Orlando de imediato moveu-se para barrar a passagem de Maximiliano ao segundo andar. Se o capitão do Diablo tivesse acesso aos quartos seria seu fim, pois no último deles, Margô se recuperava dos ferimentos que manchavam sua pele de oliva, frutos da violência dele. — Não tenho nenhum preso em minha propriedade. E nem a polícia deixo que vistorie minha propriedade sem um mandato — Orlando esbravejou determinado a impedi-lo de prosseguir. — Esse é o único lugar habitado nos arredores. Pode ter vindo em busca de ferramentas, abrigo ou comida. — Maximiliano examinou a expressão temerosa de Orlando com desconfiança ao completar devagar: — Talvez continue por aqui. Maximiliano moveu-se novamente para desviar de Orlando e subir aos quartos, mas teve o acesso barrado de novo. — Repito: aqui não estão. — Se recusa a prestar ajudar aos Orleans para recuperar um homem que trabalha nas terras deles? — O capitão questionou, usando o poder da família Orleans para convencer o outro. — Que os Or
De volta à fazenda, ao não encontrar os amigos, que continuavam na busca, Maximiliano foi para o quarto que dividia com Joana. Com uma incomum insegurança, devido à discussão que tiveram e em que admitia ter sido grosseiro demais, entrou no quarto. Ela estava sentada próxima à janela, o rosto voltado para fora, erguido para o céu pontilhado de pequenas luzes. Joana moveu o olhar ao ouvir o som da porta fechando e, diferente do que ele esperava, levantou-se e correu para abraça-lo. — Estava certo sobre minha madrinha... — ela disse com a voz embargada e o rosto afundado no peito dele. — Ela não liga... que Tarcísio maltrate... os empregados da fazenda... É tão horrível... — disse em meio ao choro, as mãos agarradas ao tecido de sua camisa. — Minha mãe tinha me dito... você também... mas pensei... Ela nunca foi má comigo... Toda força que manteve ao enfrentar a viúva, desmoronou quando entrou no quarto e recordou o que Maximiliano disse sobre ela viver em uma bolha, sendo manipulada p
Tendo encerrado as buscas por causa do anoitecer, Beto, com indicações de uma empregada da casa, foi ao quarto de Maximiliano avisá-lo da volta dele e Lucas e que o aguardaria no quarto em que Gilberto estava. Preparou os amigos para a demora do capitão, que se perdia no tempo quando estava com a noiva, mas em poucos minutos Maximiliano chegou de mãos dadas com Joana, que cumprimentou todos com a mesma gentileza e carisma que cultivou em alto mar. Cada um falou do que obteve na busca, que não eram grandes informações, até Maximiliano contar sobrea relutância de Tarcísio em apontar o bar e pousada próxima da estrada e quase oculta pela floresta, além do encontro com Orlando e sua desconfiança que o homem mentia. — São muitas coincidências. Orlando fez a encomenda que quase causou minha prisão; certo que eu não retornaria, Queiroz ordenou a prisão e os enviou para essa fazenda; E Gilberto disse que Tarcísio sabia da minha amizade com Cristiano — comentou juntando os fatos que conhecia
No quarto dos recém-casados, ainda remoendo o noivado da irmã com seu amante, Dalila convencia o marido de estar cansada demais para jantar com todos. Temia ter de presenciar mais demonstrações de carinho entre Joana e Maximiliano e surtar frente aos demais. — Me sinto um pouco indisposta e irritada com minha irmã, por nos empurrar um criminoso em nossa casa — lamentou em uma meia mentira. Segurou a mão livre do marido e sorriu sedutora. — Poderíamos jantar aqui. Só nos dois, sem todo o drama que se abateu em nossa família. — Temos hóspedes, meu amor — explicou o marido sentando na cama para envolver a cintura da esposa com um braço. — Mesmo não gostando do noivado de sua irmã, não podemos abandonar os demais. — Não pode dizer que me sinto mal? Que quer me acompanhar? — Envolveu o pescoço de Adriano com os braços, acariciando devagar os fios loiros de sua nuca. Beijando-o para convencê-lo. — Acabamos de casar, estamos em lua de mel. Por favor, não seja assim... Pense só em mim... Nã
