TROVADOR: Sinto um aperto no coração parecendo uma pedra de diamante bruto no peito, não sei se meu amor será correspondido. Bela dama esta que escuta minha canção. Que dúvidas repentinas que insanamente me causam alvoroço! Eu devo ter a coragem de um cavaleiro para me arriscar a ouvir um “não”. Talvez eu deva esconder o quão solitário me sinto, às vezes, quando acordo pelas manhãs e como o fruto mais doce e penso em seu beijo. Vou cantar e mostrar o quanto amaria desfrutar de sua companhia, o quanto quero vê-la e olhá-la nos olhos e dizer o que sinto em meu coração. Mas a dama me parece tão distante... Ela parece a mais bela de todas as donzelas deste vilarejo, é como a flor mais cheirosa do bosque, a mais esplêndida da floresta cujas cores vívidas me causam admiração. Sua pele é branca como o copo-de-leite, seus cabelos são negros como ébano e suas bochechas são rosadas; há brilho em seus olhos assim como o da lua nas noites mais estreladas... Vou ao seu encontro declarar o meu amor...
[O trovador vai de encontro à janela de uma donzela do vilarejo e declama sua poesia]:
Jardins estes onde tu és a mais bela flor
Quero te ver sorrir, bela dama
Vejo em teus olhos o brilho do luar
Vejo em teu sorriso a alegria que desperta em mim meu doce querer
Tu és como o mel das abelhas
Venhas até mim, eu serei o teu amor
Tu és como uma princesa que encanta com o olhar.
[A dama simplesmente o ignora e ele sai abalado].
TROVADOR: Pois meu coração assim se partiu em pedaços. Foi uma bela história, agora tive um amor não correspondido. A dama de fato não queria me encontrar, não queria me ver, não se interessa por mim. Sua rejeição dói em mim. É como se eu esperasse até o amanhecer por um suspiro, um olhar, uma lembrança. Sua imagem estava em meus sonhos, eu a queria e assim é difícil demais acordar para uma dura realidade que não existe. Não consigo esquecer sua face, nem seu sorriso. Que fantasia! O imaginário mundo maravilhoso de criaturas dos contos de fadas é tão ilusório quanto o que eu vivo agora. Parece que a minha vida se transformou em desalento...
CENA VII: A CONVOCAÇÃO DOS CAVALEIROS [O príncipe faz uma anunciação no reino]: PRÍNCIPE: Nesta sexta-feira de maio, anuncio nos reunirmos aqui para a honra de nossa defesa. Nossa célebre e heroica luta se dá por uma temida jornada. Há possivelmente uma criatura neste reino e todos nós desconhecemos suas artimanhas. Alguns soldados deste reino estão sendo convocados pela rainha para a sua caçada, para capturar os tesouros preciosos de sua morada! Terá fama e glória para os cavaleiros! Com direito a grandes festas e comemorações para os que a derrotarem! A criatura é como uma fera, tão temida pelos mais ardilosos. Tão voraz que pode matar Faminta ela estará à espera de sua presa. Olhem, mortais, que preciosidade, uma caverna cheia de relíquias! Vejam, todos, vejam só, qual bravura é capaz de enfrentá-
[O escudeiro conversa com o cavaleiro]: ESCUDEIRO: Bem, nestas alturas a nobreza de um cavaleiro deveria ser a de salvar donzelas em perigo, proteger o reino dos inimigos e guerrear em conflitos armados, caso fosse necessário... Um cavaleiro faz o juramento e honra sua palavra, Mas há cavaleiros maus que não cumprem suas promessas. Estes não guardam suas virtudes e depois são punidos, Mas há aqueles que nada temem e servem de exemplo nas mais árduas batalhas. E não digo somente em batalhas sangrentas, mas naquelas que celebram a vida em toda a circunstância. Há aqueles que buscam paz na tão sonhada Terra Santa, Suas jornadas são longas, como viagens feitas até do outro lado das montanhas... Eles não são como os deuses, mas neles encontramos inspiração... Cavaleiros estes estão consumados pe
RAINHA: Olhe bem para o alto, cara dama, há ornamentos o bastante para ostentar o seu poder? Será que há beleza o bastante como a sinfonia crescente das estrelas no céu? Eu bem duvido às vezes do meu ser, do que é o bastante para saciar minhas vontades... Penso que há uma pobre decadência neste reino quando os desejos não se reerguem sob meus pés... Mas é possível que eu esteja a cada dia me sentindo mais velha, com o passar dos anos... Em algum momento da vida temos que nos confrontar com os males epidêmicos que assolam nossos palácios... O ouro nunca parece o suficiente. O ouro é aquele que não compra um espaço nos céus, mas que faz muitos sujarem suas mãos de sangue em nome da discórdia, em nome de suas paixões ambiciosas... Meus súditos fizeram bons retratos, ainda escreveram bons manuscritos... Mas as cores sanguinárias de minhas mãos me deixaram cada vez mais sombria, como se a maledicência estivesse sendo colocada em minha face ou como se ela estivesse envolvendo
