CLAIREO homem que nos recebeu na loja tinha uma presença intimidadora. Ele usava um terno perfeitamente alinhado, mas seu olhar carregava algo sombrio. Sua frase — "Lucas, quanto tempo" — ficou reverberando no ar como um alerta.Lucas manteve-se calado, mas vi o músculo em sua mandíbula se contrair. Ele não tinha memória de quem era aquele homem, mas, claramente, algo dentro dele reagiu. Eu toquei levemente seu braço, um gesto quase imperceptível, mas suficiente para lembrá-lo de que estava ali com ele.— Perdoe-me, mas… nos conhecemos? — Lucas perguntou, com a voz controlada.O homem soltou uma risada baixa, cheia de desdém.— Ah, Lucas… sempre tão perspicaz. — Ele deu um passo em nossa direção, cruzando os braços. — Ou será que seu acidente apagou mais do que eu imaginava?Meu coração disparou. Como ele sabia do acidente?— Quem é você? — perguntei, tentando manter meu tom firme.Ele voltou o olhar para mim, e um sorriso falso surgiu em seus lábios.— Matteo Russo, senhora. — Sua v
CLAIREAs horas seguintes foram tomadas por uma inquietação que parecia se expandir dentro de mim. Lucas estava mais introspectivo do que nunca, e eu sabia que ele estava travando uma batalha interna. A descoberta no artigo sobre sua possível traição a Matteo era uma peça importante do quebra-cabeça, mas também parecia ser apenas a ponta do iceberg.Gabriel brincava no pequeno jardim do hotel enquanto Lucas e eu permanecíamos sentados na varanda, mergulhados em um silêncio quase palpável. O sol começava a se pôr, lançando sombras longas que pareciam refletir o peso da nossa situação.— Claire, eu quero ir até Matteo — Lucas disse finalmente, rompendo o silêncio.Senti um frio na espinha ao ouvir suas palavras.— Lucas, você não pode confiar nele. Ele está jogando, tentando nos manipular.Ele olhou para mim, e a intensidade em seus olhos fez meu coração vacilar.— Eu sei disso. Mas se ele realmente sabe sobre o meu passado, não posso ignorar. Ele é perigoso, mas a falta de memória tamb
CLAIREO som da porta se fechando ecoou pela casa, deixando um vazio inquietante no ar. Lucas tinha saído para enfrentar Matteo, e embora ele tivesse me prometido que voltaria, o peso da incerteza apertava meu peito. Gabriel brincava no tapete da sala, a inocência em seu sorriso contrastando com a turbulência que carregávamos.Peguei meu telefone, hesitando por um momento antes de discar o número de Giulia. Ela era a única pessoa que podia me ajudar a monitorar a situação, mesmo que Lucas tivesse insistido em ir sozinho.— Claire? — A voz de Giulia atendeu no terceiro toque, firme, mas preocupada.— Lucas foi encontrar Matteo. Ele recebeu um bilhete com um endereço. — Minhas palavras saíram rápidas, quase atropelando-se umas às outras.— Idiota. Ele não devia ter ido sozinho. Matteo é um mestre em armar ciladas.— Eu sei, mas ele achou que não tinha escolha. Preciso que você o rastreie, Giulia. Ele pode precisar de ajuda.— Estou a caminho. Mande-me o endereço, e eu vou atrás dele.Re
CLAIREA manhã chegou acompanhada de um céu nublado, como se o universo refletisse o turbilhão de emoções dentro de mim. O hotel estava silencioso, exceto pelo som abafado de nossos passos enquanto preparávamos nossas coisas. Lucas, mais focado do que eu jamais o havia visto, organizava tudo com precisão quase militar. Giulia, ao telefone, discutia detalhes de nosso próximo destino com um tom impaciente e cortante.Gabriel ainda dormia, aconchegado na cama com seu urso de pelúcia. Observei-o por um momento, minha mão pousada sobre sua pequena cabeça. Ele era o centro do meu mundo, a razão pela qual eu continuava a lutar, mesmo quando o medo ameaçava me paralisar.— Claire, estamos quase prontos. — A voz de Lucas interrompeu meus pensamentos.Virei-me para encontrá-lo parado na porta, o olhar cansado, mas determinado. Ele estava vestido com sua jaqueta de couro preta, um símbolo de sua força e resistência. Mas eu sabia que, por trás daquela fachada, havia um homem lutando contra seus p
