A mansão estava silenciosa, mas a tensão no escritório de Vittorio era sufocante. As cortinas pesadas bloqueavam a luz da manhã, deixando o ambiente mergulhado em sombras. Sobre a mesa de mogno, papéis espalhados e um copo de uísque intocado ao lado de um revólver carregado diziam muito sobre o estado de espírito de Vittorio Moretti.Luca estava de pé, os braços cruzados, observando o chefe com cautela. Ele conhecia aquele olhar. Vittorio estava no limite, e quando ele ficava assim, sangue era derramado.— Precisamos agir rápido — Luca disse, quebrando o silêncio. — Se há empregados envolvidos, eles sabem que Isabella ouviu. Vão tentar silenciá-la antes que a gente os pegue.Vittorio passou a mão pelo queixo, os olhos fixos em um ponto distante.— E é exatamente isso que eu quero que tentem. Quero que se sintam seguros o bastante para dar um passo em falso. Assim, vamos esmagá-los.Luca assentiu, compreendendo o plano. Eles não podiam simplesmente sair interrogando os empregados. Isso
Isabella estava sentada diante do espelho de um dos salões da mansão, observando o reflexo de uma mulher que quase não reconhecia. Seus olhos carregavam o peso dos últimos dias, mas seu corpo estava imóvel, permitindo que Helena, a irmã de Vittorio, ajustasse os últimos detalhes da prova do vestido de noiva.Helena era jovem, com traços delicados e um olhar carregado de uma sabedoria precoce. Ao contrário de Isabella, que agora se via presa em um casamento arranjado, Helena ainda não havia sido prometida a ninguém. Mas sabia que esse dia chegaria. Dentro da Famiglia, mulheres eram frequentemente tratadas como alianças, entregues como moedas de troca para fortalecer laços entre os poderosos. E esse destino a assombrava mais do que qualquer coisa.— Você está linda, cara mia — Helena disse, com um sorriso suave, enquanto prendia uma das alças do vestido. — Mas sua expressão diz que está a quilômetros daqui.Isabella forçou um sorriso, mas não conseguiu sustentá-lo por muito tempo. Suspir
A noite caía sobre a mansão, trazendo consigo um silêncio pesado. Isabella caminhava pelos corredores, os dedos roçando as paredes de mármore frio. A prova do vestido a deixara exausta, mas sua mente não descansava. Alguém dentro daquela casa queria sua morte. Alguém que sorria para ela, que fingia lealdade.Ela parou diante da porta do escritório de Vittorio. A luz fraca vazava por baixo da porta, e as vozes abafadas do lado de dentro a fizeram hesitar.— Você está certo disso? — A voz de Luca era tensa.— Não há dúvidas. — Vittorio respondeu, o tom cortante. — Paolo estava se comunicando com Ricci. Temos as mensagens.Isabella segurou a respiração. Paolo. Um dos guardas pessoais de Vittorio. Um homem que a cumprimentava todas as manhãs com um sorriso.— E Carmine?— Inocente. Pelo menos nisso. Vittorio fez uma pausa. — Mas há mais.O som de papéis sendo revirados.— A mulher que Isabella ouviu na despensa... Luca hesitou. — Você acha que pode ser...— Não diga esse nome. A voz de Vit
A notícia sobre Ginevra se espalhara como fogo em pólvora. O império de Vittorio fora abalado por aquele segredo revelado, uma peça do quebra-cabeça que Ricci talvez estivesse manipulando nos bastidores. Isabella observava a tempestade se formar ao redor dele, mas era a que queimava dentro dele que a preocupava mais.Ele era um turbilhão de sentimentos. Proteger sua família, manter seus negócios, enfrentar ameaças constantes... tudo parecia desmoronar. E, acima de tudo, a ideia de quase perder Isabella—de vê-la à mercê de algo tão cruel—o consumia. Ele não acreditava que pudesse sentir tanto, mas agora tudo parecia diferente. O que era aquilo que crescia dentro dele?Nunca desejara uma mulher daquela forma. Nunca experimentara um desejo tão avassalador, misturado à necessidade de cuidar, de proteger. Era mais do que posse. Era algo que ele não sabia nomear.Quando ele entrou no quarto naquela noite, sua presença era uma tempestade prestes a explodir. Seu olhar escuro reluzia entre a fú
