Frente a frente

Marcy apertava as mãos suadas por baixo da mesa ali na sala de reuniões, mal conseguia manter sua respiração regular, e o facto daquele homem estar sentado na cadeira ao lado, não ajudava sua condição.

Ethan estava sentado a cabeceira da mesa, e do lado direito estava o diretor, e ao lado do diretor estava o assistente de Ethan, Marcy pensou em ir se sentar em outra cadeira longe dele, mas Shin puxou a cadeira do lado esquerdo para Marcy que não teve escolha, e se sentou com Shin ao seu lado.

–Devo dizer que estou muito animado com essa parceria, eu sempre admirei os trabalhos de sua editora e sempre quis trabalhar com eles, é realmente uma editora cheia de talento, e como exemplo temos aqui a senhorita Diaz, uma de suas obras já foi adaptada para um filme certo?– perguntou o diretor animado assim que todos se sentaram a mesa.

–A Marcy é o nosso amuleto da sorte, vários autores, ilustradores e tradutores se juntaram a nós pela atração de poder trabalhar com a Marcy.– Shin elogiou sua sócia.

–Mas o senhor também é um grande nome nesse Ramo, suas ilustrações são as melhores, foi o senhor que ilustrou os primeiros trabalhos da senhorita Dias Certo?–

–Sim, no começo éramos só nós dois e um sonho.– disse Shin sorrindo e olhou para Marcy que também sorriu.

E aquela troca de olhares e sorrisos não passou despercebido pelos olhos negros do homem que lia o contrato em suas mãos.

–Eu realmente sou um grande admirador do vosso trabalho. na verdade a vossa editora me chamou muito atenção por ser pequena porém produzir tantas obras de qualidade.– voltou a elogiar o Diretor.

   –nos sentimos muito honrados com isso.– disse Shin igualmente sorrindo.

  –editora Freedom.– o Presidente que até então estava em silêncio se pronunciou chamando atenção dos demais que olharam para ele. –por que esse nome?– perguntou direcionando seus olhos sérios e inexpressivos para os dois.

–bom, foi ideia nossa, no começo éramos só nós dois, eu vi a história da Marcy num site e propus a ela que eu ilustrasse a história e ela aceitou, depois lançamos e foi um sucesso, e foi assim que tudo começou. A nossa editora se foca em apoiar jovens com paixão e talento e sempre demos liberdade aos nossos autores, pois o que nós fazemos é arte, e a arte não pode ser controlada, por isso escolhemos esse nome, somos uma editora de artistas livres para expressar a sua arte.– explicou Shin.

   –uau, da para sentir a vossa paixão, por isso os vossos trabalhos são tão bons e encantadores, são realmente talentosos.– disse o diretor Sorrindo satisfeito.

  –eu não concordo.– o presidente falou pousando o contrato na mesa e todos o olharam outra vez.

–ao meu ver me parece uma editora pouco estruturada, na verdade nem deveria ser chamada de editora, mais parece um clube do livro onde pequenos escritores sonhadores se reúnem e fazem o que bem lhes apetece.– todos olharam espantados para Ethan após aquele comentário rígido, e ele direcionou seu olhar para Marcy que sentiu aquela sensação estranha outra vez que sentia sempre que olhava para ele.

Um silêncio se instalou na sala após o comentário do CEO, mas Shin logo se pronunciou.

   –Bom, na verdade apesar de darmos liberdade aos nossos artistas, temos toda uma equipe de edição e revisão de cada trabalho, inclusive a Marcy Faz parte da equipe de revisão, nenhuma obra é publicada antes de ser aprovada pela equipe, eu até convido o senhor a uma visita a nossa editora assim pode ver como somos bem estruturados e que levamos o nosso trabalho a sério–

   –Hum eu não sei se é um bom investimento e não gosto de colocar o meu tempo e dinheiro em algo que não vale a pena.– disse olhando para Marcy que mantinha o olhar em um ponto fixo qualquer longe dele, mas pode sentir o comentário direcionado a si claramente.

–diretor nós podemos contratar autores independentes e mais experientes, o que acha?– o Jovem presidente se virou para o mais velho.

  –bom...– o homem estava constrangido e não queria ir contra seu chefe, mas também não podia desmerecer o trabalho deles pois ele realmente os admirava...

   –o senhor já leu alguma de nossas obras?– perguntou Marcy finalmente olhando para Ethan que a encarou de volta.

  –Eu leio bastante, mas as vossas histórias não fazem o meu gênero.– respondeu frio e sério mantendo o olhar fixo na mulher a sua frente.

