Nunca gostei de despedidas. É sempre difícil dizer adeus à alguém que você ama. Mas eu sou egoísta o suficiente pra ter ido embora sem me despedir de Valentina.
Na noite passada, cometemos um grande erro quando deixamos que nosso desejo falasse mais alto que nossa consciência. Eu não me arrependo de nada. Mas não sei se ela pensaria como eu.
Saí antes que ela acordasse e fui visitar meus amiguinhos no orfanato. Já estava com saudade deles, e logo eu voltaria pra Toronto, sem previsão de volta.
Ao entrar no orfanato, não pude deixar de lembrar da última vez que estive aqui. Valentina e eu nos divertimos tanto. As crianças me alegram de uma forma inexplicável, acho que por isso tenho tanta vontade de ser pai.
Afasto esses pensamentos e me esforço em dar toda a atenção e carinho que os pequenos merecem.
Alexis melhorava a cada dia. Ela já conseguia dormir a noite inteira, me deixando menos preocupado. Eu estava ansioso pra que ela começasse a falar, isso facilitaria muito a nossa comunicação.A mãe dela foi enterrada há alguns dias, eu fiz questão de pagar por tudo, ela merecia um túmulo digno. Quando Alexis for mais entendida, eu levarei ela pra visitar o túmulo de sua mãe.Valentina praticamente se mudou pra cá. Passávamos o dia tentando alegrar Alexis, que vez ou outra soltava uma gargalhada alta e gostosa. Eu me derretia todo por dentro, sempre gostei muito de crianças.Hoje seria a primeira vez que ficaríamos sozinhos. Valentina voltará pra Seattle amanhã, e ela terá uma grande surpresa.— Qualquer coisa, me liga. — Ela repete pela milésima vez.— Não se preocupa. A gente vai se divertir muito, não é, Alexis? — Olho pra ela, que nem se dá ao trabalho de desviar os olhos da TV.
Não sei se voltar pra Toronto foi uma boa idéia. Eu já não me sentia bem como antes, não era mais divertido. O trabalho excessivo estava me deixando exausto, sem ânimo algum.Alexis, por outro lado, estava bem adaptada. Eu reformei um dos quartos de hóspedes pra ela, e decoramos juntos, de uma forma que ficasse do jeito que ela queria.Depois que ela falou pela primeira vez, não parou mais. Alexis tinha um jeito único de se expressar. Quando ela botava uma coisa na cabeça, não tinha quem tirasse. Seu olhar meigo e sua expressão inocente disfarçavam a personalidade forte e determinada que ela estava desenvolvendo. Já me orgulho muito da minha pequena.Minha mãe surtou quando a viu pela primeira vez. Encheu a menina de presentes, levou ela pra fazer compras, passear, e não queria mais largá-la. Elas duas desenvolveram uma forte ligação desde o primeiro encontro. Alexis até já chama ela de vovó Wanda. Nem preciso dizer
— TIA ABÓBORAAA!! — Alexis corre em sua direção. Valentina se abaixa, ficando na altura dela, e lhe recebe em um longo abraço apertado.Ainda estou estático, parado na porta, sem saber o que fazer. Meu coração bate descompassadamente com a cena que vejo. Essas duas tem uma forte ligação, isso não dá pra negar.— Eu senti tanta saudade de você, meu amor! — A ruivinha não esconde a felicidade. — Você tá enorme!— Você acha? — Alexis se anima. — Eu também tava com muita, muita, muita saudade!Sorrio involuntariamente.— Agora eu voltei, e não vou mais te largar. — Valentina abraça ela novamente.Minha mãe está toda emocionada, assistindo a cena. Me contenho pra n&ati
