[Ouvem-se gritos da profetisa, que foi acusada de bruxaria e está prestes a ser incendiada pela Inquisição.]
SACERDOTE: Senhoras e senhores, estamos aqui porque precisamos afastar os males de nossas casas. Há uma acusada de bruxaria entre nós. Essas feiticeiras desobedecem às leis do reino sagrado, nos trazem pragas e profecias falsas! Elas são as porta-vozes do diabo, nos enganam e transformam nossa verdade em pó ao vento com suas crenças advindas do poder das trevas! Esse poder não é bem-vindo, pois nos traz sérios problemas, inclusive a morte! Nossos rios, como um dia já foi escrito no livro sagrado, podem ter sua água transformada em sangue! Nossas colheitas podem ser comidas pelos insetos e não prestar para nos servir de alimento! Nossos vilarejos podem receber infestações de sapos! Nossos campos podem ter o gado louco! E o pior, a peste pode invadir nossos lares, gerando doenças e mais doenças! É isto que a bruxaria traz para nosso reino, uma ma
[O alquimista, o cavaleiro, o escudeiro e a cigana vão até a Ilha dos Mortos levando o corpo da profetiza no barco]. ALQUIMISTA: [Remando a barca]. Vamos velar o corpo nessa Ilha onde há o santuário dos mortos... Descanse em paz... Para sempre, minha cara profetisa... No embalo das águas verde-esmeralda com essas ondas transparentes brilhando com o anel de prata da lua cinzenta, tento fechar os olhos e me recordo dos meus amigos do passado... Sinto um medo absurdo aqui dentro, não ouvi vozes de monstros ainda, mas temo naufragar... O que será que há lá? Eles queriam sacrificá-la e deixaram isso impune... Você tentou se defender sozinha, junto com seus próprios erros do passado e tudo que você amava era a vida, os seres vivos. Quem deu razão de lhe prejudicarem dessa forma? Eles não viram a própria voz deles ser morta, apedrejada... Tudo o que eles cobram tanto são indulgências... Mas ninguém pode comprar o
[Ao entrar no cemitério da Ilha, a cigana ouve um canto etéreo dentro da sua mente e pensa com o seu outro Eu: “Venha meu conto de fadas, alcance meu Sol”.] CIGANA: Quem está aí? Eu ouço um canto de longe. É suave como o brilho da neve... Pueril como se estivesse dentro de um conto de fadas... Eu amava Francisco... Eu não lembro se ele havia me tocado sem minha permissão... Infelizmente alguns amores são insatisfeitos, ou completamente imperfeitos... Eu vejo o Sol irradiar nas montanhas, como se eu estivesse procurando Deus em algum lugar e eu pudesse ouvir a sua voz eterna dentro de minha consciência... Eu lhes ofereceria a minha memória, talvez amaria mais os meus inimigos... Eu sinto sono e eu preciso de descanso como estivesse no embalo das sombras cintilantes... [...]. Uma vez estava dentro de uma igreja incendiada e as cores eram mesmo assim belíssimas... Eu m
[O cavaleiro e o escudeiro dialogam sobre a princesa]: CAVALEIRO: Então é a segunda vez que a princesa desaparece, feito o sol ao entardecer... ESCUDEIRO: Há muitos conflitos, guerras; os vassalos formaram uma rebelião contra seus senhores, pois são impedidos de comer o pão, sentem-se realmente injustiçados porque seu trabalho está sustentando os poderosos e malfeitores que os pagam com míseros soldos e não lhes dão proteção, como a ordem da cavalaria prometia... CAVALEIRO: Caro escudeiro, não sei o que será de nós nos próximos temerosos conflitos. A boca do povo quando se revolta é como a de um dragão que expele fogo pelas ventas! De dentro só sai o furor dos gritos, que no estardalhaço das chamas gera o estopim da guerra! ESCUDEIRO: Bem, creio eu que nosso trabalho foi leve, porque temos longas viagens pela frente e tomara que seja sem qualquer luta! CAVALEIR
