ESTEVAM Deixei aquele lugar inconformado com o que presenciei. Não podia acreditar em tamanha audácia. Meus secretários tentaram me acalmar em vão. Voltamos para meu reino em nossas carruagens, a viagem pareceu mais longa do que sempre foi. Estava inquieto e não conseguia pensar com clareza. Quando finalmente chegamos, tranquei-me em meus aposentos, precisava de um tempo sozinho para colocar minhas ideias em ordem. Como ela era capaz de fazer isso comigo? Como podia recusar-me, ignorar meu amor, mesmo sem saber que ele existia? Talvez tenha sido esse o meu erro! Teria sido melhor se tivesse declarado meus sentimentos desde o princípio. Quem sabe assim ela poderia ter me aceitado e nada disso estaria acontecendo. Será? Pode ser que sim ou não também. Parecia claro que ela só me queria como amigo mesmo, desde sempre. Não consigo esquecer o jeito com que sempre me tratou, mesmo quando éramos crianças. Eu que era o Príncipe, que era o amigo nobre e ela preferia aqu
— O que faz aqui, espionando Minsk, e tão longe de seu castelo, Vossa Majestade? — Não lhe devo satisfação, pois ainda estou em minhas terras. Além do mais, não estou espionando nada, apenas dando uma pausa em minha cavalgada para meu cavalo descansar. Como ousa me abordar dessa maneira, cavaleiro? — Desculpe-me, senhor, peço que Vossa Alteza me perdoe por lhe incomodar e abordá-lo dessa maneira, apenas fiquei curioso. Não esperava encontrá-lo por aqui.Havia certa arrogância em suas palavras e isso me deixou irritado. — E você? O que faz aqui em minhas terras? Será que não percebeu que já atravessara a fronteira? — Percebi sim, senhor. Estava a caminho de vosso castelo a fim de procurá-lo para uma conversa. — Mas o que poderia conversar com um Rei? — falei, zombando e rindo de suas palavras. Aron saltou de seu cavalo aproximando-se. — Tenho certeza que sabe o assunto e o motivo dessa conversa. Não gostei da vossa atitude com a minha Rainha e vim em
— Calma! Devemos esperar até que eles estejam mais perto — dizia Aron, percebendo minha ansiedade.— Não quero arriscar nada, entendeu? Essa batalha é nossa! Eles não conseguirão invadir o reino, de jeito nenhum! — Mesmo sabendo do potencial dos nossos soldados e de que éramos capazes de vencer, estava insegura.Queria muito lutar. Era a primeira vez que pisava em um campo de batalha, e aquilo tudo havia se tornado uma questão de honra. Precisava provar que estava certa nas minhas decisões. Não só mostrar para todos, mas principalmente para mim mesma.Nunca fui uma pessoa insegura, isso nunca me abalou, até agora. Sempre fui segura e me sentia protegida entre as muralhas do reino e fora delas também, mas minha principal segurança vinha de dentro, do meu coração, e sentia isso com todas as forças possíveis.Fui uma criança muito amada e querida pelos meus pais, Rei e Rainha, por todos os nossos amigos, súditos, empregados e toda a população do reino.Tive uma vida tranquila, meus pais
Queria muito sua amizade, mas também desejava algo mais e parecia que ele não percebia isso.Não tínhamos mais a mesma intimidade de antes, afinal, quando ele viajou para estudar, ainda era um menino e brincava comigo nos campos do reino. Agora, ambos estávamos quase adultos e não cabiam mais as mesmas brincadeiras de antes. Devido a isso, afastamo-nos um pouco, para minha tristeza. Encontrava-o aleatoriamente pelo castelo e pelo reino.Durante as festas, ele me tirava para dançar e conversávamos um pouco, contudo os assuntos eram sempre sobre o que aconteceu a ele durante o tempo que passou fora e sobre o que fiz durante esse tempo, sobre meus estudos e algumas histórias com amigos em comum.Às vezes, ficava perguntando por ele para os criados que acabavam me informando onde o tinham visto pela última vez, e eu arrumava um pretexto para ir até o local encontrá-lo. Ele nem desconfiava das minhas intenções, pelo menos parecia que não.Aron não me dava nenhum motivo para acreditar no co
Quando saí de meus aposentos, ela me disse:— Boa sorte, querida. Você será a mais bela e a melhor Rainha que esse reino já pôde ter. Que a paz e o amor estejam sempre em vosso coração. — Agradeci com um olhar, um aperto de mão e um beijo demorado em sua face macia e rosada. As palavras não saíram, e ficou um nó na garganta difícil de controlar, mas tinha de conseguir, não podia chorar naquele momento, estava a caminho da minha coroação.Aproximando-me do salão principal, comecei a ouvir os convidados conversando e uma música suave tocada pelos músicos do castelo.Meu pai costumava fazer muitas festas, minha mãe também gostava muito de comemorações e comigo não seria diferente. Tinha em meus planos, realizar muitos bailes e comemorar tudo que pudesse, em memória deles.Parei na entrada, aguardando ser anunciada, como me foi orientado. Sem aviso, a música parou, os convidados silenciaram e foi anunciada a minha presença.— Vossa Majestade, Princesa Malena Katherine Baldrick Nithercott!