  –então com que base o senhor diz que não somos profissionais ou experientes? Só porque somos uma editora pequena constituída por pessoas que amam o que fazem? Mais de 50% das nossas obras já foram indicadas a prêmios, mais de 10% venceram os prêmios e temos um total de 8 obras que já ganharam adaptações para séries, filmes e animes, a nossa empresa tem potencial sim, e o senhor não pode desmerecer o nosso esforço com tanto desrespeito e nos chamar de amadores, se quer contratar outros autores que o faça, chegamos onde estamos apenas com o nosso talento e esforço e eu lhe garanto que podemos chegar muito mais longe com ou sem essa parceria.– disse Marcy irritada olhando diretamente para aqueles olhos conhecidos porém tão desconhecidos agora, ignorando seu coração acelerado e seu corpo trémulo, e agora todos olhavam para ela, sobretudo Ethan que não pode deixar de Sorrir internamente por finalmente conseguir uma reação dela.

Era exatamente aquilo que ele queria ver, a Marcy que nunca se calava e sempre pronta para defender suas ideias. A sua Marcy...

Shin transpirou frio ao ouvir Marcy falar daquela forma com aquele homem, ela podia ser estrangeira assim como ele, mas não usar termos honoríficos naquela situação e dizendo aquelas coisas soava tão desrespeitoso como cuspir na cara dele.

–B-Bom... o que a minha sócia quer dizer é que...–

  –tudo bem.– disse Ethan se acomodando na cadeira com uma expressão relaxada mostrando não estar afetado pelas palavras dela.

–se a senhorita garante que são tão bons assim, façamos o seguinte. Eu vou escolher aleatóriamente uma das obras de sua editora, farei minha avaliação pessoal e verei se vale a pena investir em vosso trabalho, o que acha?– propôs Ethan sem tirar os olhos dela.

Marcy soltou um riso soprado.

  –o senhor é algum crítico por acaso? O senhor Park que é um profissional da área, acompanha o nosso trabalho e viu que tem potencial, por que devemos esperar o senhor que mal tem interesse em literatura gostar do nosso trabalho?–

  –Marcy!– disse Shin desesperado. Se ela continuasse com aquela atitude, perderiam o contrato em segundos.

  –senhorita Diaz, se acalme por favor.– pediu o diretor igualmente nervoso.

Os 4 ali se surpreenderam ao ouvir uma risada discreta porém audível vinda do presidente.

–rs, por que devem esperar que eu goste do vosso trabalho? Bom, primeiro porque eu sou fundador, presidente, CEO e dono desse grupo.– disse a encarando sério deixando claro quem dava as cartas ali.

–E segundo, se o vosso trabalho é realmente tão bom, presumo que pode agradar a qualquer um, certo? Afinal, se vamos produzir adaptações elas devem ser capazes de capturar a atenção de qualquer público, certo? Mas para ser mais justo, eu vou aceitar uma recomendação do diretor park que é um especialista, está bem assim?–

  Marcy já ia responder mas Shin a interrompeu. –está bem, se o senhor assim desejar–

   –concorda? senhorita Dias.– perguntou Ethan olhando para Marcy.

   Shin bateu na perna de Marcy debaixo da mesa.

–está bem.– disse a contra gosto sem olhar para ele.

  –muito bem, então vamos marcar outra reunião e eu darei a minha opinião.– disse se levantando e todos se levantaram.

–foi um prazer.– Ethan olhou para Shin que curvou a cabeça em gesto de respeito, e logo para Marcy mas não obteve o olhar dela. Logo ele saiu da sala acompanhado por seu assistente e pelo diretor.

–você está louca??? como fala desse jeito com o homem que literalmente tem o poder de mudar as nossas vidas?– falou Shin num tom moderado mas notavelmente irritado após estarem só os dois ali na sala

   –Você ouviu o que ele falou, nos chamou de amadores, desorganizados e não profissionais–

  –mas precisava responder daquele jeito?–

  –eu só fiquei um pouco irritada, quem ele pensa que é?–

  –o homem que vai financiar as nossas obras e nos dar uma oportunidade de sonho?–

  –isso não lhe dá o direito de...– Marcy se calou ao ver o diretor entrar e o homem olhou para os dois jovens.

  –senhor, nós sentimos muito.– disse Shin se curvando e Marcy também se curvou.

  O homem suspirou. –eu entendo que são jovens e novos nesse ramo de negócios mas, é muito importante manter a calma em momentos assim–

   –mas o senhor ouviu o que ele falou...–

  –Marcy!– repreendeu Shin.

