Já iria fazer um mês que eu e Sebastian estávamos trabalhando juntos e por incrível que pareça nós não discutimos mais. Sebastian continuava sendo o mesmo grosso e idiota de sempre, mas as vezes deixava seu lado gentil aparecer. Mas quando percebia isso, tratava de voltar a ser idiota. Como se fizesse isso de propósito.
O trabalho era bom, gostava de passar a tarde traduzindo e falando em francês com alguns dos sócios que ligavam para saber de algo. As roupas da coleção são incríveis e me sinto feliz por de certa forma fazer parte de algo assim. Sinto meu celular vibrar encima da mesa e pego sem tirar os olhos da tela do computador.
- Alô?
- Oi amiga, que saudade de ti.
- Oi Ju, também estou com saudades, mas o trabalho e a faculdade vêm me ocupando bastante tempo.
- Eu sei, mas hoje é sexta e iremos sair para dançar.
- Gostei da ideia, tem meses que não danço. – Adorava dançar quando morava em minha antiga cidade, fiz dança desde nova. Apesar de nunca ter coragem de me apresentar em público.
- Então lá pelas 20:00hs passo na sua casa e a gente resolve para onde vai.
- Tá, mas vem de Uber. Sei que vai beber e eu não sei dirigir.
- Tá bem mãe. Beijos, ate anoite. – diz desligando.
Quando ergo os olhos da tela do computador logo após desligar o telefone Sebastian está olhando pra mim com um olhar não muito amigável, mas logo volta a prestar atenção nos papeis que estava lendo. O restante da tarde passa devagar, chego em casa por volta das 19:00hs, tenho que correr ou não vai dar tempo de me arrumar. Quando estou quase pronta escuto Juliana bater na porta.
- Oii – diz me abraçando quando abro a porta.
- Oii Ju.
- Já esta pronta?
- Quase, só falta terminar de passar a maquiagem.
- Ok, quer ir pra onde? Abriu uma balada nova, todos estão dizendo que é boa. Dylan coloca a gente pra dentro de graça.
- O primo que me jogou na água?
- Esse mesmo. – Responde rindo.
- Você que sabe, só quero algum lugar pra dançar.
- Então termina de se arrumar que vou chamar o Uber.
Vinte minutos depois estávamos saindo de casa, rumo a Green Valley, uma balada nova que abriu alguns dias atrás. Parecia realmente boa, com as fotos que Ju me mostrou pelo celular. Trinta minutos depois chegamos e eu nunca tinha visto tanta gente, a entrada parecia um formigueiro. – Ju, a gente não vai conseguir entrar nunca.
- Claro que vai, Dylan disse que está nos esperando na porta. Vamos. – Diz me puxando pela mão. Logo encontramos seu primo e após muito esforço conseguimos entrar. Por dentro o lugar é incrível, tinha um palco onde algumas mulheres dançavam, uma escada que levava ao segundo andar onde só pessoas "pobres" ficavam. A Boate exalava dinheiro. Fomos direto para o bar.
- Vai querer o que Selena? – Ju fala em meu ouvido por conta da música alta.
- Nada, hoje eu só vim dançar. Não quero beber.
- Ok, e você Dylan?
- Uma dose de vodca. Para começar.
- Duas doses de vodca. – Diz para o Barmen. Já estava prevendo dois bêbados indo embora sem saber onde moravam. As doses chegam e eles viram de uma vez só. – VAMOS PRA PISTA. – Dylan grita nos puxando.
Desde criança gostei da dança, era como se eu conseguisse sentir as batidas da música dentro de mim e meu corpo criasse vida própria, sendo levado pela música. Certa vez quis fazer faculdade de dança, mas percebi que dança era algo que me ajuda a relaxar e não queria trabalhar com aquilo, acabar com o prazer que aquilo me dava. Nós três formamos uma espécie de roda e começamos a dançar, balançava meu quadril ao ritmo da música, enquanto passava a mão pelos cabelos. Logo começou a tocar funk e quem conseguiu ficar parado com um ritmo bom como aquele? Em algum ponto da noite Dylan sumiu entre as pessoas e não o vi mais, e Ju sumiu de vista logo depois, provavelmente com algum cara. Continuo dançando até sentir mãos grandes em minha cintura e um perfume que me acostumei sentir todas as tardes. Continuo dançando ate ele me virar e ficarmos frente a frente, ainda dançando passo minhas mãos por seu pescoço enquanto as deles então em minha cintura. Ele e nem eu dizemos nada, apenas ficamos nos olhando. Fomos parando de dançar aos poucos e ficarmos apenas ali parados nos encarando, até que nossos rostos começarem a se aproximar, ficamos a centímetro de distância, estava sentindo seu hálito de menta e a vontade de beijá-lo só aumentava, seus olhos alternavam em olhar para meus olhos e minha boca. Acabo prendendo meus lábios entre os dentes o que parece deixa-lo ainda mais aceso. Sua boca desde em direção a minha, ele ia me beijar e eu queria aquilo, só não sabia que queria tanto até aquele momento... Antes de sentir seus lábios uma briga começa ao nosso lado, pessoas e coisas começaram a cair. Acabo sendo empurrada e me soltando dele e não consegui mais encontra- ló no escuro e no meio de tantas pessoas, acabo desistindo e indo para o bar. O que eu estava fazendo? Iria beijar Sebastian? O idiota que me odeia? É, eu iria. – Uma água por favor. – Peço ao barmen. Ele logo me entrega. – Obrigada.
