Vittorio Moretti não era um homem que acreditava em coincidências. Para ele, o universo era uma teia de causas e consequências, e cada ação tinha um preço. Ele havia aprendido isso da maneira mais difícil, em uma noite que mudou sua vida para sempre.
Era uma noite de inverno, há mais de quinze anos, quando ele ainda era apenas um jovem de dezenove anos, cheio de sonhos e ambições. Seu pai, Don Carlo Moretti, era o chefe da família, um homem respeitado e temido em igual medida. Vittorio cresceu à sombra do poder, observando o pai negociar, intimidar e, quando necessário, eliminar aqueles que ousavam desafiar a família. Ele admirava o pai, mas também temia o dia em que teria que assumir o lugar dele.
Esse dia chegou mais cedo do que ele esperava.
Foi em uma reunião de família, no porão de uma velha vinícola nos arredores de Nápoles. Don Carlo estava discutindo um acordo com um dos capangas, quando a porta se abriu de repente. Antes que alguém pudesse reagir, tiros ecoaram pelo espaço fechado. Vittorio viu o pai cair, o sangue manchando o chão de pedra. Ele tentou correr até ele, mas foi segurado por um dos homens de confiança da família.
— Fuja, Vittorio! — o homem gritou, empurrando-o para uma saída secreta. — Eles vão matar você também!
Vittorio correu, mas não antes de ver o rosto do traidor: Marco, seu tio, o irmão mais novo de seu pai. Marco sempre fora ambicioso, mas ninguém imaginava que ele fosse capaz de trair a própria família.
Naquela noite, Vittorio perdeu não apenas o pai, mas também a inocência. Ele jurou vingança, mas sabia que não poderia agir por impulso. Ele precisava ser mais inteligente, mais frio, mais calculista do que Marco. E foi exatamente o que ele fez.
Nos anos que se seguiram, Vittorio construiu uma reputação implacável. Ele eliminou os traidores um por um, incluindo o próprio tio, em uma jogada que deixou claro para todos que ele não era apenas o filho de Don Carlo — ele era o novo Don. Mas o poder veio com um preço. Ele teve que enterrar sua humanidade, transformando-se em um homem que confiava apenas na lógica e no controle. Emoções eram um luxo que ele não podia se permitir.
Até agora.
Enquanto observava Isabella sair de seu escritório, Vittorio sentiu algo que há muito tempo não experimentava: uma faísca de curiosidade. Ela era diferente das outras mulheres que cruzaram seu caminho. Havia uma força nela, uma determinação que ele não podia ignorar. Mas ele sabia que se aproximar dela era um risco. Emoções eram perigosas em seu mundo.
Ele se aproximou da janela, olhando para a cidade abaixo. A noite estava quieta, mas ele sabia que a calma era apenas uma ilusão. Sempre havia inimigos à espreita, prontos para atacar. Ele não podia se dar ao luxo de baixar a guarda.
— Vittorio — uma voz familiar o chamou da porta.
Ele se virou e viu Luca, seu braço direito e o único homem em quem ele realmente confiava.
— O que foi? — perguntou Vittorio, voltando a atenção para o horizonte.
— A senhorita Rossi... você acha que é seguro deixá-la entrar no seu mundo? — Luca perguntou, com uma preocupação rara em sua voz.
Vittorio ficou em silêncio por um momento, ponderando a pergunta. Ele sabia que Luca tinha razão. Isabella era uma incógnita, e incógnitas eram perigosas. Mas havia algo nela que ele não conseguia ignorar.
— Eu não sei — ele admitiu, finalmente. — Mas estou disposto a descobrir.
Luca não respondeu, mas Vittorio sabia o que ele estava pensando. Emoções eram uma fraqueza, e fraquezas podiam ser fatais. Mas, pela primeira vez em muito tempo, Vittorio estava disposto a correr o risco.
Enquanto isso, Isabella caminhava pelas ruas escuras de Nápoles, seu coração batendo acelerado. Ela ainda sentia o gosto de Vittorio em seus lábios, a intensidade daquele beijo a deixando confusa e excitada ao mesmo tempo. Ela sabia que estava se metendo em algo perigoso, mas também sabia que não tinha escolha. Seus avós precisavam dela, e ela faria qualquer coisa para salvá-los.
