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Desamarro meu cabelo a presilha, sorrindo boba enquanto ando pelo hotel. Muitas pessoas passam e olham estranho. Eu continuo a sorrir. Não acredito que há um serzinho aqui em minha barriga, eu prometo amar e o proteger muito, dar todo o carinho da terra, ser tudo o que ele precisa, ser pai e mãe, estar nas piores e melhores horas. Eu juro meu amor.—Marcelle Campos.—A mesa está pronta, esperando as senhoras. —a recepcionista loira, de um um coque um pouco baixo sorri animada para mim. Suspeito que saiba quem eu sou. —Mesa 07.—Ok. Obrigada. —sorrio de volta.Aos saltos batendo leves como meu humor ultimamente, caminho despreocupada pelo hall do hotel. Aqui não é muito luxuoso, o hotel é modesto, uma boa idealização de decoração, artes bacanas, quadros inovadores. Gostei muito.Dou dois passos para trás quando uma fã de óculos de garrafa, chega de supetão, parando-me ao meio do caminho, empolgada, muito empolgada com seu caderninho e caneta em mãos.—Iara Lauren! Eu não acredito, sou
Joaquim TrevorRepuxei o pano bordado a mão, esticando e esticando o tecido, enquanto a fúria gradualmente consumia-me em chamas altas.Isso não, isso não poderia acontecer, mas era o que se via. Iara, linda. Os cabelos minimamente abaixo dos ombros, em ondulações pacatas. Uma roupa elegante, a tecido fino como de costume. Um sorriso bonito, não um qualquer sorriso, era o melhor sorriso.Bochechas coradas, nada maquiada, não necessitava, o brilho enaltecia a pele, e denegrida qualquer artefato que ousasse tocar sua face e esconder o belo insolarado em seus olhos.Jogou o cabelo ao lado. Ela está feliz, muito feliz. Por um lado alegro-me por constatar que o tempo só a beneficiou, minha falta não foi sentida, pelo outro, meu consciente puni-me severamente por constatar que sua vida não parou por minha causa, ela não chorou pitangas, nem ao menos deixou qualquer sentimento "errado" a atinger, e não, não precisava ninguém me contar isso, eu conheço Iara Lauren, e sei muito bem que nem por
-Meu amor, por favor, abre para o pai.Toco mais três vezes a porta do banheiro, o silêncio é ouvido por fora. Toco outras três.-Querida, me desculpe por quase sempre mantê-la no escuro. Tem assuntos de adulto que nem sempre as crianças devem saber, muitas coisas eu não falo por isso, mas eu confio muito em você, eu te amo meu amor.Mais toques são ouvidos. Eu não sei quanto tempo estou aqui. Bati outras muitas vezes e nenhuma resposta quis dar. Estaciono minha testa a porta, descansando também a cabeça por tantos problemas não resolvidos, os quais eu nem ao menos sei por onde começar.-Meu amor... Abre. -peço pela milésima vez, exausto, fadigado, na última esperança que abra a porta para mim.-Eu quero a mamãe!Crispo os olhos por um instante.-A sua mãe não pode vir.-Porque papai? Hein? -um fungar é escutado. -Eu não quero mais ficar sem ela. Não quero voltar para o Brasil sem ter visto nem abraçado minha mãe, o senhor me deve isso.-Eu sei que sim, mas...-Mas, mas, o senhor semp
Boa leitura 🍄//Iara LaurenHoje acordei bem disposta, um sorriso grande de ponta a ponta não querendo sair do meu rosto. A ficha que vou ser mãe ainda não caiu por completo. É surreal, quase inacreditável que tudo isso está acontecendo, foram tantas lutas, tantas perdas.Ter mais de um aborto foi sem palavras. Uma dor imensa que não tenho nem profundidade, e nesse caso foi bem mais difícil, a dificuldade estava por eu a cada instante estar lúcida e consciente do que estava passando. Eu sabia o que ocorria, eu vivi cada dor, cada palavra e volta ao hospital a dizer, "Querida aconteceu novamente" com a cabeça baixa e cautelosa a falar.Eu assentia e falava: Está tudo bem. Como o ditado nos diz. Por fora bela viola, por dentro um pão bolorento, literalmente. Eu demonstrava estar bem, como se fosse indiferente, algo em meu cotidiano, o que não era uma mentira, se tornava costumeiro a cada instante. Balanço a cabeça. Não dessa vez, dessa vez será diferente e com fé, muita fé, eu creio qu
