PRINCESA:
Como esta floresta me parece obscura às vezes... Meu cavalo é forte o bastante para cavalgar o dia todo, mas por aqui não encontrei o meu querido e amado animal. Dói-me saber que o meu cavalo pode estar perdido nesta longa floresta repleta de altas árvores cujas flores caídas ao chão são vermelhas e que eu jamais o verei novamente. Já ouvi tantas histórias diferentes aqui... Dizem as lendas do vilarejo que há elfos e fadas que cantam e dançam em rodas nas noites de festejo e que só os de corações sensíveis podem escutá-los. Eu imagino essas criaturas com asas de borboletas muito magníficas, com vestes de pérolas e flores, voando a um metro do chão. Eu já ouvi sobre elfos que encantam ao tocarem flautas alegremente com suas músicas esplêndidas... Aqui próximo deve haver um pomar para que eu colha deliciosos frutos... Como é bela a natureza! Vejo a luz do sol penetrando por entre as folhas e a iluminando com um brilho suave... Sinto o cheiro das fl
RAINHA: Onde está a princesa? Não a encontro no castelo desde ontem... PRÍNCIPE: Não a vi. RAINHA: Cavaleiros! PRÍNCIPE: Convocarei alguns de meus cavaleiros para procurá-la. CAVALEIRO: Sim, Majestade. RAINHA: Convoco os cavaleiros do reino para uma procura de nossa princesa que está desaparecida desde ontem. Procurem no vilarejo, nos bosques, nas florestas, em todos os lugares possíveis... CAVALEIRO: Sim, Majestade. BOBO: Simples, olhe para o príncipe, tão sensível, parece tão angelical. Mas por dentro ainda é um demônio disfarçado. Aquele que contempla a poesia fúnebre, mas se sente tão frágil e acaba por deixar desabar a única oportunidade que tem para alcançar o voo para o alto de sua consciência e lá de cima enxergar um paraíso. E de fato, ele ainda tem medo e cai lá embaixo. Os anjos os avisam que ele sente dor,
[Na igreja]: TROVADOR: Padre, acabo de saber que a jovem dama do poder chamada Isabel está desaparecida desde anteontem, podemos fazer uma oração por ela e avisar a igreja. PADRE: Uma jovem desaparecida? Vamos, sim, orar. [...] Meus respeitáveis senhores que vieram até esta Igreja e procuram salvação para suas almas... Almas estas que estão presas nas correntes do pecado e precisam se libertar. [...] Certa vez, um moço se via perdido no caminho tortuoso do diabo. Cometia usura e foi castigado pelo próprio patrão. Ele estava perdido no pecado, pois não se arrependia pelos seus atos, mas um dia perdeu sua esposa e seus filhos e sentiu-se faminto até fazer uma confissão para a igreja. O que há para nós é que muitos estão perdidos neste mundo. Não perdidos porque não encontraram o caminho de volta para suas casas, mas perdidos porque não estão devotando suas vidas para chegarem ao Reino dos Céus e perdem-se nas trevas do pecado. Ima
TROVADOR: Festa, comida farta, bebida, música... Tudo o que eu tenho direito... E, então, o que estás achando deste festim? ALQUIMISTA: Sabe que aguardo as suas cantigas, meu bom companheiro. Mas sinto um pavor às vezes em relação a uma série de dúvidas quanto ao futuro deste reino, pois soube do desaparecimento da princesa hoje pela manhã, quando fui à igreja. TROVADOR: Um grupo de cavaleiros e súditos da rainha foi procurá-la em viagem. Bem, meu jovem alquimista, quais as dúvidas que o amedrontam? ALQUIMISTA: Bem, não sei o que será do amanhã com tantas guerras próximas... Parece que a ambição do homem tem destruído os sonhos das mais humildes crianças e que as guerras têm amaldiçoado nosso reino com o veneno da discórdia. Mal sei o que pensar... É como o que ouvi do padre, muitos estão realmente perdidos, mesmo estando em seus lares... TROVADOR: Dizem que o fim está próximo e que vamos ser
[A princesa regressa ao castelo]: PRINCESA: Madrasta, depois de uma longa viagem, voltei ao castelo. Creio que tenha perdido o meu querido cavalo, pois não o encontrei. Ele foi um presente de minha falecida mãe... RAINHA: O quê? Sabes que jamais deverias sair do castelo sem aviso prévio, pois enviamos cavaleiros para procurá-la. Pensamos que estavas desaparecida... PRINCESA: Sinto muito pelo ocorrido, saí às pressas do castelo com um dos cavalos para procurar meu cavalo... RAINHA: Como ousas causar esse susto em sua única família? Bem, se estavas procurando seu cavalo, ele está morto. PRINCESA: Oh! [susto]. Como sabes? RAINHA: Bem, creio que você seja muito nova para se assustar tanto com um mero animal. Existem coisas mais importantes com as quais devemos nos importar do que usar nosso tempo para nos entristecermos com isso...
