Após redigir a carta pessoalmente, pedi para Elmos enviar minha resposta, com urgência, pelo mensageiro do reino. Já havia adiado demais aquela decisão e agora não tinha mais dúvidas, estava certa do que fazer e a sorte estava lançada. Ao ler o que eu escrevi, Elmos, com um ar preocupado, apenas me questionou: — Vossa Majestade está realmente certa dessa decisão, não é mesmo? — Nunca estive mais certa de algo em minha vida, meu querido amigo. Sei bem que não concorda com minha decisão, mas não poderia ser o contrário. Sabes bem disso! — Apenas temo pelo nosso futuro. Podemos esperar por qualquer coisa vinda de Estevam de hoje em diante. Não creio que ele ficará feliz ao ler sua resposta e logo enviará notícias. — Iremos então torcer para que suas notícias sejam boas, para que ele use de bom senso e aceite a minha proposta, respeitando minha decisão. — Sim, Vossa Alteza, que ele entenda vosso desejo e que seja possível resolver qualquer assunto pendente com
Não foi preciso nem ao menos esperar muito tempo para que viesse a resposta, e essa veio pessoalmente. No dia seguinte ao envio da minha resposta, Estevam apareceu sem um aviso prévio. Sua “visita” me pegou de surpresa. Quando fui avisada de sua presença no castelo, estava na sala de chás com minhas amigas e meu pequeno anjo. Já havia cumprido meus compromissos do dia e estava em um momento de descontração, que não durou muito. Elmos conduziu-me até a sala de reuniões onde Estevam me aguardava e já ia me preparando: — Ele não está nem um pouco amigável, Vossa Majestade, pelo contrário. Disse que veio para lhe dar a certeza de que ele recebeu sua decisão e que precisam conversar com urgência. — Já estou imaginando, só não o esperava assim tão rápido. Ele não quis esperar muito, não é mesmo? — Temo que sim. Prepare-se para uma reunião tumultuada. Boa sorte para nós. — Elmos olhou para cima como se fizesse uma prece, uma prece de ajuda e um pedido de socorro
— O que está dizendo, Estevam? Como ousa usar o nome de meu pai e colocar em dúvida a minha competência como Rainha, como líder? Faz isso pelo simples fato de eu ser mulher ou porque não o quis como meu marido? Eu é que fico triste e decepcionada por não ter percebido esse seu lado mesquinho. Quer saber de uma coisa? Vendo sua atitude, tenho a certeza de que tomei a decisão correta. Jamais nos daríamos bem casados, você realmente não serviria para governar ao meu lado. — A raiva que me acometeu fez-me falar demais, o que o deixou mais furioso ainda a ponto de tentar avançar sobre mim, sendo impedido prontamente pelos guardas que nos acompanhavam. — Eu a respeitarei por ser frágil e mulher, só por isso não a chamo para um duelo neste exato momento. Peço-lhe que meça as palavras quando falar sobre um Rei. — Você não mediu as suas para falar sobre uma Rainha. Engana-se ao julgar que sou frágil, poderemos marcar este duelo agora mesmo se assim o quiser, estou à sua disposição.
