— Ainda acho que devemos matar essa garota e depois comê-la. — Escuto uma voz feminina rouca falar com desdém. — Não façam essa cara, aposto que pensaram o mesmo quando viram seu corpo desacordado na floresta.
— Não seja idiota. — Uma outra voz feminina fala irritada. — Sabe que o Dylan jamais permitirá que encostem na nova humana de estimação dele.Uma risada sarcástica invade o cômodo e meu corpo se arrepia, entrando em estado de alerta.— Que seja. — A primeira voz diz com desgosto. — Se ninguém a devorar, ela acabará como todas as outras.— Eu não diria isso se fosse você, maninha. — Um homem fala com certo entusiasmo. — Ela sobreviveu a um ataque de um sugador de sangue, isso por si só já é impressionante. Agora saber que não era apenas mais um demônio qualquer e sim o...Sua voz é interrompida por um rosnado canino, como se ele estivesse prestes a revelar informações que não devia.Um flash de memórias passa em minha mente, e sinto meu peito doer ao lembrar da minha família. Eles estavam mortos, e isso era culpa minha.Se não fosse pela minha atitude estúpida, todos ainda estariam vivos, e eu não estaria passando por isso.Escuto mais um rosnado, e meu corpo se arrepia, entrando em estado de alerta. Era o mesmo rosnado dos lobos gigantes da floresta. Será que eu ainda estava lá? Era improvável, pois sentia que estava deitada em algo macio e aqui estava quente. O cheiro era familiar, cheiro de lenha queimando na lareira e de chocolate quente com biscoitos. Então, estava em uma casa? De quem seria essa casa?Novamente, um rosnado me faz tremer de medo, e escuto um grito feminino acompanhado de um som alto de algo quebrando.— Basta! Saiam todos. — Uma voz masculina esbraveja, e sinto um frio na barriga. Sua voz grossa e grave era assustadora, mas por algum motivo me senti mais segura com suas palavras. — Já disse, ninguém encosta na humana!Abro os olhos lentamente e sinto minha cabeça girar. Um par de olhos negros me encara atentamente. O rosto feminino é delicado, embora tenha uma cicatriz em sua bochecha. Seu cabelo ruivo é cacheado, e suas bochechas estão repletas de sardas. Ao perceber que eu a analiso, ela sorri de forma adorável.— Venham! — Sua voz era doce, angelical, diferente da outra voz feminina. — A humana acordou.Uma mulher alta se aproxima, sua presença imponente preenche o ambiente. Seus cabelos castanhos curtos estão raspados nas laterais, e seus olhos mel encantadores emanam uma mistura intrigante de curiosidade e desconfiança. Seus lábios grossos, firmemente pressionados, dão-lhe uma expressão intimidadora.—Que ótimo, mais uma pirralha para eu cuidar... Não entendo por que deixar essa criatura viva.Reconheço a voz autoritária como a mesma que ouvi quando acordei. Ela me encara com um olhar de superioridade, como se eu fosse um fardo indesejado em sua vida.Um homem se aproxima em passos curtos, emanando uma aura de força e segurança. Ele segura firmemente o pulso da mulher com uma determinação visível. Seu maxilar marcado, levemente sombreado por uma barba bem-cuidada, acentua seus traços viris. Os olhos expressivos, da mesma cor mel que os da mulher, refletem uma mistura de preocupação e firmeza. Seus cabelos castanhos ondulados enquadram seu rosto com elegância, complementando sua aparência marcante.— Já disse, Ayla, você não deve encostar um dedo sequer nessa humana, ou eu farei você pagar.A mulher rosna como uma fera, e ele a encara ameaçadoramente. Ele emite um som estranho, como um grunhido, e isso a faz se encolher.— Já chega! — Ele fala de forma fria. — Saia daqui antes que eu perca a cabeça.Sem questionar, ela se afasta rapidamente, saindo do cômodo.Quem ele era, e por que ela o obedeceu sem questionar? Eu tinha tantas perguntas, minha cabeça girava devido à dor.— Como ela está? — Sua voz se torna doce e preocupada. — Ela ficará bem?A mulher ao meu lado me encara de forma confusa.— Não sei dizer ao certo... O corpo dela é bem diferente do nosso. Acho que ela não deve falar nosso idioma, ou deve ser surda.Sinto ela puxar minha orelha, e isso dói. Empurro sua mão, assustando-a. Me sento na cama e sinto uma forte dor na minha perna, fazendo-me gemer de dor. Uma lágrima escorre pelo meu rosto, mas a limpo rapidamente.— A senhora pode me soltar? — Falo irritada, e o homem me encara de forma estranha. — E, para sua informação, eu não sou surda!A mulher arregala os olhos e se aproxima com cautela, como se estivesse observando um alienígena sair de sua nave. Me encolho instintivamente, sua aproximação cautelosa e expressão curiosa me causam medo.