Giulia O meu medo se tornou realidade. Quando o Andreas me perguntou há quanto tempo eu estava atrasada, senti um frio na barriga como que me avisando que sim, eu tinha feito merda Mas como que eu poderia imaginar que, uma noite sem compromisso nenhum, o de eu mais queria esquecer da vida do que lembrar, onde eu não estava em meu juízo perfeito, me traria uma consequência tão grave Sim, eu fiz o teste Me tranquei no meu humilde quarto enquanto o A dreas distraia o Giácomo. O teste veio por um motoqueiro, entregador da própria farmácia, que assim que me entregou o pacote, direcionou o olhar diretamente para mim Giulia - Algum problema Paulo - Não senhora, eu só estou olhando mesmo Estava estampado na sua cara que ele procurava uma barriga qualquer que nem tinha dado tempo de crescer que, lá no meu íntimo, eu torcia para que não aparecesse, para que fosse só mais uma ideia estúpida que passou na minha cabeça e na do Andreas Como eu disse, depois de pegar o teste me tranq
AlexanderNa minha vida não há espaço para perdão e eu aprendi essa verdade a duras perdas. Quem é Enrico? Quem ele realmente deveria ser? Por que aquele maldito simplesmente não quebra?Filho de um Zé ninguém, escória da máfia, sem direito a ter os benefícios que a família traz, sim, esse sou eu, um Grecco sim, mesmo que nem todos tenham o conhecimento Sou o primogênito da família, porém, fruto de uma das amantes do meu pai, sem direito a reconhecimento por parte dele. Eu cresci com essa dor, com essa ferida que, mesmo virando uma cicatriz, nunca parou de doer. Eu fui treinado pela visa e não pelo alto escalão da máfia, aquele que prepara perfeitamente o Don herdeiroSem comemoração de aniversário, sem festas de fim de ano, sem o direito de tirar uma foto e colocar em cima da lareira na sala de estar, eu cresci no anonimato, vendo a dor da minha mãe por não poder ser chamada de amor em público Por isso sorri quando aquela maldita morreu, a esposa legítima, era a chance da minha mãe
EnricoO "o quê?" saiu mais alto do que eu esperava, carregado por uma incredulidade que rasgava o ar como um trovão. Eu tinha descido as escadas para buscar um dos meus relógios na sala de estar quando escutei a voz do Giacomo. O que ele disse me acertou como um soco: “Tem bebezinho aqui…”Parei no último degrau, meus olhos fixos na cena diante de mim.Giulia estava no chão, ao lado do meu filho, com o rosto molhado de lágrimas e uma expressão que oscilava entre pânico e rendição. Andrea estava de pé, como um velho conselheiro que já sabia de tudo antes mesmo das palavras serem ditas.— Giulia… — meu tom foi mais baixo agora, denso. — É verdade?Ela não conseguiu responder de imediato. Levantou-se com um movimento hesitante, como se estivesse saindo de um sonho ruim, e olhou diretamente para mim. Era a primeira vez, desde que a contratei, que via nos olhos dela algo quebrado, frágil. Ao mesmo tempo, havia firmeza. Um tipo de coragem que só nasce no meio do caos.— Sim — respondeu, a
EnricoO silêncio se espalhou pela casa depois que ela subiu as escadas. Por um instante, fiquei ali, imóvel, com os olhos fixos no nada, como se o eco daquela revelação ainda reverberasse entre as paredes de pedra e madeira antiga. A respiração doía. Não pelo susto. Mas porque alguma parte de mim... estava aliviada.Giulia.Grávida.Grávida de mim.Soltei o ar pela boca, fechei os olhos e deixei o peso do momento se acomodar sobre meus ombros. Eu deveria estar com raiva, confuso, preocupado. Mas, em vez disso, senti algo inesperado florescendo no peito: um senso de propósito que há muito tempo eu não sentia. Algo quase... bom.Me dirigi ao bar, servi uma dose generosa de uísque e encarei o reflexo distorcido no cristal da garrafa. O gosto queimou ao descer, e a imagem dela me veio à mente com uma força implacável: os olhos marejados, as mãos tremendo levemente, e aquela coragem absurda de me encarar mesmo com medo. Giulia era feita de aço disfarçado de doçura. Ela não queria meu dinh
