimos viagem em silêncio. Não gostava quando motoristas tentavam puxar conversa, por sorte aquele senhor sabia respeitar o espaço do passageiro. 

Prendi meus cabelos em um coque frouxo após sair do táxi. Meus olhos com certeza brilharam admirando aquela mansão que um dia seria toda minha. Os seguranças me cumprimentaram ao abrirem o grande portão. 

Abri um largo sorriso ao constatar a presença do meu futuro marido em sua casa. O Audi preto dele estava em frente a mansão. Mordisquei os lábios. Todas às vezes em que ele estava presente era uma nova chance de chamar sua atenção. 

Caminhei com elegância até a porta de entrada, entretanto, um ocorrido derrubaria minha entrada triunfal. O pastor alemão da família correu na minha direção, assim me derrubando no chão. 

— Dante, amor, o seu cachorro derrubou uma mulher! — berrou a desconhecida, me deixando ainda mais furiosa.  

Desde quando meu futuro marido trazia para sua casa as vagabundas em que enfiava seu pau? Senti um calor percorrer todo meu corpo, era ódio e dos grandes! 

— Essas coisas acontecem, querida! — comentei, levantando-me do chão. Minha vontade era de esfregar a cara daquela sirigaita na lama. Que magrela horrorosa, pensei comigo mesma. 

Sem chances do meu homem estar envolvido amorosamente e com uma mulher daquelas, sem chances...