Os dias estavam se passando rápido. O dia da minha mudança estava cada vez mais próximo e isso estava me mantendo muito ocupado. Não posso reclamar. Essa ocupação era a única coisa que me distraía, assim eu não pensava tanto em Valentina.
Ela me ligava pelo menos cinco vezes por dia, deixava inúmeros recados, e mensagens, mas eu ignorava todos. Quando estivesse pronto, nós conversaríamos. Se eu me sentisse pronto.
Minha mãe fez questão de viajar três dias antes de mim, e decorar a nossa nova casa do jeito dela. Não protestei, afinal, ela estava muito mais animada com essa mudança do que eu.
— Promete que vai me ligar e dizer como está? Não quero que você destrua nossa casa. — Ela fala séria.
— Mãe, relaxa. Não vai acontecer nada. — Sorrio pra aliviar ela. — Serão só três dias.
Ela concorda e se despede. Fico observando o carro se distanciar.
Nem acredito que vou emb
— Acho que essa foi a última. — Digo exausto.Pensei que organizar uma mudança fosse menos cansativo. As últimas caixas com os meus pertences estavam a caminho do Canadá, e logo eu estaria lá também.Amanhã de manhã, eu entrarei em um avião e começarei uma nova vida. Longe de tudo, longe de todos. Só eu e minha mãe. Como sempre foi.— Eu vou levar isso, te vejo amanhã no aeroporto. — Connor se despede e vai.Suspiro e começo a caminhar pra dentro de casa. Por instinto, olho pra casa ao lado e confirmo minhas suspeitas: Valentina estava me observando. Ela mantém seu olhar fixo no meu por um tempo, mas eu resolvo entrar.Isso não precisa ser mais doloroso do que já está sendo.....
Acordo mais cedo do que o normal. Me levanto já desperto e sigo pro banheiro. Tomo um banho rápido e visto minha roupa formal de empresário. Odeio usar terno e gravata, mas fazer o que, né? É a vida.Ao descer, encontro Jane, minha cozinheira/empregada, terminando de arrumar a cozinha. O cheiro de café fresco me faz sorrir.— Bom dia, Jane. — Cumprimento ela.— Bom dia, Sr. Ferraz. — Ela responde educadamente. — Vai querer seu café?— Por favor. — Faço uma careta. — Hoje meu dia será longo.Ela sorri e me entrega meu café em uma garrafa térmica. Pego uma maçã e saio pra mais um dia de trabalho.Nos últimos sete anos, minha vida deu muitas voltas. Quando cheguei aqui, eu era um jovem sem experiência, disposto a aprender. E foi isso o que fiz. Me empenhei na faculdade, e consegui me formar em menos de dois anos.Claro, eu tive ajuda. Connor ficou ao meu lado, me ap
Eu não precisava ser um gênio pra saber que Connor ficaria uma fera ao saber da minha viagem repentina. Ele ficou furioso por eu ter contado em cima da hora, sem aviso prévio.— Não se esqueça que o dono dessa empresa sou eu. — Digo com sarcasmo. — Eu saio a hora que eu quiser, você não pode me impedir.— Você tem responsabilidades a cumprir. — Ele diz mais calmo.— Mas também tenho negócios em Nova Iorque. Você mesmo me disse que estava interessado em aumentar nossas filiais. — Rebato. — Vou cuidar de tudo, não se preocupa.— Tudo bem. — Ele suspira. — Boa viagem então.....Nova Iorque. Não consigo evitar o sorriso ao desembarcar. Me sinto bem estando aqui novamente. Essa cidade me traz boas recordações e todas elas me atingem em cheio enquanto caminho pelo aeroporto. Nasci e morei aqui minha vida toda