[A princesa procura pelo seu cavalo em seu castelo]: PRINCESA: Onde está o meu cavalo? Será que se perdeu? Ele desapareceu como a estrela mais quente que some com o pôr-do-sol! Devo procurá-lo imediatamente! Ai, aquele animal! Eu o deixei tão sozinho nesses últimos dias, e em sua inocência deve ter despertado a vontade de fugir para a floresta, pois é de lá que ele veio. Devo resgatá-lo, antes que seja tarde! Isto só pode ser um pesadelo! Ouvi histórias tristes sobre o local, dizem que em suas cavernas habita um dragão e que muitos cavaleiros corajosos nunca voltaram de lá. Devo encontrar a meu cavalo antes que vire alimento dessa temerosa fera! Aquele cavalo era um presente de minha mãe que ganhei na infância, eu tinha apenas cinco anos de idade. Era um tempo em que eu era realmente alegre, adorava brincar e passar momentos com alguns animais presenteados pelos meus vassalos. Houve uma época que os amava, que me recusava a comer car
[Entram o príncipe, o trovador e o cavaleiro em uma taverna]: PRÍNCIPE: Eu hoje quero aproveitar a noitada tanto quanto os taberneiros querem aproveitar as bebidas, música e comida farta! Há inúmeras donzelas no vilarejo, mas o mais interessante está nos prostíbulos! Eu hei de aproveitar a carne de meretrizes que me aguardam! E vocês, meus caros cavalheiros, o que farão hoje? ESCUDEIRO: Bem, onde tem bebida eu estou! Há-há! CAVALEIRO: Eu estive pensando sobre a glória e a honra. Não sei quanto aos que pecam, quanto aos que abominam a palavra de Deus, onde estará a salvação. Bem, hoje vou pensar um pouco e meditar, não bebo e acredito que é importante manter-se na ordem da pureza. PRÍNCIPE: Ora, como você é sem graça... A bebida é uma porta para o ápice da loucura, da embriaguez! Mas, e você, trovador, o que vai cantar? TROVADOR: Bem, hoje cantarei a canção mais nostálgica que compus para uma dama que me rejeitou. Meu coração agora est
[A profetisa anuncia a chegada do Apocalipse no vilarejo:] PROFETISA: Eis uma lua de sangue... Respeitáveis senhores, é com grande pavor que eu vos anuncio: o fim está próximo! Vemos neste mundo uma falsa luz que provém da obscuridade do príncipe das trevas! Ele quer nos enganar de que estamos aqui em pleito obedecendo ao Senhor de todo o coração, mas se disfarça e nos oferece o fruto proibido como o do Jardim do Éden... Adão e Eva se envergonharam sendo expulsos do paraíso e agora a humanidade tem que enfrentar um male terrível: as artimanhas da tentação do mal! O povo luta para encontrar o caminho dos céus, mas ainda não se preparou para o que está por vir! Guerras e pestilências! A danação eterna parece cada dia mais próxima de nós! PADRE: Há quem diga que os feitiços merecem ser proibidos neste reino! A Santa Inquisição está em plena caça às bruxas, pois sua conduta está cada vez mais trazendo pestes para nós. Aos poucos o homem não terá mais saúde se ai
CAVALEIRO: Estou realmente surpreendido com a sua coragem por hoje, meu caro escudeiro, pela sua lealdade. Sabe que toda a astúcia do mundo é muito pouca para alguém que decide enfrentar um dragão. Vamos ser reconhecidos como seres que carregam certa glória por eliminar o perigo das redondezas deste reino! Tornar-nos-emos lendas! ESCUDEIRO: Mas que vanglória! Que vaidade! Mal pensam nas próprias vidas e já querem renome! Bem, veja aquele denso bosque, há relvas verdíssimas com ar puro e pomares cheios de frutos lá adiante e um lago profundo, com água cristalina cheio de flores flutuando, é lá que eu queria ficar... CAVALEIRO: Ora, deixe de bobagem! Depois quando encontrarmos a entrada da caverna, você entra logo atrás de mim. Os outros cavaleiros virão logo atrás! [O cavaleiro e o escudeiro param no caminho e falam com os outros cavaleiros do grupo]: CAVALEIRO: Cavaleiros, é com grande destreza que
PRINCESA: Como esta floresta me parece obscura às vezes... Meu cavalo é forte o bastante para cavalgar o dia todo, mas por aqui não encontrei o meu querido e amado animal. Dói-me saber que o meu cavalo pode estar perdido nesta longa floresta repleta de altas árvores cujas flores caídas ao chão são vermelhas e que eu jamais o verei novamente. Já ouvi tantas histórias diferentes aqui... Dizem as lendas do vilarejo que há elfos e fadas que cantam e dançam em rodas nas noites de festejo e que só os de corações sensíveis podem escutá-los. Eu imagino essas criaturas com asas de borboletas muito magníficas, com vestes de pérolas e flores, voando a um metro do chão. Eu já ouvi sobre elfos que encantam ao tocarem flautas alegremente com suas músicas esplêndidas... Aqui próximo deve haver um pomar para que eu colha deliciosos frutos... Como é bela a natureza! Vejo a luz do sol penetrando por entre as folhas e a iluminando com um brilho suave... Sinto o cheiro das fl