No dia do meu décimo segundo aniversário, após a festa celebrada por todos no salão principal do castelo com um belíssimo baile, meu pai me deu um presente e também queria se despedir, pois estava saindo para liderar uma batalha.O Rei Serafim Adrian Nithercott sabia lutar como poucos reis que conhecíamos. Desde muito criança, foi treinado por Rômulo, pai de Hamom e avô de Aron, o melhor guerreiro do reino naquela época e grande amigo de meu avô, o Rei Bartolomeu Dumas Nithercott.Meu avô acreditava que todo rei deveria ser treinado para tornar-se um guerreiro e lutar para defender seu reino, suas terras, seu povo, não apenas orientando seu exército para uma batalha, mas também estando presente e dando seu sangue e sua vida, se fosse necessário.Quando abri meu presente, fiquei encantada: uma coroa, lindíssima, toda ornamentada com lindas e delicadas pedras preciosas. Minha primeira reação foi ficar boquiaberta.— Meu pai, ela é linda! Obrigada, mas por que uma coroa? Já tenho várias
Minha mãe, a Rainha Stella Marie Baldrick, era considerada uma das mulheres mais belas de todo o reino de Minsk. Foi escolhida pelo meu avô para se casar com meu pai. Sua família era de origem nobre e uma das mais ricas de toda a região. Sua beleza era encantadora. Seus cabelos dourados e ondulados, assim como os meus; amava essa semelhança entre nós. Seus olhos azuis tinham um tom que fascinava, intrigava e, ao mesmo tempo, transmitia toda a sua doçura. Seu rosto perfeito e harmonioso combinava com sua pele clara como a luz do sol. Mesmo com toda sua doçura, era uma mulher muito forte e decidida. Desde que se casou com meu pai, assumiu uma postura impecável e todos a admiravam e a respeitavam por isso. Apesar do casamento deles ter sido arranjado pelas duas famílias, ambos se apaixonaram à primeira vista, como diziam. Era um amor tão bonito de se ver, com muito carinho, cumplicidade e respeito. Minhas lembranças com ela eram doces e ternas. Nem sempre foi uma mãe p
Passei os dois anos seguintes aos cuidados do meu tutor e amigo da família, Elmos. Um conselheiro do reino que serviu muito bem ao meu pai e à minha mãe, um grande amigo deles que se tornou um grande amigo meu também. Quando completei dezoito anos e enfim chegou o dia da minha coroação, ele me procurou antes da cerimônia e me disse: — Minha querida Princesa e minha futura Rainha, a partir de amanhã passarei a você seu tão merecido posto, seu trono, seu reino. Tenho certeza de sua capacidade devido ao seu aprendizado nesses anos e sei que será uma excelente governante e seu reinado entrará para a história de Minsk. — Obrigada, querido Elmos. Tudo isso graças ao senhor e seus ensinamentos. Acredito que serei uma boa rainha e sei que com sua ajuda venceremos qualquer problema que possa surgir. O senhor continuará ao meu lado, não é mesmo? — perguntei ciente da resposta. Sabia que ele jamais me abandonaria. — Claro que sim, Vossa Majestade! Enquanto quiser e o quanto precis