Meridian Water
O Ar á minha volta estava carregado, como se sombras pesassem sobre os meus ombros. Tudo parecia alto demais e eu me sentia sufocada dentro daquele quarto somente com a janela para me dar um pouco de ar livre.
O som de folhas secas sendo esmagas sob botas ressoava em meus ouvidos, tinha criaturas passeando pela floresta, nada naquele lugar me deixava confortável. Eu me sentia uma intrusa, o cheiro da terra úmida, o som dos riachos distantes e os uivos ocasionais – tudo me trazia uma sensação de desconforto...
O som da porta abrindo me despertou atenção, e então ele apareceu me fazendo estreitar os olhos. O que ele fazia ali?
“Oi...” Sua voz saiu baixa e saudosa, seus olhos azuis brilhavam.
Eu não respondi. Ele parou a alguns metros de mim, o maxilar travado, suas mãos dentro dos bolsos, imaginei que em punho cerrado. Como se tentasse conter algo que fervilhava dentro de si. Sua presença era tão sufocante quanto
Meridian Water O ar parecia carregar uma carga elétrica enquanto eu seguia Renan pela trilha. Eu sentia cada passo dele como um lembrete irritante de que eu estava em território inimigo, sob a escolta de alguém que parecia ansioso para me colocar em meu lugar.“Não tente fugir.” Ele disse, sem sequer olhar para trás. Sua voz era calma, mas havia algo em seu tom que me irritava profundamente.“Sim, porque eu sou burra o suficiente para tentar fugir desarmada em uma floresta cheia de lupinos. Você realmente ouviu sobre minha reputação?” Ironizei.Ele parou abruptamente, me obrigando a frear para não esbarrar em suas costas. Quando se virou, seu olhar carregava gelo.“Claro, você não sabe o quanto foi prazeroso ouvir sobre o rastro de sangue e sujeira que você deixava pelo caminho onde passava. Nossa, que mulher inteligente.” Devolveu a ironia.“Obrigada.” Sorri.O músculo em seu maxilar tremeu, e por um instante, eu pensei que ou ele avançaria, ou devolveria o veneno. Mas ele apenas re
Meridian Water A caminhada de volta ao quarto foi longa e silenciosa. O peso daquela troca de olhares pairava entre nós, tornando o ar mais denso a cada passo. Quando finalmente chegamos, ele abriu a porta e se posicionou na entrada, como um sentinela.“Entre.” Disse, sua voz soou mecânica, sem qualquer emoção.“Voltando a ala da prisioneira.” Ironizei.“É o que você é.” Ele respondeu, seus olhos soltando faíscas de uma fúria onde antes não havia nada.“Que bonitinho.” Sorri. “É bom, não é? Eu queria ver todo esse poder quando eu não estivesse vulnerável!” Cruzei os braços adentrando o quarto.“Se você fosse tão boa assim, não estaria aqui agora.” Ele falou com um sorriso cínico nos lábios. “Olha, para sua fama, você foi péssima.”“É fácil falar quando eu não estou em posição de lutar, eu adoraria um embate, eu e você.” Desafiei, não deixando transparecer o quanto aquela provocação me atingiu.“Eu adoraria acabar com toda essa palhaçada. Mas infelizmente, não posso.” Disse, seu tom d
Renan Folder Eu estava sentado naquela clareira sem conseguir me movimentar para ir a qualquer outro lugar, ainda conseguia ver o treinamento entre mim e Meridian, repassando cada detalhe em minha mente. Naquela noite aconteceria a noite de lua Conta – uma noite em que nos reunimos ao redor da fogueira para ouvir histórias dos meus ancestrais. É uma noite bonita, e eu sequer tinha conseguido focar nisso, porque minha mente estava cheia demais com pensamentos intrusos. A clareira estava arrumada, estava linda. A lua praticamente já adentrava a clareira, e eu costumava encontrar conforto naquela luz, mas naquela noite, ela parecia mais um holofote, revelando as partes de mim que eu preferia deixar escondidas.Algumas pessoas começaram a chegar, e eu permaneci um pouco mais afastado. Recostado contra uma pedra, a pedra que conversei com Meridian antes dela ser levada. Lauren apareceu ao meu lado, carregando um jarro de flores. Ela sempre tinha esse jeito leve, como se nada pudesse ating
Meridian Water.A lua estava alta, iluminando com um brilho fino que parecia refletir o estado da minha mente, enquanto as sombras tentavam se apoderar de mim. Tudo estava ficando cada vez mais intenso. Eu queria poder ter escolhido estar em meu quarto. Mas fui obrigada a descer para a tal da Lua Conta. O pequeno garoto, Eden, já havia falando pelos cotovelos sobre como era a celebração, e eu estava tão cansada que só o deixei falar e fingi estar interessada. Vai que ele contava alguma forma de fugir.Minha cabeça girava com tantas informações e quando eu finalmente pude respirar, me vi recostada em uma pedra, se não me engano, vi de relance o Renan sentado nela mais cedo, com a Lauren. Ele havia sumido.Respirei fundo tentando manter a postura e o controle. Não ceder.Não ceder.Não ceder.“Não adianta lutar contra o inevitável, Meridian.” Murmurei para mim mesma, sentindo o peso daquelas palavras se instalarem em meu peito.Algo dentro de mim se recusava a aceitar. As palavras de Re
