Quando Marina e Marcelo entraram na cozinha atrás do cheirinho agradável de café que Lorena havia feito, ela os cumprimentou alegremente:— Bom dia, queridos! Dormiram bem? Ou será que não dormiram nada?O casal se entreolhou, com diversão. Lorena adorava provocar!— Bom dia! Não vou morder sua isca e nem contar os ”detalhes sórdidos” — replicou Marina.— “Detalhes sórdidos”? — Marcelo ergueu as sobrancelhas, desconfiado.— Ah, não se preocupe. Essa foi a expressão que ela usou comigo lá na delegacia, só estou repetindo.Ele balançou a cabeça, e resolveu que era melhor não insistir com o assunto. Aquela duas eram engraçadas e peculiares, e acabariam conseguindo deixá-lo sem graça:— Acho que não entendi, mas tudo bem...— Vai por mim, é melhor deixar para lá mesmo. Não dê muita confiança para a Lorena, não. Ela abusa...Marina piscou um olho para Marcelo, e Lorena soltou uma risadinha, colocando diante dos amigos as duas xícaras com café fumegante. Ambos aspiraram o aroma, com prazer,
Marcelo já não sabia mais há quanto tempo estava deitado naquele telhado, agarrado com sua arma, a mira apontada para a cabeça do bandido que segurava um refém, ameaçando-o com uma pistola. As costas arranhadas pelas unhas de Marina na noite anterior, misturadas com o suor resultante pelo uso prolongado do pesado colete à prova de balas, debaixo de um sol escaldante, trazendo um desagradável incômodo ao combinar-se à dor óssea que a tensão do momento trazia. No momento em que Alan, o negociador da polícia civil, conseguiu fazer com que o bandido abaixasse a arma, Marcelo sentiu um imenso alívio. Aguardou a ordem superior, que veio pelo ponto eletrônico de escuta preso a seu ouvido, para que descesse do telhado.Bateu no ombro de Alan, ao passar por ele já na rua.— Bom trabalho, Alan.— Obrigado, Marcelo. Agradecemos a força.— Não agradeça, não precisei fazer nada. — Marcelo retirou o colete da polícia com o máximo de agilidade que podia, lutando contra as dores que pipocavam por tod
Marina pulou para o celular e o atendeu ao primeiro toque. Havia ficado sentada ao lado do aparelho o tempo todo, quase sem piscar, com o coração na mão. As mensagens que chegavam eram sempre de outras pessoas, e ninguém fazia ligações ou vídeo-chamadas.Para piorar, a última vez que Marcelo havia visualizado sua tela de whatsapp tinha sido há mil horas antes! Ou parecia que tinha sido havia mil horas.Lorena havia tentado distraí-la com alguma conversa, porém sem muito resultado.— Oi! Ah, Marcelo, graças a Deus você está bem! E precisou atirar? — Ela ouvia alegremente, olhando para Marcelo, são e salvo na tela, com Lorena ao lado, também ansiosa por notícias do amigo.Ela respirou com alívio quando ele respondeu que estava tudo okay, que não precisou atirar, ninguém se feriu, nem o bandido e nem reféns.— Graças a Deus que não, certo? Ainda bem que tudo acabou bem! Eu te amo, viu? Estou ansiosa para que a noite chegue. Um beijo. Tchau.Lorena, que estava acompanhando atentamente a c
Estavam a aproximadamente dois metros de distância um do outro. O casal se olhava nos olhos, intensamente. E caminhando lentamente foram se aproximando, pé ante pé.Ela vinha dizendo, em voz alta e emocionada, enquanto seguia em direção ao amado:— Eu te amei sempre, mesmo antes de te conhecer.Ele respondia sorrindo, em voz igualmente clara:— Eu te amarei sempre, mesmo quando não mais existir.Pararam frente a frente, e suas mãos se ergueram até se tocarem.Seus lábios aproximaram-se bem devagar, selando com um apaixonado beijo as juras de amor verdadeiro.Houve um grande estrondo quando as palmas da plateia se ergueram no teatro. Mais uma vez, pela segunda semana consecutiva, o público aplaudia de pé ao espetáculo.O casal de protagonistas curvou-se respeitosamente diante do público, em agradecimento. O restante do elenco e o diretor, todos aguardando sua deixa para entrar, juntaram-se a eles no palco e, de mãos dadas, agradeceram a ovação.Depois que as cortinas se fecharam, Loren
