A mansão estava silenciosa, mas a tensão no escritório de Vittorio era sufocante. As cortinas pesadas bloqueavam a luz da manhã, deixando o ambiente mergulhado em sombras. Sobre a mesa de mogno, papéis espalhados e um copo de uísque intocado ao lado de um revólver carregado diziam muito sobre o estado de espírito de Vittorio Moretti.Luca estava de pé, os braços cruzados, observando o chefe com cautela. Ele conhecia aquele olhar. Vittorio estava no limite, e quando ele ficava assim, sangue era derramado.— Precisamos agir rápido — Luca disse, quebrando o silêncio. — Se há empregados envolvidos, eles sabem que Isabella ouviu. Vão tentar silenciá-la antes que a gente os pegue.Vittorio passou a mão pelo queixo, os olhos fixos em um ponto distante.— E é exatamente isso que eu quero que tentem. Quero que se sintam seguros o bastante para dar um passo em falso. Assim, vamos esmagá-los.Luca assentiu, compreendendo o plano. Eles não podiam simplesmente sair interrogando os empregados. Isso
Isabella estava sentada diante do espelho de um dos salões da mansão, observando o reflexo de uma mulher que quase não reconhecia. Seus olhos carregavam o peso dos últimos dias, mas seu corpo estava imóvel, permitindo que Helena, a irmã de Vittorio, ajustasse os últimos detalhes da prova do vestido de noiva.Helena era jovem, com traços delicados e um olhar carregado de uma sabedoria precoce. Ao contrário de Isabella, que agora se via presa em um casamento arranjado, Helena ainda não havia sido prometida a ninguém. Mas sabia que esse dia chegaria. Dentro da Famiglia, mulheres eram frequentemente tratadas como alianças, entregues como moedas de troca para fortalecer laços entre os poderosos. E esse destino a assombrava mais do que qualquer coisa.— Você está linda, cara mia — Helena disse, com um sorriso suave, enquanto prendia uma das alças do vestido. — Mas sua expressão diz que está a quilômetros daqui.Isabella forçou um sorriso, mas não conseguiu sustentá-lo por muito tempo. Suspir
A noite em Nápoles era quente, pesada, como se o próprio ar conspirasse para esconder segredos. As ruas estreitas e sinuosas do bairro antigo eram iluminadas apenas por faróis fracos, que lançavam sombras dançantes nas paredes de pedra. Era ali, no coração da cidade, que o poder verdadeiro se escondia, longe dos holofotes e das manchetes. A máfia não precisava de luz para governar; ela prosperava nas trevas.Vittorio Moretti, conhecido como Il Fantasma — O Fantasma —, era um homem que personificava o silêncio mortal das sombras. Alto, de olhos frios como o aço e uma presença que paralisava até os homens mais corajosos, ele era o chefe indiscutível da família Moretti. Sua reputação era lendária: implacável, calculista e, acima de tudo, perigoso. Mas havia uma regra que ele nunca quebrava: nunca se envolver emocionalmente. Até agora.Do outro lado da cidade, em um apartamento minúsculo e decadente, Isabella Rossi lutava contra o desespero. Aos 24 anos, ela já havia perdido a esperança d
Vittorio Moretti não era um homem que acreditava em coincidências. Para ele, o universo era uma teia de causas e consequências, e cada ação tinha um preço. Ele havia aprendido isso da maneira mais difícil, em uma noite que mudou sua vida para sempre.Era uma noite de inverno, há mais de quinze anos, quando ele ainda era apenas um jovem de dezenove anos, cheio de sonhos e ambições. Seu pai, Don Carlo Moretti, era o chefe da família, um homem respeitado e temido em igual medida. Vittorio cresceu à sombra do poder, observando o pai negociar, intimidar e, quando necessário, eliminar aqueles que ousavam desafiar a família. Ele admirava o pai, mas também temia o dia em que teria que assumir o lugar dele.Esse dia chegou mais cedo do que ele esperava.Foi em uma reunião de família, no porão de uma velha vinícola nos arredores de Nápoles. Don Carlo estava discutindo um acordo com um dos capangas, quando a porta se abriu de repente. Antes que alguém pudesse reagir, tiros ecoaram pelo espaço fe