Com a certeza de obterem ajuda em Recanto Dourado, Margô, Maria, Carla e outras três garotas definiram que aguardariam até o Salão encerrar suas funções do dia para fugirem quando Orlando dormisse. Para sorte delas, naquele dia Orlando mandou Zack, único funcionário pago do lugar, a fechar cedo. Por volta da uma da manhã o Salão estava silencioso. — Ainda acho loucura você sair estando doente. Quase não consegue ficar em pé e está ardendo de febre — Maria disse pousando a mão na pele quente. — Temos que tentar hoje — Carla insistiu. — Ouvi Orlando mandar Zack levar alguém para longe daqui, o que significa que só ele está fazendo a segurança Salão, e sabemos que quando dorme nada o acorda. Hoje é o melhor momento. — Ela está certa... Temos que ir... agora... — Margô disse entre acessos de tosse. Maria foi até o corredor, olhou atentamente de um lado para o outro vendo que todas as luzes estavam apagadas. O salão estava fechado e as outras garotas, que observavam a movimentação delas
Vendo o que mais temia tornar-se realidade - Orlando descobrir sobre a fuga noturna - e sabendo que não conseguiria ajudar à amiga, Maria decidiu voltar discretamente para dentro da construção antes que ele sentisse sua falta. Tinha de se proteger da fúria se ele descobrisse sua participação. Caminhou devagar pela lateral da propriedade, no entanto, a pergunta de Orlando para Margô a fez gelar. Logo o alívio a preencheu quando a amiga mentiu e não entregou sua participação. Um rasgo de alívio, mesclado com tristeza, a atingiu quando se aproximou da entrada do Salão Real. Logo estaria na “segurança” do quarto que dividia com as outras garotas do Salão. Congelou no lugar quando três homens apareceram a sua frente, vindos de dentro do bordel, e bloquearam sua passagem com armas em punho. ~*~ Utilizando-se da mata em volta do estabelecimento, Maximiliano, Gilberto, Lucas e Beto chegaram sorrateiramente pelos fundos do Salão Real. Sendo inexperiente em relação aos outros dois, Gilbert
Depois da fuga de Margô com os homens que ela chamava de amigos, Maria se aproximou do corpo inerte de Orlando, vendo as várias feridas em suas costas. O cheiro acre do sangue encheu suas narinas junto com o de pólvora. Um grito alto a assustou. Virou-se e fitou os rostos das demais garotas do Salão, todas trêmulas, tanto pelo frio por estarem em roupas diminutas, quanto por verem Orlando se esvaindo em sangue e Zack desacordado. — O que houve aqui? — Uma das garotas lhe perguntou. — Cadê as outras? — Não sei... — Mentiu para se proteger e afastar suspeitas sobre ela. Apesar de todas serem vítimas de Orlando, algumas ali, por medo ou costume, eram fieis ao homem morto. — Elas fugiram para a mata... Ouvi os tiros... retornei, com medo que estivesse atirando contra mim e o encontrei morto... — Vou telefonar para a polícia. — Uma das garotas mais antigas disse se apressando para dentro do Salão. — E se nos culparem? — Outra questionou apavorada, pois todas sabiam que Orlando tinha pe
Na madrugada, deixando Margô aos cuidados do médico e de Joana, Maximiliano foi com os amigos ao quarto que tinha arranjado para Gilberto ocupar enquanto estivesse em Recanto Dourado. Lá, reunido com Beto, Lucas e Cristiano, conversaram sobre tudo que aconteceu ao irem ao Salão Real. — Temos que evitar que descubram que Margô matou o Orlando — Maximiliano iniciou recordando o ocorrido. — Havia uma mulher quando saímos do bordel. Ela pode ter visto o que aconteceu. — O que pensa fazer? — Pagar o silêncio dela. — E as outras? Talvez tenham visto algo. — Não creio. Estava escuro, dificilmente nos identificará. — Olhou para Cristiano. — Por enquanto, fique escondido aqui. Usarei a desculpa de procura-lo para achar essa jovem e falar com ela. — Sem problema, capitão! — Cristiano concordou intercalando uma massagem pelos pulsos marcados e feridos pelas cordas que o prenderam durante dias. — Há essa hora o lugar deve estar cercado pela polícia — Beto indicou. — Fingimos que nada sabem