Capítulo 74Augusto olhou para o relógio. Eram 5h32. O coração batia com força, acelerado, quase saltando do peito. O ônibus estava previsto para chegar às 5h35. Ele já tinha andado de um lado para o outro da rodoviária tantas vezes que os seguranças nem o olhavam mais com estranheza. O olhar dele era de quem esperava por tudo… e por alguém.Quando viu o ônibus se aproximando na plataforma, o corpo inteiro congelou por um segundo. As luzes frontais cortaram o ar úmido da manhã e o som da frenagem pareceu ecoar direto em sua alma. Ele caminhou até o veículo, os olhos fixos nas portas que se abriram com um estalo.Um a um, os passageiros começaram a descer. Um senhor com uma mala vermelha, uma moça jovem com fones de ouvido, uma família com uma criança no colo... Mas Patrícia não estava entre eles.A garganta de Augusto secou. Ele esperou até o último passageiro pisar no chão da rodoviária antes de se aproximar do motorista, visivelmente aflito.— Faltou alguém descer — disse, a voz car
Capítulo 75Augusto via a paisagem passar pela janela do jatinho particular, mas seus pensamentos estavam a quilômetros dali. Assim que embarcou de volta para São Paulo, abriu o novo celular, agora com seu número antigo reativado. A primeira coisa que fez foi escrever para Patrícia."Patrícia, por favor, me responde. Onde você está?"Esperou alguns minutos. Nenhuma resposta. Tentou novamente."Preciso ouvir sua voz, saber que você está bem..."Mais silêncio.Com os olhos fixos na tela, digitou mais uma."Pelo amor de Deus, preciso saber se vocês estão."O coração dele batia apertado no peito. A dor da ausência de Patrícia parecia crescer a cada quilômetro que o levava de volta para casa, uma casa que já não fazia mais sentido sem ela.Ele tentou ligar."Este número não está aceitando chamadas no momento."Tentou novamente. A mesma mensagem fria e automática.Augusto deixou o celular escorregar das mãos, sentindo uma mistura de frustração, raiva e desespero. Passou as mãos pelos cabelo
Capítulo 76Augusto desceu lentamente até a garagem. Os passos ecoavam no chão frio, como se o silêncio quisesse dizer algo. Seus olhos percorreram os carros alinhados, mas pararam no último da fileira, o carro que ele havia dado de presente para Patrícia.Ficou imóvel por alguns segundos, encarando o veículo como se esperasse que ela aparecesse ali, sentada no banco do passageiro, com aquele sorriso tímido e os olhos que sempre pareciam guardar segredos.O motorista, que fazia a revisão dos veículos, conferindo óleo e nível da água, parou o que fazia ao notar a presença do patrão. Observou de longe, respeitando o silêncio dele.Augusto olhou para o veículo do lado, se aproximou devagar, passou os dedos pela lataria até chegar ao farol quebrado. Ficou ali, parado, lembrando de tudo o que ela havia contado Sobre o motorista que a fechou no farol vermelho.Abriu a porta e entrou, como se buscasse refúgio em algo familiar. Ao sentar, fechou os olhos por um instante. O cheiro dela ainda e
Capítulo 77Quase um mês havia se passado e Augusto estava à beira de um colapso. Entrou como um furacão na sala do filho, os olhos em chamas.— O seu detetive deve estar hibernando para ainda não ter encontrado a Patrícia!Rafael ergueu as sobrancelhas, tentando manter a calma diante da fúria do pai.— Calma, pai...— Calma? — Augusto repetiu com uma risada amarga. — Eu estou possesso!— Vou ligar pra ele agora, pressionar. Talvez ele tenha algo...— Não, Rafael. Contrata outro. Alguém competente. Eu quero respostas para ontem!— Claro, pai. Eu resolvo isso.Sem esperar mais nada, Augusto virou as costas e saiu da sala com a mesma intensidade com que entrou. A porta bateu atrás dele, ecoando pela sala. No elevador, apertou o botão do térreo e olhou para o relógio, os ponteiros parecendo zombar de sua ansiedade.Assim que as portas do elevador se abriram, ele caminhou apressado pelo saguão da empresa. Foi então que a viu. Estela. Estava parada ali, nervosa, e o olhou com raiva nos olh
