[O padre está dando um sermão na Igreja]:
PADRE: ...O voto de castidade é feito pela pureza do corpo que nasce pecador ao ser entregue ao Senhor. Não se deve se prostituir, lembrem-se do pecado original... Deus castiga o fornicador com doenças e mais doenças! Lembrem-se, o corpo é criação divina, não se deve violá-lo com os desejos carnais. Não se deve explorar a luxúria, pois esta é o caminho do diabo. Corpos que não seguem nossas leis para o caminho do Reino dos Céus serão condenados para todo o sempre! Lembrem-se, o diabo vigia nossos passos e nos aguarda no inferno, onde há dor e sofrimentos eternos, onde bruxas são queimadas e onde estão aqueles que não se arrependeram por seus pecados e não entraram nos céus!
O homem parece cada dia mais perdido na tentação
Se procura as meretrizes então comete um pecado letal, e o inferno o aguarda
Nele há fogo escaldante, monstros gigantes e dores agonizantes
Há caldeirões enormes para os condenados, com demônios negros e de rabos longos com asas de morcego cintilantes, chifres animalescos e pelo de bode esperando para fazer a festa!
Nem imagine o que ele é!
Lá deve haver poços profundos onde cobras rastejantes e gigantes possuem dentes enormes e afiados para devorar os seres condenados.
Lúcifer é um maldito que convence os tolos a cometerem o mal.
Pois, bem, os pecadores entregam-se ao prazer mundano, mas tudo se vai como o vento
Entregam-se àquilo que é passageiro e não pertence ao reino divino.
Nossas ordens trazem esperanças para os dias próximos
Nossa indulgência compra um pedaço nos céus, para o descanso eterno da alma
Nossas vidas hão de ser purgadas pelo Senhor
Eu não imagino uma vida salva sem o nosso perdão.
[O sermão termina e chega um trovador pedindo a atenção do padre.]
TROVADOR: Vossa Reverendíssima, eu vim lhe trazer algumas de minhas cantigas para apreciação, quem sabe eu possa pedir algum auxílio de vossa sabedoria para pensar além do que penso e assim ter inspiração...
Ó, como é bela a pureza na Terra e a liberdade dos pássaros!
Ai, dona, venha sentir o cheiro das rosas
Ai, donzela, onde está seu ideal?
Uma beleza que é estonteante,
Nas palavras se preenche de sabedoria
E na primavera floreia!
Cuida bem de teu corpo que é a porta para os céus
Cuida bem de tua imagem, que é para ser como a divina
Eu quero o perfume em um corpo sagrado
Que mesmo em prantos dorme
E sonha com a tua boca nas noites de paixão
Como é precioso o terno olhar das moças
Que em um dia como este se lisonjeiam com o meu cantar!
PADRE: Pois há, meu irmão, uma pequena doçura nas palavras das donzelas puras, que guardam em castidade a luz da fertilidade.
TROVADOR: Padre, eu tenho devotado a minha vida para cantar o meu amor. Eu hei de me casar um dia, mas temo estar me sentindo atraído pelo olhar de uma bela dama deste vilarejo, uma que carrega no cabelo flores de jasmim. Seu olhar é tão singelo... Gostaria de dedicar-lhe novas cantigas como minha forma de admiração, posso pedir-lhe permissão para levar minha arte ao reino?
PADRE: As artes dos trovadores são permitidas, desde que não contenham heresia e quaisquer outras formas de pecado grave. Escárnio e maldizer fazem parte de nosso cotidiano, desejo-lhe boa sorte!
TROVADOR: Obrigado, Vossa Reverendíssima, pela atenção.
Estas catedrais com seus vitrais coloridos são tão grandes que parecem invocar nossos gigantes adormecidos por dentro para celebrar seus louvores, sermões ou apenas cantos dos coros terrenos. Elas carregam o seu esplendor quando parecem encostar aos céus, procurando no alto alcançar os anjos celestiais da entrada do paraíso da vida eterna. Ó, como meus olhos inebriam-se com encanto! Suas gárgulas zelam suas portas para que aqui não entre nenhum espírito maligno, que com o mal atingem nossas almas com uma face de trevas, trazendo sombras ao invés de luz. Por dentro eu vejo rosáceas que parecem trazer em suas formas a bela inspiração das flores, das estrelas maravilhosas do cosmos que formam desenhos fascinantes, como se guardassem um mistério por dentro traduzido pelos profetas. Eu vejo adornos belíssimos nas muralhas, em cada pedra talhada com cuidado, para erguer suas paredes em triunfos que um dia separam nossos mundos com a espiritualidade. [...] Certa vez cheguei para ouvir um sermão, e não sei o que ouvia, mas parecia uma música de sinfonia terna e suave como a brisa do vento que toca nossos rostos e arrasta as folhas ao chão alegremente. Eu mal a escutava.... Eu parecia imaginar corais cantantes sussurrando palavras melódicas em meus ouvidos.... Naquele instante a igreja estava vazia, e tive uma visão de um anjo sentado sob uma rocha olhando para o horizonte de um campo de batalha.... Sua pele era branca, parecia feita de cera.... Quem dera eu ter visões misteriosas, embora a minha entrada neste templo que ostenta o universo do Senhor pareça uma...
