— Claro que não! Gosto muito de Estevam, mas não dessa maneira. Sempre o tive como um amigo, assim como você. Além disso, nunca tive nenhum tipo de interesse por ele e não será agora que terei, com certeza! — Certeza mesmo? Às vezes podemos confundir nossos sentimentos e pensarmos que temos certeza quando, na verdade, não temos. Por favor, sabes que nunca gostei muito de Estevam, não nos compare, nunca! — Ele parecia muito aborrecido. — Sim, sei bem disso! Tenho certeza que é recíproco e de que ele também nunca gostou muito de você, apesar de eu nunca compreender esse antagonismo. — Não sei explicar, só nunca nos entendemos mesmo! Tolerava-o em respeito à sua amizade e sei que ele fazia o mesmo. Confesso que quando o vi por aqui, fiquei incomodado com sua presença e até agora sinto que ele causará muitos danos, independente de vossa decisão. — Ainda não me decidi, Aron! Sei que o aconselhamento que todos me deram é verdadeiro e coerente, mas não consigo ainda conceber
ARON Voltei para o estábulo a fim de levar os cavalos para descansar. Enquanto estava livrando-os das selas, não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido. Todos aqueles anos em que reprimi minha paixão, meu amor por minha Princesa, por minha Rainha, tinham sido em vão, pois agora havia descoberto que ela me correspondia. Não sabia explicar desde quando isso acontecia, afinal não dissemos palavra alguma, não conseguimos proclamar nosso amor, no entanto estávamos certos de todo aquele sentimento apenas pelo que nossos olhos nos revelaram. Havia deixado todo aquele sentimento de lado por causa dos conselhos de meu pai. Não conseguia esquecer-me da conversa quando voltei de viagem após meus estudos. — Meu querido filho, seu retorno me traz muita felicidade, porém tenho percebido que você não me parece feliz por estar de volta. O que está acontecendo? — Estou muito feliz sim meu pai, todavia um pouco confuso com alguns sentimentos que não sabia q
MALENA Como poderíamos continuar nossa amizade após aquele dia e com aquela quase declaração? Muitas coisas me deixavam confusa. Há quanto tempo Aron correspondia aos meus sentimentos? Não podia imaginar! Tinha certeza de que ele gostava muito de mim como uma amiga que conhecia há muito tempo, mas depois do que aconteceu, já não sabia mais. Não podia ignorar aquele olhar, aquela declaração de amor sem palavras, aquele sorriso, aquele beijo reprimido, não podia ignorar toda aquela energia que nos tomou naquele instante, em que nos esquecemos de tudo e de todos, em que ocultamos as circunstâncias em que vivemos, a nossa atual situação de vida e as pessoas que nos cercam. O tempo que pedi para dar a resposta a Estevam havia chegado ao fim e dentro de mim permanecia a incerteza. Pensando com o coração, não queria aceitar de forma alguma, principalmente agora que sabia dos sentimentos de Aron. Entretanto, ao mesmo tempo, quando pensava com a razão, percebia que não havi
Consegui sair daquele transe e mandar aquelas ideias embora. Precisava realmente me distrair para aguentar as horas seguintes. Caminhei em direção às minhas amigas e ao chegar lá avistei Serafim brincando no chão. Como estava parecido com o pai! Cada vez mais via Aron no jeito dele, no seu sorriso, no seu doce semblante. Quando cheguei perto e ele me viu, veio em minha direção, gargalhando de alegria. Não pude conter a emoção e corri para pegá-lo. Afaguei-o em meu colo e o girei, dando muitos beijos naquele “rostinho” lindo e ele me agarrava, retribuindo o beijo com muito carinho. Sentei na esteira em que ele brincava e fiquei ali por um tempo, brincando com meu querido afilhado. Agnes e Bethany ficaram em silêncio, sorrindo, e parecia que não queriam incomodar-me com outros assuntos, pois sabiam que minha mente estava muito ocupada nesses dias. — Obrigada por me esperarem, queridas amigas, precisava muito descansar um pouco e nada melhor do que fazer isso com vocês e com no