CLAIREA manhã seguinte trouxe uma calmaria estranha. A nova casa, rodeada pela floresta densa, tinha um ar acolhedor, mas não conseguia dissipar o peso que carregávamos. Gabriel estava encantado com o espaço, explorando cada canto como se fosse uma aventura. Para ele, tudo era uma brincadeira. Para mim, era uma batalha constante para manter a aparência de normalidade.Lucas estava mais introspectivo do que o habitual. Ele passava longos períodos na varanda, observando a linha das árvores como se estivesse esperando algo – ou alguém. Sabia que, no fundo, ele ainda se culpava por nos colocar nessa situação. Seu silêncio era um grito de angústia que só eu parecia ouvir.— Você deveria descansar — falei, aproximando-me com uma xícara de café quente.Ele aceitou a xícara, mas não olhou para mim. — Não consigo. Matteo ainda está lá fora, e nós estamos escondidos aqui como presas. Isso não é vida, Claire.Sentei-me ao seu lado, meus olhos fixos no mesmo ponto distante que ele encarava. — Ma
CLAIREAs primeiras luzes da manhã filtravam-se pelas cortinas do quarto, e os raios suaves do sol pareciam ironicamente alegres, como se o mundo lá fora não tivesse ideia do caos interno que vivíamos. Lucas estava na cozinha, conferindo os planos para reforçar nossa segurança. Desde que Giulia nos alertara sobre os movimentos de Matteo, o ar ao nosso redor estava mais pesado. Mas havia algo ainda mais preocupante: o vazio nos olhos de Lucas.Eu sabia que ele estava tentando – tentando ser o homem que precisava ser, o marido que queria ser e o pai que Gabriel via como um herói. No entanto, era como se uma sombra pairasse sobre ele, um peso que nem mesmo o amor de nossa família parecia capaz de dissipar.— Papai está triste? — Gabriel perguntou, me puxando de meus pensamentos.Ajoelhei-me ao lado dele, passando os dedos pelos seus cabelos escuros e macios.— Não, meu amor. Ele só está pensando muito.Gabriel inclinou a cabeça, pensativo. — Eu acho que ele precisa de um abraço.Sorri, m
CLAIREAs primeiras luzes da manhã filtravam-se pelas cortinas do quarto, e os raios suaves do sol pareciam ironicamente alegres, como se o mundo lá fora não tivesse ideia do caos interno que vivíamos. Lucas estava na cozinha, conferindo os planos para reforçar nossa segurança. Desde que Giulia nos alertara sobre os movimentos de Matteo, o ar ao nosso redor estava mais pesado. Mas havia algo ainda mais preocupante: o vazio nos olhos de Lucas.Eu sabia que ele estava tentando – tentando ser o homem que precisava ser, o marido que queria ser e o pai que Gabriel via como um herói. No entanto, era como se uma sombra pairasse sobre ele, um peso que nem mesmo o amor de nossa família parecia capaz de dissipar.— Papai está triste? — Gabriel perguntou, me puxando de meus pensamentos.Ajoelhei-me ao lado dele, passando os dedos pelos seus cabelos escuros e macios.— Não, meu amor. Ele só está pensando muito.Gabriel inclinou a cabeça, pensativo. — Eu acho que ele precisa de um abraço.Sorri, m
CLAIREO silêncio da manhã seguinte era ensurdecedor. O plano de Lucas estava em andamento, mas isso não significava que meu coração estivesse em paz. Gabriel ainda dormia no quarto ao lado, alheio à tensão que pairava pela casa. Eu queria protegê-lo de tudo, mas como explicar a uma criança que o mundo nem sempre era justo, nem sempre era seguro?Desci as escadas lentamente, sentindo o peso da noite anterior ainda sobre mim. Lucas já estava na sala, os olhos fixos em um mapa que cobria a mesa de centro. Ele estava vestido de forma casual, mas havia algo na rigidez de sua postura que denunciava o quão preparado ele estava para o pior.— Você dormiu? — perguntei, sentando-me ao seu lado.— Não muito. — Ele respondeu sem desviar os olhos do mapa. — Giulia deve chegar em breve com as informações finais.Aproximei-me mais, tocando sua mão. — Lucas, você precisa se cuidar. Se não por você, então pelo Gabriel.Ele finalmente me olhou, seus olhos cansados encontrando os meus. — É por vocês qu