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Phillip

Acordei com um barulho e ... água ?

- Mas que porra - fui interrompido antes de terminar a frase.

"LEVANTA !" - Simon grita com o copo de água na mão , me encarando com uma expressão de raiva .

Simon é meu irmão mais novo , a única pessoa que ainda tenta falar comigo ou se aproximar depois de tudo . Ele faz questão de vir aqui todas as manhãs para ver o meu estado deprimente de sempre , caído na cama bêbado , e às vezes copos quebrados que atirei na parede depois de começar a beber e perder o controle .

- Parece que essa noite foi uma das difíceis - ele fala , olhando para o chão e vendo os cacos de vidro do copo que atirei na parede em algum momento da noite que não me lembro .

- Vai embora - falei e me virei para dormir de novo .

- Não , não e não . Hoje não . Eu realmente preciso falar com você , levanta - falou , puxando - me , e virei para encará - lo .

- O que você quer ? Eu só quero ficar em paz - falei , sentando - me , já sem paciência para ele .

- Ah , com certeza paz é uma coisa que você não tem faz tempo - diz ele , sentando - se na poltrona ao lado da janela do meu quarto . - Primeiramente , vai tomar um banho e tirar esse bafo de cachaça , puta que pariu , tá vindo aqui - diz fazendo um gesto abanando como se estivesse fedendo .

Faço um gesto vulgar para ele e vou em direção ao banheiro .

Ele não estava exagerando quando falou sobre o fedor . Tirei minhas roupas e tomei um banho gelado para tentar aliviar um pouco a dor de cabeça . Depois de tanto tempo bebendo , eu já não me incomodava muito com a ressaca . Posso dizer que já me acostumei .

Passei pelo quarto e vi ele sentado , mexendo no celular . Coloquei uma roupa , escovei meus dentes e sentei na cama em frente à poltrona .

- Agora fala , o que você quer ? Geralmente você só vem aqui , me acorda , fica 15 minutos me enchendo o saco e vai embora . O que mudou hoje ? - falei , e ele levantou os olhos do celular , me encarando sério .

- Precisamos falar da sua situação e da empresa - fala , guardando o celular e cruzando as pernas .

- Simon , você sabe que ... - ele me interrompeu .

- Já fazem 4 anos , Phillip . 4 anos . Você PRECISA superar isso .

- Não tenho nada para superar , e se era só isso pode ir embora - falo e , quando começo a me levantar , ele continua .

- Ela morreu , está MORTA . Não vai voltar e te tirar desse mundinho que você se enfiou - antes de ele terminar a frase , me viro indo em sua direção , nossos rostos ficam tão próximos que nossas respirações se misturam .

- NUNCA ! - falo , apontando o dedo no peito dele . - JAMAIS diga isso de novo , você me entendeu ? - ele acena que sim com a cabeça , e eu me viro indo em direção à porta . - Se isso foi tudo , pode ir embora - abri a porta e saio do quarto .

- Os investidores da empresa estão querendo romper os contratos , falaram que você não está se mostrando o chefe que era antes de ... disso tudo . E falaram que se você não voltar a tomar a posse da empresa , vão cancelar os contratos com você .

- Eu não me importo - falo , virando para ele .

- Isso não é sobre você , é sobre o legado dessa empresa . Ela existe há anos e agora você está afundando ela por causa disso tudo que você está se tornando - ele para , dando um suspiro . - E também tem mais uma coisa .

- O que falta agora ? Já não despejou tudo na minha cara ? - falo e começo a descer a escada .

- O papai , ele ... - começou e parou na escada . - Ele disse que se você não voltar , vai tirar você do cargo de presidente e tirar todos os seus bens . Outro motivo pelo qual eu precisava tão urgentemente falar com você - falou , soltando um ar que eu não percebi que ele estava prendendo .

- Eu ... eu não posso voltar , a empresa - falei e apertei os olhos . - Ela me lembra muito ela , eu não vou conseguir , ainda não - falei , e ele começou a vir na minha direção .

- Você vai ter que conseguir superar isso , irmão - ele falou , dando um aperto no meu ombro , passando por mim e indo em direção à porta de saída .

Eu tinha que conseguir voltar , mas não sei se conseguiria . Tudo me lembra dela .

Subi as escadas novamente e fui em direção a um quarto que eu mantinha trancado , só eu entrava , mais ninguém .

Abri a porta vendo todos os móveis cor de rosa e branco . O berço estava no canto do quarto com alguns ursos de pelúcia , tinha um tapete no chão e algumas coisas ainda estavam empacotadas , por causa da mudança , quando eu me mudei de nossa casa para esse apartamento . As coisas que compramos para montar o quartinho de Emma , tínhamos tudo planejado , mas depois que ela se foi , eu não consegui me aproximar da bebê . Então , minha irmã Megan cuida dela . Hoje , ela já tem 4 aninhos e eu ainda não consigo interagir com ela , e isso me deixa ainda mais quebrado por dentro . Me sento na poltrona do quarto e olho em direção à cômoda ao lado do berço . Em cima estava a carta que ela me deixou , mas que eu nunca tive coragem de abrir . Acho que nunca vou ter . Me levanto da poltrona e saio do quarto . Desço as escadas e vou em direção à cozinha para tomar um café . Eu vou ter que dar um jeito de ir para a empresa amanhã . Mesmo que eu não esteja nada preparado para isso , mas quem sabe lá eu me distraia mais , e consiga parar de me afundar cada vez mais nesse buraco que criei sozinho ...

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