Sebastian
Quando soube do acidente, eu ainda sentia seu perfume em mim. E o medo de nunca mais senti-lo era gigantesco, o medo de não ver seus olhos escuros e tão expressivos era ainda pior. Quando fui ver minha irmã no hospital, sem que ninguém soubesse entrei no quarto de Selena e reparei no quanto estava sem cor, seus lábios já não tinham mais o vermelho de sempre, mas ainda sim era linda. Fiquei horas ali sem que ninguém soubesse, pedindo pra qualquer ser que me ouvisse que a trouxesse de volta.
Quando ela acordou queria pôr tudo ir vê-la, mas não podia. O alivio era gigantesco por ela estar de volta, e eu ainda não havia descoberto porque isso era tão bom. A ideia de perde-la era dolorosa. Passo a mão no cabelo sentado em minha cadeira no escritório, a essa hora seus pais já estão no aeroporto para irem embora, são pessoas simpáticas e só me faz por ainda mais em duvida se ele é realmente igual a Megan. Mas, eu ainda não consigo, não posso confiar em alguém, o meu medo e dor falam mais alto.
Meu celular apita com a chegada de uma nova mensagem "Selena ficara aqui em casa ate se recuperar totalmente, não seja grosseiro se a vir aqui.'' Desde nossa briga no escritório mamãe tomou certo trauma daquilo acontecer novamente.
Chego em casa já passam das onze da noite, tomo banho e me deito, assim que fecho os olhos, sua imagem vem a minha mente, tem sido assim desde a noite da boate. Todas as vezes que fecho os olhos ela aparece e vem me tirando o sono desde então. Quando olho para o relógio de novo já são uma da manhã, desisto de tentar dormir e resolvo ir à cozinha procurar um remédio que me ajude dormir. Quando estou voltando para o quarto escuto alguém descendo as escadas no escuro e espero na curva da escada para ver quem é. Antes de dar sequer um passo, sinto a pessoa bater de frente comigo e enquanto impeço quem quer que seja de cair, seu perfume me invade e já tenho certeza de quem é. Ficamos ali em silencio no escuro com apenas nossas respirações sendo ouvidas. Sinto seu corpo grudado ao meu e a vontade de beija-la me volta com tudo.
Havia se passado segundos, minutos ou horas. Eu não sabia, meus olhos não eram capazes de desviar dos seus. Meus olhos haviam se acostumado com a escuridão então já conseguia ver o contraste de seu rosto. Minhas mãos saem da sua cintura e sobem para sua nuca, acariciando a mesma e sinto seu corpo todo arrepiar e gosto, não sou só eu que sinto algo. Não sei se por impulso ou qualquer outra coisa eu desço minha boca em direção a sua, apesar do escuro vejo todas as suas reações, o fechar dos olhos e o abrir lento de seus lábios para receber os meus, pedi a Deus que ele nunca permitisse esquecer aquela cena, ela parecia uma sereia de tão bonita. Os cabelos espalhados pelo rosto e a boca entreaberta. Sem conseguir me conter junto nossos lábios, ela solta um gemido parecido com um ronronar o que me faz colar nossos corpos ainda mais. Seus lábios são doces, ela os abre ainda mais dando permissão para que minha língua entre e assim o faço. Nos separamos por falta de ar, os dois ofegantes e não consigo fazer nada além de olha-la, a boca inchada e avermelhada pelo beijo de segundos atrás, a puxo e mais uma vez nos beijamos, nos separamos e ela abaixa a cabeça.
– Isso foi...
- Bom?
- Sebastian, eu não sei se isso foi certo.
- Eu sei, mas não pude resistir. Me desculpe.
- Não é como se você tivesse feito isso sozinho – Diz rindo e mesmo no escuro sei que esta vermelha. – Mas acho melhor isso não voltar a acontecer. – Diz se afastando.
- É, você tem razão. Isso não vai voltar a acontecer. – Digo colocando as mãos no bolso da calça. – Boa noite. Digo indo rumo a escada e subindo dois degraus de cada vez.
