A maldição do nosso passado.
A maldição do nosso passado.
Por: Giih Santos
1

Philipe

Estava saindo do trabalho, tinha sido um dia longo e o que eu mais queria era chegar em casa, abraçar minha mulher e ver o rosto alegre dela quando ela visse o pote de sorvete que eu estava levando pra ela, ela amava sorvete. Entrei no meu carro e dei partida para casa.

Esses meses têm sido os melhores da minha vida, havíamos descoberto que ela estava grávida, desde que a conheci esse era o meu sonho, formar minha família ao lado dela, e só de pensar que daqui a 1 mês vou realizar esse sonho me sinto o homem mais feliz do mundo. Nada podia tirar essa felicidade de mim. Nada mesmo.

(...)

Cheguei em nossa casa, coloquei o carro na garagem e fui direto para a sala, que é onde ela sempre me espera quando chego do trabalho. Cheguei com o sorvete dela na mão e os braços abertos para receber o abraço dela, mas ela não estava lá. Devia estar na cozinha. Então fui até lá, aproveitei e deixei o sorvete na geladeira para não derreter.

" - Hilary?", chamei, mas não tive resposta. Continuei andando pela casa.

Ela deve ter cochilado enquanto me esperava chegar, às vezes isso acontecia. " - Amor?", chamei abrindo a porta do quarto. Olhei pelo quarto e percebi que ela não estava lá.

Então resolvi ir no quarto do nosso bebê. Fui pelo corredor, abri a porta mas ela também não estava lá. Quando eu ia fechar a porta do quarto, percebi que estava escorrendo uma água por baixo da porta do banheiro que tem no quarto do bebê.

Andei na direção da porta e percebi que a água estava mudando de cor, de transparente para vermelho. Logo me desesperei e comecei a bater na porta.

" - Hilary? Hilary, você está aí?", continuei batendo na porta e chamando. Quando a água aumentou mais e ninguém respondeu, decidi arrombar a porta.

" - Amor, se estiver aí dentro, se afaste da porta. Eu vou arrombar", disse, e logo comecei a empurrar a porta com o ombro. 1, 2, 3... Mais uma vez. 1, 2 e 3. E dessa vez a porta se abriu.

E foi a pior imagem que eu podia ter visto, meu pior pesadelo.

Hilary estava na banheira, o chuveiro ainda ligado. Isso explica o derramamento da água. E os braços, cortados do pulso até a metade do braço. Isso explica o porquê da água estar vermelha. Fui correndo em sua direção, para verificar se ela ainda respirava.

" - Está tudo bem, eu estou aqui com você. Você vai ficar bem, ok? Vai ficar tudo bem", falei pegando a cabeça dela da beira da banheira e a abraçando. " - Fala comigo, por favor, fala comigo", pedi em soluços e sacudindo ela em meus braços.

Depois disso, tudo aconteceu muito rápido. A ambulância chegou, tirou ela dos meus braços e a colocou na maca da ambulância. Levaram ela para o hospital. Ela ainda estava respirando, mas estava muito fraca. Eles foram direto para sala de cirurgia para fazer o parto do bebê. Mas antes do bebê sair, ela se foi. Eu vi os olhos se fechando e a respiração parando aos poucos. Eu fiquei em choque e as lágrimas começaram a cair. Mal escutei o choro do bebê quando ele saiu. Depois disso, nunca mais fui o mesmo.

(...)

Hoje em dia.

Abro os olhos de uma vez, com um suspiro. Esse dia, esse pesadelo não sai da minha cabeça desde que aconteceu. Não consigo mais dormir, nem sozinho. Tudo que eu faço me lembra ela. Eu tive que mudar da minha casa, comprei um apartamento menor. Todas as coisas dela, roupas, sapatos, acessórios, tudo que ela gostava, eu cortei da minha vida logo de uma vez. Pois desde aquele dia, não fui o mesmo, e talvez nunca mais seja. Eu me livrei de tudo dela. Menos de uma coisa. Uma que eu não tive coragem de abrir até hoje. A carta que ela deixou para mim depois daquilo tudo.

Fechei os olhos e tentei dormir novamente. Mesmo que eu soubesse que quando eu dormisse, esse dia voltaria para a minha cabeça no mesmo instante.

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