Príncipe Darlon Sweeney A noite caiu sobre o palácio, mas a tranquilidade que ela prometia parecia um sonho distante. O saguão principal estava repleto de sussurros e risadas, todos voltados para a nova hóspede: Eleanor Sweeney, minha prima distante. Alta, imponente e com um sorriso que parecia conter segredos, ela havia chegado com o ar de quem já possuía tudo, mesmo o que ainda não era dela. Eu a observei de longe, sentado em uma poltrona ornamentada perto da lareira. Meu pai, sempre calculista, irradiava satisfações enquanto apresentava Eleanor a alguns conselheiros e nobres. Ela era exatamente o que ele esperava: um símbolo de união entre duas poderosas linhagens mágicas e sombrias. Uma ferramenta para sua expansão, um meio de conquistar territórios sem uma rebelião. Mas, para mim, ela era apenas mais uma peça no tabuleiro de Fondark Sweeney. E eu, a outra peça que ele movia como bem entendia. “Primo!” a voz de Eleanor era doce, mas havia uma determinação fria ali. Ela caminh
Meridian Water Quando acordei, estava cansada demais para falar qualquer coisa. O preço que eu precisava pagar havia chegado. No espelho, vi os olhos negros. A magia negra não se apoderou da minha mente, mas vulnerável, se apoderou do meu corpo. Ela estava me tomando aos poucos, e com as lacunas batendo em minha memória, eu sentia que estava cada vez mais fraca para lutar. Foi o preço de salvar o príncipe, eu não morri, mas a magia negra permanece conosco, se apoderando de nossa identidade aos poucos e nos tornando sombrios. Eu sabia as consequências. Sabia também que agora poderia morrer, pois aos olhos deles, talvez eu, de fato, não fosse mais a loba que eles tanto queriam. Eu era uma renegada sombria. Foi Eden quem entrou no quarto me tirando dos meus devaneios e me fazendo lembrar do episódio que me fez apagar. Quando me virei para encará-lo, vi o susto em seu rosto. Ele recuou por um segundo, e eu apenas suspirei. “Não fui tomada.” Assegurei. “Qual a sensação?” Ele s
Darlon Sweeney O salão mergulhava em sombras. Velas negras dispostas em um círculo iluminavam fracamente o ambiente, iluminando parte do meu rosto. Em minhas mãos, um grimório antigo estava aberto, contendo runas proibidas.O que eu estava fazendo? Nem eu sabia ao certo. Respirei fundo. Iniciei, traçando no chão os símbolos que ancorariam a magia.Quando completei o ritual, murmurei algumas palavras em língua antiga, minha voz ressoando pelo salão vazio e eriçando todos os pelos do meu corpo. No centro do símbolo, as sombras se contorciam, formando a silhueta de uma mulher.Então de repente estávamos eu e ela, em uma cela antiga com grades de ouro, uma janela velha dava para a lua. Ela me encarou confusa, e a pouca claridade me mostrou seus olhos negros, me fazendo estremecer por dentro.“Meridian...” Sussurrei hesitante, ela parecia estar bem, mas quando me encarou e não vi seus olhos tão lindos, senti a dor de saber que foi por minha causa, e que talvez eu a tivesse perdido.Ela e
Meridian Water Meus olhos estavam fixos na fogueira a minha frente, mas eu não sentia nada além do frio. É como se as sombras estivessem se enveredando em mim, se agarrando a minha pele e tentando tragar meu coração. Ao redor, os murmúrios da alcateia me cercavam, eu podia sentir os olhares, uns desconfiados, outros animados. Eles sussurravam sobre mim, como se eu não pudesse ouvi-los, mas eu os ouvia.O que eu era para eles? Um fantasma do que um dia “fui”? Uma relíquia que voltou quebrada?Renan estava um pouco distante, sua presença era para mim como uma lâmina contra minha pele, sua raiva era quase tangível, mas havia algo mais por baixo disso, algo que me atormentava mais do que o ódio dele: a dor.Ele não veio até mim.Mas o alfa veio.Não levantei os olhos de imediato. Ouvi o peso dos seus passos enquanto ele se aproximava e sentava ao meu lado, mas continuei encarando o fogo. O calor parecia tão distante quanto todos os últimos acontecimentos.“Quando você era pequena, era fa