Quando me deito tenho ainda menos sono do que quando desci. Ainda sinto seu corpo colado ao meu e sinto e o sabor dos seus lábios. Tenho a sensação de que não conseguirei ficar longe por muito tempo, precisava sentir seus lábios ao menos mais uma vez. Eu não conseguiria ficar longe por muito tempo.
Selena
Fico o olhando subir a escada e sumir no corredor, fico ali parada ainda tentando entender o que aconteceu. É claro que já havia beijado antes, e todos foram bons, mas esse? Nenhum se comparava, sua língua era atrevida e ele tinha pegada, isso eu não podia negar. Porque ele tinha que ter o beijo tão bom? Juntei todas as minhas forças para dizer que aquilo era errado, apesar de querer muito mais, não podíamos. Aquilo era errado e Sebastian não tinha cara de que namorava, aquilo era só um beijo eu sei, mas sabia que se ficássemos trocando beijos eu acabaria apaixonada e com o coração quebrado e além de tudo a duas semanas atrás, Sebastian me odiava, ou ainda odeia. Eu não fazia ideia.
Entro na cozinha a procura de algo para comer, e acho um sanduiche natural na geladeira e sento perto do balcão para comer. Após comer subo para o quarto e ainda sinto meu corpo quente, minha boca ainda inchada pelos beijos que trocamos, acabo pegando no sono com esses pensamentos.
No dia seguinte acordo com dor no meu braço e vejo que já são nove da manhã, fico meia hora tentando tomar banho e depois de muito custo consigo. Poderia sim chamar Ju ou tia Clara, mas precisava conseguir ao menos tomar banho. Como hoje é domingo resolvo colocar apenas um vestido, e desço.
- Bom dia pessoal. – Digo assim que entro na cozinha, estão todos lá, incluindo Sebastian.
-Bom dia. – Dizem todos juntos. – Querida, uma amiga do colegial de Paulo nos convidou para ir almoçar em sua casa hoje, quer ir conosco?
- Não vou atrapalhar não tia?
- Claro que não filha. Irá conosco certo?
- Se é assim, vou sim. – Digo sorrindo.
- Ótimo, então iremos em dois carros, pois Joaquim amigo de Sebastian e sua mãe também irá conosco. Dessa forma, Ju, Selena e Joaquim vão junto com Sebastian. E Paola irá comigo e com Paulo, tudo bem? – Todos nos assentimos.
Uma hora e meia depois estávamos entrando no carro, indo buscar Joaquim em uma casa no condomínio mesmo e depois iriamos para o aniversário, chegamos em uma casa tão grande quanto a de Ju, todos descemos do carro na mesma hora que uma mulher da mesma idade que os pais de Ju e um homem, que deve ser o Joaquim, saem pela porta.
- Que saudade irmão, quanto tempo. – diz abraçando Sebastian. – Bom te ver irmão. Essa é minha irmã Juliana, deve se lembrar dela e essa é uma amiga da família, Selena. – Nos cumprimentamos e logo estávamos todos dentro do carro.
Algum tempo depois entramos na parte rural de Florianópolis, chegamos no local do almoço, uma fazenda grande e bonita. Quando descemos do carro cumprimentamos algumas pessoas e nos sentamos todos em uma mesa embaixo de uma arvore. Observo as pessoas em nossa volta, a casa grande que parece casas de filme americano e percebo um caminho que leva para a parte de trás da casa, me estilo na cadeira e não consigo ver onde leva.
- Vou andar um pouco. – Digo quando me levanto da mesa e começo a andar em direção a parte de trás da casa. Ando mais um pouco por entre as arvores e encontro um lago de tirar o folego, o lugar ao todo era lindo, as arvores escondiam sua beleza. Fico alguns minutos olhando sua beleza, era de hipnotizar qualquer um.
- Bonito, não é? – Uma voz desconhecida fala atrás de mim. Quando me viro tem um homem parado a menos de dois metros de mim, seus olhos são escuros e sinto um calafrio. – Sim, muito...Preciso ir, com licença. Quando tento passar ao seu lado ele entra em minha frente e segura meu braço, percebo que deve ser no mínimo 15 centímetros maior que eu. – Porque a pressa? Vamos conversar um pouco.