Mas, à medida que se afastava do escritório de Vittorio, uma pergunta ecoava em sua mente: o que ele realmente queria dela? E, mais importante, o que ela estava disposta a dar em troca?
Isabella Rossi não havia procurado Vittorio Moretti por acaso. A decisão de se aproximar dele veio de uma conversa com sua avó, uma mulher forte e sábia que, mesmo doente, ainda mantinha um brilho nos olhos.— Minha querida — a avó havia dito, segurando a mão de Isabella com uma força surpreendente. — Há algo que você precisa saber. Seu avô... ele não era apenas um homem comum. Ele tinha conexões. Conexões que podem nos ajudar agora.Isabella franziu a testa, confusa.— Conexões? O que você quer dizer, vovó?A avó hesitou por um momento, como se estivesse ponderando o quanto revelar.— Seu avô trabalhou para a família Moretti quando era jovem. Ele era um homem de confiança de Don Carlo, o pai de Vittorio. Eles tinham um acordo... uma dívida de honra. Se você for até Vittorio e mencionar o nome do seu avô, ele pode nos ajudar.Isabella ficou chocada. Ela sempre soube que o avô tinha um passado misterioso, mas nunca imaginou que ele estivesse envolvido com a máfia. Agora, aquela informa
O primeiro dia de Isabella como assistente pessoal de Vittorio começou antes mesmo do sol nascer. Ela acordou com o coração acelerado, o som do vento batendo contra as janelas do pequeno apartamento que dividia com os avós. A noite havia sido agitada, cheia de sonhos fragmentados nos quais Vittorio aparecia como uma figura sombria e sedutora, sempre fora de alcance. Agora, de pé diante do espelho, ela se arrumava com cuidado, escolhendo um vestido preto simples, mas elegante, que destacava sua silhueta sem parecer vulgar. Os saltos altos eram um toque arriscado, mas ela queria transmitir confiança. Afinal, não estava lidando com um homem comum.Ao sair de casa, o ar fresco da madrugada a acalmou um pouco. As ruas de Nápoles estavam desertas, e o som de seus passos ecoava nas calçadas de pedra. Vittorio havia enviado um carro para buscá-la, um sedan preto e discreto, com vidros escuros e um motorista igualmente silencioso. Ela entrou no carro, sentindo o cheiro de couro novo e um leve
O final do dia chegou, e Isabella estava exausta. A mansão de Vittorio era um labirinto de corredores silenciosos e salas imponentes, e ela sentia que mal havia arranhado a superfície de seu novo mundo. Ele a havia levado para jantar em uma sala de jantar luxuosa, com uma mesa comprida que poderia acomodar vinte pessoas, mas que agora estava posta apenas para os dois. A comida era requintada — massas frescas, vinho tinto encorpado e uma sobremesa que derretia na boca —, mas Isabella mal conseguia saboreá-la. A presença de Vittorio era opressiva, mesmo quando ele estava calado.Quando o jantar terminou, ele se levantou e caminhou até a janela, olhando para os jardins iluminados pela luz da lua.— Isabella — ele começou, sua voz suave, mas carregada de autoridade. — A partir de hoje, você vai morar aqui, na mansão.Ela quase engasgou com o gole de vinho que estava tomando.— Morar aqui? — ela repetiu, tentando processar a informação. — Mas... meus avós... eu preciso cuidar deles.— Você
Isabella não conseguia dormir. O quarto que Vittorio havia designado para ela era luxuoso, com uma cama enorme e lençóis de seda, mas ela se sentia inquieta. A conversa do jantar ainda ecoava em sua mente, junto com a imagem daqueles olhos escuros que pareciam ver através dela. Ela se virou na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas o silêncio da mansão era opressivo.Finalmente, ela desistiu. Levantou-se e vestiu um roupão de seda que havia encontrado no armário. Talvez um copo de leite morno a ajudasse a relaxar, como fazia quando era menina e não conseguia dormir. Descalça, ela desceu as escadas em silêncio, seguindo o corredor até a cozinha.A mansão estava escura, com apenas algumas luzes fracas iluminando o caminho. Quando ela passou pelo escritório de Vittorio, notou uma fresta de luz saindo por debaixo da porta. Ele ainda estava acordado. Ela hesitou por um momento, mas a curiosidade foi mais forte. Aproximou-se da porta e espiou por uma pequena abertura.Vittori
