Dante Aurora me encarou por alguns instantes, ainda desconfiada, mas finalmente cedeu e, descendo da moto, esperou que eu montasse para que ela subisse também. Senti suas mãos pequenas agarrarem minha cintura, pressionando seu corpo ao meu no momento em que dei a partida, ela ainda parecia ter medo da moto, o que era engraçado para mim, já que eu sentia uma incrível sensação de liberdade enquanto corria pelas ruas. Sabia exatamente onde levá-la, não conhecia bem a cidade mas assim que cheguei, em uma de minhas noites de exploração encontrei um recanto especial que eu sabia existir, só não sabia onde ficava. Vaguei pelas ruas com minha moto até encontrar usando como pistas apenas o que ouvi da minha mãe em suas histórias sobre como conheceu meu pai e onde foi o primeiro encontro deles. Quando finalmente encontrei, me senti em paz, era como se estivesse com ela de novo, sentindo o perfume dela e o conforto que só ela me trazia. Era para lá que queria por algum motivo, levar Aurora.
DanteExpliquei a ela como aquele lugar funcionava com a ajuda de alguns moradores e que cuidava da estufa desde que encontrei o lugar. Expliquei também que o lugar era um ponto turístico há anos, mas que com o tempo foi esquecido e agora era usado apenas pelos moradores e com pouca frequência. Aurora ouvia tudo com atenção, atenta a cada palavra e perguntando vez ou outra sobre como era cuidar de um lugar como aquele e se eu recebia para fazer aquilo. De fato eu recebia, era bem pouco, mas no fim eu fazia aquilo por querer estar ali, não pelo dinheiro. Saímos do tapete e começamos a caminhar pelo imenso local, não haviam apenas flores, mas uma infinidade de plantas, algumas que eu sequer sabia o nome. Aurora tocava nas pétalas com todo cuidado, se enfiava entre as grandes plantas como uma desbravadora do mundo e gargalhava sempre que algo não saia como o planejado, como os momentos em que ela acabou caindo ou se assustando com algum inseto. Subimos uma pequena escada que dava para
Quando meus pulmões precisavam de ar, deixei os lábios dela e deslizei os meus por seu pescoço, deixando beijos molhados enquanto sentia seu perfume e seu calor, ouvindo-a arfar enquanto suas mãos desciam por minhas costas. — Você não deveria fazer isso, sabia? — sussurrei, mordiscando o lóbulo da orelha dela, percebendo os pelos finos do corpo dela se arrepiarem. — Eu sou um cafajeste, lembra? — Eu sei… — ela respondeu levando uma das mãos para meu queixo e me puxando de volta para si, beijando meus lábios e depois de se afastar apenas um pouco, sussurrou: — Tenho uma terrível atração por cafajestes…Não sei por quanto tempo ficamos ali, nos beijando conversando, nos conhecendo de um jeito que jamais imaginei. Falamos sobre a briga dela com a irmã sobre a escola, sobre filmes, músicas favoritas, gostos, sobre tudo. Aurora descobriu que moro com minha tia que me mudei por causa do falecimento dos meus pais e porque Tabatha era a única com coragem suficiente para criar o filho proble
EvangelineMinha cabeça latejava, Clay havia ido embora e Aurora sumiu já faz horas. A situação estava totalmente fora do controle, minha cabeça estava uma zona e eu confesso que não deveria ter descontado minha raiva em Aurora, sei que estava errada, mas, no fim, tudo o que eu disse estava entalado em minha garganta há tanto tempo que me senti aliviada, pelo menos por algum tempo. Sei que ela só queria ajudar, mas Aurora precisa entender que ela não pode consertar tudo e todos, principalmente levando em consideração que ela mesma está quebrada. Mas, mesmo com toda a situação, o sumiço repentino da minha irmã não deixou de me preocupar. A contragosto, peguei meu telefone e mandei uma mensagem para a única pessoa que eu imaginei que saberia onde ela estava, ou que poderia estar com ela. Meus dedos tremiam enquanto eu digitava, precisar falar com ele menos de duas horas depois de um “término” me deixava novamente irritada com minha irmã. “Aurora está com você?”, enviei a mensagem e es
