Ele vinha até mim, com sua espada em punho, como se fosse me atacar. Mil pensamentos passaram por minha mente, sem conseguir entender o que estava acontecendo. Somente entendi quando ele chegou bem perto de mim e me empurrou para o chão com força, atacando alguém logo atrás. Quando me virei, reconheci quem era e o que ocorria… Era Estevam. O Rei Estevam também estava lutando disfarçado em meio aos seus soldados e aproveitou-se de uma distração minha para um último ataque. Ele iria me ferir, mas Aron me defendeu, defendeu minha vida, percebendo a tempo e antecipando o que aconteceria. — Estevam, não! — gritei com todas as forças ao perceber que Aron tinha me defendido e que fora ferido. — Malena? — Seu semblante misturava espanto e dor. Estevam com certeza não imaginava que eu estaria ali lutando como ele. Fiquei parada tentando absorver aquela cena terrível. Os dois estavam caídos, cada um colocava as mãos sobre suas feridas, que começavam a sangrar muito. Sem p
Não preciso nem dizer o quanto os dias seguintes foram difíceis. Voltamos da guerra com a vitória e, com o sabor amargo da perda. Perdemos muitos homens e perder Aron foi como perder a mim mesma. Deixei naquele campo de batalha um pedaço de mim, uma parte da minha vida e do meu coração. Quando consegui voltar ao castelo, busquei por Agnes. Ao me ver, caiu aos prantos, pois leu na tristeza dos meus olhos que algo estava muito errado, antecipando o que era.Desci do meu cavalo e fui até ela, caída de joelhos ao chão. Levantei-a e nos abraçamos. Choramos juntas nossa perda, a morte do homem mais importante para nós, aquele que mais amávamos. Senti outros braços completando aquele abraço e pelo perfume logo percebi que era Bethany. Ficamos ali por um bom tempo, entregues ao nosso luto, que estava só começando. Quando tive forças para me recompor em meus aposentos, após um banho demorado e preparado por minhas amas, consegui comer algo, fazia muito tempo que não comia e,
O inverno foi realmente rigoroso. Ficamos a maior parte do tempo, onde conseguimos nos aquecer. Foi muito mais difícil viver o luto e superar nossas perdas, mas tentamos de todas as formas possíveis. Minha rotina era dividida entre as reuniões com os conselheiros, debatendo e resolvendo diversos assuntos, os chás da tarde com Agnes e Bethany, e as brincadeiras com o pequeno Serafim. Sentia muita falta dos treinamentos e da companhia de Aron. Muitas vezes ouvia sua voz e sentia sua presença. Em alguns momentos de esquecimento, virava-me sorrindo para vê-lo entrar, mas não via nada e então a realidade voltava, a tristeza e o luto também. As noites eram a pior parte. Sozinha em meus aposentos, lembrava-me do nosso último momento, o instante em que o ouvi dizer que me amava, um momento que deveria ser o mais lindo de minha vida e foi o mais triste, pois foi também a despedida, o seu último suspiro, suas últimas palavras. Lembrei-me do seu olhar e de que ele não queria p
— Não sei se estou pronta para falar sobre isso, sobre aquele dia. Minhas noites têm sido terríveis, com pesadelos e tristes lembranças, não sei se conseguirei reviver tudo o que houve para lhe contar. — Acredito que precisamos tentar. Não é justo eu não saber como fora os últimos instantes da vida de meu marido. Não sei o que ele disse, se é que conseguiu dizer alguma coisa, e nem como foi seu último suspiro, como e nem por quem ele foi ferido, se foi em uma luta ou em uma emboscada. Não sei de nada e isso está me deixando louca. Preciso saber, você me entende? — Agnes ficava cada vez mais ansiosa e sem perceber estava falando alto, segurando em minhas mãos como quem pede socorro. Seus olhos realmente estavam pedindo. — Entendo, Agnes. Vamos para outra sala conversar melhor, não quero que Serafim e Bethany escutem o que tenho para lhe contar, eles estão bem e tão felizes brincando, não quero entristecê-los. Naquela semana, descobrimos que Bethany estava grávida e el