— Incrível, uma humana que entende nossas palavras... — Ela ri incrédula. — Que estranho!Não reconhecia essa língua, entre nenhuma das que já estudei, e eu já havia estudado muitas. Era como se eles falassem de forma desconexa e embolada, mas mesmo assim eu os entendia perfeitamente.Algo que o papai sempre me incentivou foi estudar diferentes línguas. Não sabia o motivo, mas sempre gostei de agradá-lo.Papai... Ao lembrar dele, uma lágrima cai pelo meu rosto quando penso em seu corpo se arrastando pelo chão. Toda minha família estava morta, agora eu não tinha mais ninguém no mundo.— Você consegue nos entender?Balancei a cabeça em um gesto positivo e ele pareceu surpreso, como se eu fosse uma criatura exótica. Me assusto quando seu rosto se aproxima e ele começa a me farejar como um animal. Seu nariz passa pelo meu cabelo, pelos meus braços, pulso e finalmente para em meio aos meus seios.Dou um grito quando sua mão entra no meu sutiã e puxa para fora o pingente do meu colar.Tento pegar de volta de sua mão. Meus olhos estavam cheios de lágrimas ao lembrar que era um presente que meu pai havia me dado na infância. Uma pedra negra, tão escura que chegava a não refletir luz alguma, era feita de um dos materiais mais escuros da Terra, tão rara que poucas pessoas tinham a oportunidade de ver uma dessas se formar.— Solte! – Grito com a voz rouca, mas sou ignorada. – Solte essa pedra!Pulo em cima de seu corpo e ele me segura rapidamente pela cintura.— Quem te deu isso? – Sua voz grossa estava assustadora, era como se ele estivesse prestes a me atacar. – Diga, humana!Não estava entendendo sua reação, era apenas um colar comum, mas que tinha um grande significado emocional para mim.— Me devolve, por favor. – Supliquei, olhando em seus olhos cor de mel. Ele parece não se abalar, sinto seu nariz perto do meu pescoço novamente e isso faz meus pelos se arrepiarem. – Pare de me cheirar!— Ela não tem cheiro humano. Essa pedra disfarçava seu odor.– Ele diz antes de me empurrar de forma bruta, me fazendo cair na cama. Grito ao sentir seu corpo pular em cima de mim e suas mãos envolverem meu pescoço. Tento me levantar, mas ele me empurra novamente.– Diga, quem mandou você.Não entendia essas acusações, essa conversa maluca. Era como se ele não se considerasse humano, era algo bizarro e constrangedor. Todos eles se comportavam de forma estranha, como animais.O ar falta em meus pulmões e eu o empurro. Meu esforço é inútil, ele era inegavelmente mais forte que eu, sentia que esse era meu fim. Olhando em seus olhos cor de mel, sinto minha visão embaçar devido às lágrimas. Por um segundo vejo arrependimento em seu rosto e suas mãos se afrouxam um pouco ao redor do meu pescoço.Uma crise de tosse se inicia quando o ar invade meus pulmões, era como se eu tivesse nascido novamente. Minha mão toca sua bochecha e o vejo confuso quando o puxo para perto, deixando nossos rostos com apenas alguns centímetros de distância. Quando dou por mim, já estava o beijando.Não sei o que deu em mim, se foi o instinto de sobrevivência ou apenas por ele ter olhos hipnóticos, mas eu estava beijando um homem completamente desconhecido.Suas mãos se afrouxam e ele segura meu rosto com delicadeza. Sinto meu rosto ficar quente quando sua mão toca gentilmente minha bochecha.Passo minha mão em suas costas e sinto sua pele se arrepiar. Sua mão aperta minha cintura e isso me traz de volta à realidade.O empurro da cama com força, fazendo-o cair no chão. Ele me olha confuso por alguns segundos e, logo em seguida, a expressão assassina volta ao seu rosto.Aproveitei sua distração para pegar meu colar e o coloco no pescoço. Tento correr em direção à porta, mas apenas alguns passos depois, perco o equilíbrio e caio no chão, sentindo minha perna doer fortemente.— Não vê, Dylan? Ela não representa perigo. – A mulher fala com um tom doce. – Essa pobre criatura está machucada.Não consigo manter minha atenção na conversa entre eles dois, a dor é muito forte e me impede de controlar a situação. As lágrimas rolam pelo meu rosto, não acredito que fui tão inútil ao ponto de não conseguir fugir.Sou tirada do chão com delicadeza, olho para cima e nossos olhares se encontram. Ele me encara curioso, como se eu fosse uma criatura exótica. Nosso contato visual é interrompido e ele me coloca novamente na cama. Não sei o motivo, mas não pude evitar a frustração quando ele se afasta para conversar com a mulher ruiva.Segundos depois, ele sai do quarto, me deixando com vários pensamentos confusos.Acordei sentindo uma dor aguda na perna. Abri os olhos e vi que estava em um quarto estranho, diferente do quarto que o Dylan me deixou. Olho ao redor tentando identificar alguma coisa, mas tudo era novo pra mim. Forço a visão ao ver uma silhueta na escuridão. Um abajur é ligado e sua luz faz meus olhos doerem. Quando finalmente consigo focar a minha visão, vejo uma mulher sentada em uma poltrona em frente a cama. Seu cabelo castanho claro era raspado na lateral e estava jogado sobre seu ombro esquerdo, apesar da pouca iluminação no quarto, pude notar seus traços delicados e uma cicatriz em sua bochecha. Ela arqueou uma sobrancelha quando percebe que estava a observando por muito tempo.