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CENA I: A PRINCESA ISABEL

[A princesa Isabel está no castelo Neuschwanstein fazendo teatro com máscaras junto com o bobo-da-corte].

ISABEL: Olhai para seu o reflexo que jamais se funde com o dos outros [...].

BOBO:

O homem precisa descobrir a si mesmo perante a luz divina, mesmo em tempos difíceis...

E são nestes momentos que até o ímpio começa a duvidar de si próprio, considerando que a loucura seja a resposta para aqueles que procuram desvendar certos mistérios...

A magia sempre existira para aqueles que soubessem usá-la com as forças sobrenaturais que a natureza invoca.

O homem assim pode desacreditar em tudo, pode permanecer no caminho do óbvio ou meditar, cada vez mais profundamente, para enxergar além do que os seus olhos podem ver.

Mas a magia só terá significado se o sacrifício do homem não for em vão, se ela servir para encantar ao invés de amaldiçoar.

Há aqueles que enfrentam os males e que, mesmo tristes, são fortes e valentes,

Mas há aqueles que se submergem na melancolia e preferem se tornar uma lenda.

Quem és tu?

ISABEL: Eu sou apenas mais um dos cristais do castelo. Neste lugar sombrio, onde minha pele gela, sinta as lágrimas de angústia escorrerem pela sua face, pois seu único fim é singelo, quando as cordas forem desatadas... O vazio não nos libertou da dor que nos aprisiona.... Deixe a alma voar e respire fundo.... Vou quebrar a porta desta cela, pois aqui as fadas merecem se libertar. Meu rosto desprendido do fúnebre momento deixa meu corpo carregado de tremores até vir a dança da música da morte...

BOBO: Tu vestirás uma série de máscaras e te perguntarás: “onde encontrar a magia para nos envolvermos com a roda das criaturas sobrenaturais?” Pois os algozes brincam de se esconder da própria vergonha...

ISABEL: É possível acreditar na própria imagem? Ou ela está longe demais para ser encarada face-a-face como uma estrela no céu? Foi neste prelúdio e por debaixo da minha pele, que encontrei uma sombra deste mundo real onde não sinto mais o sono dormente que deixa meu corpo lutando um pouco mais pelas danças folclóricas. Vivi diante desta nuvem, e vivo o celestial: o bastante para me curvar pela inocência de uma criança que me espera ao aspirar por um novo céu...

BOBO: Tu precisavas de um cristal puro e asas de borboletas inocentes, para não deixá-las quebradiças ao cair no abismo de um horror agonizante... Mais vale suspirar por um bosque enfeitiçado por todas as flores do que se deixar desfalecer nos túmulos pelos quais os fungos adormecem cinzentos, sendo coberto por folhas frágeis no outono...

ISABEL: Vamos deitar em algum deles e fingirmos ter corpos fantasmagóricos?

BOBO: Nunca! Jamais! Prefiro revoltar-me em nome do silêncio das montanhas! 

ISABEL: Que me rasguem pela insanidade deste quarto úmido, pois mente para mim! [...]. [Pausa]. Oh, perdoe-me pelo drama. Nunca mais usei máscaras... Quero os raios de sol e a chuva sejam libertadores de todos os males.

BOBO: Os pensamentos de deturpação da realidade não condizem com aquilo que eu sou.

ISABEL: Eu sinto muito... Não entendo o motivo dessa dor dentro de mim...

BOBO: Olhe-se bem no seu reflexo... Conhece-te mais... Aqui há um espelho, partido em pedaços com cinzas que, retiram até o brilho dos olhos refletido na superfície... Merecíamos ver paredes descascadas e queimadas [...]. Cada lugar envolve um mistério para descansarmos em paz em meio ao cheiro de rosas...

ISABEL: Acho que o terror desta enfermidade veio recair sobre mim... Esta sala úmida, fria, um quarto cujas paredes destruídas onde as ranhuras do chão estão cobertas por musgos, como em um castelo abandonado: esta se parece com a minha pior doença...

BOBO: Vamos, anima-te! Quero ouvir o teu canto...  Poderia teu corpo rodear? As fadas precisam se libertar das correntes para os voos da imaginação, para encontrar dentro do peito, uma ala sublime, onde os humildes quebrantados dançam em uma roda de criaturas mágicas para encontrar os seus nomes perdidos que lhes revelem o Conto de Fadas Gótico.

ISABEL: [Rodeia dançando]. Com passos para mergulhar nos oceanos dos cantos líricos, como uma invocação divina, eis o espírito da natureza!

RAINHA: [Interrompe a encenação]. Seus tolos! Parem já com essas distrações inúteis! Há inimigos espionando o reino lá fora! Em breve poderá surgir uma guerra contra o castelo!

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