Enrico e Carlo O salão da mansão Bianchi exalava poder e sofisticação. Tapetes orientais encobriam o mármore frio, candelabros de cristal lançavam luzes suaves sobre as mesas bem-postas, e um quarteto de cordas preenchia o ambiente com uma melodia clássica. As taças tilintavam, os risos eram baixos e comedidos. Tudo ali era calculado, controlado — exceto ela. Giulia era a única peça fora do tabuleiro costumeiro. Usava um vestido vermelho justo, mas elegante, que abraçava suas curvas com discrição e classe. Seu cabelo estava preso em um coque delicado, alguns fios soltos moldando o rosto. Ela estava encantadora, mas era visível o desconforto em seus olhos, como se soubesse que aquele mundo não era, ainda, o seu. Ainda assim, sustentava o olhar de todos com dignidade. Enrico, ao seu lado, exalava domínio. Um terno preto sob medida, um broche com o brasão da família preso discretamente na lapela. Ele a apresentava com orgulho — sua noiva. A mulher que ele escolhera não apenas para div
EnricoEnrico saiu de dentro do quarto, deixando Giulia completamente relaxada sobre a cama. Ainda a madrugada escurecia o dia, mas ele não podia mais adiar as coisas, a sensação de ansiedade apertava seu peito, mas ele gostava, já tinha sentido isso antes...Foi para o seu escritório Enrico discou no telefone criptografado. O toque soou apenas uma vez antes de ser atendido.— Fala. — A voz de Guilhermo veio firme, ainda que baixa. Sempre alerta, mesmo no meio da madrugada.— Prepare tudo. O casamento vai acontecer. Ainda este mês.Um silêncio carregado caiu do outro lado da linha. Quando Guilhermo respondeu, sua voz trazia algo entre preocupação e lealdade.— Você tem certeza disso?— Tenho. — Enrico apoiou o cotovelo no braço da poltrona, encarando a escuridão além da janela. — Não é mais sobre o velho, ou sobre orgulho. É sobre ela. Quero Giulia perto. Por inteiro. Quero que todos saibam que ela me pertence... e que eu pertenço a ela.— E você acha que isso vai protegê-la ou coloc
A casa de Francesco era o retrato perfeito de um homem que tentava parecer maior do que era. As paredes carregadas de quadros genéricos, as taças de cristal exibidas numa estante imponente e os tapetes vermelhos pareciam clamar por respeito, mas não enganavam ninguém. A máfia dos Estados Unidos já havia virado as costas para ele há anos. Era um nome irrelevante que sobreviveu por favores, não por mérito. Um fantoche. Um oportunista.Victorio empurrou os portões com força, entrando sem ser anunciado. O caminho pelo jardim escuro foi percorrido em passos furiosos, como se cada passo fosse a contagem regressiva para uma explosão.A porta já estava entreaberta. Francesco o aguardava, como um rato que sabia que seria encurralado, mas ainda tentava parecer no controle.— Que visita inesperada... — disse ele, do sofá, sem levantar. Usava um robe exagerado e segurava uma taça de vinho, como se encenasse um papel que ninguém mais acreditava.— Você é um verme — disse Victorio, entrando com os
O nome Donovan Callahan ainda era um sussurro de respeito entre os corredores úmidos dos pubs de South Boston. Um homem que jamais precisou erguer a voz para ser temido. O consigliere irlandês era a ponte entre os códigos antigos e os negócios modernos da Irish Mob — um conselheiro leal, impiedoso com os inimigos e devotado à família. Até o fim. Mas o fim não veio pelas mãos de um rival digno. Donovan foi morto nas sombras, por ordens externas, longe do campo de batalha. Uma traição suja, encomendada por alguém que o via como obstáculo. Alguém covarde o bastante para não encarar um Callahan de frente. Na manhã em que a notícia chegou, sua esposa Maureen ainda dormia com os filhos nos braços. Conor e Caelan, gêmeos idênticos de olhos verdes e cabelos negros como o pai, tinham dois anos e meio. Maureen soube no mesmo instante que a ausência de Donovan seria permanente. Não precisou de explicações. A Irish Mob, por respeito à memória do consigliere, jurou proteção à viúva e aos menino