Após redigir a carta pessoalmente, pedi para Elmos enviar minha resposta, com urgência, pelo mensageiro do reino. Já havia adiado demais aquela decisão e agora não tinha mais dúvidas, estava certa do que fazer e a sorte estava lançada. Ao ler o que eu escrevi, Elmos, com um ar preocupado, apenas me questionou: — Vossa Majestade está realmente certa dessa decisão, não é mesmo? — Nunca estive mais certa de algo em minha vida, meu querido amigo. Sei bem que não concorda com minha decisão, mas não poderia ser o contrário. Sabes bem disso! — Apenas temo pelo nosso futuro. Podemos esperar por qualquer coisa vinda de Estevam de hoje em diante. Não creio que ele ficará feliz ao ler sua resposta e logo enviará notícias. — Iremos então torcer para que suas notícias sejam boas, para que ele use de bom senso e aceite a minha proposta, respeitando minha decisão. — Sim, Vossa Alteza, que ele entenda vosso desejo e que seja possível resolver qualquer assunto pendente com
Não foi preciso nem ao menos esperar muito tempo para que viesse a resposta, e essa veio pessoalmente. No dia seguinte ao envio da minha resposta, Estevam apareceu sem um aviso prévio. Sua “visita” me pegou de surpresa. Quando fui avisada de sua presença no castelo, estava na sala de chás com minhas amigas e meu pequeno anjo. Já havia cumprido meus compromissos do dia e estava em um momento de descontração, que não durou muito. Elmos conduziu-me até a sala de reuniões onde Estevam me aguardava e já ia me preparando: — Ele não está nem um pouco amigável, Vossa Majestade, pelo contrário. Disse que veio para lhe dar a certeza de que ele recebeu sua decisão e que precisam conversar com urgência. — Já estou imaginando, só não o esperava assim tão rápido. Ele não quis esperar muito, não é mesmo? — Temo que sim. Prepare-se para uma reunião tumultuada. Boa sorte para nós. — Elmos olhou para cima como se fizesse uma prece, uma prece de ajuda e um pedido de socorro
— O que está dizendo, Estevam? Como ousa usar o nome de meu pai e colocar em dúvida a minha competência como Rainha, como líder? Faz isso pelo simples fato de eu ser mulher ou porque não o quis como meu marido? Eu é que fico triste e decepcionada por não ter percebido esse seu lado mesquinho. Quer saber de uma coisa? Vendo sua atitude, tenho a certeza de que tomei a decisão correta. Jamais nos daríamos bem casados, você realmente não serviria para governar ao meu lado. — A raiva que me acometeu fez-me falar demais, o que o deixou mais furioso ainda a ponto de tentar avançar sobre mim, sendo impedido prontamente pelos guardas que nos acompanhavam. — Eu a respeitarei por ser frágil e mulher, só por isso não a chamo para um duelo neste exato momento. Peço-lhe que meça as palavras quando falar sobre um Rei. — Você não mediu as suas para falar sobre uma Rainha. Engana-se ao julgar que sou frágil, poderemos marcar este duelo agora mesmo se assim o quiser, estou à sua disposição.
ESTEVAM Deixei aquele lugar inconformado com o que presenciei. Não podia acreditar em tamanha audácia. Meus secretários tentaram me acalmar em vão. Voltamos para meu reino em nossas carruagens, a viagem pareceu mais longa do que sempre foi. Estava inquieto e não conseguia pensar com clareza. Quando finalmente chegamos, tranquei-me em meus aposentos, precisava de um tempo sozinho para colocar minhas ideias em ordem. Como ela era capaz de fazer isso comigo? Como podia recusar-me, ignorar meu amor, mesmo sem saber que ele existia? Talvez tenha sido esse o meu erro! Teria sido melhor se tivesse declarado meus sentimentos desde o princípio. Quem sabe assim ela poderia ter me aceitado e nada disso estaria acontecendo. Será? Pode ser que sim ou não também. Parecia claro que ela só me queria como amigo mesmo, desde sempre. Não consigo esquecer o jeito com que sempre me tratou, mesmo quando éramos crianças. Eu que era o Príncipe, que era o amigo nobre e ela preferia aqu