- Ei, encontrei você, estava te procurando. O que aconteceu ali no meio? – Ju aparece ao meu lado.
- Não sei bem, uma briga eu acho. – O lugar onde suas mãos estavam em minha cintura está quente até agora. Eu toda estou extremamente quente.
- Deve ter sido. Que horas são?
- Quase três da manhã. – Respondo depois de olhar no celular.
- Eu topo amanhecer aqui. – diz me olhando.
- Só saio daqui quando nos mandarem embora. – Nos levantamos e retornamos pra pista. Não vi Sebastian mais, e achava melhor assim. Só saímos de lá quando o Dj diz que a boate ia fechar. Quando chegamos do lado de fora, vemos o sol começando a dar sinal de vida. – Selena, vamos ver o sol nascer na praia, a praia é a alguns minutos daqui. Da para ir andando.
- Vamos, mas você sabe que a gente não é normal, não é? Acabamos de sair da boate e vamos para a praia? – digo rindo. A praia era mesmo perto, menos de 10 minutos e estavas chegando. Tiramos nossos saltos e sentamos na areia, o amanhecer sempre foi algo que me encantava, mas o daqui era sobrenatural, era como se o sol estivesse saindo de dentro do mar. Enquanto olho para o céu, penso em Sebastian e nosso quase beijo, ele sentiu o mesmo que eu, nossos corpos se chamavam, é como se meu corpo estivesse quente até agora. Só não faço ideia do que vai acontecer segunda quando nos vermos. – Vamos tirar uma selfie Selena, esse momento merece. – Ju fala me tirando dos meus pensamentos. Sorrimos as duas para o celular, com um por do sol como papel de fundo. Depois de algum tempo resolvemos ir embora e paramos em uma lanchonete que ficava em frente à praia, pois eu estava com um buraco negro no estomago. Já eram quase 8:00hs quando resolvemos ir embora pra casa, chamamos um Uber, no caminho para casa fomos conversando coisas aleatórias, até sentir o carro frear bruscamente.
Tudo acontece extremamente rápido, apesar de estar com cinto, minha cabeça bate no vidro do carro e no segundo seguinte o carro leva uma pancada e a última coisa que ouço é o grito de Ju antes de tudo ficar completamente escuro...
Antes mesmo de abrir meus olhos sinto meu corpo todo doer. Quando os abro uma luz forte os invade me obrigando a fecha-los novamente. Quando consigo me acostumar com a claridade percebo que não estou em casa, ou em qualquer lugar conhecido. Procuro em minha mente o que aconteceu e tudo vem como um soco, a boate, a praia e o acidente, me fazendo sentir uma dor forte na cabeça. Sem permissão meus olhos se enchem de lagrimas e tento me levantar mais uma vez o que me faz perceber que meu braço direito está engessado, o que não tinha percebido até o momento. A porta do quarto se abre e minha mãe entra. Calma, minha mãe?- Mãe? – Minha voz sai grossa e ranha minha garganta pela falta de água.- O meu Deus, você acordou minha filha.