Simone bateu a porta do carro se sentindo aborrecida. Estava investigando uma queixa sobre sumiço de gatos! Só a designaram para um caso tão bobo porque era mulher, e pior, recém-formada da academia de polícia. Ela ansiava por uma oportunidade de trabalhar em equipe numa grande operação, do tipo que se vê em filmes. Ao invés disso tinha que submeter-se — e agradecia a seu super-protetor primo Marcelo por isso — a verificar queixas de velhinhas solitárias que viviam rodeadas de felinos.Francamente!Quem pode sentir falta de um gato quando existem tantos desses por aí, deixando sua sujeira fedorenta em todos os canteiros de plantas da cidade?Simone não conseguia compreender!Mas a culpa de estar naquela missão sem graça e sem sentido era de Marcelo, quanto a isso não havia dúvidas.Tudo bem que Marcelo trabalhava na delegacia há muito mais tempo que ela, e tinha conquistado uma posição privilegiada por lá, mas ele precisava mesmo juntar-se ao delegado para decidir sempre o que Simone
Simone atravessou a rua e tocou a campainha do senhor Dimitri. Quando olhou para o outro lado, em direção da casa de dona Adelaide, notou que ela já havia entrado. Aparentemente falar dos vizinhos pelas costas era mais fácil do que encará-los de frente. Ao irar o pescoço outra vez ela tomou um susto ao se ver diante de um homem na soleira da porta, a observá-la. Era dono de uma beleza fria, e também era surpreendentemente grande. Olhava para ela do alto dos degraus, o que lhe conferia ainda mais um ar de superioridade arrogante. — Pois não?— Bom dia. Sou a policial Simone. Presumo que seja o senhor Dimitri.Ele assentiu, os olhos negros intrigantes olhando-a firme, sem piscar.— Não quero incomodá-lo, senhor, mas é sobre os gatos...— Gatos? — Ele ergueu uma das sobrancelhas. ─ Eu não tenho gatos.— Certo. Recebemos uma queixa de que os gatos das redondezas estão desaparecendo.— Fala desses gatos de rua que a dona Adelaide insiste em alimentar?— Sim. Sua vizinha acredita que e
Simone abriu os olhos, sentindo a boca amarga e a garganta seca. Levantou-se de sua cama sentindo muitas dores no corpo. Pensou que talvez estivesse ficando doente, a cabeça latejando como se fosse explodir. Parecia estar despertando de uma terrível ressaca. Embora não tivesse bebido, porque não bebia quase nunca. Foi até o banheiro, esperando que uma ducha quente lhe aliviasse o mal-estar. Tentou lembrar-se como havia chegado até em casa, mas não conseguia recordar-se de nada.Pôs a mão na cabeça, confusa.Entrou no chuveiro e sentiu todo o corpo arder ao contato da água. Até em partes onde não deveria. Olhou mais minuciosamente para si mesma. As coxas tinham marcas arroxeadas, e os braços também. Marcas de dedos. O pescoço ardia intensamente, e mesmo sem se observar no espelho, sabia que estava arranhada. O roçar insistente de um rosto masculino, com a barba por fazer, produziria esse efeito. Descobriu um pequeno corte bem rente ao mamilo esquerdo. Sabia o que poderia ter causado aq
Marcelo entrou no apartamento e conferiu todos os cômodos. Quando Marina informou qual era o seu quarto, o investigador se deteve ali, observando cada detalhe:— Combina com você. E tem um cheiro gostoso. Deve ter retido o seu perfume. — Ele passou bem junto a ela, devagar, os corpos quase se tocando ao passarem de um cômodo ao outro. Lorena foi para a cozinha discretamente, enquanto a amiga voltava com o detetive para a sala.Marcelo observava tudo, e comentou:— Vocês são rápidas. Já mandaram até consertar a porta.— Ah, o síndico foi bem legal, trouxe ferramentas e consertou para nós.Houve um pequeno silêncio enquanto Marcelo a encarava, bem próximo. A tensão sexual entre eles era quase palpável. Marina tinha consciência de sua beleza, mas nunca imaginara que conseguiria atrair a atenção de um homem como aquele. Aliás, nunca ficara frente a frente com alguém tão bonito e com uma presença tão forte como a dele, que parecia dominar a sala. — Sei que pode parecer pouco profissio