Alguns dias depois, ao final do turnos delas, Lira perguntou a Lucine o que ela faria na tarde de folga que ambas teriam no final de semana.— Não sei, na verdade meus planos estavam entre organizar a casa, assistir tv ou trabalhar na minha horta.— Nossa, olha para essas opções, fico entediada só de imaginar. Nada disso, que tal irmos à praia tomar um sol e beber uns refrescos enquanto jogamos conversa fora?A ideia parecia boa, estava mesmo precisando pegar um pouco de sol para melhorar seus níveis de vitamina E.— Tudo bem, nos encontramos lá ou você quer que eu te busque em casa?— Me pega lá em casa, e vamos juntas.Lucine foi buscá-la no horário combinado e as duas se instalaram com suas cadeiras em um local sem muitas pessoas ao redor, não muito longe de um quiosque que vendia bebidas. Lira buscou um drinks para si e algo sem álcool para Lucine.— Nossa eu preciso começar, achei que você não iria aceitar o meu convite. Mas me conta, você tem realmente uma horta? Quem tem tempo
A reconstrução das casas estava terminada, e as dos armazéns de suprimentos estava em fase final. Aram estava exausto fisicamente e com o psicológico abalado. Foram meses de muito trabalho árduo, e a incerteza do amanhã. Finalmente as coisas estavam se encaminhando. Os homens já haviam começado a trabalhar novamente por turnos na madeireira e estavam recebendo o suficiente para comprar alimentos. Ele e os betas não pegaram turnos, pois estavam à frente de todo o trabalho de reforma.Mais alguns dias e a vida poderia seguir para o clã, o mais próximo da normalidade que fosse possível. Mas seguir adiante não seria uma tarefa fácil para ninguém, todos deveriam se acostumar com a falta de muitos rostos amigos e queridos. Muitos teriam que se habituar a não ter a quem amavam por perto, exatamente como Aram vinha fazendo. Esses meses serviram acima de tudo para ele ter certeza que amava Lucine, e estava quase enlouquecendo com a falta dela. Com a ligação de Alfa e Luna ele poderia locali
Aram encontrou Szafir saindo a passos largos de sua antiga casa, que agora ambos dividiam com Rosina.— Sério Aram, me deixar encarregado dessa maluca não foi nada legal da sua parte. Ela vai acabar me enlouquecendo, ou me matando enquanto durmo.— Não exagere cara, é só uma garota ferida e traumatizada. Você com certeza já lidou com coisa pior que isso, e mais perigosa.— Eu estou dizendo, ela não é apenas uma vítima. Alguma coisa aconteceu com ela que parece ter alterado a química do seu cérebro. Passe algum tempo com ela e verá, até o olhar dela está diferente. Eu propus que ela finalmente saísse e fizesse algo útil, ajudasse em algo. Sabe o que ela respondeu? Disse que a única coisa útil que poderia fazer é deixar de ser uma maldita vítima. Insistiu para que eu a ensinasse a lutar, atirar, cortar algumas cabeças. Sim, exatamente com essas palavras.Szafir comentou quando viu a cara de espanto de Aram.— Aquele novo olhar gelado, e aquela cicatriz que desce do olho que ficou levant
Aram dirigiu até a pequena cidade onde sabia que Lucine estava, encontrando um ambiente muito diferente daquele que deixou na sua aldeia. O clima ameno e agradável contrastava com o frio congelante das montanhas de onde vinha, mesmo sendo noite. Ao chegar na madrugada, decidiu não procurar um hotel, optando por dormir um pouco no carro, até o amanhecer.Ao tentar sair da praça onde parou para se orientar em direção à casa dela, o carro não ligou, indicando que o motor, que tinha enfrentado bravamente a longa viagem, finalmente se entregou. Tentou descansar no carro, mas o calor não o deixou dormir confortavelmente. Decidiu trancar o veículo, pegar sua mochila e seguir a pé até a casa de Lucine.A caminhada durou quase uma hora, ela vivia em um bairro afastado quase no meio de um bosque, revelando uma beleza peculiar. A casa dela era a última antes da mata, com poucas residências na vizinhança.Aram admirou o pequeno chalé amarelo, uma joia entre as árvores. A varanda convidativa na fr
