O carro deslizou pelas ruas com o silêncio mais barulhento que Aurora já experimentara. Ela olhava pela janela, os braços cruzados sobre o peito, tentando fingir indiferença. Mas por dentro, seu corpo ainda fervia. A tensão em seu pulso — onde ele a segurara — ainda latejava. A sensação de pertencimento que ele impusera com aquela simples frase que havia dito mais cedo— "Você é minha esposa agora" — ainda vibrava nos seus ossos.
Enrico, no banco do motorista, dirigia com os olhos fixos na estrada, a mandíbula travada, os dedos cerrados no volante como se fosse esmagá-lo. Cada músculo de seu corpo parecia tenso, como se ele lutasse contra um impulso primitivo.
Quando chega
Aurora acordou na manhã seguinte com uma sensação estranha, como se algo estivesse fora do lugar. O que era estranho pois havia passado a noite nos braços de Enrico, exatamente onde queria estar. Ela tentou ignorar, mas assim que desceu do quarto foi informada que tinha recebido um pacote, seu corpo inteiro se enrijeceu. A caixa era pequena, embrulhada com um papel escuro e um laço de cetim vermelho. Algo no presente a fez hesitar antes de pegá-lo, mas a curiosidade e o medo a venceram.Com as mãos trêmulas, ela desfez o laço e levantou a tampa. Seu estômago revirou ao ver o conteúdo: um buquê de lírios brancos, já começando a murchar, e um pequeno bilhete dobrado ao lado. Ela pegou o papel com relutância e leu as palavras escritas com uma caligrafia elegante, mas carregada de ameaça:
Foram dias suspensos no tempo. Como se o mundo lá fora, com suas ameaças, seus jogos de poder e perigos invisíveis, não existisse mais.Aurora acordava e já sentia a presença dele, antes mesmo de abrir os olhos. O cheiro de Enrico impregnava os lençóis, a pele dela, o travesseiro. Ele acordava cedo, mas sempre voltava para espiar se ela ainda dormia, para deslizar os dedos devagar por sua cintura, como quem toca algo precioso demais para se desfazer do contato tão rápido.Ela fingia dormir só para sentir. Para ouvir o som abafado do sorriso dele ao perceber que ela se aninhava um pouco mais em sua direção.O homem que todos temiam... era tão silenciosamente doce naqueles gestos que Aurora se via, vez ou outra, de cora&c
Aurora gritou o nome de Enrico como quem gritava por si mesma. Uma prece, um lamento, um último pedido ao destino que sempre lhe fora cruel. O som dos pneus queimando o asfalto ecoava na rua como um aviso tardio. Ele estava caído ali, imóvel. O homem que sempre fora maior do que a vida, o homem que parecia indestrutível.Agora era só um corpo vulnerável entregue ao chão frio.— Enrico! — A voz dela cortou o dia — desesperada, rouca e descomposta.As pessoas começaram a se aproximar. Vozes se misturavam, sons se atropelavam. O sangue escorria lento pelo rosto dele, desenhando linhas tortas, vermelhas. O motorista do carro fugira covardemente, como tudo que Tommaso representava. Aurora se ajoelhou ao lado de Enrico, as mãos trêmulas
Foram dias... semanas. Aurora já não sabia mais medir o tempo. O hospital era um mundo à parte, onde as horas se dissolviam em silêncio, esperança e medo. Ela vivia à beira de um abismo, presa entre o passado que sangrava e o futuro que ela temia encarar. Mas naquela manhã, o mundo dela estremeceu.— Aurora… ele está acordando — avisou uma enfermeira.Aurora ia para casa apenas tomar banho, trocar de roupa e dormir algumas horas, isso quando não adormecia no sofá do quarto de hospital. ficu amiga de toda a equipe de enfermagem e medicos, que admiravam seu empenho em permanecer ao lado do marido. Por um segundo, o coração dela esqueceu como bater. Ela havia ido a cafeteria buscar um café, mas levantou tão rápido da cadeira que o corpo protestou. Correu pelos corredores como quem fugia de si mesma. Ela entrou devagar, e lá estava ele, com os olhos abertos. Mas frios, estranhos, incrivelmente distantes.Ela parou na porta, em dúvida sobre como proceder, era um olhar que a repelia, a afa