-Sim, viemos não tem muito tempo, conhecemos o hotel e jantamos, quando ele voltou que aconteceu tudo. Mãe ele está transtornado, estava batendo a porta, nervoso, bastante irritado. Gritou comigo, a senhora sabe que eu não gosto que gritem comigo.-Sim. -respondo no automático.-Estava até agora aqui, foi só eu conversar com a senhora que um tempo depois ele parou. -aperto os olhos, solto um suspiro pesado ainda muito paralisada com tudo. Joaquim no mesmo lugar que eu, divindo o mesmo país, talvez a poucos metros... Não sei. Abro as pálpebras, pisco mais vezes e realmente eu não estou sonhando, eu estou falando com minha filha que muitos anos não a vejo, cujo o pai, é o homem que destruiu a mulher forte, decidida e fria que eu era, antes intacta a qualquer coisa, qualquer mágoa. O único que conseguiu magoar-me de verdade. Balanço a cabeça, seja forte Iara, ele não irá lhe vencer novamente. -Está me ouvindo?-Sim, sim querida, desculpe.-Vem me buscar mamãe.-Gabriela... Te buscar... E-
Iara LaurenDizer que foi fácil negar algo para minha filha eu vou estar mentido. Foi duro, muito complicado, e o pior nem foi recusar, falar para ela que eu não poderia voltar para seu pai. O mais difícil foi ela nem ao menos ter esperado eu explicar os meus motivos.Em sua voz eu percebia o quanto havia mágoa e ressentimento. Em muito pouco eu disse não a ela. Talvez porque Bibi nunca mereceu, sempre foi uma criança adorável, amável mesmo, e o que eu de verdade queria que ela soubesse é que tudo o que eu mais quero na minha vida é vê-la, é estar com ela, abraça-la. Gabriela é tudo o que eu mais amo na vida, o meu centro apesar da distância, e de uma vez já está decidido, eu vou enfrentar seu pai, encarar Joaquim, deixar essa minha covardia se lado e oprimir de vez esse meu medo do passado.//Acabo de sair do banho, secando com a toalha meu cabelo quando a campanhia toca. Estou somente de roupão e fios molhados, fico um pouco indecisa se eu abro logo, talvez seja somente a comida que
—Você acha? —sorrio sem ânimo. —Não me conhece mais. A Iara que era boba e apaixonada não está mais aqui. Acorda Joaquim. Que merda é essa de vir atrás de mim. Como me encontrou?—Eu... Queria muito te ver.—Você é um idiota.—Te abraçar. Iara... Eu sinto muito a sua falta.—Mas eu não sinto a sua. Agora eu que te peço, olhe nos meus olhos, bem no fundo deles. —encara-me de um jeito profundo. —Veja se há algum resquício de amor ao fundo. —pendo a cabeça. —Não há.Dessa vez consigo passar por ele. Caminho a passos pesados em direção ao meu quarto. Abro com toda a força a porta, e seguro-me para não bater forte afim de não acordar Bibi.—Grr! —solto um grunhido de dentro da garganta. —Cacete! —bato ao colchão, pego uma boa quantidade de lençol e jogo longe bagunçando tudo. —Porque você tinha que aparecer agora, porque?Ponho a mão a cabeça, meus dedos entram aos fios loiros. Respiro irregular, em sopros leves, solto ar em formas curtas.Não sei se em forma protetor, ou não, minhas mãos
Joaquim TrevorEncosto a testa no azulejo, sinto as gotículas frias que escorregam grudarem em mim. Fecho os olhos por um segundo, assopro um ar cansado, exausto, no último fio de força, não aguento mais.Não aguento esse distanciamento entre nós, seu desprezo, o olhar frio que jogou-me foi o fim. Por um momento, confesso, acreditei que no determinado momento em que seus olhos estacionassem aos meus, de alguma forma voltaria o amor que tinha por mim, todo aquele amor que eu perdi.Cerro os punhos, a água fria continua a escorrer, tensiono o corpo, recolhendo, está frio, muito frio, e eu a água, em temperatura baixa.Junto as sobrancelhas, minha garganta consome fechando por completo, a cabeça atinge-me algo profundo, choro. Puxo um ar profundo, as mãos estão coladas a parede, descolam devagar.Uma torrente compreensão no peito chega sem ser anunciada. Nu, ando dois passos atrás, estou sem ar, sem fôlego. Dói muito, a escala aumenta sem tamanho. Olho para os lados, as paredes do banhei