— Finalmente acordou, humana.Essa voz… eu me lembro dela. Essa é a mesma voz que disse que queria me devorar. Arregalo os olhos e tento me sentar na cama, mas a dor em minha perna me faz soltar um gemido alto de dor. Maldição! Estava presa em um quarto desconhecido com essa maníaca. — Gosta de enc
Sentia-me como um alienígena, com os olhares curiosos e fascinados de Ivy. Era como se a jovem estivesse observando um documentário da vida selvagem no Animal Planet; qualquer ação minha provocava olhares surpresos e sons de espanto. Com minha visão periférica, conseguia observar suas expressões faciais. Ela era realmente muito espontânea, e seu rosto denunciava seus pensamentos. Diferente de muitas pessoas que conheci na vida, não sentia maldade nem malícia em sua observação. Era mais algo curioso, como se ela nunca tivesse visto outra pessoa antes. Algo irônico, pois até onde eu sabia, ela pertencia a uma espécie chamada "alcatéia".— Ivy... Querida. – Meu tom de voz calmo chamou sua atenção. Larguei meu prato de sopa e a encarei antes de lançar um olhar sarcástico. – Não acha melhor tirar uma foto? Vai durar mais!Ivy inclinou a cabeça para o lado, como um pequeno cão tentando entender as ordens de seu dono. Sua expressão confusa era extremamente adorável, quase me fazendo sentir c
A cada segundo que passava, os gritos e os sons de rosnados lá fora aumentavam, criando uma atmosfera ainda mais tensa. Eu estava sozinha no quarto, minha mente trabalhando em uma velocidade frenética enquanto tentava compreender a situação em que me encontrava.Os minutos pareciam se arrastar, e a incerteza do que estava acontecendo me deixava inquieta. Minha perna doía, e eu desejava poder me mover livremente para entender melhor a situação. Ficar presa em um quarto desconhecido enquanto o caos se desenrolava lá fora não era uma sensação agradável.Finalmente, depois de um período que pareceu uma eternidade, Ivy retornou ao quarto. Seu rosto estava preocupado, e suas mãos tremiam ligeiramente. Ela fechou a porta atrás de si e suspirou profundamente antes de falar.— Sinto muito por ter te deixado sozinha. As coisas lá fora estavam fora de controle por um tempo. – Seu peito subia e descia com a respiração desregulada.Eu a olhei, buscando por respostas. A preocupação em seu rosto me
Os socos e pontapés na porta me fizeram paralisar. Estava apavorada, sentia como se meus pés estivessem presos no chão e todo o meu corpo tivesse sido congelado.— Vamos, pule! – Ivy falou com nervosismo. – Não precisa ter medo, eu irei te segurar.Escutei o som do armário começar a ser arrastado devido à força dos socos e chutes na porta. Uma fresta se abriu, dando espaço suficiente para ver seus olhos verdes arregalados e inquietos, como se estivesse prestes a me atacar.Meu corpo saiu do transe ao ver sua mão entrar pela fresta e começar a forçar a porta.Meu coração batia descompassado quando, finalmente, tomei coragem e saltei pela janela, aterrissando no telhado com um impacto doloroso. A neve macia cobria o telhado, mas minha perna ferida protestava a cada passo que eu dava.Com dificuldade, comecei a caminhar pelas telhas escorregadias, minha respiração saindo em pequenas nuvens de vapor. Ivy, embaixo de mim, me instava a con
— Sua perna está consideravelmente melhor. – seu entusiasmo era evidente. – Em todos esses anos, nunca vi uma recuperação tão rápida, nem mesmo em um dos nossos.A voz de Alaric soou surpresa, e isso me fez sentir minhas bochechas esquentarem.— É... Sempre me recuperei rápido. – sorri envergonhada. – Nunca fico doente ou me machuco... Deve ser alguma coisa genética.— Interessante... – ele murmurou. – Você é muito diferente dos humanos que conheci, Violet.Alaric olhou novamente para sua prancheta e suspirou. Sua mão passou por seu pescoço e uma risada nervosa escapou de seus lábios.— Tem algo que me faz questionar se você realmente é humana. – seu nervosismo era evidente. – Mas precisarei investigar e aqui não tenho os recursos necessários.Me sentei na maca, e minha pele se arrepiou ao sentir o estetoscópio gelado de Alaric em meu peito.— Não entendi... Sou só uma pessoa comum. – disse ao vê-lo anotar algo em sua prancheta.— Comum não é uma palavra que se aplica a você, mocinha.