PRINCESA: Não acredito, era um presente da minha mãe, fruto de uma lenda... [choro]. RAINHA: Acalme-se... Antes de tudo, seu querido irmão tem algo a lhe confessar, por favor, não chore... [...]. Há muito tempo atrás chegou uma maldição ao reino: crianças foram para as batalhas armadas com espadas, escudos e elmos, para acordar uma mulher herege que queria o povo como escravo de seus privilégios. Muitos deuses da magia negra se apossaram de outras almas e os tornaram legítimos cárceres de suas ambições. A alma corrompida dos outros doou sangue de animais sacrificados para o alimento do Deus Cornífero. PRINCESA: O que aconteceu com Filipe? RAINHA: Esses dias, após ter cavalgado com alguns súditos pelo vilarejo à sua procura, Filipe sentiu-se muito doente e chamamos um médico para ajudá-lo. Descobrimos que ele tem algo terrível. PRINCESA: O que houve? O que ele tem?
PADRE: Respeitáveis senhores e senhoras desta igreja, quero comunicar-lhes sobre um male terrível: estamos à sombra de uma epidemia. Deus revela punição aos homens desobedientes, que não se sentem envergonhados pelos seus pecados imundos. A doença veio para castigar aqueles que não se rendem ao caminho dos céus! Lembrem-se de que Adão e Eva ao comerem do fruto proibido foram expulsos do jardim do Éden. Lembrem-se de que os fornicadores são punidos por Deus com a praga! Há neste vilarejo feiticeiras luxuriosas que trazem a maldição a este reino sagrado! Perdidas estão as almas daqueles que não seguem o caminho da igreja! Perdidos estão os seres imundos que deixam os males do demônio se alastrarem em suas casas, fazendo o banquete e levando o ser humano à escuridão, para um caminho repleto de trevas! O livro sagrado condena os fornicadores! Lembrem-se: Deus tudo sabe e concebe castigo àqueles que não seguem a sua palavra! A doença então é punição divina! Arrependei-vos de todo o male!
CENA XXI: A FUGA DA PRINCESA PRINCESA: Que horror! Que absurdo! Neste momento vejo no horizonte uma imagem de como se anjos caíssem dos céus feito pássaros sem poderem mais voar e eu fosse mais uma entre eles... Caindo num abismo... Como num naufrágio... Há aqueles que jazem no Reino dos Mortos e seus corpos perecidos para este mundo, habitam o fundo dos Oceanos com seus corações pesados como diamantes brutos. Uma cólera dentro de mim surge, uma aversão. Algo tão negativo toma conta de mim a ponto de eu sentir vontade de matar quem quer o mal me fazer. Eu não posso acreditar nessa crueldade! Eu não consigo crer que alguém seja tão imbecil a ponto de querer sacrificar uma vida em nome de seus rituais malignos... Para mim não passam de tolos que veneram a destruição! Sinto uma amargura por dentro e ao mesmo tempo, tristeza... Agora, a dor faz latejar e toma conta de mim até chegar, querendo me rasgar de pranto! A angústia surge
ALQUIMISTA: Vossa Majestade, com grande modéstia... Desta vez lhe trago estas águas-de-cheiro feitas com flores de jasmim, folhas de hibisco, mel, canela e um pouco de gengibre, junto com uma mistura secreta de minhas experiências para que você se proteja do seu envelhecimento.Às vezes penso que o homem é unido com alianças de comunhão entre tudo em todos. Sentir uma energia vinda de algo que está além dos costumes de nossa imaginação, é para poucos... Somente os mais sensíveis podem ver o que eu vejo em todos os divinos sinais enviados por Deus... É isso que eu observo como alquimista: São apenas dois corpos dentro de um zodíaco em forma de olho onde há os dez signos representados desde um caranguejo, um leão, uma donzela, uma balança, um escorpião, e um centauro com uma flecha, uma cabra e outro um homem com um jarro