- Eu realmente preciso ir, meus amigos me esperam. – Tento sorrir, mas começo a sentir medo do estranho em minha frente.
- Ah, não se preocupe, tenho certeza que não iram de importar. Você é muito bonita. – Diz quando sua mão que estava em meu braço começa a acaricia-lo. Tento me afastar, mas ele é muito mais forte que eu e não permite, com apenas um braço não consigo empurra-lo. – Por favor, me solte.
- Porque princesa? Não farei nada que você não queira. –Então eu começo a me desesperar, não gostei nada daquelas palavras e imaginava o que poderia acontecer ali. – Vou gritar se não me soltar, não estou brincando.
- Pode gritar linda, a festa esta com som e estamos longe do local e ninguém ira te ouvir, pode gritar à vontade. Será ainda mais prazeroso te ver gritando.
- Por favor, me solte. Juro que não conto para ninguém o que tentou fazer. Por favor.
- Você vai gostar princesa, não se preocupe. – Uma de suas mãos descem para a parte de baixo do vestido que estava usando e por puro reflexo minha mão vai direto em sua cara, o que o deixa com raiva, me joga no chão com força e sem um dos braços para apoiar acabou caindo e batendo meu braço engessado o que me faz gritar de dor.
- ISSO É PARA VOCÊ APRENDER A NÃO BATER EM MIM, OUVIU VADIA? – Começo a chorar, tentando me levantar o que é em vão, já que ele vem para cima de mim, tentando rasgar meu vestido, me debato embaixo dele, mas ele é bem mais forte, começo a gritar e pedir por favor, o que não o faz hesitar nem por um segundo. Sinto seus lábios em meu pescoço e suas mãos entrarem por entre meu vestido. Choro de desespero e sem conseguir acreditar que isso está mesmo acontecendo.
- Por favor, não faça isso. – Suplico. Antes que possa responder ou qualquer outra coisa, sinto seu corpo ser puxado de cima do meu, vejo um vulto e no segundo seguinte, ele está no chão ao meu lado com Sebastian desferindo socos em seu rosto. Depois de incontáveis socos, vejo o desconhecido desmaiado e com o rosto manchado de sangue. – Sebastian já chega, por favor.Só aí ele me olha e vem ate mim, me levantando e me abraçando. Choro em seus braços, um choro de alivio, ele me abraça forte e me sinto protegida. Quando consigo controlar meu choro me afasto apenas o suficiente para olhar em seu rosto. – Obrigada Sebastian, eu não sei o que poderia ter acontecido se não tivesse chegado. – Eu sabia o que podia acontecer, nos dois sabíamos, volto a chorar e meu corpo treme
Já tinham quase trinta dias que Sebastian havia viajado, conversávamos quase todos os dias por telefone com assuntos relacionados ao trabalho. As vezes um de nós soltava um ''Estou com saudades''. Nessas horas a saudade batia mais forte que o normal.Eu ainda tinha o maravilhoso gesso em meu braço, o tiraria daqui 3 dias e estava contando os dias. Eu tentava ao máximo preencher minha cabeça com coisas do trabalho e faculdade, para não pensar tanto em Sebastian e o que eu sentia por ele, e isso estava sendo fácil fazer. O aniversario de Ju é daqui 2 semanas e ela resolveu que quer uma festa para completar seus 21, um baile de máscaras, não posso negar, eu adoro esse tipo de festas, mas dava muito trabalho. As coisas estavam quase todas encaminhadas, mas ainda faltava o vestido e ela não conseguia escolher,
Chegamos em uma casa no fundo da fazenda, era como uma casinha pequena com quarto e cozinha americana. Apesar de já ter vindo na fazenda, nunca havia vindo aqui.- Eu não conhecia essa casinha, é tão linda.- Quase ninguém conhece, construí quando tinha 19 anos. Gostava de vir pra cá pensar. Depois me mudei pra Boston e não vim mais.- Entendo, como foi a viagem? Você ainda vai voltar? – Aquela pergunta me causava certo medo, mesmo não querendo admitir para mim mesma, eu não queria de forma alguma que ele voltasse.- Não volto mais, não por agora. Fiz tudo o mais rápido que o previsto para voltar logo. – Sebastian volta para pe
