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Correndo pela sobrevivência.

Avisto o par de coturnos pretos se aproximando lentamente de mim. Queria me mover, mas o medo me paralisava. Sou puxada pelo cabelo e grito de dor.

Olho em direção ao rosto do meu agressor e me assusto ao ver olhos totalmente pretos e um rosto coberto de sangue. Ele não parecia humano; sua pele era extremamente pálida, como se não houvesse sangue em seu corpo.

Meu corpo se enche de desespero ao perceber que reconhecia aquele rosto. Era o mesmo homem misterioso da festa. Me debato em seus braços, e ele sorri satisfeito. Sua mão toca meu pescoço, mas rapidamente recua ao tocar a corrente em meu pescoço, como se ela o machucasse. Ele rosna para mim, como se fosse um gato prestes a atacar o outro.

Vejo papai se arrastar pelo corredor, seu corpo estava repleto de cortes. Papai enfia no tornozelo da criatura uma de suas facas de caça, e escuto seu grito gutural.

– Verme maldito!– ele grita antes de me arremessar escada abaixo. Sinto meu corpo doer ao bater em cada degrau.– Como ousa tentar me machucar, seu verme insolente?"

— Fuja, Violet!– papai grita ao me ver levantar com dificuldade. Seus olhos focam nos meus, e vejo a determinação em seu rosto. – Não olhe para trás, minha filha.

Sem fazer força, o homem chuta o corpo do meu pai, fazendo-o atravessar uma parede. Aquilo não era humano, isso não era uma pessoa!

Escuto o gemido de dor do meu pai. A criatura se vira em minha direção, mas antes que me alcance, meu pai pula em suas costas e morde fortemente seu pescoço, fazendo-o jorrar sangue. Nunca vi tanta força em meu pai antes, era como ver outro homem.

Desço a escada correndo e tropeço caindo no último degrau, me levanto e olho para a porta de entrada. Precisava ser rápida.

Percebo que não adiantaria tentar sair pela porta principal. Nossa casa ficava em um local isolado, e a floresta parecia ser a melhor opção para alcançar a estrada. Tentava recordar todas as orientações que mamãe me deu quando eu era criança e acampávamos, sobre como me orientar na floresta.

Escuto seus passos se aproximando. Aquilo não podia ser humano. Que pessoa seria capaz de fazer as coisas que ele fez?

Mesmo com uma faca atravessada em seu tornozelo, ele ainda corria rapidamente. Era algo assustador. Mentalmente, fazia uma oração, implorando para que tudo aquilo não passasse de um pesadelo.

Sentia que a qualquer momento eu acordaria e papai me abraçaria, dizendo que tudo não passou de um terrível pesadelo.

Ando em direção ao quintal sem olhar para trás. Minhas lágrimas embaçam minha visão, dificultando o processo. Com a ajuda de uma cadeira, pulo o muro e corro em direção à floresta.

Será esse meu destino? Meu pai teria dado sua vida em vão?

Corro desesperada, consigo ouvir os passos e o som de galhos quebrando. É assustador fugir de algo que não se sabe o que é. Aquela coisa com certeza não era humana, mesmo tendo sua aparência como a de um homem, eu o vi atacar pessoas inocentes, vi suas enormes presas e unhas.

— Deus, me ajude. – Minha voz sai ofegante e chorosa. Com pouco ar e coragem que haviam me sobrado, grito. – Se afaste de mim, besta!

Sua gargalhada demoníaca ecoa por toda a floresta, me causando arrepios por todo o meu corpo. Parece que a sorte não estava mesmo do meu lado, nem mesmo o mais forte dos deuses poderia me salvar agora.

Um grito assustado escapa da minha garganta quando tropeço em uma raiz grossa e acabo perdendo o equilíbrio. Minha cabeça b**e com força assim que chego ao chão. Não consigo enxergar devido às lágrimas, a queda bagunçou os meus sentidos. Estou tonta, mal consigo ver um palmo de distância. Tento me levantar, mas meu pé está preso na raiz.

Solto um grunhido de dor ao sentir um peso sobre meu corpo e uma respiração ofegante em meu pescoço. O cheiro de sangue em seu corpo me deixa enjoada. Escuto uma risada maligna perto do meu ouvido, e isso me faz entrar em pânico. Eu iria morrer, sinto isso em cada célula do meu corpo. Sei que esse será meu último momento de vida, esse é o meu destino.

— Perdão, papai. – Minha voz sai rouca e trêmula. – Deveria ter te ouvido.

Sinto as lágrimas caírem pelo meu rosto. Seus dentes entram em meu pescoço, e isso me faz gritar de dor. As lágrimas continuam a cair pelo meu rosto, e a imagem do rosto de papai vem à minha mente. Em breve, eu me juntaria à minha família.

Meu corpo está fraco; sinto meu sangue ser drenado pelo meu pescoço. Não consigo lutar; estou presa pelo peso do corpo dessa m*****a criatura.