[O cavaleiro e o escudeiro estão reunidos na casa do alquimista]: ALQUIMISTA: Vocês sabem, há todos os tipos de mistérios na natureza. E como se ela tivesse vida própria, entra em nossos pensamentos, reergue-nos de nossas fraquezas e preenche-nos com sabedoria, por ser repleta de perfeição... Descobri que desde garoto apreciava as misturas que meu pai fazia com as ervas medicinais e hoje posso dizer que estou fazendo receitas maravilhosas! Uma pena que eu não tenha agradado a rainha até o momento, mas sigo com persistência meus objetivos... CAVALEIRO: Bem, em gostaria de experimentar seus chás de hibisco, talvez minha pele pareça mais jovem, como a de uma donzela mesmo em apuros! Há há! ESCUDEIRO: Só cuidado para não tomar demais e rejuvenescer sua idade mental! [risos]. CAVALEIRO: Ora, pelo menos não teria tantos medos quanto o senhor, meu caro escudeiro!<
[O cavaleiro e o escudeiro procuram pela princesa num prostíbulo]: CAVALEIRO: Boa tarde, cara dama, estamos aqui para lhe perguntar se por acaso não tem visto a jovem do poder. PROSTITUTA: A princesa? Por que pensariam que ela está aqui? Com tanta riqueza, ela poderia muito bem aproveitar sua suntuosidade ao invés de estar conosco, não acha? O que ela estaria fazendo fora do castelo? A princesa desaparecida Cometeu a loucura de sair do castelo E o que eu tenho a ver com a história desta bela dama cheia de riqueza e poder? Eu bem que às vezes gostaria de estar no lugar para não ter que arcar meu destino com estes homens tão... tão... asquerosos Bem, encantadores é que não vão ser! Nem tudo é um mundo de maravilhas pelas quais sonhamos... Às vezes penso os que meus sonhos foram destruídos... <
[Meses depois...][O cavaleiro vai até o castelo falar com a rainha]:CAVALEIRO: Vossa Majestade, meses após o pedido de busca, é com grande tristeza que voltamos para informar à sua família que infelizmente não encontramos a princesa.RAINHA: Bem, ela nunca mais voltou para o castelo, agora nossas almas estão em prantos e confusas do que podemos fazer por ela.CAVALEIRO: Enfim, fomos à Floresta Vermelha, mas não encontramos nada. Nenhum vestígio. Procuramos também nos mosteiros, nos prostíbulos, nas igrejas, nas humildes casas do vilarejo, nas redondezas, mas até agora nada.RAINHA: Agradeço seus esforços.CENA XXXII: A LENDA[O cavaleiro, o escudeiro e o alquimista est&
“O ser humano necessita procurar se engrandecer e não sufocar as razões de sua existência”. Jéssica Cardoso de Oliveira PERSONAGENS: ALQUIMISTA PROFETISA PROSTITUTA RAINHA PRÍNCIPE PRINCESA ISABEL TROVADOR CAVALEIRO ESCUDEIRO PADRE SACERDOTE VOZ DESCONHECIDA CIGANA BOBO PRIMEIRA PARTE PRÓLOGO ISABEL: Ainda que eu esteja onde não possa bem enxergar, sinto de maneira esperançosa que algo acontecerá para uma outra vida. Uma das mais belíssimas paisagens que uma criatura mortal já viu é o majestoso mover das águas profundas em azul escuro em torno dos mistérios da Ilha francesa de St. Michel, que quase a engole com a braveza do mar.... As vejo tão cheias de energia, como a força que um cavaleiro precisa ter para se levantar das próprias quedas
[A princesa Isabel está no castelo Neuschwanstein fazendo teatro com máscaras junto com o bobo-da-corte]. ISABEL: Olhai para seu o reflexo que jamais se funde com o dos outros [...]. BOBO: O homem precisa descobrir a si mesmo perante a luz divina, mesmo em tempos difíceis... E são nestes momentos que até o ímpio começa a duvidar de si próprio, considerando que a loucura seja a resposta para aqueles que procuram desvendar certos mistérios... A magia sempre existira para aqueles que soubessem usá-la com as forças sobrenaturais que a natureza invoca. O homem assim pode desacreditar em tudo, pode permanecer no caminho do óbvio ou meditar, cada vez mais profundamente, para enxergar além do que os seus olhos podem ver. Mas a magia só terá significado se o sacrifício do homem não for em vão, se ela servir para encantar ao invés de amaldiçoar.