Eu já estava pronta para mais uma surra, para mais um abuso, depois o pedido de desculpas, a promessa de mudança. Os olhos verdes do homem grande fixos aos meus, cabelos cacheados castanhos desgrenhados, as mãos apertando em volta do meu pescoço, me deixando sem ar, enquanto a minha cabeça pairava somente em que Nana não visse nada daquilo, não sei porque mas eu tinha vergonha, medo. Abri a boca tentando explicar, até que algo foi erguido em sua cabeça atrás dele, a porrada foi forte, era um pau grosso, logo a imagem de Nana surgiu de trás dele, meus olhos cairam junto com o corpo do meu marido, a cabeça em sangue. –– O que você fez? –– Gritei em desespero.–– Deixar ele lhe matar? –– Engoli em seco, não morri das outras vezes, mas um dia nunca saberei. –– Você esta bem Aurora? –– Assenti tentando saltar sobre o corpo do homem, abaixei diante dele ouvindo sua respiração, como será quando ele acordar? Me perguntei com medo. –– Porque fez isso? –– Indaguei nervosa, a respiração foi bai
O famoso baile movimentava a toda Inglaterra, nunca ouviu-se dizer que o conde tinha um filho, mas também poucos falavam-se em filhos antes da maioridade. Crianças eram seres desprezíveis aos olhos da sociedade, todos ignoravam até ter idade maior para um título. Não tinha inteção alguma em ver, ou saber quem era o conde, o filho do conde, nada a respeito da realeza, apesar de todo o capital financeiro girar em torno deles. Meu pai ainda com sonhos de menino, havia o sonho de ser batizado, tornar-se alguém da corte, para mim, nada mais bastava, além de uma esposa alcolatra, um sogro recém casado com uma jovem de quartoze anos, constantes casos de escandalos, pela cidade, junto a rumores de traição, não me importava, apesar do meu pai alegar que isso era péssimo aos negócios, apenas uma acusação minha, a gilhotina certamente estava a espera do pescoço da minha senhora por infedelidade. Chegamos a Londres, não pelo conde, ou o seu filho que agora será representado. –– Nossa como tudo
Evidente que era tão fácil como papai imaginava, as pessoas da corte não se misturavam aos meros sem titulos, era possível assistir os meros grupos formais rindo alto, conversando, olhando em volta pelo salão. Sabíamos pela tecelagem que poderia ser da corte e quem não, as jovens sempre em grupos rindo, muito bem vestidas em tons claros, rosas de diversas tonalidades, azuis também. Verdes, enquanto meu pai vagou para um grupo, tentei outro de cavalheiros, nosso objetivo é levar a vantajosa fortuna seja lá de quem fosse ao nosso pobre banco, pelo menos cheguei ao baile com esta intenção, até ver o jovem marinheiro em seu grupo de marinheiros olhando perdidamente de um lado a outro. A minha senhora enchia-se do vinho que descia em cascata para as taças, definitivamente mal chegaria a conhecer o filho do conde. Engatei-me a uma conversa com um barão até que a presença do duque e a duquesa de Brunvisque fora anunciada, somente a corte teve essa mordomia, toda a conversa fora cesada. A
– Poderia ter a honra de saber como um marinheiro teve a boa sorte de unir-se a uma linda e jovem dama? – Olhei aos olhos de Henrique, neles eu não vi nada, era como se não houvesse alma, eram apenas olhos para enxengar a sua cor, eu mal saberia dizer, um tom mel, aceitei a dança por ele ser o filho do anfitrião, e Sofia me dizer que eu devia isso a ele. Depois de Henrique me agredir com socos no rosto, tentar rasgar o meu vestido, aquele cavalheiro me defendeu de suas agressões, quando ninguém nunca fez o mesmo, para-lo, Constatine mal saberia a hora de começar, tampouco terminar. – Não sou da nobreza senhor, apenas uma jovem que servia como muitas criadas, ninguém que mereça atenção aos seus olhos. – Jacob nos olhava de canto, mas não somente ele, quase todos os olhos estavam em nós, quando os cavalheiros deram as costas das suas mãos, para as damas enconstarem as suas. Senti o calor do estranho de maneira desonroza no meu punho, retirei de imediato. – Não me parece alguém que já s