Um filme da minha vida passa diante dos meus olhos. Vejo Simon correndo comigo na praia, nossos pais rindo enquanto nos filmavam. Meu primeiro baile, Simon me acompanhando; ele estava tão feliz por poder fazer parte dessa fase da minha vida. O nascimento de Anna, a saída de Sarah de casa e nossa última noite juntas em uma festa do pijama. A carta de aceitação de Simon para a faculdade. Nossa noite de loucura na cidade, onde trocamos nossos colares de melhores amigos.

Seu rosto está tão nítido à minha frente, é como se ele estivesse realmente aqui.

— Não é hora de desistir, flor de lótus. — Sua voz é calma e bela. Uma lágrima escorre pelo meu rosto e ele sorri antes de limpá-la. — Seja forte.

— Eu não consigo. — Minha voz sai fraca, tão baixa como um sussurro. — Já perdi coisas demais. Não existem mais motivos para continuar. Ao menos se eu me for, poderemos ficar juntos.

Simon sorri, um sorriso belo e sincero. Seus olhos brilham, e ele acaricia meu rosto antes de aproximar seus lábios da minha orelha.

— Ainda não é a hora. — Ele beija minha bochecha. — Estarei sempre cuidando de você. Se acalme, a ajuda está chegando.

Seu rosto desaparece como uma névoa no ar, e a adrenalina me tira do transe. Volto a sentir meus instintos de sobrevivência.

Um uivo alto faz a criatura desviar sua atenção do meu corpo e farejar o ar. Seu corpo parece ter entrado em estado de alerta, a criatura olha ao redor assustada. Os rosnados em meio aos arbustos me dão arrepios. Eles estão bem próximos, um uivo a alguns metros de distância me faz tremer de medo. A criatura sai de cima de mim e corre em direção oposta ao som, como se temesse por sua segurança. Um alívio se instala em meu corpo, e suspiro, mas um pensamento me faz congelar: a besta estava com medo, então há algo pior do que essa criatura que estava me caçando?

Minha visão está turva por causa das lágrimas, e a lembrança de toda a minha família sendo assassinada não sai da minha cabeça. Tudo isso é minha culpa, eu deveria ter escutado os conselhos dos meus pais, não deveria ter sido tão cética. Agora todos estão mortos, e isso é apenas culpa minha. Eu convidei a desgraça para nossa casa, fui eu que trouxe essa criatura demoníaca para nossa família. E o que me resta é apenas chorar e aceitar meu destino. Pelo menos em breve eu estarei junto novamente com minha família.

As palavras de Simon voltam a minha mente e uma descarga de adrenalina invade meu corpo, bloqueando meus pensamentos. Tudo que consigo fazer é me levantar e correr. Nunca havia corrido tão rápido em toda minha vida, era como se minhas pernas estivessem me guiando, como se elas soubessem para onde deviam ir. Entro em uma parte desconhecida da floresta, mas consigo ouvir o som de carros passando na pista. Tento correr mais alguns metros, mas perco o equilíbrio e sinto uma forte pressão em meu tornozelo. Olho para minha perna e grito de horror, havia pisado em uma m*****a armadilha de urso! A forte adrenalina em meu sangue me faz agir sem pensar, e quando dou por mim, havia me livrado da velha armadilha.

Escuto sons de algo se aproximando, e sou tirada do chão por um enorme lobo. Grito de horror, começo a me debater, e meu casaco rasga. Aproveito a chance e saio correndo em direção a uma enorme árvore. Subo com dificuldades devido à fraqueza causada pelos meus múltiplos ferimentos. Me sinto tão frágil e indefesa como nunca antes.

Tenho que ser rápida, mas meu corpo dói, e isso dificulta a subida na árvore.

— Droga! – resmungo ao perceber que estava sangrando. Escuto sons de algo rodear a árvore, e meu grito desesperado ecoa pela floresta. – Saia daqui, monstro!

Os barulhos ao redor da árvore são assustadores. O animal me rodeia, meus joelhos tremem. Não consigo ficar agachada para sempre, e o lobo parece saber disso. Minhas mãos suam, não vou conseguir me segurar por muito tempo. Um barulho me faz gritar, o galho em que estou cai e me leva ao chão. Outro enorme galho atinge minha perna, e o som de ossos quebrando ecoa pela floresta, me fazendo gritar de agonia e dor. Meus soluços de dor são altos, e escuto a criatura se aproximando cada vez mais. Tento me movimentar, mas a dor de ter o fêmur quebrado faz minha cabeça girar.

— Papai, em breve estarei com você.

Sei que esse é o meu fim, não terei mais chances. Minhas escolhas tolas me trouxeram até aqui. Me sinto sozinha como nunca antes em minha vida, e a solidão dói ainda mais ao saber que sou a culpada por tudo isso.

Sinto minha cabeça girar ao tentar mover o galho. Minha visão fica turva, minha respiração fraca. Apenas ouço os passos se aproximando e o som de seu rosnado.

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