Subo as escadas sentindo os olhos de Sebastian em mim, quando chego no quarto de Ju ela ainda dorme. Me deito na cama com ela e expiro o cheiro de Sebastian que esta na camisa e logo durmo. Quando acordo, Ju já não está mais na cama, olho no relógio e já são 11:00hs da manhã, levanto e tomo banho. Quando desço escuto vozes na cozinha e vou para lá. Todos estão lá, com um homem mais o menos da idade de Sebastian que não conheço.- Oi gente. – Digo quando entro.- Bom dia. – Um coro de vozes me responde. – Querida, esse é meu sobrinho Victor, ele veio de Londres passar um tempo com a gente.- Vocês disseram que ela era bonita, mas não sabia que era tanto. &ndas
SebastianSelena continua me olhando como se não acreditasse no meu pedido, sua carinha perdida a deixa fofa. – Sebastian, você está falando sério?- Sim. – Ela tenta se levantar, mas prendo suas pernas entre as minhas, não deixando que se levante. Ate minutos atrás eu não acreditava que realmente havia lhe pedido em namoro. Mas eu preciso de alguma maneira poder chama-la de minha. A pergunta saiu sem que eu ao menos percebesse, quando vi já havia perguntado e não me arrependo. De certa forma sua resistência em aceitar me causa certa tensão.- Não vai sair daqui antes de me dar uma resposta.- Sebastian, você sabe o que está me p
Meu coração doía ao olhar Sebastian daquela forma, sua dor era visível e não era para menos. Perde um filho e descobrir que a pessoa que amava não o amava da mesma forma não deveria ser fácil. Toda sua raiva e seu rancor agora faziam sentido, ele aguentou isso tudo sozinho, guardou tudo para si mesmo.O abraço forte, sentindo as mãos de Sebastian apertar mais envolta de mim, é estranho e ao mesmo tempo bom. Nos conhecemos a tão pouco tempo, namoramos a algumas horas e confio tanto nele. E agora vejo que ele em mim. Sebastian levanta a cabeça e me encara com seus olhos vermelhos pelo choro, minha mão sobe para seu rosto como já fiz dezenas de vezes e não me canso de fazer.- Está melhor?
- Tenho namorado, não quero sair com você! – Respondo antes que Sebastian responda e crie uma confusão no meio do shopping.- Que pena, se algum dia mudar de ideia é só me ligar. – Diz me estendendo um cartão. – Ela não vai querer, enfia esse seu cartão no – Beijo seus lábios antes que saia algo desnecessário da sua boquinha linda. Quando paramos o beijo o homem já não está mais lá. Ainda bem.- Esse cara não tem escrúpulos, como que chega em uma pessoa assim?- Isso é ciúmes senhor Sebastian?- É Selena, é muito ciúme sim!
- Sebastian? – Ele tem uma carinha de sono engraçada, com a gravata na mão e os primeiro botões da camisa abertos. Ele desce seu olhar por meu corpo e junta as sobrancelhas.- Acabei de chegar de São Paulo. E ontem foi um inferno dormir sem você, não quero rolar na cama a noite toda de novo. Me deixa dormir aqui? E você costuma atender a porta com essas roupinhas minúsculas? – Ele se desencosta da porta quando dou espaço para que entre, fecho a porta e me viro, ele ainda me olha. Sorrio e vou até ele, quando chego perto ele coloca suas coisas no sofá e passa os braços ao meu redor. O beijo e, mais uma vez percebo o quanto de saudade eu senti, suas mãos andam por minha cintura e costas enquanto as minhas então no lugar que mais amam estar, seus cabelos.
Último capítulo