Isabella não dormiu. O beijo com Vittorio havia deixado seu corpo em chamas e sua mente em caos. Ela estava deitada na cama, olhando para o teto, enquanto o silêncio da noite parecia amplificar cada pensamento, cada sensação. Sua pele ainda formigava onde as mãos dele a haviam tocado, e seus lábios ainda ardiam com o sabor dele. Era como se ele tivesse acendido uma chama dentro dela, uma chama que ela não sabia como apagar.Ela se virou de lado, abraçando o travesseiro, tentando se acalmar. Mas quanto mais ela tentava esquecer, mais vívidas se tornavam as memórias. As mãos dele em seu rosto, o calor do corpo dele contra o seu, a maneira como ele a beijou com uma intensidade que a deixou sem ar. Era como se ele tivesse invadido cada parte dela, deixando-a exposta e vulnerável.Isabella nunca havia experimentado algo assim. Sua vida sempre foi focada em cuidar dos avós e trabalhar para sustentar a família. Ela não tinha tempo para namoricos, festas ou aventuras como outras mulheres de s
O dia começou como qualquer outro. Isabella acordou cedo, ainda sentindo os ecos da noite anterior em seu corpo e em sua mente. Ela se vestiu com cuidado, escolhendo um traje sóbrio, mas elegante, e desceu para o café da manhã. Vittorio já estava na sala de jantar, lendo o jornal e tomando um café. Ele a cumprimentou com um aceno de cabeça, como se nada tivesse acontecido entre eles.— Bom dia — ele disse, sua voz neutra, como se aquele beijo ardente nunca tivesse ocorrido.— Bom dia — ela respondeu, tentando manter a compostura. Mas por dentro, ela estava em tumulto. Como ele podia agir como se nada tivesse acontecido? Como ele podia ser tão frio, tão controlado?Ela sentou-se à mesa, evitando o olhar dele, e começou a comer em silêncio. Vittorio continuou a ler o jornal, completamente imperturbável. Era como se a noite anterior tivesse sido um sonho, uma ilusão que desaparecera com a luz do dia.O Dia de Trabalho O dia de trabalho foi intenso. Vittorio manteve-se profissional, dand
O dia seguiu após a partida de Sofia, mas o clima no escritório permaneceu carregado. Isabella tentou se concentrar no trabalho, mas cada movimento de Vittorio, cada palavra que ele dizia, parecia ecoar em sua mente como um desafio. Ele agia como se nada tivesse acontecido, como se a presença de Sofia não tivesse afetado em nada a dinâmica entre eles. E isso a deixava furiosa.Ela estava revisando alguns documentos quando Vittorio se aproximou, seu olhar fixo nela como se estivesse tentando decifrar seus pensamentos.— Precisamos discutir a reunião de amanhã — ele disse, sua voz neutra, mas carregada de uma energia que ela não conseguia ignorar.— Claro — ela respondeu, mantendo o olhar nos papéis. — O que você precisa?Ele sentou-se na borda da mesa, tão perto que ela podia sentir o calor do corpo dele. Era como se ele estivesse testando-a, vendo até onde podia ir antes que ela reagisse.— Você parece... distraída — ele comentou, com um tom de voz que era ao mesmo tempo suave e provo
A mansão de Vittorio estava iluminada como nunca antes. Lustres de cristal pendiam do teto, lançando reflexos dourados sobre as paredes decoradas com tapeçarias antigas e obras de arte valiosas. O som de uma orquestra suave ecoava pelos corredores, misturando-se ao murmúrio das conversas e ao tilintar de taças de champanhe. Era um jantar formal, um evento raro na vida de Vittorio Moretti, e todos os membros importantes da máfia e seus aliados estavam presentes.Isabella estava em seu quarto, ajustando o vestido que Vittorio havia mandado entregar para ela. Era um modelo elegante, de seda preta, que destacava suas curvas sem ser vulgar. Ela olhou para o espelho, tentando se convencer de que estava pronta para enfrentar a noite. Mas, por dentro, ela estava em tumulto. Vittorio havia a informado sobre o jantar naquela manhã, e suas palavras ainda ecoavam em sua mente.A Revelação de Vittorio— Haverá um jantar aqui na mansão esta noite — ele dissera, sentado em sua cadeira no escritório,