TROVADOR: Sinto um aperto no coração parecendo uma pedra de diamante bruto no peito, não sei se meu amor será correspondido. Bela dama esta que escuta minha canção. Que dúvidas repentinas que insanamente me causam alvoroço! Eu devo ter a coragem de um cavaleiro para me arriscar a ouvir um “não”. Talvez eu deva esconder o quão solitário me sinto, às vezes, quando acordo pelas manhãs e como o fruto mais doce e penso em seu beijo. Vou cantar e mostrar o quanto amaria desfrutar de sua companhia, o quanto quero vê-la e olhá-la nos olhos e dizer o que sinto em meu coração. Mas a dama me parece tão distante... Ela parece a mais bela de todas as donzelas deste vilarejo, é como a flor mais cheirosa do bosque, a mais esplêndida da floresta cujas cores vívidas me causam admiração. Sua pele é branca como o copo-de-leite, seus cabelos são negros como ébano e suas bochechas são rosadas; há brilho em seus olhos assim como o da lua nas noites mais estreladas... Vou ao seu encontro declarar o meu am
CENA VII: A CONVOCAÇÃO DOS CAVALEIROS [O príncipe faz uma anunciação no reino]: PRÍNCIPE: Nesta sexta-feira de maio, anuncio nos reunirmos aqui para a honra de nossa defesa. Nossa célebre e heroica luta se dá por uma temida jornada. Há possivelmente uma criatura neste reino e todos nós desconhecemos suas artimanhas. Alguns soldados deste reino estão sendo convocados pela rainha para a sua caçada, para capturar os tesouros preciosos de sua morada! Terá fama e glória para os cavaleiros! Com direito a grandes festas e comemorações para os que a derrotarem! A criatura é como uma fera, tão temida pelos mais ardilosos. Tão voraz que pode matar Faminta ela estará à espera de sua presa. Olhem, mortais, que preciosidade, uma caverna cheia de relíquias! Vejam, todos, vejam só, qual bravura é capaz de enfrentá-
[O escudeiro conversa com o cavaleiro]: ESCUDEIRO: Bem, nestas alturas a nobreza de um cavaleiro deveria ser a de salvar donzelas em perigo, proteger o reino dos inimigos e guerrear em conflitos armados, caso fosse necessário... Um cavaleiro faz o juramento e honra sua palavra, Mas há cavaleiros maus que não cumprem suas promessas. Estes não guardam suas virtudes e depois são punidos, Mas há aqueles que nada temem e servem de exemplo nas mais árduas batalhas. E não digo somente em batalhas sangrentas, mas naquelas que celebram a vida em toda a circunstância. Há aqueles que buscam paz na tão sonhada Terra Santa, Suas jornadas são longas, como viagens feitas até do outro lado das montanhas... Eles não são como os deuses, mas neles encontramos inspiração... Cavaleiros estes estão consumados pe
RAINHA: Olhe bem para o alto, cara dama, há ornamentos o bastante para ostentar o seu poder? Será que há beleza o bastante como a sinfonia crescente das estrelas no céu? Eu bem duvido às vezes do meu ser, do que é o bastante para saciar minhas vontades... Penso que há uma pobre decadência neste reino quando os desejos não se reerguem sob meus pés... Mas é possível que eu esteja a cada dia me sentindo mais velha, com o passar dos anos... Em algum momento da vida temos que nos confrontar com os males epidêmicos que assolam nossos palácios... O ouro nunca parece o suficiente. O ouro é aquele que não compra um espaço nos céus, mas que faz muitos sujarem suas mãos de sangue em nome da discórdia, em nome de suas paixões ambiciosas... Meus súditos fizeram bons retratos, ainda escreveram bons manuscritos... Mas as cores sanguinárias de minhas mãos me deixaram cada vez mais sombria, como se a maledicência estivesse sendo colocada em minha face ou como se ela estivesse envolvendo
