OzanAplico um pouco de perfume nas costas, o suficiente para exalar suavemente sem me incomodar. O aroma fresco e amadeirado mistura-se ao ambiente enquanto deslizo a camisa pelos ombros e ajeito o colarinho com precisão quase obsessiva. Encaixo o terno com a destreza de alguém que sabe exatamente como quer ser visto.Paro diante do espelho, e um sorriso lascivo surge em meus lábios. Meus olhos brilham com expectativas que não são nada inocentes. A promessa da noite aquece meu peito de uma forma que há tempos não sinto. Porém, o mundo insiste em invadir minha bolha de autoconfiança. Meu celular vibra, mas eu o ignoro. Não há nada mais importante agora que o jantar que me aguarda.Vou até a sala e me acomodo no sofá, o olhar pregado no relógio. O tempo é cruel, e cada minuto que passa transforma o ambiente em algo sufocante. O ar parece mais denso, e uma sensação de desespero começa a rondar.“Não…”, penso, enquanto meus dedos tamborilam contra o braço do sofá. “Ela não vai me dar o b
OzanEu observo enquanto ela desfila até o lugar dela, seu corpo esbelto movendo-se com uma graça natural. Meus olhos não conseguem evitar seguir seus passos, quase como se fossem atraídos por uma força magnética. Inspiro fundo, as narinas se expandindo, enquanto tento conter o turbilhão de pensamentos que ela provoca.Porra! Estar perto dela tem sido uma tortura. Cada movimento dela é uma distração, uma lembrança do quanto eu a quero. Mas não posso permitir que isso me consuma. Preciso manter as coisas no campo profissional, encontrar argumentos sólidos para afastá-la desse ambiente sem levantar suspeitas. Não misturo trabalho com lazer; sou sistemático demais para isso, rígido com as minhas próprias regras.Mesmo assim, quero conhecê-la — verdadeiramente. De um jeito impessoal, sem que ela perceba o quanto estou interessado. Acredito que é a única forma de enxergar alguém de forma autêntica, sem as máscaras que as pessoas insistem em usar para impressionar.Máscaras... Já estou satu
SofiaBorboletas.Odiosas borboletas batem asas no meu âmago, criando um furacão que parece consumir o pouco da minha paz. Mordo meus lábios, tentando disfarçar a hesitação que me paralisa. O que devo responder?Já é uma tortura estar perto desse Adônis todos os dias, com sua presença avassaladora que confunde meus sentidos. Agora, ele quer que eu passe o final de semana trabalhando como babá? Para ele?— Pagarei bem por isso — reforça Ozan, a voz tão segura quanto o olhar ansioso que repousa sobre mim. Ele está nervoso, posso perceber. — Diga que aceita, por favor. Estou meio desesperado. Ela desmarcou na última hora.Inalo profundamente, forçando o ar a atravessar meus pulmões enquanto minhas mãos, pousadas no colo, se apertam. Tento pensar na criança.O pequeno.É claro que penso nele.Eu sei como é crescer sem uma mãe. A dor dessa ausência é algo que carrego comigo até hoje, mesmo que minha babá tenha se dedicado a mim de corpo e alma. Mas não é a mesma coisa. Nunca será. Aquele v
No final do meu expediente, pego minha bolsa, arrumo o cabelo com um gesto automático e me despeço de Helena com um sorriso cansado. O dia foi longo, e tudo o que quero agora é ir para casa e me perder no silêncio.Mas, assim que alcanço a rua, o Honda Civic me chama atenção. Lá está ele, o senhorzinho que meu pai contratou para ser minha sombra. Espião, guardião ou simplesmente um lembrete constante de que meu pai não confia na minha independência.Suspiro, já sentindo a exaustão crescer, mas decido não deixar isso passar. Avanço com meu carro até emparelhar com o dele. Inclino-me, girando a alavanca do vidro do passageiro com dificuldade, o som do vidro descendo me irritando tanto quanto a situação. Ele não tem escolha: desliza o vidro dele também, os olhos castanhos cheios de constrangimento.Sorrio, mas não com simpatia. É um sorriso de ironia, carregado de sarcasmo.— Vou poupar seu trabalho — digo, o tom cortante. — Diga ao meu pai que neste final de semana vou trabalhar na casa
— É só esse final de semana. Parece que a babá teve um problema — explico, enquanto tomo um gole do chá, sentindo o calor relaxar um pouco a tensão no meu corpo.— Tudo bem. Ah, eu tenho uns amanteigados. Você quer? — Ivone diz, já levantando e indo em direção ao armário.Um sorriso escapa antes mesmo de eu responder.— Hum, com certeza! Vai cair muito bem com esse chá de hortelã.Ela ri enquanto coloca a lata na mesa, abrindo-a com o cuidado de quem guarda um tesouro.— Ainda bem que você é magrinha, hein?Ergo uma sobrancelha, fingindo indignação.— Está dizendo que eu como muito, é?— Ué, você mesma me disse outro dia que tem o metabolismo acelerado e que está sempre com fome.— Sim, é verdade. — Dou uma risadinha enquanto pego um amanteigado. — Mas não encho meu prato como você pensa. Só como umas besteiras fora de hora. Isso é fruto da minha criação. As babás eram loucas para me dar algo para comer quando eu chorava.Ivone arregala os olhos, quase incrédula.— Deus do céu! Verdad
—Estou surpresa com isso. O senhor Ahmad é tão sensato, tão dinâmico. Ficar bêbado a ponto de atravessar sem ver o carro? Até mesmo a distração é surpreendente.— Pelo visto conhece bem meu sobrinho.Eu o encaro sem graça.—Posso dizer que sim, eu já estou há dois meses trabalhando com ele.Ele sorri.—Espera aí. Você é assistente pessoal dele? Lembro-me que ele precisava de alguém para essa vaga. As garotas não duram muito tempo nessa função.—Sim, me disseram isso.—Ele deve estar gostando muito do seu trabalho.—Sim, acho que sim.—Então a garota que ajudará Elma é assistente pessoal do meu sobrinho?Ele me olha de um jeito estranho. Eu aceno com a cabeça.—Sim, senhor.Ele sorri, mas não diz nada. Então ergue os olhos e abre mais o sorriso.—Aí está Osman.Eu giro meu corpo e vejo um menininho lindo surgindo na sala. Seus cabelos são negros, olhos de um lindo castanho claro. Quando ele vê o avô, corre em direção a ele e agarra suas pernas. Ergue o rostinho e olha para mim. Ele é a
OzanO remédio que tomei para a dor me deixa tonto, meio fora de mim, mas mesmo assim, minha mente não para. O efeito sonolento do analgésico tenta me puxar para o fundo, enquanto meu corpo responde de forma oposta: o coração batendo rápido, o suor na testa, e a adrenalina me mantendo desperto.Eu sou um paradoxo ambulante.Essa ideia de contratar Sofia como babá temporária parecia lógica na minha cabeça. Fora do ambiente de trabalho, sem os papéis de chefe e subordinada, eu teria a chance de observá-la melhor, entender a influência que ela tem sobre mim. Mas, mesmo assim, algo dentro de mim continua a construir paredes entre nós.Porque a verdade é que eu a quero. Quero cada detalhe dela, cada sorriso, cada palavra afiada, cada olhar que ela tenta esconder quando pensa que não estou prestando atenção. Mas, ao mesmo tempo, algo em mim grita para mantê-la longe, para protegê-la de mim e, talvez, a mim mesmo dela.Sou uma bagunça completa.Já confiei em duas pessoas. Duas. Pareciam cert
SofiaA noite está calma, mas meu coração não. O dia foi longo, e embora o cansaço esteja presente, o sono teima em não vir. Depois de cobrir Osman e sair do quarto, senti o olhar de Ozan em mim, um calor inexplicável queimando minha pele enquanto eu me afastava.Agora, estou na varanda, tentando encontrar alívio na brisa fresca. A camisola branca que escolhi é simples, mas o tecido leve dança com o vento, e sinto o frio tocar minha pele exposta. Meus pensamentos vagam para momentos do dia, para os olhares de Ozan que sempre parecem mais intensos do que deveriam.De repente, uma presença ao meu lado me tira do devaneio. Me viro devagar, e lá está ele.Sem camisa.Só de shorts.Meu Deus.O vento bagunça seus cabelos molhados, e a luz suave da lua faz seus traços parecerem ainda mais intensos. Seu corpo musculoso está ali, completamente exposto, e eu me esforço para manter minha respiração controlada, mas é impossível. Meus olhos percorrem seu peito, como se minha mente insistisse em me