Max se mexeu devagar, os cílios pesados se abrindo aos poucos. Os olhos dele me encontraram, ainda sonolentos, mas tão azuis que por um instante eu esqueci como se respirava.
— Hm… — a voz saiu rouca, arranhada pelo sono. — Isso é um sonho ou você realmente tá me olhando como se gostasse de mim?
Sorri, baixinho.
— Depende… você vai se comportar hoje?
Ele riu de leve, a risada quente vibrando contra meu peito quando se aproximou, ainda deitado, e tocou minha cintura com carinho.
— Se isso significa ficar aqui, desse jeito, com você… talvez eu consiga.
Deslizei a mão pro cabelo bagunçado dele, penteando com os dedos, enquanto os olhos dele se fechavam por um segundo, como se aquele
Dois meses depoisAcordei com o coração acelerado, mesmo sem pesadelos. A claridade suave da manhã entrava pelas frestas da cortina, iluminando o quarto em tons dourados. Max ainda dormia ao meu lado, respirando profundamente, o rosto mais calmo do que eu me lembrava de já ter visto.Virei de lado, olhando pra ele por um instante. Aquela versão dele, tranquila, vulnerável... era quase cruel. Porque enquanto ele parecia em paz, eu sentia como se tivesse um redemoinho dentro de mim.O enjoo da noite passada... o enjoo do dia anterior. A dor de cabeça. A exaustão. Tudo começava a formar um desenho incômodo na minha mente.E foi aí que me dei conta.Menstruação.Meus olhos se arregala
O quarto da Clara era escuro e silencioso, só um filete de luz escapava pela fresta da cortina. Eu entrei devagar, sentindo o cheiro de coberta, sono e perfume adocicado.Me aproximei da cama e me sentei com cuidado na beirada, olhando pra ela ali, toda enrolada no edredom.— Clara... — chamei baixinho, tocando de leve no ombro dela.Ela resmungou, se virou de lado com os olhos ainda fechados, a voz arrastada de sono:— Hmm? Que foi?Engoli em seco. A garganta apertada, as mãos geladas.— Porra... — soltei num sussurro, sentindo o peito pesar. — Acho que tô grávida.Ela abr
— Lotte…— Fala — pedi, de pé, o coração disparando.Ela respirou fundo.— Todos positivos.Meus olhos encheram instantaneamente. Um silêncio caiu entre nós, denso, pesado, até que Clara me puxou pra um abraço apertado, acolhedor.— Vai ficar tudo bem, tá? Eu tô aqui. E... agora você tem outra vida dentro de você. Isso é grande. É lindo. E a gente vai descobrir como fazer isso juntas.Eu não conseguia falar. Só chorar. Um choro silencioso, molhado, assustado e maravilhado ao mesmo tempo.Eu estava gr
O portão eletrônico se fechou atrás de mim com um ruído metálico, abafado pelo som do meu próprio coração. Eu respirei fundo antes de desligar o carro — o carro dele — e desci devagar, como se adiar cada passo pudesse atrasar também o que vinha pela frente.Ainda era cedo, o céu tinha aquele tom azul frio de manhãs em que o sol não sabe se quer sair ou não. As árvores balançavam preguiçosas com o vento leve, e por um momento eu desejei ser uma delas. Lenta. Estável. Sem surpresas.Mas minha vida, definitivamente, não era uma árvore.Fechei a porta do carro e comecei a caminhar até a entrada da casa.E foi aí que ouv
MaxO ar gelado da manhã cortava meu rosto como navalhas, mas não era suficiente pra acalmar o turbilhão dentro de mim.Cinco da manhã. Eu estava na rua correndo feito um louco com Daniel, que tinha acabado de voltar de viagem e já estava me enchendo o saco como se nunca tivesse ido.— Vai me dizer que você realmente não dormiu direito essa noite de novo? — ele perguntou, ofegante, mas com aquele tom sarcástico de sempre. — Max, você vai surtar desse jeito.— Ela sumiu ontem. No meio da madrugada. Com meu carro — falei entre dentes, os músculos da mandíbula tão tensos quanto os das pernas. — Não atendeu. Não mandou mensagem. Nada.
Subi as escadas em silêncio, os músculos ainda reclamando da corrida, mas a mente mais leve. Abri a porta do quarto devagar, já me preparando pra ver o caos, mas o que encontrei me desarmou completamente.Charlotte estava esparramada na cama, dormindo como se o mundo lá fora não existisse. Os cabelos espalhados pelo travesseiro, uma perna dobrada, a outra esticada, a camisola fina enroscada na cintura, deixando as curvas dela à mostra — especialmente aquela bunda que parecia feita pra me provocar.Suspirei, passando a mão pela nuca enquanto um sorriso lento nascia no canto da minha boca. Não era justo ela me ter desse jeito. Mas ela tinha. Completamente.Fui pro banheiro sem fazer barulho, tirei a camiseta suada, o moletom, entrei no chuveiro quente e deix
CharlotteA pilha de papéis nos meus braços era ridiculamente grande, quase um insulto pessoal. Maximilian Steele tinha feito isso de propósito, eu sabia. Ele sabia. Documentos do mês passado? Sério? Era só mais uma das formas dele de testar minha paciência. Como se não bastasse lidar com sua presença intimidadora e aquele olhar frio que me fazia sentir como uma funcionária dispensável, agora eu também tinha que carregar peso extra logo de manhã.Eu atravessava o lobby da Steele Medical Supplies, a empresa de vendas para hospitais onde eu trabalhava há anos, tentando equilibrar os documentos e o copo de café sem derramar nada. O som dos saltos ecoava pelo chão de mármore e, quando cheguei ao elevador, não precisei olhar para saber que alguns olhares estavam sobre mim. Todos conheciam Maximilian Steele. E todos sabiam que, de alguma forma, ele tinha um prazer sádico em me sobrecarregar.— Precisa de ajuda? — uma voz masculina perguntou.Olhei de lado e vi Daniel Reed, o melhor amigo de
Suspirei pesadamente e, antes que percebesse, já estava planejando formas sutis — e não tão sutis assim — de me vingar. Nada muito grave. Só o suficiente para que ele sentisse o peso do inferno que eu chamava de "meu humor ruim". Talvez trocar o açúcar do café dele por sal. Ou… quem sabe… adicionar algumas gotas de laxante?A ideia me fez sorrir. Imaginar Maximilian Steele, o todo-poderoso CEO, correndo para o banheiro no meio de uma reunião importante? Ah, isso era quase poético.— Charlotte Grant, você é um gênio.Mas, infelizmente, minha moral (e minha vontade de continuar empregada) ainda eram um obstáculo. Então, minha vingança teria que esperar.Pelo menos por enquanto.Com minha pequena vingança mental me dando um alívio temporário, finalmente cheguei ao restaurante. Escolhi uma mesa perto da janela e pedi um prato que não apenas me enchesse, mas também compensasse o estresse matinal.Enquanto esperava a comida, aproveitei para checar meu celular. Nenhuma mensagem importante, ex