[A princesa procura pelo seu cavalo em seu castelo]: PRINCESA: Onde está o meu cavalo? Será que se perdeu? Ele desapareceu como a estrela mais quente que some com o pôr-do-sol! Devo procurá-lo imediatamente! Ai, aquele animal! Eu o deixei tão sozinho nesses últimos dias, e em sua inocência deve ter despertado a vontade de fugir para a floresta, pois é de lá que ele veio. Devo resgatá-lo, antes que seja tarde! Isto só pode ser um pesadelo! Ouvi histórias tristes sobre o local, dizem que em suas cavernas habita um dragão e que muitos cavaleiros corajosos nunca voltaram de lá. Devo encontrar a meu cavalo antes que vire alimento dessa temerosa fera! Aquele cavalo era um presente de minha mãe que ganhei na infância, eu tinha apenas cinco anos de idade. Era um tempo em que eu era realmente alegre, adorava brincar e passar momentos com alguns animais presenteados pelos meus vassalos. Houve uma época que os amava, que me recusava a comer car
[Entram o príncipe, o trovador e o cavaleiro em uma taverna]: PRÍNCIPE: Eu hoje quero aproveitar a noitada tanto quanto os taberneiros querem aproveitar as bebidas, música e comida farta! Há inúmeras donzelas no vilarejo, mas o mais interessante está nos prostíbulos! Eu hei de aproveitar a carne de meretrizes que me aguardam! E vocês, meus caros cavalheiros, o que farão hoje? ESCUDEIRO: Bem, onde tem bebida eu estou! Há-há! CAVALEIRO: Eu estive pensando sobre a glória e a honra. Não sei quanto aos que pecam, quanto aos que abominam a palavra de Deus, onde estará a salvação. Bem, hoje vou pensar um pouco e meditar, não bebo e acredito que é importante manter-se na ordem da pureza. PRÍNCIPE: Ora, como você é sem graça... A bebida é uma porta para o ápice da loucura, da embriaguez! Mas, e você, trovador, o que vai cantar? TROVADOR: Bem, hoje cantarei a canção mais nostálgica que compus para uma dama que me rejeitou. Meu coração agora est
[A profetisa anuncia a chegada do Apocalipse no vilarejo:] PROFETISA: Eis uma lua de sangue... Respeitáveis senhores, é com grande pavor que eu vos anuncio: o fim está próximo! Vemos neste mundo uma falsa luz que provém da obscuridade do príncipe das trevas! Ele quer nos enganar de que estamos aqui em pleito obedecendo ao Senhor de todo o coração, mas se disfarça e nos oferece o fruto proibido como o do Jardim do Éden... Adão e Eva se envergonharam sendo expulsos do paraíso e agora a humanidade tem que enfrentar um male terrível: as artimanhas da tentação do mal! O povo luta para encontrar o caminho dos céus, mas ainda não se preparou para o que está por vir! Guerras e pestilências! A danação eterna parece cada dia mais próxima de nós! PADRE: Há quem diga que os feitiços merecem ser proibidos neste reino! A Santa Inquisição está em plena caça às bruxas, pois sua conduta está cada vez mais trazendo pestes para nós. Aos poucos o homem não terá mais saúde se ai
CAVALEIRO: Estou realmente surpreendido com a sua coragem por hoje, meu caro escudeiro, pela sua lealdade. Sabe que toda a astúcia do mundo é muito pouca para alguém que decide enfrentar um dragão. Vamos ser reconhecidos como seres que carregam certa glória por eliminar o perigo das redondezas deste reino! Tornar-nos-emos lendas! ESCUDEIRO: Mas que vanglória! Que vaidade! Mal pensam nas próprias vidas e já querem renome! Bem, veja aquele denso bosque, há relvas verdíssimas com ar puro e pomares cheios de frutos lá adiante e um lago profundo, com água cristalina cheio de flores flutuando, é lá que eu queria ficar... CAVALEIRO: Ora, deixe de bobagem! Depois quando encontrarmos a entrada da caverna, você entra logo atrás de mim. Os outros cavaleiros virão logo atrás! [O cavaleiro e o escudeiro param no caminho e falam com os outros cavaleiros do grupo]: CAVALEIRO: Cavaleiros, é com grande destreza que