Aquilo era no mínimo inesperado, pensou Lucine. Depois de quatro longos meses, sem ter uma despedida, estar ali frente a frente com Aram bem no meio de sua sala a deixou um pouco desestabilizada. Palavras duras foram ditas e mágoas alimentadas.Ele parecia cansado, mas ainda era o mesmo de antes. Bonito e confiante, exalava o poder de um alfa.— E então…o que tem para me dizer que te trouxe tão longe?Ela resolveu perguntar logo, para acabar com o mistério.— Lucine, a forma como tudo aconteceu, e você foi embora…eu disse coisas…— Sim, você disse coisas…alfa, muitas coisas. Nós dois, dissemos coisas que não deveriam ser ditas por ninguém que estivesse em um relacionamento de verdade. Ainda bem que não estávamos afinal.— Você sabe que não foi assim, nós…— Eu não acredito que você veio até aqui para debater sobre a veracidade do nosso relacionamento. Eu achei que um Alfa tinha coisas mais importantes a fazer. — Em primeiro lugar, esse tom cínico não combina com você Lucine. E não é
Apenas porque ela não estava ansiosa para voltar para casa e encontrar Aram, o turno de Lucine pareceu ter passado mais rápido do que de costume. Ela havia marcado seu ultrassom de segundo trimestre de gestação para depois do trabalho, isto significava que teria algum tempo antes de ser inevitável vê-lo.O médico que fez o exame lhe garantiu que estava tudo bem com o bebê, e que seria uma menina. O nascimento estava previsto para dali a quatro meses. A barriga já era evidente, Aram só não havia se dado conta devido ao roupão que ela usava. Aquele era um assunto que deveria ser tratado em seguida, afinal não havia como esconder por muito tempo.Quando voltou para casa já eram duas horas da tarde, e ela o encontrou aparentemente de banho tomado, pois havia trocado de roupa. Ele estava sentado no sofá com uma pequena caixa nas mãos. Lucine gelou dos pés a cabeça, pois aquele era o presente que havia ganhado de sua chefe no dia anterior. Na caixa havia um par de sapatinhos vermelhos de tr
Aram encontrou facilmente a oficina a mecânica que Lucine havia indicado. O dono era um senhor de meia idade bastante simpático chamado Bill. Ele explicou o problema do carro e o que havia acontecido.— É um carro velho, eu deveria ter reformado o motor a algum tempo, mas sinceramente andei tão ocupado que não consegui me dedicar a isso. Eu mesmo poderia fazer, meu passa tempo de adolescência e juventude era consertar carros, mas cheguei agora na cidade e não tenho ferramentas. Na verdade, não tenho ainda nem um lugar para ficar e levar o carro.O homem pareceu curioso sobre a história do recém chegado.— E o que te trouxe a nossa pequena cidade, planeja ficar muito tempo?— Digamos que eu queria uma mudança de ares. Aqui é bem diferente da região das montanhas de onde vim, eu gostei bastante. Agora preciso arrumar um emprego e começar a me organizar.O homem mais velho coçou ligeiramente a cabeça, antes de fazer uma sugestão.— Bem, se você conhece realmente alguma coisa do assunto e
Aram começou naquele dia mesmo a arrumar seu carro. Por insistência de Bill, talvez o homem estivesse encarando aquilo como um teste, para comprovar suas habilidades. Ao final da tarde Bill o levou até o pier, lhe conseguiu produtos e materiais de limpeza, bem como roupa de cama e toalhas limpas.— Aqui tem duas mudas de cada peça, acho que será o suficiente até você conseguir comprar outras. A bateria do barco era nova e muito potente, mas como pode imaginar faz tempo que não vê uma carga. Eu trouxe o carregador na caminhonete. Ate carregar você tem água gelada nas torneiras e gás no fogão.Eu trouxe umas lâmpadas de emergência carregadas também, mas acho que amanhã você já vai conseguir usar a bateria.— Sim, já vou colocar para carregar. Muito obrigada Bill, sem palavras para agradecer por toda a ajuda. — Que isso, aqui nós vivemos para apoiar um ao outro. Te espero amanhã de manhã, e o almoço essa semana é por minha conta, como boas vindas, no melhor restaurante da praia.— Mais