Meu nome é Layne Muniz Assunção, tenho vinte e quatro anos de idade, nasci numa cidade do interior baiano, não muito conhecida, somente pelos festejos juninos, as festas, comidas e a carne de sol, a frinha de mandioca da região, a não ser pela festa de são joão, ninguém mais procura a cidade no reconcâvo da Biahia, pelo menos não aqui em São Paulo, onde estou agora.Claro que vão me perguntar, o que uma baiana de vinte e quatro anos de interior, veio fazer aqui em Diadema, São Paulo, primeiro de tudo eu diria que por sonhos, claro que a minha mãe, dona Rosalia Muniz, te dirá em primeira instância que tudo não passa de fogo no rabo, como é muito comum na nossa terra natal, mas não foi tão assim, na verdade, pode até ser fogo no rabo, o combustível necessário para alguém sair do seu lugar de nascimento para uma terra desconhecida, somente com uma trouxa e medo, sim, medo, eu senti, mas não disse a ninguém.Mas a verdade é que eu sou filha de mãe solteira, irmã de três crianças, pelo meno
Inspire... Apenas expire e inspire Eliza. Inspire... Apenas expire e inspire Eliza. Inspire... Apenas expire e inspire Eliza. Disse a mim por três vezes seguida olhando para o homem que me casei forçada, a minha frente com uma arma apontada na minha direção, jamais deixarei o nervosismo me dominar, não me arrependo de nada do que diz, mas como não? Eu mereci tudo isto. Sorri nervosa, olhando para frente, não havia como fugir ou esconder, Ernesto me pegou na cama desprevenida, não tive como avisar a Jacob antes. De repente, todos viraram suas cabeças para o lado, bem lá, totalmente longe, é ele, somente ele. Apenas ele, este não seria o meu fim? Ainda não é o fim, a vida, o amor nunca tem fim. A minha respiração saindo pesada, ofegando, agora não tenho como correr, seria eu ou ele, e entre morrer ou ter que viver sem meu amor, morrer seria a melhor opção. Olhei pela primeira vez para Jacob a muitos metros de distância, galopando com presa, o tecido azul se destacando na roupa branc
Anos depois Fechei os meus olhos ouvindo e sentindo o encontro da água com o chão, mas antes do chão, o frescor da água encontra o meu corpo, a cada gota que encontra a minha pele, é como um alívio para a minha alma. A lama formava-se em meus pés, transformando-se barro, os fios de cabelos molhados grudando ao meu rosto, ainda de olhos fechados girei, senti o sabor de ter vida, e ser da aldeia, as meninas da cidade não tem estes momentos assim diz a minha mãe. Elas não podem aproveitar nada do que a natureza nos dá, do que vivem elas? Sempre pergunto. — Não sei, minha menina, simplesmente não sei. — Suspirei, querendo mais, amo quando chove, além de molhar à terra, trazendo água em fartura para nós, é bom para à terra, faz com que cresça os alimentos, a mesa fica cheia, mas nada se compara a água da chuva. — Aurora venha para dentro! — Meu pai grita ao me ver brincando com a água, a simplicidade de apenas ser e ter me encanta, me fascina. — Por que não entra menina? — Minha mãe rec
— O que houve com os seus sapatos? — Um homem gordo com um chapéu branco de pano na cabeça questionou ao me ver, apontou com uma colher de pau para os meus pés, eu também olhei para os meus pés. — Ela veio da aldeia, sabe como é esse povo.— Bichos do mato. — Este foi o primeiro contato que tive nesta casa. Andando por lugar em lugar, vendo o que cada um fazia, eu não disse uma palavra no primeiro dia, quando chegou a grande sala, de longe ouvia-se o som, era divino, algo tão mágico como aquilo eu nunca escutei na vida, quando a porta foi aberta, imaginei que não existia mais nada a conhecer, só queria saber de onde vinha tal som. — Querida se não me disser seu nome...— Aurora, meu nome é Aurora como o nascer do sol. — Disse com a voz trêmula, meus olhos afiados por tanta beleza que vi, aquela casa não era um lugar nem de longe imaginado em cada paragrafo, cada texto que li, cada livro, ela me apresentava a magia dos livros, a magia dos contos de fadas. Até as paredes tinha desenhos,