Enrico se recostou na cadeira de couro escuro do escritório, iluminado apenas pela luz suave que vinha da janela, criando um ambiente sombrio, refletindo o clima da conversa. Seu olhar estava fixo nos papéis que Lucius havia colocado sobre a mesa, como se já estivesse antevendo a vingança se concretizando diante de seus olhos. Ele esfregou as mãos, uma sensação de prazer quase palpável nas pontas dos dedos.Lucius, por outro lado, parecia cada vez mais desconfortável, os óculos escorregando sobre o nariz enquanto ele tentava não demonstrar a crescente indignação. Sabia o quanto Enrico era capaz de fazer para atingir seus objetivos, mas aquilo ia além de qualquer coisa que ele já havia imaginado. O tom de voz de Enrico era calmo, mas havia um gelo nas palavras que deixava claro que a decisão estava tomada. No fundo, Lucius também sabia que seria tolo em tentar dissuadi-lo, mas o peso da ética ainda o incomodava.— Eu entendo que você esteja arrasado por tudo o que aconteceu, Enrico. Ma
Enrico Mansini era, sem dúvida, uma das figuras mais enigmáticas e influentes do setor de hotelaria e entretenimento de luxo, e sua ascensão ao topo não foi obra do acaso. Nascido em uma família de imigrantes italianos que se estabeleceram nos Estados Unidos, ele cresceu em um ambiente onde negócios e lealdades familiares se entrelaçavam de forma indissociável. Seu pai, um homem reservado e estrategista, foi quem fundou os alicerces do império de hotéis e cassinos, sempre mantendo uma estreita ligação com o submundo do crime organizado. Enrico, desde jovem, percebeu a importância dessa relação, e, ao contrário de muitos herdeiros que se distanciaram do legado familiar, ele mergulhou de cabeça nas complexas dinâmicas da máfia italiana, transformando essa herança em uma das maiores fontes de poder e influência do seu tempo.Sua habilidade de negociar com figuras do submundo, ao mesmo tempo que mantinha uma fachada impecável de empresário sofisticado, foi a chave para seu sucesso. Enrico
Aurora Vidal é uma jovem enfermeira de espírito forte e um passado marcado por tragédias. Criada em um bordel pela mãe, que era prostituta, Aurora conheceu desde muito cedo o lado sombrio da vida. As dificuldades e a violência a moldaram, tornando-a uma mulher desconfiada, especialmente em relação aos homens e ao amor. No lugar onde cresceu, viu e ouviu muitas coisas, coisas essas que eram mais que traumatizantes para uma criança. Alguns clientes que esbarravam com ela nos corredores, acreditavam que ela também estava disponível, mesmo quando ainda era apenas uma menina, e não foram poucas as propostas que ela havia recebido. Alguns eram verdadeiramente insistentes, chegando até mesmo a se tornarem perigosos. Com todas essas dificuldades ,ela havia conseguido crescer sem maiores danos, mas verdadeiramente impactada com toda a tristeza e dor que via nas mulheres que trabalhavam com sua mãe. Quando a mãe faleceu, ela tinha quase dezoito anos, seguiu morando no bordel por algum tempo,
Aurora não podia negar que a situação estava ficando cada vez mais surreal. A proposta de Enrico Mancini era insana, mas ele não estava ali para brincar. Ele a havia encurralado, e a única maneira de salvar seu pai era jogar o jogo dele. Mas isso não significava que ela fosse deixar de ser astuta.Ela encarou o homem à sua frente, sem perder a postura, enquanto o contrato ainda estava sobre a mesa, com a tinta fresca de sua assinatura. O estômago de Aurora revirava com a ideia de se submeter àqueles termos, mas havia uma coisa que ela sabia melhor do que ninguém: nem tudo era o que parecia. E, ao que parecia, Enrico Mancini não era apenas um lunático. Ele era astuto, mas ela também sabia jogar o jogo.— Senhorita Vidal.. - Enrico começou com um olhar astuto, mas arrogante.— O contrato está assinado. Agora, temos um acordo.Aurora levantou o olhar devagar, observando-o com uma expressão que misturava desafio e uma leve frustração. Ele podia ter o poder agora, mas ela não se entregaria