  –bom... na verdade o presidente não costuma ser assim, foi um comentário que me surpreendeu da parte dele também, mas vamos nos acalmar sim? Eu prometo que vou recomendar a vossa melhor obra e ele vai ver que vale a pena assinar esse contrato–

  –muito obrigado.– disse Shin.

  –eu estava pensando em recomendar "um amor para vida" da senhorita Diaz, o que acha?–

  –não!– respondeu Marcy rapidamente.

  –por que? É o maior sucesso da editora.– perguntou Shin.

  –bom, Esse é um romance muito longo tem vários volumes, e o Ethan... digo o Senhor Cheng Disse que não gosta muito desse gênero de literatura, ele pode ficar entediado–

  –tem razão, eu vou procurar saber do que ele gosta e recomendar o melhor–

  –muito obrigada.– disse Marcy Sorrindo aliviada.

  –eu não quero encorajar esse tipo de comportamento mas... eu gostei da forma como defendeu a vossa editora. Continuem assim.– disse o mais velho sorrindo e os dois jovens agradeceram.

–Senhor Shin, posso lhe falar por alguns minutos?– pediu o Diretor.

–Eu espero você lá fora.– Disse Marcy e se despediu dos dois.

Marcy saiu da sala e caminhou até o elevador, e enquanto o esperava ficou se repreendendo por ter deixado seu nervosismo falar mais alto, mas ela não podia se conter e ele obviamente estava a provocando, era para ser seu dia perfeito mas por culpa daquele homem estava tudo arruinado... Ele parecia tão diferente, mas estava inegavelmente mais... Belo

Marcy acordou quando as portas do elevador se abriram e deu um passo para entrar até ver quem estava ali.

Os dois se encararam por um longo tempo até Ethan quebrar o silêncio.

–Não vai entrar?–

–Eu... Pego o próximo.– disse desviando o olhar.

Ethan tirou uma risada soprada.

–Vai fugir outra vez?–

Marcy voltou a encara-lo e já ia o responder mas achou melhor não cair mais nos joguinhos dele e entrou no elevador, clicou no botão e ficou a alguns passos a frente dele e de costas.

O ar no elevador rapidamente se tornou pesado e parecia que o mesmo tinha desacelerado. Marcy olhava para as luzes contando os segundos para pular para o outro número, quando se assustou ao ouvir a voz dele.

–Então vamos agir como estranhos?–

perguntou o homem que estava parado com a postura reta e as mãos nos bolsos de sua calça e os dois voltaram a se olhar.

Marcy ficou em silêncio e baixou o olhar, realmente não sabia como agir com ele já que ele parecia a odiar, e com Razão.

–Certo, parece que é assim que vai ser.– disse e ficou em silêncio.

–O Senhor é quem está agindo como um estranho–

Ethan voltou seus olhos para mulher e tirou um sorriso ao ouvir aquele "senhor"

–Eu?–

Marcy suspirou não podendo mais se conter e se virou para ele.

–Por que fez aquilo? O diretor Park já estava disposto a assinar o contrato.– perguntou o encarando.

–eu gosto de ter tudo sub controle.– Respondeu sério e Deu um paso na direção dela ficando a escassos centímetros de distância.

–assim eu garanto que nada me escapa das mãos–

Marcy sentiu o Ar voltar a ficar pesado, ter ele ali na sua frente após tanto tempo, ouvir a voz dele, o cheiro dele, a presença dele...

–Então... Então está fazendo isso por vingança?–

  Ethan Olhou ali de cima para os olhos castanhos e soltou uma risada.

–Vingança? Sabe muito bem que não sou de me vingar, e por que eu me vingaria de você? Você por acaso fez algo que me desse motivos de me vingar? Senhorita Diaz.– perguntou dando mais um passo na direção dela.

   Marcy sentia seu coração acelerar cada vez mais, não conseguia manter sua postura diante dele, e tudo que pode fazer foi dar um passo para trás, mas sentiu a parede gelada do elevador em suas costas, porém se manteve firme sem desviar o olhar.

–se não é uma vingança, então por que aquilo?–

  –já disse, para ter tudo sub meu controle–

  –pare com isso! Nós dois soubemos que não é nada disso–

  –não? então me diz o que é... Senhorita Dias.– Ethan Deu um longo passo chegando bem perto de Marcy a encurralando contra parede, e não pode evitar de olhar para os lábios avermelhados e brilhosos tão convidativos como sempre, e logo voltou seus olhos aos olhos castanhos que igualmente não saíam dos seus.

O Ar no elevador voltou a ficar quente e pesado cercando os dois corpos que estavam praticamente colados e irradiando o calor que se misturava a volta deles.

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