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Seu olhar é penetrante, mortal. Queria fazer o que fez da última vez, tirar-me do palco a força, dizer que sou sua e de mais ninguém. Não pode, e eu não quero. Acabou Joaquim. Estou livre se você. Meu coração não te quer mais.Percebo quando ele quase levanta, está furioso, pensa melhor e volta atrás . A íra está estampada em seus olhos. Sei o quanto me deseja, e como se corrói por não poder fazer o tempo voltar.Eu descobri a poucos dias através de Marco que ela o traía. Muito bem, trocou sua amante fiel, por sua ex esposa que todo ao longo do casamento o enganou. Boa escolha Joaquim.Desço do palco.Todos se levantam, caminho em meio aos convidados. Homens dos diversos padrões, em pé, encaram-me descaradamente, erguendo e bebericando suas taças de champanhes.Mulheres, algumas analisando-me com admiração, outras de inveja como Liandra. Em sua mesa provavelmente estão seus pais, uma mulher loira, e Joaquim.Estabiliza ao me ver, sorrio de lado com seu desconforto. A música está ao fi
Boa leitura ❤️Endireito a poltrona. Poucas pessoas a primeira classe. Aceito uns petisquinhos que uma das aeromoças oferecem, eu amo com louvor amendoim.Alongo o pescoço, enquanto mastigo e olho por fora do avião. Um novo lugar para recomeçar. Onde eu possa acalmar meu coração, aspirar ar puro e não me preocupar com o passado.Quase todo ele. Respiro pesado. Minha filha eu nunca deixarei, sinto sua falta, é claro, e nem por uma distância enorme eu a esquecerei. Espero que me perdoe um dia, perceba que fiz isso tudo porque eu precisava.—Loira.—Bernardo! —quase grito de surpresa. Ainda em choque arqueio minimamente o corpo e abraço meu amigo de longa data. Logo senta-se ao meu lado. —O que faz aqui seu louco!—Imagina que eu iria deixar minha melhor amiga, linda e maravilhosa, viajar sozinha para o caribe! Terra da la cucaracha.Gargalho quando acaba de falar em sua pose de Carmem Miranda.—Eu nem sei se é a terra da la cucaracha. —tento parar de sorrir. Ele é um presente em minha v
Gabriela está encantada, jamais viajou de avião, somente algumas horas de carro que foram aliás a ida dela para aquela casa de campo de Iara.Essa também é a primeira vez que conseguimos estar juntos, unidos novamente. Foram anos! É o que leram, anos para que minha filha voltasse a falar comigo, para que tivéssemos a mesma convivência de quando nasceu, de quando a peguei em meus braços e ela sorriu banguela para mim.Ainda saindo da maternidade, enrrolada a manta verde água, com a saída do meu clube de coração. Flamengo. Ela estava linda, e até hoje em dia, em cada vez que sorri, meu coração de pai se derrete.—Pai eu estou cansada.Reviro os olhos.—Dorme, eu te falei para dormir que a viajem duraria bastante tempo, está mais de oito horas acordada.—Eu não consigo dormir. —junta os lábios fazendo um biquinho.—É só fechar os olhos. —digo e volto a ler meu jornal. Não posso dar muita corda para Bibi que ela já quer puxar.A menina é teimosa como os pais. Não pregou os olhos. Cruzou a
Iara LaurenUm grande dia, movimentado e conturbado era o que me esperava. Estiquei meus longos braços debruçados sobre a cama, alongando o mais longe que eu pudesse.Relaxei a bochecha ao colchão quase derrotada pelo cansasso, eu não queria sair, talvez não fosse um dia de sair, o universo dezendo-me fica, e eu não poderia ficar. Teria que visitar uma de minhas lojas, a principal, no centro. Colocar em ordem algumas de minhas pendências deixadas de lado, enfim, trabalhar.A todo instante é o que mais faço desde minha chegada, ocupar minha mente, despiar literalmente da minha vida, dedicar aos estudos, o aprimoramento do dia a dia, o meu melhor em cada roupa que desenho e lanço ao mercado. É o que eu gosto, o que me motiva, o que escolhi para minha vida. Algo que está sarando, ou melhor, ocupando um lugar nunca antes descoberto em meu peito, o amor todo que dediquei-me aos outros, toda minha nova face, o que eu descobri de novo, dar e receber, amar e ser amada, coloquei o trabalho ao l