ESTEVAM Deixei aquele lugar inconformado com o que presenciei. Não podia acreditar em tamanha audácia. Meus secretários tentaram me acalmar em vão. Voltamos para meu reino em nossas carruagens, a viagem pareceu mais longa do que sempre foi. Estava inquieto e não conseguia pensar com clareza. Quando finalmente chegamos, tranquei-me em meus aposentos, precisava de um tempo sozinho para colocar minhas ideias em ordem. Como ela era capaz de fazer isso comigo? Como podia recusar-me, ignorar meu amor, mesmo sem saber que ele existia? Talvez tenha sido esse o meu erro! Teria sido melhor se tivesse declarado meus sentimentos desde o princípio. Quem sabe assim ela poderia ter me aceitado e nada disso estaria acontecendo. Será? Pode ser que sim ou não também. Parecia claro que ela só me queria como amigo mesmo, desde sempre. Não consigo esquecer o jeito com que sempre me tratou, mesmo quando éramos crianças. Eu que era o Príncipe, que era o amigo nobre e ela preferia aqu
— O que faz aqui, espionando Minsk, e tão longe de seu castelo, Vossa Majestade? — Não lhe devo satisfação, pois ainda estou em minhas terras. Além do mais, não estou espionando nada, apenas dando uma pausa em minha cavalgada para meu cavalo descansar. Como ousa me abordar dessa maneira, cavaleiro? — Desculpe-me, senhor, peço que Vossa Alteza me perdoe por lhe incomodar e abordá-lo dessa maneira, apenas fiquei curioso. Não esperava encontrá-lo por aqui.Havia certa arrogância em suas palavras e isso me deixou irritado. — E você? O que faz aqui em minhas terras? Será que não percebeu que já atravessara a fronteira? — Percebi sim, senhor. Estava a caminho de vosso castelo a fim de procurá-lo para uma conversa. — Mas o que poderia conversar com um Rei? — falei, zombando e rindo de suas palavras. Aron saltou de seu cavalo aproximando-se. — Tenho certeza que sabe o assunto e o motivo dessa conversa. Não gostei da vossa atitude com a minha Rainha e vim em
— Calma! Devemos esperar até que eles estejam mais perto — dizia Aron, percebendo minha ansiedade.— Não quero arriscar nada, entendeu? Essa batalha é nossa! Eles não conseguirão invadir o reino, de jeito nenhum! — Mesmo sabendo do potencial dos nossos soldados e de que éramos capazes de vencer, estava insegura.Queria muito lutar. Era a primeira vez que pisava em um campo de batalha, e aquilo tudo havia se tornado uma questão de honra. Precisava provar que estava certa nas minhas decisões. Não só mostrar para todos, mas principalmente para mim mesma.Nunca fui uma pessoa insegura, isso nunca me abalou, até agora. Sempre fui segura e me sentia protegida entre as muralhas do reino e fora delas também, mas minha principal segurança vinha de dentro, do meu coração, e sentia isso com todas as forças possíveis.Fui uma criança muito amada e querida pelos meus pais, Rei e Rainha, por todos os nossos amigos, súditos, empregados e toda a população do reino.Tive uma vida tranquila, meus pais
Queria muito sua amizade, mas também desejava algo mais e parecia que ele não percebia isso.Não tínhamos mais a mesma intimidade de antes, afinal, quando ele viajou para estudar, ainda era um menino e brincava comigo nos campos do reino. Agora, ambos estávamos quase adultos e não cabiam mais as mesmas brincadeiras de antes. Devido a isso, afastamo-nos um pouco, para minha tristeza. Encontrava-o aleatoriamente pelo castelo e pelo reino.Durante as festas, ele me tirava para dançar e conversávamos um pouco, contudo os assuntos eram sempre sobre o que aconteceu a ele durante o tempo que passou fora e sobre o que fiz durante esse tempo, sobre meus estudos e algumas histórias com amigos em comum.Às vezes, ficava perguntando por ele para os criados que acabavam me informando onde o tinham visto pela última vez, e eu arrumava um pretexto para ir até o local encontrá-lo. Ele nem desconfiava das minhas intenções, pelo menos parecia que não.Aron não me dava nenhum motivo para acreditar no co
Quando saí de meus aposentos, ela me disse:— Boa sorte, querida. Você será a mais bela e a melhor Rainha que esse reino já pôde ter. Que a paz e o amor estejam sempre em vosso coração. — Agradeci com um olhar, um aperto de mão e um beijo demorado em sua face macia e rosada. As palavras não saíram, e ficou um nó na garganta difícil de controlar, mas tinha de conseguir, não podia chorar naquele momento, estava a caminho da minha coroação.Aproximando-me do salão principal, comecei a ouvir os convidados conversando e uma música suave tocada pelos músicos do castelo.Meu pai costumava fazer muitas festas, minha mãe também gostava muito de comemorações e comigo não seria diferente. Tinha em meus planos, realizar muitos bailes e comemorar tudo que pudesse, em memória deles.Parei na entrada, aguardando ser anunciada, como me foi orientado. Sem aviso, a música parou, os convidados silenciaram e foi anunciada a minha presença.— Vossa Majestade, Princesa Malena Katherine Baldrick Nithercott!