— O seu pai vai me matar! — Bato dramaticamente na minha testa pela incontável vez.— Eu vou te jogar da janela se você repetir isso mais uma vez. — Valentina revira os olhos e me olha irritada.Estou há uns dez minutos surtando, desde que a ruiva me disse que Leonardo ainda não sabe que ela está grávida, e eu acordar assustado depois de ter um pesadelo.O cara vai me matar!— Mas, meu amor, isso é um fato! — Me mexo na cama e a encaro preocupado. — Eu engravidei a filha dele, o que ele vai pensar de mim?— Que você é fértil! — Ela me olha como se fosse óbvio e começa a rir da minha cara assustada. — Helinor, é o seguinte: você me acordou de um sono maravilhoso, e isso não me agradou em nada. Ainda é cedo
Minha felicidade parecia não ter limites. Desde que Valentina voltou, as coisas pareceram voltar pro seu devido lugar. Eu tinha a mulher da minha vida ao meu lado, um filho á caminho, e uma filha amada que só me dá orgulho e o dobro de felicidade.Sei que fiz a coisa certa ao deixar a presidência da empresa. Connor pareceu bem contente em ficar no meu lugar. Não o julgo, ele, apesar de seus defeitos, sempre me ajudou quando eu precisava. Espero que ele saiba aproveitar seu novo cargo.Ainda vou acompanhar o andamento da empresa, mas sem toda a pressão que sempre foi posta em cima de mim. Minha maior prioridade agora é cuidar da minha família.— Então... vai ficar aí me olhando com essa cara de assustado ou vai entrar com a gente? — Valentina me tira dos meus desvaneios.Ela e Alexis me encaram impacientes, como se eu fosse um alienígena. Levo meio segundo pra me lembrar de onde estamos e o que viemos faz
Novamente, acordo com os baixos gemidos de Valentina. Olho o relógio. 03:42 da manhã. Levanto da cama com pressa, e corro até o banheiro. A luz estava acesa, indicando que ela está lá. Me abaixo e seguro seus cabelos, enquanto ela tenta regularizar sua respiração.— Eu estou aqui. — Massageio suas costas, tentando ajudá-la. — Pode colocar tudo pra fora.Ela ri baixo, mas logo faz uma careta de dor.— Isso não é nada romântico. — Ela murmura, ainda encarando o chão.— Na saúde e na doença.— Nós não somos casados, Helinor. — Ela revira os olhos.— Ainda. — Pisco pra ela, que não se dá ao trabalho de responder.Após ter certeza que o enjôo passou, e ela não
Leonardo ainda nos encarava perplexo. O sorriso dele era sincero, mas ainda assim, a tensão em mim não passou.— Então... eu passei tanto tempo assim sem ver ver vocês? — Ele aponta pra Alexis, curioso. — Ou entrei em coma e ninguém me avisou?— Pai... — Valentina sorri e o abraça. Eles passam um tempo assim, e eu respiro aliviado. — Senti saudades.— Eu também, minha filha.Dou um longo abraço nele, que parece um pouco emocionado. Alexis ainda está cabisbaixa, provavelmente com vergonha.— Pai... essa é a Alexis. — Valentina se manifesta.— Ela é a nossa filha. — Completo cheio de orgulho.Leonardo se abaixa, ficando da altura dela.— Oi, Alexis. Eu sou o Leonardo. Mas você pode me chamar de Léo, se quiser. — Ele fala com a voz suave.Alexis o encara com um pequeno sorriso.— Pode me chamar de Lexy. — Ela fala baix
Valentina me encara com o cenho franzido.— Pra onde? — Ela arqueia as sobrancelhas e cruza os braços.— É surpresa. Anda, vamos.— Mas, já é tarde. E tem a Alexis... não podemos sair a essa hora.— Já falei com o seu pai. Ele vai ficar com ela. — Sorrio vitorioso.— Mas eu não quero ir. — Ela me olha desafiadora.— Você vai nem que eu tenha que te pegar no colo e te amarrar no carro. — Digo sério, pra ela saber que eu não estou brincando.Ela franze o cenho, e mesmo relutante, se levanta do sofá e me segue até a garagem. Ainda estávamos com a roupa do jantar. Ela, com um vestido rodado lilás, e eu, de calça jeans e camisa social azul. Entramos no carro em silêncio, mas logo ela começa a tagarelar.— Pra onde você tá me levando? — Essa pergunta se repete umas 100 vezes.— Eu já disse. É surpresa. — Respondo uma última vez.