— Não sei, Malena. Meu amor por Aron era tão forte que fui capaz de suportar tudo por ele. Naquela noite, pedi, implorei a ele que não me abandonasse para ficar com você, me desculpe, fui egoísta, mas não consegui pensar em mais nada, só conseguia imaginá-lo me deixando por sua causa. — Mas é claro que ele nunca faria isso! Ele nunca abandonaria você nem Serafim! Como pôde duvidar disso? — Foi exatamente o que ele me falou, que ele passou a me amar com o tempo, que amava muito nosso filho e jamais destruiria nossa família, mas eu sabia no fundo do meu coração que o verdadeiro amor da vida dele não era eu, que por mais que ele me amasse, como ele me garantiu e tenho a certeza de que era verdadeiro, nada seria maior que o sentimento dele por você! — Sinto muito por ter sofrido tanto, minha amiga, e por ter guardado isso por tanto tempo, mas posso lhe garantir que nunca houve nada entre nós dois, preservamos nossa grande amizade, ele sempre foi fiel a você e sempre me
Foi assim que aconteceu. Quando ele completou sete anos começamos com o básico e conforme foi crescendo, seu treinamento aumentava. Ele se tornou um homem incrível, aos dezoito anos já era um dos nossos melhores soldados e um grande guerreiro, assim como seu pai, além de possuir uma semelhança física impressionante. Ficamos muito felizes ao vê-lo apaixonar-se pela bela Amélie, filha de Gael, um de nossos conselheiros e melhor amigo de nosso querido Elmos. Aprovamos aquela paixão e não medimos esforços para vê-los unidos e felizes, assim formando mais uma bela família. Nesse período, comecei a perceber que precisaria de ajuda em breve, sabia que havia chegado a hora de conversar com Serafim e lhe contar sobre sua herança. No começo, ele ficou confuso e não queria aceitar. — Mas… minha madrinha, isso é muito para mim. Sou muito grato por tudo, porém, não sei se sou capaz de assumir tamanha responsabilidade. — Se ainda não é, você será, Serafim. Farei com que se torne um
PARTE 2Certas coisas nessa vida são mesmo inexplicáveis. O amor que sentimos pelas pessoas, a natureza que nos cerca, as surpresas que nos reserva o destino… Tudo vem para completar nossas vidas, tudo parece ser exatamente como deveria ser. Alguns empecilhos podem surgir em nosso caminho, mostrando-nos que a luta nunca termina e que nossa fé deve ser o ingrediente principal para mantermos a sanidade e lutarmos por um futuro justo, com paz e sabedoria, para deixarmos como herança o melhor que pode haver dentro de nossos corações, preservando, assim, nossa alma e nossas lembranças, que ficarão aos que ainda estão por vir.***SERAFIM Estava ali, inerte em meus pensamentos, absorvido por um sentimento de vingança que nunca havia estado comigo. Não me lembrava de sentir aquele torpor, aquele veneno correr por minhas veias e inundar todo o meu corpo, todos os meus pensamentos, trazendo coisas ruins para minha vida. O que poderia esperar daquele novo inimigo? Um inimigo que surg
— A senhorita não está um pouco longe do vosso castelo? Virei-me rapidamente para ver quem estava ali, já que naquele horário poucas pessoas passavam por aquela região. — Oh! Quem é você e o que faz por aqui? Nunca o vi aqui no reino — indaguei assustada pela aparição daquele estranho rapaz. — Desculpe-me pela indelicadeza. Anthony, a sua disposição. — Desceu de seu cavalo e estendeu sua mão para que o cumprimentasse. — Felícia. — Estendi minha mão um pouco sem graça e ele a segurou, fazendo uma reverência, sem a beijar, apenas encostando sua testa como forma de respeito. — Encantado com sua beleza, senhorita Felícia. Perdoe minha indelicadeza, imagino que seja uma princesa? — Não, não sou uma princesa, contudo moro no castelo. — Para mim, és uma princesa sim, e permita-me dizer que nunca vi nenhuma tão bela em nenhum outro reino. Sem saber como responder aos elogios daquele estranho, passei a tentar descobrir quem ele era. — Obrigada pelos el