Desamarro meu cabelo a presilha, sorrindo boba enquanto ando pelo hotel. Muitas pessoas passam e olham estranho. Eu continuo a sorrir. Não acredito que há um serzinho aqui em minha barriga, eu prometo amar e o proteger muito, dar todo o carinho da terra, ser tudo o que ele precisa, ser pai e mãe, estar nas piores e melhores horas. Eu juro meu amor.—Marcelle Campos.—A mesa está pronta, esperando as senhoras. —a recepcionista loira, de um um coque um pouco baixo sorri animada para mim. Suspeito que saiba quem eu sou. —Mesa 07.—Ok. Obrigada. —sorrio de volta.Aos saltos batendo leves como meu humor ultimamente, caminho despreocupada pelo hall do hotel. Aqui não é muito luxuoso, o hotel é modesto, uma boa idealização de decoração, artes bacanas, quadros inovadores. Gostei muito.Dou dois passos para trás quando uma fã de óculos de garrafa, chega de supetão, parando-me ao meio do caminho, empolgada, muito empolgada com seu caderninho e caneta em mãos.—Iara Lauren! Eu não acredito, sou
Joaquim TrevorRepuxei o pano bordado a mão, esticando e esticando o tecido, enquanto a fúria gradualmente consumia-me em chamas altas.Isso não, isso não poderia acontecer, mas era o que se via. Iara, linda. Os cabelos minimamente abaixo dos ombros, em ondulações pacatas. Uma roupa elegante, a tecido fino como de costume. Um sorriso bonito, não um qualquer sorriso, era o melhor sorriso.Bochechas coradas, nada maquiada, não necessitava, o brilho enaltecia a pele, e denegrida qualquer artefato que ousasse tocar sua face e esconder o belo insolarado em seus olhos.Jogou o cabelo ao lado. Ela está feliz, muito feliz. Por um lado alegro-me por constatar que o tempo só a beneficiou, minha falta não foi sentida, pelo outro, meu consciente puni-me severamente por constatar que sua vida não parou por minha causa, ela não chorou pitangas, nem ao menos deixou qualquer sentimento "errado" a atinger, e não, não precisava ninguém me contar isso, eu conheço Iara Lauren, e sei muito bem que nem por
-Meu amor, por favor, abre para o pai.Toco mais três vezes a porta do banheiro, o silêncio é ouvido por fora. Toco outras três.-Querida, me desculpe por quase sempre mantê-la no escuro. Tem assuntos de adulto que nem sempre as crianças devem saber, muitas coisas eu não falo por isso, mas eu confio muito em você, eu te amo meu amor.Mais toques são ouvidos. Eu não sei quanto tempo estou aqui. Bati outras muitas vezes e nenhuma resposta quis dar. Estaciono minha testa a porta, descansando também a cabeça por tantos problemas não resolvidos, os quais eu nem ao menos sei por onde começar.-Meu amor... Abre. -peço pela milésima vez, exausto, fadigado, na última esperança que abra a porta para mim.-Eu quero a mamãe!Crispo os olhos por um instante.-A sua mãe não pode vir.-Porque papai? Hein? -um fungar é escutado. -Eu não quero mais ficar sem ela. Não quero voltar para o Brasil sem ter visto nem abraçado minha mãe, o senhor me deve isso.-Eu sei que sim, mas...-Mas, mas, o senhor semp
Boa leitura 🍄//Iara LaurenHoje acordei bem disposta, um sorriso grande de ponta a ponta não querendo sair do meu rosto. A ficha que vou ser mãe ainda não caiu por completo. É surreal, quase inacreditável que tudo isso está acontecendo, foram tantas lutas, tantas perdas.Ter mais de um aborto foi sem palavras. Uma dor imensa que não tenho nem profundidade, e nesse caso foi bem mais difícil, a dificuldade estava por eu a cada instante estar lúcida e consciente do que estava passando. Eu sabia o que ocorria, eu vivi cada dor, cada palavra e volta ao hospital a dizer, "Querida aconteceu novamente" com a cabeça baixa e cautelosa a falar.Eu assentia e falava: Está tudo bem. Como o ditado nos diz. Por fora bela viola, por dentro um pão bolorento, literalmente. Eu demonstrava estar bem, como se fosse indiferente, algo em meu cotidiano, o que não era uma mentira, se tornava costumeiro a cada instante. Balanço a cabeça. Não dessa vez, dessa vez será diferente e com fé, muita fé, eu creio qu