SebastianQuando soube do acidente, eu ainda sentia seu perfume em mim. E o medo de nunca mais senti-lo era gigantesco, o medo de não ver seus olhos escuros e tão expressivos era ainda pior. Quando fui ver minha irmã no hospital, sem que ninguém soubesse entrei no quarto de Selena e reparei no quanto estava sem cor, seus lábios já não tinham mais o vermelho de sempre, mas ainda sim era linda. Fiquei horas ali sem que ninguém soubesse, pedindo pra qualquer ser que me ouvisse que a trouxesse de volta.Quando ela acordou queria pôr tudo ir vê-la, mas não podia. O alivio era gigantesco por ela estar de volta, e eu ainda não havia descoberto porque isso era tão bom. A ideia de perde-la era dolorosa. Passo a mão no cabelo sentado em minha cadeira n
- Por favor, não faça isso. – Suplico. Antes que possa responder ou qualquer outra coisa, sinto seu corpo ser puxado de cima do meu, vejo um vulto e no segundo seguinte, ele está no chão ao meu lado com Sebastian desferindo socos em seu rosto. Depois de incontáveis socos, vejo o desconhecido desmaiado e com o rosto manchado de sangue. – Sebastian já chega, por favor.Só aí ele me olha e vem ate mim, me levantando e me abraçando. Choro em seus braços, um choro de alivio, ele me abraça forte e me sinto protegida. Quando consigo controlar meu choro me afasto apenas o suficiente para olhar em seu rosto. – Obrigada Sebastian, eu não sei o que poderia ter acontecido se não tivesse chegado. – Eu sabia o que podia acontecer, nos dois sabíamos, volto a chorar e meu corpo treme
Já tinham quase trinta dias que Sebastian havia viajado, conversávamos quase todos os dias por telefone com assuntos relacionados ao trabalho. As vezes um de nós soltava um ''Estou com saudades''. Nessas horas a saudade batia mais forte que o normal.Eu ainda tinha o maravilhoso gesso em meu braço, o tiraria daqui 3 dias e estava contando os dias. Eu tentava ao máximo preencher minha cabeça com coisas do trabalho e faculdade, para não pensar tanto em Sebastian e o que eu sentia por ele, e isso estava sendo fácil fazer. O aniversario de Ju é daqui 2 semanas e ela resolveu que quer uma festa para completar seus 21, um baile de máscaras, não posso negar, eu adoro esse tipo de festas, mas dava muito trabalho. As coisas estavam quase todas encaminhadas, mas ainda faltava o vestido e ela não conseguia escolher,
Chegamos em uma casa no fundo da fazenda, era como uma casinha pequena com quarto e cozinha americana. Apesar de já ter vindo na fazenda, nunca havia vindo aqui.- Eu não conhecia essa casinha, é tão linda.- Quase ninguém conhece, construí quando tinha 19 anos. Gostava de vir pra cá pensar. Depois me mudei pra Boston e não vim mais.- Entendo, como foi a viagem? Você ainda vai voltar? – Aquela pergunta me causava certo medo, mesmo não querendo admitir para mim mesma, eu não queria de forma alguma que ele voltasse.- Não volto mais, não por agora. Fiz tudo o mais rápido que o previsto para voltar logo. – Sebastian volta para pe
Subo as escadas sentindo os olhos de Sebastian em mim, quando chego no quarto de Ju ela ainda dorme. Me deito na cama com ela e expiro o cheiro de Sebastian que esta na camisa e logo durmo. Quando acordo, Ju já não está mais na cama, olho no relógio e já são 11:00hs da manhã, levanto e tomo banho. Quando desço escuto vozes na cozinha e vou para lá. Todos estão lá, com um homem mais o menos da idade de Sebastian que não conheço.- Oi gente. – Digo quando entro.- Bom dia. – Um coro de vozes me responde. – Querida, esse é meu sobrinho Victor, ele veio de Londres passar um tempo com a gente.- Vocês disseram que ela era bonita, mas não sabia que era tanto. &ndas
SebastianSelena continua me olhando como se não acreditasse no meu pedido, sua carinha perdida a deixa fofa. – Sebastian, você está falando sério?- Sim. – Ela tenta se levantar, mas prendo suas pernas entre as minhas, não deixando que se levante. Ate minutos atrás eu não acreditava que realmente havia lhe pedido em namoro. Mas eu preciso de alguma maneira poder chama-la de minha. A pergunta saiu sem que eu ao menos percebesse, quando vi já havia perguntado e não me arrependo. De certa forma sua resistência em aceitar me causa certa tensão.- Não vai sair daqui antes de me dar uma resposta.- Sebastian, você sabe o que está me p
Meu coração doía ao olhar Sebastian daquela forma, sua dor era visível e não era para menos. Perde um filho e descobrir que a pessoa que amava não o amava da mesma forma não deveria ser fácil. Toda sua raiva e seu rancor agora faziam sentido, ele aguentou isso tudo sozinho, guardou tudo para si mesmo.O abraço forte, sentindo as mãos de Sebastian apertar mais envolta de mim, é estranho e ao mesmo tempo bom. Nos conhecemos a tão pouco tempo, namoramos a algumas horas e confio tanto nele. E agora vejo que ele em mim. Sebastian levanta a cabeça e me encara com seus olhos vermelhos pelo choro, minha mão sobe para seu rosto como já fiz dezenas de vezes e não me canso de fazer.- Está melhor?
Último capítulo