ValerieValerie nunca imaginara que um dia cruzaria as portas de um lugar como aquele. A mansão dos Bianchi era a materialização de tudo o que ela havia ouvido falar sobre a família — sombria, imponente, e de uma riqueza que cortava como uma lâmina. Cada passo dado dentro daquela casa parecia reverberar não só em silêncio, mas também em poder. As paredes de pedra, escuras e forradas com tapeçarias antigas, pareciam observar sua presença enquanto ela percorria os corredores largos, onde candelabros de cristal pendiam como estrelas de um céu que ela nunca imaginou alcançar.Ela estava ali apenas por sua filha, Giulia, que, para sua surpresa, estava agora inserida nesse mundo. Valerie sentiu o peso da mudança, o dilema entre proteger sua filha e aceitar esse destino que parecia se impor sobre ela. Porém, mais do que isso, ela sentia o desconforto de estar em um lugar onde não se encaixava. A mansão era de Enrico Bianchi, o Don sombrio e reservado, com quem sua filha se envolvera de manei
O herdeiroMeu nome é Enrico, sou o próximo Don da família Grecco, tenho 27 anos e essa é a história da minha vida, de como eu virei capo e como foi tudo até aqui. Na verdade, minha história não foi muito diferente dos outros herdeiros da máfia, mas eu sempre quis que fosse. Assim eu não ia experimentar esse sofrimento que carrego dentro do peito. Como um doce dado para uma criança e arrancado logo em seguida. Só que junto com o doce, tinha meu coração arrancado dentro do peito e vivia ou sobrevivia quebrado. Dizem que o sofrimento transforma as pessoas, faz com que elas deixem de acreditar nas coisas do alto e só olhem para o próprio umbigo, que elas deixem de ter esperança, de sonhar. Eu nunca almejei herdar o trono do meu pai, mas como primogênito, não teve outro jeito. Só se sai da máfia morto, e eu preferia viver fingindo que estava tudo bem e sem exercer meu verdadeiro propósito, além de conviver com o vazio do luto, do que perder a vida.Sempre invejei o meu irmão Giancarlo, e
GIULIAMeu nome é GIULIA, tenho vinte e um anos, morena da cor do pecado, com olhos castanhos claros e cabelos cheios com ondas e encaracolados. Muito abençoada pelo cara lá de cima e hoje eu vou contar como o meu conto de fadas virou meu pesadelo pessoal de um dia para o outro. Eu cresci achando que o mundo era meu, que eu podia fazer qualquer coisa que eu quisesse, e nem precisava me esforçar para isso. Meus pais sempre me deixaram viver assim, tendo tudo na minha mão, no topo do mundo, ainda mais sendo filha única e mais ainda fazendo parte de uma família importante da Itália.Meu pai sempre disse ser um empresário bem-sucedido e que eu não precisava me preocupar com nada a não ser comigo. Eu vivi nessa ilusão até acabar a minha faculdade, o curso que eu escolhi com tanto carinho e que achava mesmo que ia seguir na minha carreira, abrir meu próprio negócio. A minha vida era resumida em tecido e linha, analisar as mulheres, os panos que as cobriam e imaginar o quanto eu podia melh
Giulia De repente, sinto as minhas mãos molhadas e olho para baixo e acabo percebendo que, o aperto que eu fazia questão de dar na mão do tal homem, chegou até mesmo a arrancar um pouco de sangue, por causa do detalhe que eu tinha no meu anel, como se um pingente com a lateral cortanteGIULIA - MEU DEUS, DESCULPA! NÃO SABIA QUE ESTAVA TE APERTANDO ASSIM TANTO.ENRICO - Anda, vamos voltar para dentro.GIULIA - Para dentro? Mas nós não estamos dentro do hotel?Agora, neste momento, percebo que posso ter fugido para um futuro desconhecido. Olho sem entender para o homem, sombrio à minha frente, no meu coração, acredito que ele é o meu cavaleiro de armadura brilhante, mas também não sei no que me estou prestes a me meter e isso também é assustador.Enrico: - Temos de voltar para Itália, onde eu mando e posso te manter em segurança.Giulia - Não, Itália não, o meu pai e este meu... como posso dizer, ex noivo, vivem lá. Eles podem me pegar, o meu pai tem dinheiro e ontem, me disse que está