6

Phillip

Estava atolado de trabalho e sabia que teria que ficar até mais tarde. Estava com fome, e whisky não iria encher minha barriga, então decidi descer para pegar algo na lanchonete ao lado da empresa.

Saí da empresa em direção à lanchonete. No meio do caminho, a energia da cidade caiu e tudo ficou escuro. Antes de parar de andar, esbarrei em alguém e percebi que a pessoa havia caído.

Arregalei os olhos, peguei o celular para ligar a lanterna e a direcionei para o rosto da pessoa, vendo que era a garçonete da lanchonete.

"Merda", ela resmungou, levantando-se e ajeitando a blusa vermelha com bolinhas pretas que estava usando.

"Desculpa", murmurei sem jeito, e ela ergueu os olhos para mim.

"Ah, não tem problema. Parece que hoje o universo está contra mim. Tudo está dando errado. Que dia de merda", ela falou rápido, e eu fiquei surpreso como alguém poderia dizer tantas coisas em apenas 10 segundos.

"Desculpa, eu falo demais quando estou nervosa", ela acrescentou, dando um sorriso sem graça.

"Ok, você se machucou?", perguntei.

"Acho que não", ela respondeu, olhando para os pés e passando as mãos pelo corpo. "Está tudo bem."

"Desculpa por isso. Não te vi por causa da falta de energia", expliquei, percebendo que estávamos parados na calçada no meio do apagão, com nossas lanternas acesas.

"Tudo bem", ela respondeu, apontando a lanterna para a rua. Virei-me também e vi o trânsito parado.

"Será que o ônibus vai chegar rápido?", ela perguntou mais para si mesma do que para mim, mas respondi:

"Acho que não. Os carros provavelmente ficarão presos no trânsito até a energia voltar."

"Faz sentido. Então, o que me resta é esperar", ela concluiu com um sorrisinho, indo para a beira da calçada, limpando a sujeira das mãos e sentando-se, com a lanterna apontada para a rua.

Eu me virei para voltar à empresa, mas um peso na consciência me fez parar. Não sei por que isso me importava, já que geralmente sou indiferente. Eu posso ser um babaca e ignorante, mas sei que deixar aquela garota sozinha na calçada, com a cidade às escuras, seria extremamente insensível. Então, virei-me novamente, vendo-a ainda na calçada, e fui em sua direção. Toquei em seu ombro, e ela se virou. Quase estava decidido a ser o idiota que geralmente sou e deixá-la ali, mas pensei nos perigos que ela poderia enfrentar.

"Se você quiser, pode ficar lá dentro até a energia voltar. Acho que ficar na rua no escuro não é uma ideia muito inteligente", falei coçando a nuca, esperando sua resposta.

"Ah, sim, tudo bem então. É melhor do que ficar aqui, né?", ela respondeu com um sorriso tímido, e eu concordei com a cabeça.

Fomos em direção à empresa. Como não havia energia, os elevadores estavam parados, então usamos as escadas. Chegamos ao andar da minha sala e ela se sentou no sofá, enquanto eu me acomodei na cadeira e liguei uma luminária que funcionava a pilhas.

Ela sentou-se e começou a mexer nos papéis com os quais eu estava lidando antes de descer.

Amberly

Fiquei surpresa quando ele me convidou para ficar na empresa. Inicialmente, pensei em todas as possibilidades: ele poderia ser um louco ou até mesmo um estuprador. Afinal, eu havia acabado de entrar na sala dele. Por outro lado, poderia ser apenas um homem que sabia dos perigos de uma mulher na rua escura e decidiu ajudar. Prefiro acreditar na segunda opção.

Peguei meu celular para ligar para minha avó e avisá-la que chegaria mais tarde em casa devido ao apagão. No entanto, o celular descarregou justo naquele momento.

Percebendo um telefone em cima da mesa dele, perguntei: "Posso usar seu telefone por um momento?" Ele ergueu a cabeça dos papéis e assentiu levemente. Sorri agradecida, sentindo minhas bochechas corarem. Fui até o telefone, sentei-me na cadeira em frente à mesa dele e disquei o número da minha casa. Minha avó atendeu após alguns toques.

"Oi, vó, sou eu, a Amber", disse, após ela atender.

"Minha filha, você está bem? Onde você está?"

"Estou bem, vó. Encontrei um lugar para ficar."

"Ok, quando a energia voltar, venha logo para casa. Está ficando tarde para você vir sozinha de ônibus."