— Acorda! Acorda logo!Abro os olhos e vejo Ivy com uma expressão preocupada. Ela suspira aliviada e senta na ponta da cama.— Ivy? Aconteceu alguma coisa? – Pergunto confusa.— Eu vim ver como você estava, e algo estranho aconteceu. – Sua voz estava trêmula, assim como suas mãos.Me sento na cama e esfrego os olhos; estava muito sonolenta, o remédio que Alaric me deu ainda fazia efeito.— Não estou entendendo, estou com muito sono. – Minha voz sai arrastada.— Quando entrei no quarto, você estava com os olhos abertos, sussurrando algo que não entendi. Seus olhos estavam violeta, e a pedra em seu pescoço brilhava da mesma cor. – A voz de Ivy é trêmula, e seus olhos estavam marejados.Sento na cama tentando me manter acordada o suficiente para acalmá-la.— Fiquei confusa, e quando me aproximei, toquei em você, e de repente, um homem surgiu no quarto, olhando-me de forma intimidadora. – Ela fala com nervosismo, e lágrimas rolam por seu rosto.— Um homem? – Pergunto com a voz confusa. –
— Senhor, solte-me! Não sou uma invasora. – Exclamo, tentando puxar meu braço. – Você está me machucando!— Calada! – Ele bate em meu rosto com força.O impacto de seu tapa faz um chiado surgir em meu ouvido. Arregalo os olhos, assustada, tentando me desfazer de seu aperto em meu pulso.— Você vai pagar por invadir nosso território, besta maldita.Seus olhos ficam escuros, e seu rosto começa a assumir uma forma assustadora, como se estivesse se transformando em algo que não parece humano.— Solte-a agora! – A voz grave de Dylan me faz pular, assustada.Meus olhos estavam marejados, e meus soluços eram altos. O homem apertou meu pulso, fazendo-me gritar de dor.— Solte-a, Kennan, eu não vou mandar novamente! – Dylan diz entre dentes, aproximando-se de nós.O homem solta um rosnado gutural, seus olhos fixos intensamente nos meus. Meu coração bate descompassado enquanto ele se aproxima, a respiração gélida roçando
— Uau. – Exclamo, observando ao redor. – Eu não imaginava que esta seria sua casa.Dylan sorri timidamente enquanto caminha em direção ao interior do castelo.— Pensei que naquele dia em que me resgatou... bem, pensei que aquele quarto fosse sua casa. – Digo, envergonhada.— Aquela é minha casa. – Ele sorri constrangido. – Mas depois do ataque, tive que vir morar aqui... bem, é uma herança de família.Dylan dá os primeiros passos, e eu o sigo pelo longo corredor adornado com decorações antigas, estátuas e quadros. A sensação é de caminhar por um dos castelos antigos que meu falecido pai costumava destacar nas ilustrações dos livros de histórias infantis.Dylan segue adiante, mas eu paro diante de um quadro intrigante. Um homem robusto de meia-idade, cabelos negros, olhos azuis, sentado em um trono, ostentando uma coroa. Ao seu lado, uma bela mulher de olhos cor de mel e cabelos loiros. O homem se assemelha muito a Dylan, exceto pela cor do cabelo e olhos, idênticos aos da mulher, e pe