ValerieA noite caiu como um véu pesado sobre a casa, abafando os sons do mundo e intensificando o silêncio dos corredores. O relógio antigo marcava vinte e três horas quando Francesco entrou no quarto. Seus passos eram sempre calculados, sua expressão serena demais para alguém com tantas sombras por trás dos olhos. Valerie já conhecia cada movimento do marido — cada silêncio que dizia mais do que palavras.Ele deixou a jarra de água sobre a mesinha de cabeceira, como fazia todas as noites, com aquele mesmo cuidado excessivo que um estranho chamaria de carinho. Mas ela sabia. Sentia no fundo da alma que aquele gesto não era amor. Era controle. Era culpa. Ou talvez, só covardia.— Está com sono, amore mio? — ele perguntou, com um sorriso gentil, falso como um espelho trincado.Valerie assentiu, forçando um sorriso fraco. O corpo doía, como sempre. Os músculos, moles e pesados. O estômago, enjoado. Mas naquela noite, ela não tomaria a água. Não mais.— Um pouco, sim... obrigada pela águ
Victorio O uísque descia queimando, mas a sensação era quase prazerosa. Victorio apoiava o cotovelo na bancada do bar decadente, iluminado por letreiros de néon trêmulos e frequentado por homens perigosos e mulheres que já tinham visto demais. O cigarro entre seus dedos queimava lentamente, soltando uma espiral de fumaça que se dissolvia no ar carregado de promessas quebradas. Ele olhava fixamente para o fundo do copo, a mente longe dali — ou talvez perto demais. O rosto de Giulia invadia sua cabeça sem pedir licença, como fazia todas as noites desde que ela sumira. Desde que ousara rejeitá-lo. Desde que fugira de um destino cuidadosamente arranjado. Desde que fora parar nos braços de outro homem. Seus olhos se estreitaram, e ele girou o copo com raiva contida. O celular vibrou. Uma mensagem de Ricardo. E logo em seguida, a ligação. — Fala. — Sua voz saiu baixa, mas afiada. — Achei. — Ricardo não precisava de introduções. — O lugar onde a menina tá escondida. A mansão do Enrico
O silêncio era profundo na mansão naquela noite, quebrado apenas pelo som distante da chuva fina batendo contra os vitrais antigos. Enrico caminhava pelos corredores de mármore como uma sombra — elegante, impassível, com o coração pulsando de forma incomum. Ele havia enfrentado traições, guerras entre famílias, perda, dor. Mas nada o deixava tão inquieto quanto a pequena presença que, aos poucos, tomava conta de sua vida: **Giulia**.Desde que ela surgira naquela casa como babá de Giacomo, algo havia mudado. Sua doçura contrastava com a rigidez do ambiente. A luz que ela carregava era como uma afronta silenciosa à escuridão que ele mesmo cultivava — mas era exatamente por isso que ele a queria ao seu lado. Para protegê-la. Para mantê-la sua. E, naquela noite, ele tomaria a decisão final.**Casar-se com Giulia.**Não por conveniência, mas por desejo. Por possessividade. Por aquela estranha emoção que ele tentava enterrar cada vez que os olhos cor de mel dela o fitavam com inocência e m
A fumaça espessa do charuto pairava no ar como um véu de arrogância e poder. Carlo Bianchi estava recostado na poltrona de couro envelhecido, os olhos semicerrados voltados para o horizonte de Nápoles. Lá fora, a cidade sussurrava seus segredos entre a chuva fina e os becos escuros, mas ali dentro, o silêncio reinava — e Carlo se banhava nele como um rei no próprio trono.Na mesa à sua frente, papéis e relatórios se acumulavam, mas o que lhe prendia a atenção naquele momento não era nenhum negócio escuso ou uma ameaça rival. Era a notícia que o segurança acabara de lhe trazer.— Repete. Devagar. — sua voz cortou o ar como lâmina.O segurança hesitou, engolindo a saliva. O suor já escorria sob a gola da camisa.— Don Carlo… Enrico vai se casar. Vai anunciar à família nos próximos dias. Está preparando tudo em sigilo, mas a decisão… é firme.Carlo fechou os olhos por um breve momento. Uma sensação estranha o percorreu — algo parecido com satisfação. Finalmente. Não era só um gesto de al