"Tá bom. Beijo, tchau", despedi-me, e ela respondeu com um "tchau". Desliguei o telefone e o coloquei na bolsa.

Olhei ao redor da sala, apoiando as mãos nas coxas, e então percebi que ele me observava. Minhas bochechas esquentaram, e desviei o olhar.

"Então, você é o presidente daqui?", perguntei, quase me arrependendo, mas precisava quebrar o silêncio constrangedor. Ele olhou para mim com seriedade e respondeu:

"Sim", e voltou sua atenção aos papéis.

"Ah, entendi. Sobre o que é essa empresa de vocês?", perguntei, e ele olhou para mim novamente.

"É uma empresa que abrange várias áreas, mas a minha é arquitetura e imobiliária", explicou, voltando aos papéis.

"Legal. Vocês estão contratando? Acabei de me demitir da lanchonete ao lado daqui. Você deve conhecer, já que passa lá todos os dias para tomar café. Não é que eu fique observando, é só que te vi lá algumas vezes, e...", parei abruptamente, percebendo que estava falando demais e rápido. Ele me olhou com as sobrancelhas erguidas.

"Desculpa. Eu tenho essa mania de falar demais", continuei, me mexendo no sofá e dando um sorriso sem graça.

"Estamos fazendo entrevistas para a vaga de secretária. Se quiser, pode aparecer aqui amanhã com seu currículo. As entrevistas começam às 8:00", ele ofereceu, e eu assenti com a cabeça.

"Obrigada pela oferta", agradeci, mas ele apenas acenou com a cabeça.

Percebi que ele não era muito de conversa, então me calei e fiquei sentada, olhando pela enorme janela de vidro para a cidade escura.

Phillip

Já estava tarde. Eram 21:00 e a energia ainda não havia voltado. Eu estava lidando com mais alguns e-mails: pessoas querendo nossos arquitetos para projetos, outras empresas buscando novos contratos. Estava sobrecarregado de trabalho.

Olhei para o relógio mais uma vez e depois para a rua escura. Nada de trânsito se movendo ou energia retornando. Virei-me para Amberly – pelo menos acho que esse é o nome dela – e percebi que ela havia cochilado, encolhida no canto do sofá, com a cabeça apoiada na bolsa.

Balancei a cabeça, rindo baixinho da situação. Quando menos esperava, a energia voltou repentinamente, e o barulho das buzinas começou lá fora, fazendo Amberly acordar assustada.

"Liza, sai!", ela levantou-se num pulo, olhando ao redor com expressão franzida. "Desculpa, acabei cochilando", ela se desculpou, e eu apenas murmurei um "percebi".

"Finalmente a energia voltou", ela comentou, levantando-se. Eu também me levantei, pegando minha pasta para sair. Eu só queria dormir.

"Bom, obrigada por me deixar ficar aqui", agradecia ela.

"Sem problemas

", falei, e ambos saímos da sala. Tranquei a porta e fomos para o elevador. O silêncio era constrangedor, e notei que ela batia os pés nervosamente, enquanto observava o All Star vermelho que calçava.

A porta do elevador abriu, e saímos. Caminhamos até a saída, e ela acenou e disse obrigada novamente, saindo pela porta. Eu fui para a garagem pegar meu carro. Finalmente, eu iria para casa. Liguei o carro e saí da garagem.

Passando pela calçada mais adiante, vi Amberly sentada no ponto de ônibus, sozinha.

Novamente, um peso na consciência começou a incomodar.

"Porra", resmunguei, dando ré no carro e parando em frente ao ponto de ônibus, abaixando o vidro.

"Oi, estava passando por aqui e te vi sozinha. Quer uma carona para casa?", perguntei. Ela levantou o rosto com as sobrancelhas franzidas.

"Bom, se não for te incomodar, acho melhor do que esperar pelo ônibus até tarde", ela respondeu sorrindo.

"Estou oferecendo, não é incômodo", respondi, surpreendendo-me com a educação que parecia ter surgido do nada.

"Ok", ela concordou, indo em direção ao carro, abrindo a porta e sentando-se. Colocou o cinto e me indicou o caminho até sua casa, que ficava um pouco longe dali. Passamos o restante da viagem em silêncio, ouvindo a música do rádio. Às vezes, percebia que ela balançava os pés no ritmo da música ou batia os dedos nas coxas.

Depois de um tempo, chegamos ao prédio dela. Ela saiu do carro e disse tchau e obrigada novamente. Respondi e fui para casa. Finalmente, aquele dia havia terminado. Foi cheio, e esperava que o amanhã fosse melhor.

---

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo