A cama é grande e macia, quase uma réplica da que eu tinha no meu antigo quarto. Os lençóis de algodão estão impecáveis e perfumados, mas, por mais que eu tente, o sono não vem. É como se meu corpo recusasse o descanso, mesmo estando exausto. Meu coração bate mais rápido do que deveria, e minha mente é um turbilhão.A imagem de Ozan, sem camisa, vindo na minha direção se repete na minha cabeça como um caleidoscópio que não para de girar. Cada detalhe da cena parece ampliado: o brilho da pele dele sob a luz, a segurança no caminhar, a intensidade de seu olhar. Não é apenas um pensamento; é uma presença, como se ele estivesse aqui, invadindo o quarto e a minha tranquilidade.Desde que comecei a trabalhar para ele, me sinto assim: tensa, inquieta, como se estivesse sempre em um estado de alerta. Me pergunto, sem querer, como ele interpretou minha atitude de rejeitá-lo.“Estou me preocupando à toa”, digo a mim mesma. Ele é Ozan. Pode ter qualquer mulher que quiser. Minha recusa não deve t
OzanQuando ela sai, meus dentes se trincam automaticamente. Um gesto involuntário, quase animal. Ela acha que me engana? O pensamento vem ácido, corrosivo. Só pode ter saído com algum cara cheio da grana, penso, sentindo um calor incômodo subir pelo peito.Essa garota, no fundo, é uma alpinista social? Tento buscar alguma lógica em suas atitudes, mas é como decifrar um quebra-cabeça em que metade das peças está faltando. Sofia continua sendo um mistério, uma equação que não consigo resolver. E isso me incomoda mais do que estou disposto a admitir.Talvez eu seja mesmo lerdo para lidar com mulheres. A ideia me atravessa como um raio inesperado, trazendo à tona lembranças de Ayla. O peso amargo do passado me toma, deixando um gosto metálico na boca. Não é o tipo de memória que eu gostaria de revisitar, mas ela insiste em surgir, como uma velha ferida que nunca cicatrizou por completo.Termino meu café com um engolir seco e saio da cozinha, cada passo ecoando na minha mente inquieta. O
Olho tudo ao meu redor enquanto a luxuosa embarcação desliza pelas águas, afastando-nos cada vez mais da marina. O cenário é um retrato de liberdade: o azul infinito do mar que se mistura ao horizonte, o som ritmado das ondas contra o casco e a brisa salgada acariciando meu rosto. Inspiro fundo, sentindo o ar puro preencher meus pulmões, como se ele pudesse limpar não apenas o corpo, mas também os pensamentos.Assim que o iate chega ao alto-mar, o motor é desligado, permitindo que o silêncio sereno das águas tome conta. Esse gesto parece quase simbólico, como se o barulho da vida fosse deixado para trás junto com a marina. O som das ondas agora domina, e tudo parece mais seguro, mais calmo.Um homem de semblante amistoso surge na proa, carregando uma bandeja com copos grandes de suco de abacaxi. Ele tem um sorriso acolhedor, daqueles que fazem qualquer ambiente parecer mais leve.— Senhor Ahmad, prazer em revê-lo. Trouxe suco, desejam tomar agora? — diz, com a voz cheia de respeito e
Ignorando o homem absurdamente lindo que é meu chefe, mergulho na água, deixo o sol beijar minha pele, e mergulho de novo. Tento manter meu foco no azul infinito do céu e do mar, buscando na natureza a serenidade que ele insiste em tirar de mim com sua simples presença.Quando o relógio se aproxima do meio-dia, o cozinheiro aparece com um sorriso simpático:— Posso servir o almoço?— Nos dê uns dez minutos e pode servir. — A voz de Ozan, firme e carregada de autoridade, faz minha atenção se desviar. Ele se vira para mim. — Vamos sair e nos preparar para o almoço?— Sim, claro.— Filho, agora nós vamos almoçar.Mas Osman não está nem um pouco disposto a obedecer. Ele franze a testa e bate os pezinhos no chão, cruzando os braços com determinação.— Eu não quelo! — Ele começa a fungar, o choro se aproximando. — Quelo bincá!— Osman! Vamos sair agora. E sem choro! — Ozan ordena, mas o pequeno resolve se rebelar e desfere um soco bem no local onde o pai está roxo.Meu coração salta no peit
SofiaEntramos na cabine e eu o conduzo até o quarto onde está a bagagem de Osman. Ele continua chorando, mas eu tento manter a calma. Com as mãos trêmulas, abro a mala e pego sua roupa. Entro rapidamente no pequeno banheiro e, apesar de seus protestos abafados, retiro sua sunga e o coloco debaixo do chuveiro. A água quente parece acalmá-lo um pouco, mas o choro ainda persiste. Dou-lhe um banho rápido, sem pressa, enxugo seu corpinho com cuidado e o visto com um short branco e uma camiseta igualmente branca. Quando saímos do quarto, o choro já diminuiu, e ele parece mais tranquilo.Ligo a televisão da sala e coloco um desenho animado para distraí-lo. Logo, Ozan aparece na porta. Ele está impecável, vestindo branco do pé à cabeça, com os cabelos molhados perfeitamente penteados para trás. Eu paro por um momento, incapaz de evitar a admiração. Nossos olhares se cruzam e, por um segundo, me pego sorrindo. Quando vejo o reflexo do filho nos olhos de Ozan, é impossível não perceber a semel
Ozan parece decepcionado. Não deve estar acostumado a mulheres que se esquivam, a mulheres que não se abrem. Não um homem lindo como ele. Eu sei que prejudiquei o almoço. O clima ficou pesado, desconfortável. Eu mesma estou tensa, cada movimento parece forçado agora. Tento manter meu rosto impassível, mas a comida simplesmente não desce, por mais que eu tente disfarçar.Ozan continua tentando puxar uma conversa, mas é inútil. Eu não consigo relaxar perto dele. Talvez eu tenha errado ao negar aquelas informações, mas acredite, é mais seguro assim. Quanto menos ele souber da minha vida, mais profissional será nossa relação. Fora isso, eu realmente considero um privilégio trabalhar na Building Design. Essa é a minha carreira em jogo e Ozan... Ele é como uma caixa de Pandora, e acredito que, se deixarmos algo mais crescer entre nós, será como abrir essa caixa — e com certeza, a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Eu não posso permitir isso. Por isso, tento evitar qualquer tipo de i
Deus! Quero mudar isso. Preciso mudar isso. Mas é tarde demais? Não consigo dizer nada. Tenho medo. O medo de que tudo o que construí possa desmoronar. O medo do desconhecido que se abate sobre mim quando olho para Ozan, quando vejo sua reação.Nessa hora, escuto o motor parar e a embarcação deslizar nas águas. O som familiar das ondas me traz um breve alívio, mas ele não dura. Ozan olha para mim, e diante do meu silêncio, seu rosto se fecha. Um músculo de seu maxilar pulsa, e eu percebo o quanto ele está lutando contra a tempestade que se formou dentro dele.— Você tem razão. Desculpe-me, eu perdi a cabeça. Você é uma ótima funcionária e eu sou a porra do seu chefe e não quero arruinar isso. — As palavras dele são duras e, ao mesmo tempo, soam como uma despedida. Uma desculpa amarga que me fere mais do que eu esperava. Eu fico imóvel, sem saber o que responder, como se todas as palavras tivessem se perdido dentro de mim.— Ozan... — tento dizer, mas a palavra morre na minha garganta.
As palavras dele me atingem como um trovão, reverberando no meu peito de uma forma que me deixa sem ar. Meu coração dispara, minhas mãos tremem e, por um momento, quase não consigo respirar.— Que procura? — A pergunta sai da minha boca quase sem querer, como se eu não fosse capaz de entender o que está acontecendo.Ele sorri de novo, mas dessa vez o sorriso parece ter algo a mais, algo enigmático, como se ele estivesse escondendo um segredo. Não responde à minha dúvida, apenas desvia para outro assunto com uma leveza desconcertante, como se nada fosse mais simples.— Falando em procurar, quero que encontre um lugar melhor para morar. Faça isso amanhã.Eu meneio a cabeça, tentando processar as palavras, sem conseguir entender por completo.— Eu não estou entendendo...Ele dá um passo em minha direção, a confiança dele me cercando como uma onda imensa, me envolvendo sem que eu possa me proteger. O ar ao meu redor fica pesado, carregado com uma intensidade que me desestabiliza.— É fáci