Dois dias se passaram desde o meu reencontro com a Valentina. Desde aquele dia, eu não consegui parar de pensar nela e em suas palavras. Por um lado, eu podia ver que ela ainda tem algum sentimento por mim, mas por outro, pude ver claramente que ela ainda guarda muita mágoa pela minha traição. Eu nunca esqueci o que ela fez comigo, mas já a perdoei. Por que ela não pode me perdoar também?Amanhã eu veria ela. Temos que acompanhar nossos amigos na prova dos bolos, e mais outras coisas. Preciso conter minhas emoções.Como sou um empresário eficiente, passei os últimos dois dias resolvendo a compra das filiais aqui em NY. Connor ficou satisfeito com a minha rapidez e parou de encher meu saco. Uma preocupação a menos.Resolvi tirar o dia pra visitar as crianças do orfanato que participa do meu projeto. Eu
Assim que acordo, já há várias notificações pra mim. Hoje eu completo 25 anos.Uma parte de mim quer sair pra comemorar e passar a noite na farra, mas outra só quer ficar debaixo dessas cobertas, longe de tudo e de todos. Já não sou o mesmo festeiro de antes.Ainda deitado, fico pensando em como minha vida mudou nos últimos sete anos. Não que eu esteja reclamando, mas sinto muita falta de estar com alguém. Com uma certa ruiva, especificamente.Faltam apenas 4 dias pro casamento e eu mal posso esperar pra vê-la novamente. Desde o dia do orfanato, não nos falamos direito. Estávamos sempre com nossos amigos, ajudando nos detalhes do casamento.A vontade de ligar e convidá-la pra sair me remoeu por dias, mas achei melhor dar o espaço que eu sei que ela precisa.Olho pra mesa de cabece
Era um belo dia para o casamento do meu melhor amigo.Eu imagino que as noivas ficam super ansiosas e nervosas, mas no caso, é Bernardo quem está a ponto de ter um infarto.— E se ela desistir de casar comigo? — Ele pergunta desesperado. — Eu sei que sou todo infantil, mas nós estamos juntos há mais de sete anos, ela até gosta desse meu jeito e...— Ei, se acalma! — Digo tentando segurar o riso. — A Camila te ama, cara. Não tem porque você ficar todo paranóico.— Eu sei, mas é que... eu tenho medo de não ser um bom marido, de não conseguir fazer ela feliz. — Ele responde cabisbaixo.— Me responde uma coisa. — Sento ao seu lado na cama e o mesmo me encara. — Ela te faz feliz?— Sim. — Ele sorri. — Ás vezes, eu
Nunca gostei de despedidas. É sempre difícil dizer adeus à alguém que você ama. Mas eu sou egoísta o suficiente pra ter ido embora sem me despedir de Valentina.Na noite passada, cometemos um grande erro quando deixamos que nosso desejo falasse mais alto que nossa consciência. Eu não me arrependo de nada. Mas não sei se ela pensaria como eu.Saí antes que ela acordasse e fui visitar meus amiguinhos no orfanato. Já estava com saudade deles, e logo eu voltaria pra Toronto, sem previsão de volta.Ao entrar no orfanato, não pude deixar de lembrar da última vez que estive aqui. Valentina e eu nos divertimos tanto. As crianças me alegram de uma forma inexplicável, acho que por isso tenho tanta vontade de ser pai.Afasto esses pensamentos e me esforço em dar toda a atenção e carinho que os pequenos merecem.
Alexis melhorava a cada dia. Ela já conseguia dormir a noite inteira, me deixando menos preocupado. Eu estava ansioso pra que ela começasse a falar, isso facilitaria muito a nossa comunicação.A mãe dela foi enterrada há alguns dias, eu fiz questão de pagar por tudo, ela merecia um túmulo digno. Quando Alexis for mais entendida, eu levarei ela pra visitar o túmulo de sua mãe.Valentina praticamente se mudou pra cá. Passávamos o dia tentando alegrar Alexis, que vez ou outra soltava uma gargalhada alta e gostosa. Eu me derretia todo por dentro, sempre gostei muito de crianças.Hoje seria a primeira vez que ficaríamos sozinhos. Valentina voltará pra Seattle amanhã, e ela terá uma grande surpresa.— Qualquer coisa, me liga. — Ela repete pela milésima vez.— Não se preocupa. A gente vai se divertir muito, não é, Alexis? — Olho pra ela, que nem se dá ao trabalho de desviar os olhos da TV.
Último capítulo