Isabella Rossi não havia procurado Vittorio Moretti por acaso. A decisão de se aproximar dele veio de uma conversa com sua avó, uma mulher forte e sábia que, mesmo doente, ainda mantinha um brilho nos olhos.— Minha querida — a avó havia dito, segurando a mão de Isabella com uma força surpreendente. — Há algo que você precisa saber. Seu avô... ele não era apenas um homem comum. Ele tinha conexões. Conexões que podem nos ajudar agora.Isabella franziu a testa, confusa.— Conexões? O que você quer dizer, vovó?A avó hesitou por um momento, como se estivesse ponderando o quanto revelar.— Seu avô trabalhou para a família Moretti quando era jovem. Ele era um homem de confiança de Don Carlo, o pai de Vittorio. Eles tinham um acordo... uma dívida de honra. Se você for até Vittorio e mencionar o nome do seu avô, ele pode nos ajudar.Isabella ficou chocada. Ela sempre soube que o avô tinha um passado misterioso, mas nunca imaginou que ele estivesse envolvido com a máfia. Agora, aquela informa
O primeiro dia de Isabella como assistente pessoal de Vittorio começou antes mesmo do sol nascer. Ela acordou com o coração acelerado, o som do vento batendo contra as janelas do pequeno apartamento que dividia com os avós. A noite havia sido agitada, cheia de sonhos fragmentados nos quais Vittorio aparecia como uma figura sombria e sedutora, sempre fora de alcance. Agora, de pé diante do espelho, ela se arrumava com cuidado, escolhendo um vestido preto simples, mas elegante, que destacava sua silhueta sem parecer vulgar. Os saltos altos eram um toque arriscado, mas ela queria transmitir confiança. Afinal, não estava lidando com um homem comum.Ao sair de casa, o ar fresco da madrugada a acalmou um pouco. As ruas de Nápoles estavam desertas, e o som de seus passos ecoava nas calçadas de pedra. Vittorio havia enviado um carro para buscá-la, um sedan preto e discreto, com vidros escuros e um motorista igualmente silencioso. Ela entrou no carro, sentindo o cheiro de couro novo e um leve
O final do dia chegou, e Isabella estava exausta. A mansão de Vittorio era um labirinto de corredores silenciosos e salas imponentes, e ela sentia que mal havia arranhado a superfície de seu novo mundo. Ele a havia levado para jantar em uma sala de jantar luxuosa, com uma mesa comprida que poderia acomodar vinte pessoas, mas que agora estava posta apenas para os dois. A comida era requintada — massas frescas, vinho tinto encorpado e uma sobremesa que derretia na boca —, mas Isabella mal conseguia saboreá-la. A presença de Vittorio era opressiva, mesmo quando ele estava calado.Quando o jantar terminou, ele se levantou e caminhou até a janela, olhando para os jardins iluminados pela luz da lua.— Isabella — ele começou, sua voz suave, mas carregada de autoridade. — A partir de hoje, você vai morar aqui, na mansão.Ela quase engasgou com o gole de vinho que estava tomando.— Morar aqui? — ela repetiu, tentando processar a informação. — Mas... meus avós... eu preciso cuidar deles.— Você
Isabella não conseguia dormir. O quarto que Vittorio havia designado para ela era luxuoso, com uma cama enorme e lençóis de seda, mas ela se sentia inquieta. A conversa do jantar ainda ecoava em sua mente, junto com a imagem daqueles olhos escuros que pareciam ver através dela. Ela se virou na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas o silêncio da mansão era opressivo.Finalmente, ela desistiu. Levantou-se e vestiu um roupão de seda que havia encontrado no armário. Talvez um copo de leite morno a ajudasse a relaxar, como fazia quando era menina e não conseguia dormir. Descalça, ela desceu as escadas em silêncio, seguindo o corredor até a cozinha.A mansão estava escura, com apenas algumas luzes fracas iluminando o caminho. Quando ela passou pelo escritório de Vittorio, notou uma fresta de luz saindo por debaixo da porta. Ele ainda estava acordado. Ela hesitou por um momento, mas a curiosidade foi mais forte. Aproximou-se da porta e espiou por uma pequena abertura.Vittori