Capítulo 78Naquele mesmo dia, Patrícia estava sentada na sala de espera do consultório médico. Uma das mãos descansava sobre a barriga ainda discreta, mas que para ela já era o maior símbolo de amor. Seus olhos brilhavam e um leve sorriso permanecia em seus lábios. Mais cedo, ela havia conversado com o prefeito da cidade e, mesmo grávida, conseguiu um emprego como enfermeira. A notícia lhe trouxe alívio. Estava reconstruindo sua vida, aos poucos, com esforço e dignidade.— Patrícia Moreira? — chamou a recepcionista com simpatia.Ela se levantou com calma, enxugando discretamente os olhos úmidos, não de tristeza, mas de felicidade. Sorriu, ajeitou os cabelos e seguiu para o consultório com passos leves.Enquanto isso, em outro canto da cidade, o detetive contratado por Rafael batia a caneta na mesa com impaciência. Estava à beira de um ataque de nervos. Há semanas investigando, cruzando informações, vasculhando cadastros e nada. Patrícia parecia ter evaporado.— Mas isso não faz senti
Capítulo 1O silêncio no quarto era quase opressor, quebrado apenas pelo som ritmado dos aparelhos e da respiração profunda do homem deitado na cama. Rafael entrou devagar no aposento, como se temesse perturbar a paz que envolvia o ambiente. A penumbra da manhã filtrava-se pelas cortinas entreabertas, projetando sombras suaves sobre o rosto de seu pai.Com passos lentos, aproximou-se da cama e sentou-se ao lado dele. Seus olhos, sempre firmes diante do mundo, agora brilhavam com a ameaça de lágrimas. Ele estendeu a mão, entrelaçando seus dedos aos do pai, sentindo o calor ainda presente ali, a única prova de que ele estava vivo.— Acorda, pai… — murmurou, a voz embargada. — Você faz tanta falta pra mim...Por um instante, ficou ali, observando cada detalhe do rosto do pai: as olheiras profundas, o cabelo que já passava do comprimento habitual, a barba crescida que não tinha nada haver com a imagem impecável do CEO poderoso que todos conheciam. Rafael fazia questão de chamar um barbeir
Capítulo 2Após aceitar o serviço, Rafael pediu ao mordomo que mostrasse seus aposentos.Sempre discreto e eficiente, o mordomo guiou Patrícia pelos amplos corredores da mansão até um quarto confortável, localizado ao lado do Senhor Avelar.- Este será o seu quarto, senhorita Patrícia. Se precisar de algo, estarei à disposição. - Ele abriu a porta, revelando um espaço aconchegante, com móveis elegantes.Ela agradeceu com um leve aceno e entrou para se trocar. Vestindo o uniforme branco impecável, sentindo a responsabilidade se instalar de vez. Respirou fundo e saiu do quarto.Ao retornar ao quarto do paciente, analisou cada detalhe com atenção. Abriu o prontuário médico ao lado da cama e começou a revisar as medicações, os horários de administração, os cuidados diários e as rotinas. Tudo precisava ser seguido à risca.Enquanto lia as anotações anteriores, seu olhar voltou-se para o homem desacordado na cama. Senhor Avelar. Mesmo em repouso, ele exalava imponência. Sua presença era qua
Capítulo 3Após horas lendo em voz alta, Patrícia acabou cochilando na poltrona ao lado da cama. Acordou sobressaltada ao sentir uma mão em seu ombro. Ao abrir os olhos, deparou-se com Rafael. Por um instante, temeu que ele fosse repreendê-la, mas sua expressão era tranquila.— Vá jantar — disse ele simplesmente. — Vou ficar um pouco com meu pai.Patrícia se sentou melhor e esfregou os olhos, tentando despertar.— Eu preciso dar banho nele antes, senhor.— Eu faço isso todos os dias. Hoje não será diferente.Ela hesitou por um momento, mas assentiu.— Sim, senhor.Ao vê-la sair do quarto, Rafael suspirou, passando a mão pelos cabelos. Não duvidava das intenções de Patrícia, mas não queria que ela assumisse mais do que podia. Seu pai era um homem grande, com 1,85m e mais de 100 quilos, enquanto ela parecia tão pequena e delicada. Movê-lo exigia força e prática, algo que ele já fazia há dois anos.Ele sabia que, em algum momento, teria que permitir que ela ajudasse, mas não gostava da i