Isabella desabou num sono profundo, rendida, aninhada contra o peito de Vittorio como se fosse a última âncora em meio à tempestade. Seu corpo ainda vibrava com o êxtase que ele lhe proporcionara, as marcas do prazer tão vívidas quanto as lembranças que incendiavam a mente dele. Vittorio a observou em silêncio, os olhos cravados no rosto angelical da mulher que agora carregava seu nome, sua promessa. Ela era dele. Cada suspiro, cada arrepio, cada lágrima derramada entre os lençóis — tudo, absolutamente tudo, pertencia a ele.Com cuidado, afastou-se, levantando-se da cama como uma fera que se desvencilha do calor de sua presa. A necessidade ardia sob sua pele como fogo líquido. Seus músculos estavam tensionados, o desejo ainda rugia dentro dele, insaciável. Entrou no banheiro e ligou o chuveiro, deixando a água quente escorrer por seu corpo — mas nem mesmo aquele calor era suficiente para domar o inferno que Isabella havia acendido.O pensamento dela era um veneno doce. Sua pele, seu go
A noite em Nápoles era quente, pesada, como se o próprio ar conspirasse para esconder segredos. As ruas estreitas e sinuosas do bairro antigo eram iluminadas apenas por faróis fracos, que lançavam sombras dançantes nas paredes de pedra. Era ali, no coração da cidade, que o poder verdadeiro se escondia, longe dos holofotes e das manchetes. A máfia não precisava de luz para governar; ela prosperava nas trevas.Vittorio Moretti, conhecido como Il Fantasma — O Fantasma —, era um homem que personificava o silêncio mortal das sombras. Alto, de olhos frios como o aço e uma presença que paralisava até os homens mais corajosos, ele era o chefe indiscutível da família Moretti. Sua reputação era lendária: implacável, calculista e, acima de tudo, perigoso. Mas havia uma regra que ele nunca quebrava: nunca se envolver emocionalmente. Até agora.Do outro lado da cidade, em um apartamento minúsculo e decadente, Isabella Rossi lutava contra o desespero. Aos 24 anos, ela já havia perdido a esperança d
Vittorio Moretti não era um homem que acreditava em coincidências. Para ele, o universo era uma teia de causas e consequências, e cada ação tinha um preço. Ele havia aprendido isso da maneira mais difícil, em uma noite que mudou sua vida para sempre.Era uma noite de inverno, há mais de quinze anos, quando ele ainda era apenas um jovem de dezenove anos, cheio de sonhos e ambições. Seu pai, Don Carlo Moretti, era o chefe da família, um homem respeitado e temido em igual medida. Vittorio cresceu à sombra do poder, observando o pai negociar, intimidar e, quando necessário, eliminar aqueles que ousavam desafiar a família. Ele admirava o pai, mas também temia o dia em que teria que assumir o lugar dele.Esse dia chegou mais cedo do que ele esperava.Foi em uma reunião de família, no porão de uma velha vinícola nos arredores de Nápoles. Don Carlo estava discutindo um acordo com um dos capangas, quando a porta se abriu de repente. Antes que alguém pudesse reagir, tiros ecoaram pelo espaço fe
Isabella Rossi não havia procurado Vittorio Moretti por acaso. A decisão de se aproximar dele veio de uma conversa com sua avó, uma mulher forte e sábia que, mesmo doente, ainda mantinha um brilho nos olhos.— Minha querida — a avó havia dito, segurando a mão de Isabella com uma força surpreendente. — Há algo que você precisa saber. Seu avô... ele não era apenas um homem comum. Ele tinha conexões. Conexões que podem nos ajudar agora.Isabella franziu a testa, confusa.— Conexões? O que você quer dizer, vovó?A avó hesitou por um momento, como se estivesse ponderando o quanto revelar.— Seu avô trabalhou para a família Moretti quando era jovem. Ele era um homem de confiança de Don Carlo, o pai de Vittorio. Eles tinham um acordo... uma dívida de honra. Se você for até Vittorio e mencionar o nome do seu avô, ele pode nos ajudar.Isabella ficou chocada. Ela sempre soube que o avô tinha um passado misterioso, mas nunca imaginou que ele estivesse envolvido com a máfia. Agora, aquela informa