ClaySabia que, em algum momento, uma conversa mais contida precisaria acontecer. Não iria me isentar da culpa de magoá-la, no fim, eu deveria ser mais responsável que Eva, mais maduro que ela, maduro o suficiente para saber que, desde o início, aquela história não daria certo. Minha cabeça doía e meu coração estava pesado, mas, assim que recebi as mensagens de Eva, minha preocupação foi direcionada a outro lugar. Eu sabia que só estava procurando uma desculpa para me esconder daquele conflito e o sumiço de Aura foi a preocupação perfeita para isso. Ela não costumava andar por aí sozinha, nem costumava sair na companhia de alguém que não fosse do nosso ciclo mais íntimo de amigos. Por isso, mandei mensagens para as garotas com as quais ela mais conversava e, depois de receber uma negativa de todas elas, sai do meu quarto e passei pela sala encontrando meus pais dormindo no sofá. Deixei um bilhete na geladeira avisando que iria à casa de Aurora, peguei as chaves do jipe e dirigi até
Senti todo meu corpo relaxar, mas continuei ali, de pé. Minhas mãos ficaram inertes ao lado do meu corpo, minha mente foi inundada por imagens daquele mesmo sorriso ao longo de todos esses anos e, o que antes era irritação se tornara um misto tristeza e alegria. Estava triste por perceber que aquele sorriso havia desaparecido desde o primeiro ano do ensino médio, e feliz por vê-la sorrir assim novamente, mesmo que para alguém como Dante. Meus olhos se embaçaram levemente pelas lágrimas, mas consegui contê-las com muito custo. Então apontei para o corredor e falei:— É por ali — minha voz saiu quase inaudível. Dante me olhou confuso, tive que inspirar novamente e falar, agora mais alto. — O quarto dela é por ali — aponto para o corredor, começando a subir as escadas. Dante confirmou e caminhou em direção a primeira porta tentando desajeitadamente abri-la, a cena seria engraçada se não fosse preocupante o fato dele estar ali, fazendo tudo aquilo. Era como um déjà vu, mas ela parecia
"Aurora chorava como nunca havia chorado em toda sua vida, Clay estava ali abraçando-a, puxando para perto e protegendo-a com os braços, ele segurava o choro, afinal, ela precisava dele forte e ele estaria forte por ela. Aurora se agarrava em sua blusa e tinha o rosto enterrado em seu peito, encharcando sua blusa de lágrimas.— Faz parar de doer — ela implorou, sem deixar de chorar, levou as mãos ao peito e puxou a blusa arranhando o espaço entre os seios. Quem diria que o primeiro baque amoroso de alguém poderia doer tanto? Mas infelizmente, o primeiro baque de Aurora não foi tão clichê quanto os dos demais adolescentes, infelizmente, foi pior do que uma decepção qualquer. — Eu não posso, Aura — Clay chorava, beijando com força o topo da cabeça da morena. — Eu não posso.A garota chorava cada vez mais, se agarrava nele com tanta força que suas unhas entravam em sua carne, mas Clay não se importava, a dor que ele sentia não era nada comparada a dor que ela sentia.Aurora passou algu
EvangelineClay não demorou para ir embora, depois que Dante saiu ele me encarou por alguns instantes e suspirou, passando por mim em silêncio e saindo da casa, não tínhamos muita coisa para conversar, pelo menos não por enquanto. Eu ainda me sentia pesada, ainda sentia como se minha cabeça tivesse sido pisoteada por elefantes e ainda queria que Aurora sumisse da face da terra, já que ela conseguiu mover Clay até aqui sem que ele se importasse com o clima pesado entre nós mas eu não conseguiria o fazer mesmo que me arrastasse no chão implorando. Ao menos é o que eu acho. Tentei deixar de lado esse pensamento e desci as escadas, indo até a cozinha e me sentando à mesa, logo meus pais chegariam e eu sabia que eles iriam farejar esse desentendimento, era sempre assim. Ter pais que são profissionais em saúde mental tem suas desvantagens, às vezes eles nos enxergam mais como pacientes do que como filhos e meus pais criaram esse hábito, principalmente depois do que aconteceu com Aurora.